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Estratégias curriculares para promover a Educação para a

4.1. CONCEITO DE CIDADANIA

4.2.5 Estratégias curriculares para promover a Educação para a

Tal como vimos anteriormente, o consenso acerca dos objectivos e das competências de educação para a cidadania exige que o professor tome um conjunto de decisões curriculares estratégicas, intencionais e criticamente reflectidas para que a educação para a cidadania possa, de facto, adquirir visibilidade (Henriques et al, 2001), através de uma prática educativa diária, não se confinando ao domínio implícito ou oculto e, por isso, a decisões espontâneas emergentes das práticas.

Reveste-se, assim, de maior importância a concepção e implementação de estratégias curriculares de ensino-aprendizagem de qualidade e facilitadoras do desenvolvimento dos conhecimentos, dos valores e das atitudes que informam as competências de cidadania. Deste modo, e tendo por base as sugestões de Carita, Abreu e Queiroz (1994) para a intervenção na área da Formação Pessoal e Social, é fundamental que o professor, na organização e gestão do processo curricular, tenha em consideração

alguns aspectos essenciais na relação pedagógica com os alunos e na organização do processo didáctico. Explicitaremos de seguida estas duas dimensões, acrescentando aos aspectos e estratégias sugeridas pelas autoras, outras sugeridas também na literatura.

Relação pedagógica com os alunos

No que diz respeito à relação pedagógica com os alunos, e conforme as autoras, é fundamental que o professor facilite aos alunos a construção de aprendizagens significativas a partir dos seus contextos de vida, dos seus saberes prévios e das suas vivências pessoais individuais ou de grupo/turma. As autoras realçam ainda a necessidade do professor facilitar o envolvimento pessoal – cognitivo e afectivo – dos mesmos em todo o processo educativo promovendo a sua participação activa num conjunto de actividades das quais destacamos: a planificação, o desenvolvimento e a avaliação conjunta do processo de educativo e o confronto pessoal e crítico com as ideias, com as situações e consigo próprio, estimulando os alunos à tomada de consciência da sua própria perspectiva e da perspectiva dos outros. As autoras realçam, também, a necessidade do professor privilegiar, na comunicação verbal com os alunos, o diálogo e o questionamento como estímulo à sua capacidade de pensar.

Para além do envolvimento dos alunos nestas actividades, consideramos igualmente importante que o professor implique os alunos na gestão dos conflitos e na resolução responsável dos problemas que a todos dizem respeito.

Organização do processo didáctico

Retomando Carita, Abreu e Queiroz (1994), também ao nível da organização do processo didáctico, as autoras sugerem que compete ao professor privilegiar o recurso a estratégias de ensino-aprendizagem activas. Contudo, consideramos que, para além de activas, é fundamental que as estratégias privilegiadas pelo professor sejam também socializadoras e, por isso, centradas não apenas na interacção entre aluno-professor e entre alunos, mas também entre alunos, professor e a comunidade envolvente.

Do leque de estratégias apontadas pelas autoras, relevamos o trabalho de projecto, a promoção de debates, a clarificação de valores a partir de situações emergentes do quotidiano, e as visitas de estudo à comunidade e acrescentamos a participação na escola de elementos externos.

Ainda ao nível do processo didáctico, e com base na literatura da especialidade, julgamos ser fundamental que o professor privilegie também:

A aprendizagem cooperativa; O trabalho de grupo;

O intercâmbio entre alunos e professores de diferentes escolas com vista a melhorar a compreensão mútua entre os indivíduos;

O desenvolvimento de projectos comunitários ao nível da comunidade local, regional, nacional, europeia ou internacional, ou a nível das diversas organizações da sociedade civil envolvidas na educação para a cidadania democrática;

O desenvolvimento do pensamento crítico;

A individualização do ensino através de estratégias diversificadas como forma de garantir aos alunos a igualdade de oportunidades no sucesso.

Gestão, organização e ambiente da sala de aula

Embora se julguem fundamentais os aspectos mencionados relativos à relação pedagógica com os alunos e à organização do processo didáctico no âmbito da intervenção curricular ao nível da educação para a cidadania, considera-se importante acrescentar as estas duas dimensões uma outra mais relacionada com aspectos ao nível da gestão, organização e ambiente da sala de aula, que tornem possível o desenvolvimento de competências de cidadania a partir da sua própria vivência. Deste modo, e a este nível, é imprescindível que o professor:

Negoceie com os alunos as regras para o funcionamento democrático da sala de aula; Implemente estratégias de gestão suportadas por valores democráticos e que facilitem a

participação dos alunos no processo de tomada de decisões nomeadamente através: Da assembleia de turma;

Do plano diário elaborado no início de cada dia, em negociação com os alunos, com o objectivo de se planificar o trabalho colectivo e individual a realizar-se naquele dia;

Do plano individual de trabalho ou de trabalho independente;

Do quadro de tarefas com algumas tarefas da turma a serem realizadas sob responsabilidade dos alunos de forma rotativa, como por exemplo:

- A distribuição, arrumação e verificação e limpeza do material; - O registo de presenças e faltas;

- O registo diário do tempo; - A actualização do calendário;

- Tratamento das plantas e/ou animais; - Organização da biblioteca da sala; - …

Organize o espaço da sala de aula de modo flexível, prestando atenção aos arranjos, de modo a facilitar a participação, a movimentação, a comunicação e o envolvimento dos alunos na aprendizagem.

Em jeito de síntese, e tal como se referiu no início deste ponto, apesar de se considerar imprescindível que as decisões curriculares para a promoção da educação para a cidadania sejam estratégicas, intencionais e criticamente reflectidas, podendo ser concretizadas através de um vasto leque de estratégias, é também preciso não esquecer que o contexto escolar é um contexto dinâmico e imprevisível e é por isso que existem situações e acontecimentos emergentes da própria prática, que embora tenham um efeito formativo, não se podem planificar e prever com antecipação. E este é exactamente um dos aspectos mais enriquecedores do trabalho a realizar no âmbito da educação para a cidadania e que se prende com a capacidade que o professor deve ter para aproveitar todas as oportunidades que surgem espontaneamente no dia-a-dia para promover a reflexão conjunta acerca das questões de cidadania.