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1.2 Objetivos da pesquisa

2.2.4 Etapa 4: confrontação empírica: grupos de pesquisa em inovação social

Para garantir ainda mais confiabilidade aos dados e resultados da tese, optou- se por uma etapa adicional, uma confrontação empírica com especialistas no assunto. Bogner, Littig e Menz(2009) em seu livro sobre entrevistas com experts mencionam a importância deste método, salientando que é evidente que entrevistas com especialistas oferecem aos pesquisadores um meio eficaz de obter rapidamente bons resultados,já que o entrevistador e o entrevistado compartilham um fundo científico comum ou um entendimento da relevância social da pesquisa, o que pode auxiliar na obtenção destes resultados significativos.

Desta forma, esta etapa da tese procura uma confrontação empírica das proposições de pesquisa formuladas nas etapas anteriores. Já que esta etapa se propõe a validar as proposições teóricas elaboradas, buscou-se referencias metodológicas que apoiassem esta construção. Bogner e Menz (2009) descrevem 3 tipos de entrevistas com especialistas, sendo que uma delas é a Theory-generating, na qual o especialista não serve mais como catalisador do processo de pesquisa, mas como um meio pelo qual o pesquisador pode obter informações úteis e uma elucidação da questão que está sendo investigada. A essência da entrevista de geração de teorias é a abertura comunicativa e a reconstrução analítica da dimensão subjetiva do conhecimento especializado. As orientações subjetivas de ação e as máximas de tomada de decisão implícitas de especialistas de um campo especializado são o ponto de partida da formulação da teoria.

O pesquisador procura formular uma conceituação teoricamente rica de conhecimentoe este procedimento busca gerar teoria através da generalização interpretativa de uma tipologia elaborada por meio da amostragem teórica e da análise comparativa como um processo de formulação da teoria indutiva, na conclusão da qual, idealmente, o pesquisador terá uma“teoria formal". Além disso, a entrevista de especialistas geradores de teoria deve ser classificada como parte do cânone metodológico orientado para os princípios fundamentais da sociologia interpretativa(BOGNER; MENZ, 2009).

Como esta tese embasa sua metodologia no paradigma interpretativista, salienta-se que o escopo dessa proposta de Bogner, Littig e Menz (2009) enquadra-

se nesta etapa de validação das proposições com especialistas, visto que visa aprimorar a discussão com experts da área sobre os achados da tese.

Importante, contudo, é definir quem são os especialistas, desta forma,Meuser e Nagel (2009) estabelecem que na pesquisa científica, é o pesquisador que de acordo com seu objetivo de pesquisa decide quem ele quer entrevistar como um especialista, mas deve-se acrescentar que esta não é uma escolha arbitrária, mas está relacionada com o reconhecimento de um expert como perito dentro de seu próprio campo de ação. Foi com esta determinação que se buscou nos grupos de pesquisa sobre inovação social especialistas no assunto e, que, preferencialmente, a pesquisadora já possuísse algum vínculo ou contato prévio, a fim de facilitar o contato inicial.

Assim, vencidas as etapas metodológicas anteriores, definiu-se, com base na primeira etapa exploratória, na teoria pesquisada e nos casos empíricos, um novo

framework, composto por sete proposições. O documento foi elaborado em português

e transcrito para o inglês, sendo enviado para 29 pesquisadores de 18 grupos de pesquisa em inovação social na Europa, no Canadá, nos Estados Unidos e no Brasil. Deste total, 13pesquisadores responderam com as validações sobre as proposições encaminhadas, dos quais cinco estrangeiros e oito brasileiros, conforme evidenciado no Quadro 5.

Quadro 5: Grupos de pesquisa contatados para validação

Grupo de pesquisa Pesquisador País / instituição

1 TRANSIT – Transformative Social Innovation Theory 1 Bonno Pel Bélgica – Europa – ULB

2 CRISES

2 Luciano Barin Canadá – HEC Montreal 3 Marlei Pozzebon Canadá – HEC Montreal 4 Emmanuel Raufflet Canadá – HEC Montreal

3 SI-Drive

5 Juergen Howaldt Europa – TU Alemanha – Dortmund 6 Dmitri Domanski Europa – TU Alemanha –

Dortmund 4 DESIS Lab – Design para a Inovação Social e Sustentabilidade 7 Rita de Cassia M. Afonso Brasil (RJ) – UFRJ

5 NITEC – Núcleo de Gestão da Inovação Tecnológica

8 Eugenio Avila Pedrozo Brasil (RS) – UFRGS 9 Tania Nunes da Silva Brasil (RS) – UFRGS

6 Sustentabilidade e Negócios com Impacto Social

10 Ana Clarissa M. Z. dos Santos Brasil (RS) – PUC-RS 11 Maira Petrini Brasil (RS) – PUC-RS 7 Grupo de pesquisa em inovação social 12 Nei Antonio Nunes Brasil (SC) – UNISUL 8 InoS – Grupo de Pesquisa em Inovação e Sustentabilidade 13 José Carlos L. da Silva Filho Brasil (CE) – UFC 9 Grupo de pesquisa Marquete University 14 Nicholas Santos EUA – Marquette University

