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Inicialmente, houve a submissão e aprovação do projeto de pesquisa ao/pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, tendo recebido o número de registro na Plataforma Brasil, chamado Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) 1.400.398 (Anexo A). Com relação a esse órgão, destacamos a curiosidade de que o CEP não exige o preenchimento do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por participantes da pesquisa que estejam fora do Brasil, segundo o órgão, conforme Resolução Interna 466/12. De qualquer forma, todos(as) os(as) participantes concordaram com os termos éticos da pesquisa disponíveis na primeira parte do questionário respondido, como será detalhado em seguida, e o(a) respondente ligado(a) à Confederação Brasileira de Ginástica assinou o TCLE, de forma convencional.

Além disso, de maneira concordante à nossa ontologia, esta pesquisa teve muitos momentos de trocas e validação com pesquisadores(as) do GPG, de outros(as) professores(as) especialistas na área do estudo e de gestores(as) das instituições envolvidas.

Assim, em um primeiro momento, consultamos os(as) professores(as) doutores(as) membros do GPG sobre o delineamento e pertinência da pesquisa, discutindo seus objetivos e escolhas metodológicas. Esse primeiro passo foi muito rico para a construção do projeto de pesquisa e destacou pontos de atenção que deveriam ser tomados ao longo de seu desenvolvimento. Da mesma forma, estabeleceu linhas de coerência com outros estudos realizados por esse Grupo.

A seguir, uma medida protocolar foi tomada. Consideramos importante estabelecer relação com as instituições que seriam estudadas, a fim de demonstrar respeito a elas e, ao mesmo tempo, requisitar apoio ao desenvolvimento do estudo. Essa atitude trouxe muitos benefícios durante a realização da pesquisa e nos posicionou como pesquisadoras parceiras das instituições. Assim, esclarecemos que possíveis críticas aos programas desenvolvidos por tais instituições seriam realizadas de forma construtiva e respeitosa, entendendo que a ciência e a gestão devem ser coparticipantes no processo de formação de treinadores(as).

Inicialmente, realizamos contato com a FIG em três diferentes frentes: o Comitê Científico, o Comitê de Educação e o Comitê de GPT. O Comitê Científico é representado pelo professor universitário canadense Keith Russell, já parceiro do GPG em muitos eventos científicos e conhecido por mim por ter sido um dos meus professores do curso FIG Academy, citado na Introdução dessa pesquisa. O contato com esse Comitê teve como resposta que não havia necessidade ou possibilidade de aprovação desse estudo por esse Comitê, pois sua jurisdição relaciona-se apenas às pesquisas realizadas em eventos da FIG, o que não é nosso caso. Da mesma forma, tal órgão preferiu não se manifestar publicamente sobre a realização dessa pesquisa, sob a mesma alegação.

O Comitê de Educação era oficialmente representado, à época do desenvolvimento inicial dessa pesquisa, pelo senhor Hardy Fink, idealizador e coordenador dos programas FIG Academy e também já parceiro do GPG em eventos científicos. Tal Comitê manifestou-se favorável ao desenvolvimento da pesquisa, emitindo uma carta de suporte, que pode ser lida no Anexo B. Esta carta foi enviada

às FNG e às Uniões Continentais de Ginástica como um incentivo para a participação na pesquisa e demonstrou uma abertura da FIG a parcerias com universidades em estudos sobre a formação de treinadores(as).

O Comitê de GPT da FIG foi contatado com o apoio e suporte do professor doutor Marco Antonio Coelho Bortoleto4, coordenador do GPG e membro desse Comitê, que gentilmente encaminhou e coordenou uma discussão sobre a pesquisa com os(as) demais membros dessa comissão. Foram enviadas cartas impressas e também online através de e-mails para a presidente desse Comitê. O contato estabelecido recebeu aprovação informal, embora não tenha havido a emissão de carta de suporte ou outro tipo de manifestação pública oficial. O Comitê de GPT afirmou que esse tipo de suporte, caso houvesse precedentes, deveria ser feito para todos(as) os(as) pesquisadores(as) que se interessassem por ele e que isso seria inviável para a FIG. De qualquer forma, consideramos que exercemos satisfatoriamente nosso papel como pesquisadoras parceiras, informando e solicitando a permissão e a parceria para o desenvolvimento do estudo.

A seguir, realizamos o contato com as Uniões Continentais de Ginástica existentes naquele momento5, de forma correlata ao que havíamos realizado com a FIG. Estabelecemos contato com as quatro instituições existentes: União Europeia de Ginástica (Union Europeenne de Gymnastique – UEG), União Asiática de Ginástica (Asian Gymnastics Union – AGU), União Africana de Ginástica (Union Africaine de

Gymnastique – UAG) e União Panamericana de Ginástica (Union Panamericana de Gimnasia – PAGU). Tal qual realizado com a FIG, este contato teve como objetivo

apresentar a proposta da pesquisa e verificar a possibilidade de as Uniões Continentais realizarem o encaminhamento do convite de participação para as FNG, a fim de incentivá-las a participar.

Nesses contatos, não obtivemos respostas das Uniões Continentais da Ásia e da África. Com relação ao continente africano, porém, obtivemos auxílio da senhora Caron Henry6, responsável pelo Comitê de GPT e Escolas da Federação de

4 Novamente agradecemos a colaboração e atenção dada pelo professor Marco em nossa pesquisa. 5 A União de Ginástica da Oceania (Oceania Gymnastics Union – OGU) estabeleceu-se apenas em setembro de 2018 (OGU, 2018) e até o presente momento, dezembro de 2018, ainda não teve seu estatuto aprovado pela FIG para associação a essa instituição (FIG, 2018).

