• Nenhum resultado encontrado

TEORIAS DEMOGRÁFICAS

No documento Colecao Diplomata - Tomo II - Geografia (páginas 45-54)

A mais tradicional teoria demográfica é a malthusiana. Entretanto, segundo Jean Claude Chesnais (1989: 173-4), essa teoria mostrou-se ineficaz ainda no tempo em que Malthus vivia, uma vez que havia três erros na concepção demográfica proposta pelo pastor protestante – o desconhecimento dos efeitos do progresso técnico no domínio agrícola e fora dele, a ideia de crescimento indefinido de população e a inexatidão do diagnóstico sobre mecanismos do crescimento demográfico.

Chesnais argumenta que Malthus ignorou os progressos da produtividade agrícola justamente onde eles mais se explicitaram – na Inglaterra –, ademais de não perceber as vantagens que a especialização industrial propicia e o desenvolvimento dos intercâmbios comerciais, não havendo necessidade da autossuficiência. Além disso, a hipótese de Malthus era a de que a força natural da atração sexual tendia ao crescimento populacional além do número que poderia ser suportado, ou seja, a produção de alimentos não seria capaz de acompanhar a produção... de gente.

Assim, com base na teoria da transição demográfica, deve-se ressaltar, Chesnais assegura que a fase de crescimento populacional rápido é transitória, e que esse crescimento é indicativo de melhorias no bem-estar individual, equilibrando-se, em seguida, o contingente demográfico por meio da redução da taxa de fecundidade. Já Marx criticava Malthus, porque considerava que o princípio

de população malthusiano era somente uma generalização biológica e porque não poderia abolir a lei de ferro dos salários.

Essa lei de ferro dos salários pressupõe que o valor dos salários é constante a longo prazo. Para a teoria clássica, os salários correspondem ao custo de reprodução da mão de obra a longo prazo. Para Marx (apud PEREIRA, ano: 119),

[...] o valor da força de trabalho é formado por dois elementos, um dos quais é puramente físico e o outro histórico e social. O seu limite último é determinado pelo elemento físico... A par desse elemento puramente biológico, o valor do trabalho é determinado em cada país por um padrão de vida tradicional. [Assim sendo,] [...] a longo prazo, a taxa de salários corresponde ao valor da força de trabalho; a curto prazo a taxa de salários gira em torno desse valor, em função da oferta de trabalhadores, regulada pelo aumento populacional e pelo exército industrial de reserva, e pela procura por trabalhadores, regulada basicamente pela taxa de acumulação e pela natureza do progresso técnico (loc. cit.).

Desse modo, tanto Malthus quanto Marx desenvolveram teorias fundamentadas no contínuo crescimento populacional. Segundo William Petersen (1988: 80), Marx

[...] desenvolveu seu sistema sobre o postulado [...] de que o rápido crescimento populacional na Europa oitocentista continuaria indefinidamente, e a dependência do modelo de Marx em um aumento [demográfico] em números existe não importa a que taxa de crescimento.

A diferença entre Malthus e Marx é que para o primeiro a lei de ferro dos salários possuía caráter fundamentalmente biológico, enquanto Marx acrescentava um componente historicamente determinado, o qual chama de padrão de vida tradicional. Por conseguinte, se o excedente populacional em Malthus é natural, porquanto biológico, em Marx, o próprio sistema produtivo criaria excedentes populacionais, necessários para a manutenção do exército industrial de reserva. Com Marx, há sempre a tendência para a redução dos salários, enquanto Malthus enfatiza

[...] a associação positiva entre população e meios de subsistência ou entre as taxas de salários reais e a taxa de crescimento demográfico. Ou seja, em condições competitivas: a) se o salário de mercado excedesse o natural, haveria um incremento na população, com a consequente redução da taxa de salário ao nível de subsistência em virtude da elevação da oferta de mão de obra; b) no caso contrário, de salário de mercado inferior ao de subsistência, ocorreria uma inversão na

sequência dos eventos; e c) quando os salários se encontrassem exatamente ao nível natural, a população achar-se-ia estacionaria, e a mão de obra seria substituída apenas de uma geração para outra. Ficava, pois, caracterizada uma situação em que salários e população atuavam como forças equilibrantes (CAMPOS, 1991: 134-5).