10 CSI – Stanford 15 Noopur Vyas EUA – Stanford

11 EMLYON Busines School 16 Ignasi Marti Lyon, França – EMLYON

12 Hertie School of Governance 17 Joahna Mair Berlin, Alemanha – Hertie

13 KU Leuven – Department of Architecture

18 Frank Moulaert Leuven, Bélgica – KU Leuven 19 Constanza Parra Leuven, Bélgica – KU Leuven

14 Grenoble Ecole de Management

20 Mark Smith Grenoble, França – GEM 21 Patrick O’SULLIVAN Grenoble, França – GEM 22 Islam Gazi Grenoble, França – GEM 15 Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São

Paulo 23 Graziela Comini

Brasil (SP) – FEA USP

16

Universidade do Porto 24 Cristina Parente Universidade do Portugal – Porto

17 Gestão Social, Mudanças, Aprendizagem GESMAC – Grupo de Estudos em e Competências Organizacionais

25 Yeda Swirski de Souza Brasil (RS) – Unisinos 26 Diego A. B. Marconatto Brasil (RS) – Unisinos 27 Silvio Bitencourt da Silva Brasil (RS) – Unisinos 28 Cláudia de Salles Stadtlober Brasil (RS) – Unisinos 18 SEA – Agência de empreendedores sociais de Portugal 29 Frederico Cruzeiro Costa Portugal – SEA

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

Dos grupos respondentes, três deles são internacionalmente reconhecidos na área de inovação social, com grande prestígio acadêmico e inúmeras publicações na área, acrescentando mais robustez às validações realizadas. Obviamente, isto não diminui a credibilidade e a importância dos outros pesquisadores consultados, que também possuem vasta experiência na área. Os três grupos mais renomados

possuem como característica:

1. TRANSIT –TRANsformative Social Innovation Theory é um projeto de

pesquisa que está desenvolvendo uma teoria de inovação social transformadora sobre empoderamento e mudança na sociedade. É cofinanciado pela Comissão Europeia, tendo duração de quatro anos, de janeiro de 2014 até dezembro de 2017. O TRANSIT utiliza um método de investigação que incentiva o feedback de empreendedores, inovadores sociais, decisores políticos e acadêmicos para desenvolver uma teoria com relevância prática. Dentre os parceiros deste grupo de pesquisa, está a

Université Libre de Bruxelles onde a pesquisadora fez seu doutorado

sanduíche, em 2016, desenvolvendo uma ligação acadêmica com os pesquisadores e envolvendo-se pessoalmente na coleta de dados para o grupo. Para a análise das proposições, o pesquisador Bonno Pel foi consultado (TRANSFORMATIVE SOCIAL INNOVATION THEORY, 2017a);

2. CRISES – o centro de pesquisa sobre inovações sociais é um centro de

pesquisa interuniversitário e multidisciplinar que estuda e analisa a inovação e a mudança social em quatro áreas complementares: 1) inovações sociais e transformações em práticas políticas e sociais; 2) inovações sociais e transformações em território e governos locais; 3) inovações sociais e transformações em empresas coletivas; 4) inovações sociais e transformações em trabalho e emprego. Ele é um dos principais grupos de pesquisa sobre o tema e reúne cerca de sessenta pesquisadores em oito instituições, entre elas a HEC Montreal, à qual o professor Luciano Barin Cruz está vinculado. A pesquisadora fez uma disciplina do doutorado na Unisinos ministrada pelo professor Barin, que desenvolve alguns projetos colaborativos com o grupo de pesquisa GESMAC. Este professor foi consultado para a análise das proposições teóricas (CRISES, 2017);

3. SI-Drive – o grupo de pesquisa é financiado pela União Europeia e possui

diversos parceiros, porém os contatos centrais para esta tese foram os professores Jürgen Howaldt e Dmitri Domanski da Technische Universität

Dortmund na Alemanha. Durante o período de doutorado sanduíche em

Bruxelas, a pesquisadora e sua orientadora participaram de uma reunião em Dortmund para estreitar laços com o grupo de pesquisa, o que abriu a

possibilidade de análise das proposições desta tese pelos pesquisadores. O grupo possui como principal objetivo o mapeamento de inovações sociais na Europa e no mundo, a fim de realizar pesquisas orientadas para o futuro, analisando barreiras e drivers para a inovação social; desenvolvendo instrumentos e ferramentas para intervenções políticas nesta área (SI- DRIVE, 2017).

Para o procedimento da coleta de dados desta etapa, Meuser e Nagel(2009) mencionam que uma entrevista aberta baseada em um guia apropriado para a coleta de dados seria a melhor opção, mas os questionários permitiriam um o conhecimento ao nível da consciência discursiva, contendo raciocínio racionalista correspondente a padrões oficialmente aceitos. Desta forma, as duas opções são apresentadas, sendo que para a tese optou-se por um questionário, a fim de permitir que os especialistas analisassem com mais profundidade cada uma das sete proposições.

O documento foi enviado via e-mail para os grupos de pesquisa, sendo solicitada a análise de cada uma das posposições e, na medida do possível, a exemplificação com casos empíricos no contexto social no qual os grupos atuam. O resultado desta etapa permitiu a análise das proposições com grupos de pesquisa extremamente renomados na área investigada, bem como a extrapolação dos resultados encontrados nas etapas anteriores. Para que uma pesquisa avance em teoria é necessária uma abordagem ampla e complexa, com um universo de investigação abrangente, esta tese não possui tal pretensão, mas visa ser o início de avanços nesta área de estudo.