6 O contato com a senhora Caron Henry estabeleceu-se após sua participação no VII Fórum Internacional de Ginástica Geral, promovido pelo GPG em parceria com o Sesc Campinas, realizado em 2014.

Ginástica da África do Sul, que encaminhou nosso convite pessoalmente às outras FNG desse continente. Este contato impulsionou as respostas obtidas. A UEG, na pessoa do senhor Alberto Claudino, mostrou-se solícita ao pedido, demonstrou apoio à pesquisa, mas afirmou não poder encaminhar os convites. Por fim, a PAGU, presidida pela senhora Naomi Valenzo, emitiu uma carta de suporte nos idiomas Inglês (Anexo C) e Espanhol e as encaminhou para as FNG de seu continente, também auxiliando prontamente a realização da pesquisa. Em seguida a essa etapa, realizamos os contatos diretos com as FNG.

3 VYGOTSKY E A FORMAÇÃO DE TREINADORES(AS)

Nossos olhares para a formação de treinadores(as) sofreram muitas e diferentes influências durante o período de construção dessa tese. Como já comentado na Introdução desse estudo, partir da GPT para pensar a formação de treinadores(as) foi também alterar a perspectiva do olhar para esse objeto de estudo, tentando compreender um aspecto diferente que envolve o fenômeno em que estamos embebidas (minha orientadora e eu). Um desafio que desde o início desejamos enfrentar!

No início dessa proposta, optamos pela não escolha de um único referencial teórico, mas pela visão geral sobre a formação de treinadores(as). Entretanto, ao passo que a pesquisa foi se desenvolvendo, as discussões com estudiosos(as) da área se estabelecendo e, especialmente, após o exame de Qualificação, pareceu-nos clara a necessidade do aporte em uma teoria de base, que pudesse nos auxiliar na compreensão do assunto. Mais ainda, a identificação de um paradigma de pesquisa nos levou a buscar autores(as) que auxiliassem a refletir sobre as concepções de mundo, de educação, de formação, de mediação e de GPT que gostaríamos que nos ajudassem a pensar os resultados dessa pesquisa de forma a fazer sentido com os dados construídos7 e não analisá-los de forma impessoal.

Seguindo um raciocínio indutivo, me reencontrei com a teoria de Vygotsky, que já havia estudado no decorrer da graduação em Educação Física. Durante o estágio de Doutorado Sanduíche realizado na Cardiff Metropolitan University, o contato com pesquisadores(as) que se dedicam a estudá-lo despertou nossa atenção. Especialmente, pois os estudos de Vygotsky aportam-se de forma central na perspectiva de que a aprendizagem é social, histórica e cultural em sua natureza (POTRAC; NELSON; GREENOUGH, 2016), o que vem ao encontro de nossas motivações com o desenvolvimento desse estudo.

A opção por essa teoria de base relaciona-se com nossas posições ontológicas, epistemológicas e metodológicas, e inclusive, essa teoria já embasa o método de ensino das turmas do projeto de extensão em Ginástica, desde a década

7 Informação verbal - Fala do Professor Doutor Robyn L. Jones, em sessão de orientação durante período de intercâmbio da autora na Cardiff Metropolitan University, sob sua supervisão.

de 1990 na FEF-Unicamp e que hoje damos continuidade. Como dito por Oliveira (2016, p. 104):

O compromisso com a fidelidade às ideias de um autor não significa o recurso a um conjunto fechado de ideias, disponível a uma mesma compreensão por parte de qualquer indivíduo, em qualquer tempo ou lugar. Ao contrário, o valor sempre renovado de uma teoria está justamente na possibilidade de que ela seja um instrumento, provavelmente entre outros, para uma compreensão mais completa do objeto a que se refere.

Assim, esse capítulo tem como objetivo realizar uma aproximação entre o nosso inicial entendimento da teoria de Vygotsky e a formação de treinadores(as), mais especificamente no que tange esses três assuntos: a) os processos de aprendizagem, que ocorrem a partir da interação entre a base biológica humana e o meio; b) o desenvolvimento potencial, os problemas que podem ser resolvidos com o auxílio de pessoas mais experientes; c) a sugestão de que as estratégias pedagógicas devem ser suficientemente efetivas para que constituam vivências, processos de significação e atribuição de sentido ao que é vivido pelo sujeito (perijivânie), o que ocorre a partir da afetividade.

Obviamente, muitos outros aspectos da teoria histórico-cultural poderiam e poderão auxiliar no desenvolvimento de análises e teorias sobre a formação de treinadores(as). No entanto, é necessário estabelecer uma meta de assuntos a serem descritos no estudo, uma vez que nosso tema de estudo é a intersecção entre essa teoria e a formação de treinadores(as) de GPT por vias institucionais.

Parafraseamos Ivic (2010, p. 35),

Iniciamos este trabalho na condição de garimpeiros imersos a uma mina repleta de preciosidades, que escolhem pela luminosidade que estas preciosidades lhes causam no primeiro olhar, muito embora saibam da grande dificuldade de se separar o bom do bom, o ótimo do ótimo.

Assim, embora ainda não de forma aprofundada, sugerimos uma linha de pesquisa que se inicia com essa tese, entendendo que além da limitação da escolha dos temas da teoria, ainda estamos em um processo de aprendizagem e compreensão sobre ela.