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4 A LITERATURA SOBRE A FORMAÇÃO DE TREINADORES(AS) À LUZ DA

5.2 Estratégias pedagógicas online

A utilização da Internet como meio para o desenvolvimento de estratégias pedagógicas parece ser uma forma eficaz de envolver treinadores(as)-aprendizes(as) em oportunidades de aprendizagem formais, pois evita restrições logísticas, como localização e horário das atividades (STOSZKOWSKI; COLLINS, 2017b). A disponibilidade de aparelhos eletrônicos móveis e/ou manuais também tem facilitado essa relação, pois estes proporcionam maior conveniência e acessibilidade.

Por esse motivo, a tecnologia tem sido utilizada tanto como um suporte para estratégias pedagógicas presenciais quanto como possibilidade para que outras dinâmicas possam acontecer (KUKLICK; GEARTITY; THOMPSON, 2015). A utilização de plataformas online pôde ser percebida, por exemplo, a partir da disponibilização de materiais de ensino (MOON, 2001) na Internet, do compartilhamento de cenas em propostas de etno-drama, de documentos na plataforma Google Drive® e a fundamental utilização de aplicativos para chamadas de vídeos, que permitem que discussões face-a-face possam acontecer, mesmo os(as) participantes estando em diferentes localizações.

Driska e Gould (2014) ressaltam, no entanto, a importância das atividades online que permitam o contato e as discussões entre os pares e dos(as) treinadores(as)-aprendizes(as) com os(as) mediadores(as) responsáveis, pois os processos de aprendizagem colaborativos são considerados mais eficazes do que propostas com a utilização de apresentações de PowerPoint® e palestras gravadas. Por isso, destacamos uma outra estratégia pedagógica baseada na Internet de importante citação na literatura acadêmica são os blogs. Essas inciativas, quando coletivas, demonstraram interessante potencial no engajamento dos(as)

treinadores(as)-aprendizes em propostas reflexivas (STOSZKOWSKI; COLLINS, 2017a; 2017b).

Por termos encontrados muitos exemplos de Plataformas de dados online em sites oficiais de FNG, apesar de não serem consideradas coletivas, destacaremos como parte de uma reflexão sobre a importância da atuação das instituições na promoção de oportunidades de aprendizagem informais.

➢ Blogs

Para Stoszkowski e Collins (2017a), os blogs online ou web-blogs são ferramentas que têm potencial para fortalecer e promover o pensamento crítico e a reflexão sobre a prática profissional. São relativamente simples de ser utilizadas, frequentemente de acesso gratuito e que exigem pouco conhecimento técnico para que sejam compartilhadas opiniões e ideias acerca de um assunto em formato de postagens escritas e que podem receber comentários de outras pessoas, geralmente em linguagem informal e que são arquivados cronologicamente (GUNAWARDENA et al., 2009).

Como estratégia pedagógica, Stoszkowski e Collins (2017a) sugerem que os blogs coletivos, que funcionam como uma plataforma online comum para um grupo fechado de treinadores(as)-aprendizes(as), podem apoiar o desenvolvimento de uma abordagem focada na co-construção de conhecimentos. Stoszkowski e Collins (2017b) destacam a potencialidade dos diferentes conteúdos e materiais que membros de grupos podem compartilhar e indicar para outros nas postagens dos blogs como de grande valor para os processos de aprendizagem, inclusive por esse ser um meio em que a linguagem utilizada pode ser mais informal do que outros formatos de escrita e avaliação. Assim, as mediações entre os pares também foram consideradas essenciais nos processos de aprendizagem dos(as) participantes.