Uma teoria que concilia crescimento econômico com crescimento populacional é a teoria da transição demográfica, que tenta explicar de que modo a industrialização tem sido capaz de conciliar ambos. Chesnais (1989: 171) diz que

[...] a teoria da transição demográfica foi criada por diversos autores, principalmente Landry, A. La révolution démographique. Paris, Sirey, 1934, e Notestein, F. W. “The economics of population and food supplies”, Proceedings of the 8th conference of agricultural economics. Londres, 1953. Ela demonstra a existência de estágios demográficos sucessivos, de alguma maneira necessários, e fornece as explicações possíveis de seu encadeamento histórico, insistindo particularmente sobre as causas da passagem da família numerosa à família restrita.

Desse modo, a transição demográfica, embora varie de acordo com as características particulares de determinada sociedade, apresentaria um comportamento geral em que as mesmas etapas seriam percebidas em qualquer sociedade contemporânea, e – necessariamente – refletiria uma mudança socioeconômica ou cultural. Essa mudança, por seu turno, indica a transição de uma sociedade agrária a uma sociedade urbano-industrial.

Há certa coerência teórica em relacionar dinâmica demográfica ao desenvolvimento econômico moderno, já que inovações técnicas, burocracia estatal, alfabetização das massas, acesso à saúde pública e urbanização, entre outros fatores, demonstram o grau de modernização capitalista e industrial de uma sociedade. Contudo, esperar que a realidade de todos os povos se ajuste a um modelo de economia e de sociedade que é europeu pode resultar interpretações inférteis.

Afinal, nada garante que Níger, Uganda e Iêmen tornar-se-ão países industrializados daqui a algum tempo, sequer que há essa preocupação nessas sociedades. Assim sendo, nada garante, outrossim, que esses exemplos dados estejam de fato em determinada etapa da transição demográfica e que em alguns anos as taxas de fecundidade nesses países cairão até a estabilidade populacional. Por outro lado, dado o desenvolvimento técnico desses países, um crescimento

demográfico nas bases atuais é difícil de ser mantido sem algum tipo de ajuda externa.

No pós-guerra, a crença na redução na taxa de crescimento populacional e no aumento da propensão média a poupar da sociedade como duas únicas alternativas para aumentar a renda per capita constituíram o cerne do neomalthusianismo ou controlismo. Este nome deriva da necessidade de adoção de uma variável exógena para a redução da fecundidade (não decorre, por exemplo, da transição demográfica), o que será obtido por meio do planejamento familiar, apesar de, em muitos casos, ter-se assistido apenas à esterilização em massa de mulheres, do Brasil à Índia.

Já na transição do século XIX para o século XX, havia diversos movimentos na Europa de controle populacional que se baseavam nas premissas malthusianas, antagonizando-se àqueles identificados ao pensamento de Marx (early marxists). Entre os motivos apontados por Petersen à oposição marxista para o planejamento familiar, estão a moral do período, recorrente a todas as sociedades e a todos os partidos socialistas, que tornavam o sexo tabu e a crença de que na sociedade socialista as mulheres, libertadas da opressão masculina, seriam emancipadas e teriam melhores meios de controlar a reprodução biológica.

Pode-se perceber, pois, certa vagueza na posição dos early marxists acerca de questões práticas ao controle populacional. Teoricamente, Eduard Bernstein propugnava que o crescimento demográfico acarretaria maior divisão do trabalho, reforçando a tendência ao socialismo, já que haveria mais responsabilidades da administração estatal. Sweezy escreveu que a tendência ao subconsumo permaneceria inversamente proporcional ao crescimento populacional. Lenin contrastava o pessimismo burguês contido no aborto com o vigor afirmativo do proletariado em relação à vida (PETERSEN, 1988: 86-8).

Todavia, devido à própria redução verificada nas taxas de natalidade e fecundidade europeias, a necessidade de controle populacional foi-se esvaecendo. Esta seria retomada com estardalhaço no pós-guerra, com o grande crescimento populacional dos países pobres. Em contraponto, os neomarxistas, preocupados em identificar as fontes de subdesenvolvimento e pobreza nos países em desenvolvimento, alegavam que população não era um fator significante para esta análise. A população, assim sendo,

