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QUADRO 3 – TRABALHOS ANALISADOS CONFORME O TIPO DE DEFICIÊNCIA 2001 –

4 A EDUCAÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO CENTRO DE ENSINO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL HELENA ANTIPOFF

4.2 O acolhimento, os serviços oferecidos e a terminalidade

4.2.1 Etapa de preparação para o trabalho

A preparação para o trabalho envolve todas as atividades desenvolvidas em sua trajetória educacional, desde seu acolhimento pela equipe técnica e multiprofissional do Centro até o momento do seu encaminhamento para a sala de formação para o trabalho e para os cursos de qualificação que concluem a segunda etapa, oferecidos em parceria com o Sistema S: Serviço Nacional de Aprendizagem da Indústria – SENAI e Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio –SENAC35.

As atividades de preparação para o trabalho englobam tanto a identificação das competências e habilidades básicas e dos interesses dos sujeitos, que serão explorados e fortalecidos pelas oficinas pedagógicas e pelo programa de competência de vida, bem como pela oferta concomitante de atividades complementares como arte, educação física, dança, psicomotricidade e informática.

Depois de autorizada sua matrícula, o discente é encaminhado para a sala de identificação de competências e habilidades – SICH, onde sua atuação e interesses serão considerados em todo o percurso formativo até o seu desligamento como aluno, de acordo com as etapas de formação.

A coordenadora pedagógica do turno matutino destaca que esse período em que ele fica na SICH serve para que ele seja observado em diversos aspectos.

[...] é o tempo de a gente fazer uma análise dos exames clínicos que ele traz, do fisioterapeuta, do terapeuta ocupacional, para saber que atividades físicas ele pode desenvolver; se existe alguma patologia, por exemplo, se ele tem algum problema de visão que prejudique ele na oficina de trabalhos manuais, pela questão do uso de coisas pequenas, para que a gente possa estar encaminhando ele para a oficina que melhor corresponder às competências e habilidades que ele traz, para que a gente possa desenvolver outras, aí ele tem um período de oito anos pra vivenciar as oficinas (ANA).

Assim, os alunos passam por um período de adaptação, para serem melhor encaminhados ou para as oficinas pedagógicas ou para as atividades de competência de vida, que proporcionem o fortalecimento de sua autonomia cotidiana. O intuito desse

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O chamado Sistema S corresponde a um conjunto de nove instituições ligadas a atividades profissionais diversas. Dentre essas instituições, destacamos o SENAI e o SENAC, que têm realizado, nos últimos anos, cursos de qualificação para atuação no mercado de trabalho para os alunos do CEEE Helena Antipoff.

momento de observação, mediante múltiplas sondagens realizadas pelo professor da SICH e pela equipe multiprofissional, é perceber quais as oficinas e atividades que melhor se adequam ao seu perfil, bem como aos seus interesses, conforme destacado por Ana.

4.2.1.1 As oficinas pedagógicas

As oficinas pedagógicas do CEEE Helena Antipoff são organizadas com o objetivo de desenvolver competências e habilidades julgadas necessárias à inclusão da pessoa com deficiência intelectual no mundo do trabalho. Assim, com base nos quatro pilares da educação para o século XXI36, propostos pelo Relatório Delors para a UNESCO (UNESCO, 2010), o Centro propõe em seu PPP a realização de oficinas pedagógicas que possam conferir aos alunos o desenvolvimento de sua autonomia; além de trabalhar técnicas e comportamentos que serão demandados pelo trabalho e garantir que o jovem ingresse na etapa seguinte, de qualificação para o trabalho (MARANHÃO, 2009).

Sobre os serviços oferecidos a coordenadora pedagógica reflete que

[...] o que o Helena busca é uma autonomia de vida. E uma autonomia de vida de forma geral, tanto no mercado, quanto a gente também oferece condições, através do trabalho autônomo, digamos, [...] de ensinar um ofício para que o aluno tenha condições de buscar essa autonomia de vida, de buscar esse espaço em sociedade. Então, resumindo, para mim, de diversas formas o que o Helena oferece é uma autonomia de vida para esse aluno (ANA).37

Atualmente, o CEEE Helena Antipoff oferece as oficinas de Encadernação e Xerox, de Reciclagem de Papel, de Trabalhos Manuais, oficina de Cerâmica, Laboratório de Alimentação e Nutrição e Oficina de Jardinagem e Paisagismo. Segundo o PPP do Centro, estas oficinas pedagógicas “oportunizam aos alunos com deficiência intelectual e múltipla a aprendizagem das habilidades básicas, específicas e de gestão, tendo em vista a preparação para o trabalho e a convivência na comunidade” (MARANHÃO, 2009, p.30).

Segundo Tanaka e Manzini (2005), as pesquisa têm apontado que a falha no processo de formação e qualificação profissional é um dos aspectos que podem dificultar a inclusão da pessoa com deficiência intelectual no trabalho.

No Brasil, essa formação tem frequentemente ocorrido por intermédio de programas desenvolvidos por oficinas pedagógicas ou protegidas de instituições de ensino especial. Entretanto, existem críticas em relação aos procedimentos que esses programas utilizam, por considerar que as atividades comumente

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Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.

37 Torna-se imperioso salientar que durante as falas dos entrevistados buscou-se destacar elementos que julgamos relevantes para a compreensão do contexto explorado por meio do uso de itálico.

ensinadas, como artesanato, tapeçaria e marcenaria, são selecionadas mais em função dos recursos materiais disponíveis e da tradição institucional do que da demanda do mercado de trabalho, pouco contribuindo para efetivamente qualificar essa população (TANAKA; MANZINI, 2005, p.275).

O aspecto da tradição, como ressaltado pelos autores, fica evidente na estrutura curricular do Centro que, na última década, não sofreu nenhuma alteração na tipificação de suas oficinas pedagógicas. Ainda permanece arraigado, nas concepções e práticas educacionais, o pressuposto da aprendizagem pelo concreto e, consequentemente, a intensa divisão entre trabalho manual e intelectual. O desafio parece ceder lugar ao treino, característico das práticas adaptativas do movimento de integração na escola regular.

O aspecto agravante dessa prática adaptativa/integrativa está no fato de se insistir para que o treino se realize a partir do que é concreto, ou seja, palpável, tangível, insistentemente reproduzido, de forma alienante, supondo que os alunos com deficiência mental só “aprendem no concreto!” (BATISTA; MANTOAN, 2007, p. 20, grifo do autor).

A exemplo disso, podemos citar a utilização (de)limitada das novas tecnologias, uma vez que as atividades complementares de informática educacional privilegiam o aspecto mais lúdico da tecnologia, “com a criação de desenhos, pinturas e texto” (MARANHÃO, 2009). Reconhecemos a importância da ferramenta tecnológica no processo ensino-aprendizagem, mas acreditamos que o jovem com deficiência intelectual possa ser mais (e melhor) desafiado neste processo. Além disso, se estamos em “novos” tempos, de informatização das comunicações, há que se pensar em propostas de formação profissional que considerem as demandas da contemporaneidade.