Stoszkowski e Collins (2017a) e Stoszkowski e Collins (2017b) retratam uma experiência com um grupo de vinte e quatro treinadores(as)-aprendizes(as) de um curso de Graduação em ensino de Esporte e práticas corporais, todos(as) com experiência nesse campo de atuação. Os autores desenvolveram uma proposta como parte obrigatória do módulo da disciplina “Ensino de Esportes e práticas corporais e

reflexão22”, que contou com o desenvolvimento de um blog particular ao grupo, ou seja, que só poderia ser acessado pelos(as) participantes e pelos(as) mediadores(as) responsáveis pelas atividades. Para tanto, as primeiras duas semanas de atividades contaram com discussões mediadas pelos(as) responsáveis pelo programa, a fim de sensibilizar os treinadores(as)-aprendizes(as) sobre a importância de refletirem sobre suas práticas, que culminou na formulação de um ensaio individual a respeito de suas filosofias de atuação. Na semana seguinte, tais mediadores apresentaram ao grupo a proposta do blog coletivo, dividindo os(as) participantes em quatro grupos de autores(as), os quais, juntos, decidiram as regras de conduta do blog. Além disso, individualmente, escreveram uma postagem introdutória e autobiográfica, ressaltando o contexto de atuação de cada um dos(as) treinadores(as)-aprendizes(as), como forma de aumentar o conhecimento dos mediadores do grupo envolvido. Nas cinco semanas seguintes, aconteceram encontros teóricos de duas horas de duração, nos quais diferentes perspectivas teóricas foram tratadas a partir da facilitação dos mediadores e de discussões entre o grupo. Ao final de cada encontro, os(as) participantes foram orientados(as) a se utilizarem do blog para escreverem suas interpretações, co-construções dos conhecimentos discutidos e compartilharem reflexões e ideias.

Stoszkowski e Collins (2017a) consideraram, ao final do estudo, que o uso do blog funcionou como uma Comunidade de Prática, através do qual a participação auxiliou na prática reflexiva no contexto individual de cada treinador(a)-aprendiz(a). Além disso, os autores consideram que a proposta do blog coletivo é mais eficaz do que de blogs individuais, como utilizados por Stoszkowski e Collins (2014). Por fim, Stoszkowski e Collins (2017b) ainda destacam que essa possibilidade online, embora parte de uma oportunidade de aprendizagem institucional, é uma potencial forma de incentivar propostas informais, assim como reivindicado para a formação de treinadores(as) (LEMYRE et al., 2007; PIGGOTT, 2012).

➢ Plataformas de dados online

Plataformas de dados online referem-se às páginas dos sites oficiais das FNG ou páginas exclusivas mantidas por essas instituições, que tem como finalidade

disponibilizar materiais de ensino (MOON, 2001) como artigos acadêmicos, matérias jornalísticas, textos diversos, vídeos, áudios e outros para colaboração na formação de treinadores(as). Essa estratégia pedagógica, cujo termo foi atribuído por nós, não foi encontrada em estudos científicos em nossas buscas. No entanto, durante a etapa exploratória da pesquisa, acessamos muitos sites oficiais de FNG e pudemos notar que algumas dessas instituições oferecem várias propostas para que treinadores(as), atletas, familiares, gestores(as) e demais interessados aprofundem seus conhecimentos de maneira informal.

Como já discutido anteriormente, essa forma de aprendizagem não é solitária – o fato de tais materiais terem sido escolhidos para comporem essas plataformas e a forma de divulgação e o incentivo que é dado por essas FNG é uma mediação em meso nível exercida por essa instituição (JONES; THOMAS, 2015). Assim, apesar de configurar uma oportunidade de aprendizagem informal (NELSON; CUSHION; POTRAC, 2006), isto é, que não está vinculada a um sistema de certificação, demonstra de forma clara nosso argumento de que as instituições podem contribuir e incentivar outras oportunidades de aprendizagem, a partir da utilização de estratégias pedagógicas inovadoras. Além disso, tal plataforma de dados online é também um apoio para as oportunidades de aprendizagem institucionais, sendo um exemplo da forma como a utilização da Internet pode contribuir como um suporte para os processos de aprendizagem.

Alguns exemplos serão apresentados a seguir. A FNG dos Estados Unidos possui em seu site diferentes propostas para que treinadores(as) e outros(as) interessados(as) possam acessar materiais de ensino (MOON, 2001) (Figura 5). O mesmo acontece para a FNG do Reino Unido, com destaque para o canal do

YouTube® da FNG, em que são disponibilizados vídeos com dicas de metodologias

de ensino para treinadores(as) (Figura 6). Por fim, o último exemplo é da FNG da Itália (Figura 7).

Figura 6 – Plataforma de dados online da FNG da Grã-Bretanha.