grande diversidade de condições demográficas nas sociedades em desenvolvimento, defensores da controle populacional uniformemente identificam a superpopulação com uma das maiores, se não a maior, fonte dos problemas dessas sociedades... Subdesenvolvimento cria um excedente populacional relativo nestes países independentemente de a taxa de crescimento ser alta ou baixa. De fato, a destruição da economia tradicional, que resulta da introdução de métodos capitalistas de organização socioeconômica, frequentemente distorce padrões demográficos tradicionais e contribui para altas taxas de urbanização, as quais são comumente citadas como evidência da superpopulação... O que é claro é que a intervenção direta em controlar o crescimento populacional não resolverá os problemas maciços que estes países enfrentam, já que os próprios padrões populacionais são o produto de um sistema econômico existente que ajuda a criar subdesenvolvimento... Programas de planejamento familiar terão pouco sucesso em países em desenvolvimento enquanto as famílias enxergarem que é melhor para seus interesses que tenham um número grande de filhos (PETERSEN, 1988).

Em resumo, vimos as teorias malthusiana, marxista e da transição demográfica, ademais de suas releituras neomalthusiana e de cunho marxista (early marxists e neomarxista) para a dinâmica populacional. Resta, ainda, abordar os enfoques dados por essas releituras contemporâneas à migração. Segundo Olga Maria Schild Becker (1997: 323), esta “pode ser definida como mobilidade espacial da população. Sendo um mecanismo de deslocamento populacional, reflete mudanças nas relações entre as pessoas (relações de produção) e entre essas e o seu ambiente físico”.

A autora aponta que, até a década de 1970, o fenômeno migratório era considerado a partir da perspectiva neoclássica, cujo modelo era atomístico, ou seja, fundamentava a decisão de migrar na decisão pessoal do migrante, tornando secundária ou desprezando a conjuntura social do espaço geográfico em que o migrante vive. Espacialmente, “a análise estatística de fluxos (linhas) e de aglomerações (pontos) era favorecida em detrimento da visão histórico-geográfica de uma formação social” (BECKER, 1997: 323).

A partir desta década, quando o marxismo assume papel metodológico-epistemológico considerável na Geografia (lembrando que já se fazia presente em outras ciências humanas), houve diversas reconsiderações acerca da migração, a qual “passou a ser concebida como ‘mobilidade

forçada pelas necessidades do capital’” (ibid.: 323-4). Assim,

[...] o capital pode escolher a força de trabalho onde melhor lhe convier e da forma que lhe for ainda mais rentável, pois crescem de forma assustadora os estoques da população excedente. Esta categoria tem sido historicamente reconhecida como estrutural nas economias do Sul (BECKER, 1997: 324).

A autora estabeleceu uma comparação entre os enfoques neoclássico e neomarxista da migração, a partir de algumas variáveis. Inicialmente, a categoria de análise neste são grupos sociais, enquanto naquele é o indivíduo. Para neomarxistas, a decisão de migrar decorre da mobilidade forçada pela conjuntura socioeconômica, ao contrário da outra corrente, que afirma ser a decisão de migrar ato de caráter individual, desconsiderando, portanto, aspectos políticos ou sociais.

Para os neoclássicos, a migração é elemento de equilíbrio em economias subdesenvolvidas, e decorrente da modernização econômica, enquanto neomarxistas asseveram que as migrações expressam a crescente sujeição do trabalho ao capital. Geograficamente, neoclássicos tomam-nas como deslocamento de indivíduos entre dois pontos, e neomarxistas afirmam que a trajetória pode apresentar vários pontos e ser de longa duração, e nunca é individual, mas sempre realizada em grupo.

Acreditamos que uma abordagem pode ser complementar a outra, e que para se compreender fenômenos migratórios não podemos simplesmente ignorar uma ou outra dimensão. Afinal, um sujeito, por mais que seja induzido a tomar uma decisão, pode escolher um país em detrimento de outro por razões subjetivas próprias – por exemplo, um africano que decide migrar para o Brasil e não para a Europa. Que percepção tem ele do Brasil que faz com que escolha nosso país? Isso não é menos geográfico ou econômico (a passagem poderia ser mais cara ou mais barata, semelhanças de clima etc.).

1.5. RECENSEAMENTO

O recenseamento é prática bastante antiga. Em Israel, era um ato sagrado que provinha da vontade divina e colocava em perigo aqueles que a ele estavam sujeitos (RAFFESTIN, 1993: 68). Ademais

da função religiosa, a cobrança de impostos e o recrutamento militar estavam entre as razões que o tornavam prática imprescindível à existência do próprio Estado. Assim, os recenseamentos passam novamente a adquirir importância com os Estados modernos, coincidindo ou com o fortalecimento destes ou com a formação de novos. Claude Raffestin vincula recenseamento a poder. Segundo o autor (1993: 67),

[...] a população é uma coleção de seres humanos. Ela é um conjunto finito e, portanto, num dado momento, “recenseável”. Esse ponto é bastante significativo porque, se a população pode ser contada, implica que dela podemos ter uma imagem relativamente precisa... O recenseamento permite conhecer a extensão de um recurso (que implica também um custo), no caso a população. Nessa relação que é o recenseamento, [...] o Estado ou qualquer tipo de organização procura aumentar sua informação sobre um grupo e, por consequência, seu domínio sobre ele.

Desse modo, a Suécia foi pioneira, com um recenseamento que data de 1749-50. Inglaterra e França fizeram seus primeiros censos em 1801, durante o regime napoleônico. Na Prússia, ocorreu em 1810, de acordo com o despertar nacional ocasionado pela hostilidade à França; na Romênia, ocorreu em 1859, após a união entre Valáquia e Bessarábia; na Itália, em 1871, ano de sua unificação (loc. cit.). No Brasil, o primeiro censo nacional foi realizado em 1872, mas houve diversos censos locais desde a independência. Segundo Tarcisio Botelho (2005: 326), um dos indicadores da continuidade entre o Estado português e o Império brasileiro consubstanciada na interiorização da metrópole são os

[...] levantamentos populacionais realizados até pelo menos o período regencial, nos quais se percebem os mesmos procedimentos e as mesmas preocupações pragmáticas que orientavam a Coroa portuguesa. Os funcionários encarregados dos censos eram praticamente os mesmos utilizados nos momentos anteriores à Independência, e os capitães de ordenanças e inspetores de quarteirões [depois substituídos por juízes de paz e, a partir de 1841, por delegados de polícia] elaboravam listas locais contendo a discriminação de todos os habitantes residentes em seus distritos.

Para Botelho (2005: 326), as categorias censitárias também revelavam a herança portuguesa, já que se preocupavam em registrar a cor dos habitantes. Assim,

[...] a maior parte dos levantamentos censitários da época dividia a população em pelo menos três segmentos: os brancos; a população de ascendência africana nascida no Brasil, mestiça ou não; e os pretos. Onde a população indígena assumia proporções significativas, essa categoria também se incorporava aos censos, descrita como caboclos. Em geral, os descendentes de africanos nascidos no Brasil eram classificados como crioulos ou, no caso daqueles nascidos de relações inter-raciais, como mulatos, pardos e/ou mestiços. Em contraposição, os africanos tendiam a aparecer como negros ou pretos. Eventualmente, a diferença entre africanos e crioulos desaparecia sob a denominação de negros ou pretos. O censo organizado para a província de Minas Gerais em 1823, por exemplo, dividiu a população em brancos, índios, pardos, crioulos e pretos, e o realizado entre 1833 e 1835, por sua vez, preocupou-se em identificar os brancos, os pardos e os pretos. Santa Catarina, em 1828, apresentou sua população segmentada em brancos, índios, pardos e pretos. O Rio Grande do Norte, em 1835, agregou sua população em brancos, pardos, pretos e índios, da mesma forma que o Sergipe no ano anterior e o Mato Grosso em 1826.

Havia ainda as divisões por faixas etárias, embora fossem diferentes para cada censo e entre as províncias, ora apresentando faixas de cinco anos, ora de dez e até mesmo faixas de quinze anos. Isso revela também o interesse em avaliar, por exemplo, possíveis candidatos ao recrutamento militar, ademais da obtenção de dados demográficos. No Segundo Reinado, a função eleitoral associou-se ao levantamento da população, uma vez que a legislação previa a realização de censos a cada oito anos (BOTELHO, 2005: 328).

Pensou-se, portanto, na realização de um censo nacional em 1852, mas a população rechaçou-a enfaticamente, já que este foi percebido como mecanismo de laicização estatal e de recrutamento militar. Cogitou-se, inclusive, que uma das finalidades era a reescravização de negros e mestiços. Mesmo assim, a precariedade das comunicações internas e as limitações do aparelho estatal dificultariam a realização dessa empresa, ademais de o Império consolidar-se naquele momento.

Nesse ínterim, ocorria o fortalecimento da produção cafeeira e, paralelamente, uma diversificação das instituições científicas, culminando, na década de 1870, com a ruptura da homogeneidade dos grupos intelectuais brasileiros. Além disso, nesta década houve incremento na geração de cidades, que também passaram a se tornar residência dos proprietários rurais. Vivenciavam-se, ainda, as consequências da Guerra do Paraguai e a irrevogabilidade da

desmontagem do sistema escravocrata. Segundo Lilia Moritz Schwarcz (1993: 27),

[...] em 1871 é promulgada a Lei do Ventre Livre, que, apesar de seu caráter moderado, punha um ponto final nesse sistema de trabalho, a essa altura condenado pelas demais nações. É a partir desse momento também, com o sistema de produção dependente da mão-de-obra escrava, que o problema da mão-de-obra passa a figurar no centro das dicussões. Datam dessa época os primeiros debates e experiências com trabalhadores estrangeiros, sobretudo europeus, entendidos nesse momento como os grandes substitutos diante do iminente final da escravidão.

Além disso, essa década é o momento em que se popularizam, tardiamente, as teorias raciais europeias. Gobineau retratou o brasileiro como “uma população totalmente mulata, viciada no sangue e no espírito e assustadoramente feia” (ibid.: 13). Questionava-se o caráter mestiço do povo e a viabilidade do Brasil como nação. Consoante Schwarcz (loc. cit.),

[...] observado com cuidado pelos viajantes estrangeiros, analisado com ceticismo por cientistas americanos e europeus interessados na questão racial, temido por boa parte das elites pensantes locais, o cruzamento de raças era entendido, com efeito, como uma questão central para a compreensão dos destinos dessa nação.

Mediante tudo o que foi exposto acima, a efervescência social das duas décadas, desde a primeira tentativa frustrada em realizar o censo, aliada à conformação de uma identidade nacional nesse período, culminou com a realização do primeiro censo nacional brasileiro em 1872. Este comprovava a mestiçagem da população – 15,2% da população era escrava e a população negra e mestiça correspondia a 55% do total. Assistiu-se, em seguida, como solução econômica e racial, à imigração europeia, que contribuiria para substituir a escravidão e para branquear o povo.

Nesse sentido, a própria adoção de uma política migratória pode ser feita com base em recenseamentos, tanto quantitativa quanto “qualitativamente”. Raffestin (1993: 90) conta sobre a experiência estadunidense:

[...] no último quartel do século XIX foram tomadas as primeiras grandes medidas e editadas as primeiras leis restritivas para a imigração. É preciso lembrar, no entanto, que antes dessas medidas 10 milhões de imigrantes entraram nos Estados Unidos, enquanto após, ou seja, de 1880 a 1920, ali chegaram 23,5 milhões de imigrantes... Revelam uma certa concepção sanitária da

população ligada a preocupações eugênicas. Seria incorreto esquecer que certos países não hesitavam em se desembaraçar de seus elementos mais “decadentes” pela emigração com destino à América... A lei de exclusão dos chineses foi promulgada em 1882... A partir de 1921, [...] foi instituída a política de cotas: a imigração foi limitada a 3% dos estrangeiros de cada nacionalidade que em 1910 residia nos Estados Unidos. Em 1924, uma legislação de exclusão dos japoneses foi posta em vigor. Nesse mesmo ano, os americanos abandonaram o ano de referência de 1910 pelo de 1890. Além disso, diminuíram a cota de 3% para 2%.

Retornando ao Brasil, o censo de 1872 foi apenas o primeiro. Em 1890, houve a realização do segundo censo demográfico nacional, um ano após a Proclamação da República e dois anos após a Abolição. O terceiro censo demográfico ocorreu em 1900 e o quarto em 1920, sendo que este foi também o primeiro censo econômico do país. O quinto recenseamento demográfico foi realizado em 1940, ao qual sucederam-se censos decenais, até o último, realizado em 2010. Realizaram-se, ainda, censos econômicos, mas hoje as pesquisas econômicas têm periodicidade menor entre uma e outra, além de serem bem mais detalhadas.

1.6. ESTRUTURA OCUPACIONAL DA POPULAÇÃO E PIB

No documento Colecao Diplomata - Tomo II - Geografia (páginas 45-54)