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1 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PENAIS ORIENTADORES NA

2.2 Evolução da execução penal no Direito Brasileiro

Durante o período colonial, entre os anos de 1500 e 1822, o Brasil era regido pelas regras do Direito Português, através das Ordenações Filipinas, que constituíram a base da organização criminal nesse período. Segundo Felipe Lima de Almeida (2014), nessa fase, o direito e a doutrina não apresentaram muito interesse na regulação da execução penal, ou no que tange ao sistema penitenciário. Segundo as Ordenações Filipinas, as penas aplicáveis eram a de morte, diversas modalidades de penas corporais, pena de degredo e pena privativa de liberdade.

Pedroso (2004 apud Cardoso, 2006) expõe que o Livro V das Ordenações Filipinas decretava a colônia brasileira como local de moradia para os “degredados”. Assim, a primeira forma de punição aplicada no Brasil Colônia teria sido o exílio, de modo que muitos exilados

em Portugal e em outros países europeus eram trazidos para cumprir pena no território da colônia brasileira.

Com a Independência do Brasil, em 1822 e a instituição da primeira constituição brasileira, a Constituição Imperial de 1824, segundo Almeida (2014), não foram contempladas previsões específicas sobre a execução penal, embora tenham sido instituídos princípios importantes para a execução da pena, como o princípio da personalidade da pena, da individualização das penas e a proibição da aplicação de penas cruéis.

Cumpre destacar que desde o período Imperial já se estabelecia em nosso país a intenção de que os aprisionados por crimes mais graves não tivessem contato com os apenados por crimes considerados mais banais, conforme se extrai do artigo 179, inciso XXI, da Constituição do Império de 1824, o qual dispunha que as cadeias deveriam ser seguras, limpas e bem arejadas, bem como, deveria existir a separação dos réus conforme suas circunstâncias e natureza de seus crimes.

Entretanto, a Constituição do Império, no que tange à execução das penas, limitava-se à tal disposição. Da mesma forma, o Código Criminal do Império, vigente a partir de 1830, apenas previa quais as espécies de penas aplicáveis, deixando de dispor sobre a forma com que deveria ocorrer sua execução.

Somente após a instituição da primeira Casa de Correção brasileira, em 1850, foi editado o Decreto 678 de mesmo ano, que estabelecia a regulamentação e funcionamento dessas Casas, considerado, portanto, a matriz de nosso regulamento carcerário, cujos efeitos são sentidos até hoje (ALMEIDA, 2014).

Assim, para aprisionamento dos apenados foram instituídas as chamadas Casas de Correção, às quais, segundo Cardoso (2006), eram recolhidos os indivíduos que cometessem atos ilícitos, bem como os mendigos ou aquelas pessoas que não exerciam tarefa alguma dentro da sociedade, frequentemente flagradas perambulando pelas ruas. Portanto, as Casas de Correção eram utilizadas não só para a correção dos indivíduos desvirtuados pela prática criminal, mas também daquilo que era considerado na época como “vadiagem”.

Embora as Casas de Correção tivessem sido elaboradas com o objetivo de estabelecer ocupação aos apenados, instituindo a atividade laborativa, segundo dispõe Pedroso (2004 apud Cardoso, 2006), a falta de estrutura material impossibilitava a execução de atividade laborativa, tornando-as um verdadeiro “depósito de pessoas”, que inclusive permaneciam alojadas em condições subumanas. Portanto, as Casas de Correção constituíram uma tentativa falha de reintegração do delinquente.

Posteriormente, com a elaboração do Código Penal de 1890, foi instituída nova forma de prisão, a prisão celular, determinada pela restrição do espaço físico dos apenados, os quais permaneciam isolados em compartimentos celulares. Assim, aos poucos, sendo substituídas as Casas de Correção por esse novo modelo baseado no isolamento e pautado na segurança, o qual ainda permanece atualmente (CARDOSO, 2006).

Cumpre observar que com o modelo celular de prisão permaneceu a instituição de atividade laboral aos apenados durante a execução penal. De tal forma, o objetivo da prisão tanto no período Imperial quanto na República, consistia na recuperação do delinquente, a fim de tornar os inúteis para o mercado, úteis para a sociedade.

Seguindo exemplo das normatizações anteriores, o primeiro Código Penal da República dispôs sobre a execução penal de forma muito sucinta, razão pela qual incumbia à cada estado brasileiro a determinação de como a pena seria executada em seus estabelecimentos, por meio de seus Códigos de Processo Penal. Assim, no período da República as penas eram executadas de acordo com as possibilidades de instalações prisionais da época, bem como conforme a existência de recursos humanos para trabalhar junto aos condenados (CARDOSO, 2006).

Dessa forma, mesmo com diversas normatizações esparsas, permaneceu a falta de regulação no âmbito da execução penal, assim como, também foi pouca a referência à normas no âmbito da execução penal apresentadas pelo Código Penal elaborado em 1940.

Segundo Julio Fabbrini Mirabete (2004, p. 23), desde tal época foi posta em relevo pela doutrina a necessidade de uma Lei de Execução Penal em nosso ordenamento, haja vista que o Código Penal e de Processo Penal não constituíam lugares adequados para um regulamento da execução penal e medidas privativas de liberdade.

Enfim, em 1981, uma comissão constituída pelo Ministro da Justiça e vários professores renomados da área do direito, com o intuito de elaborar regras específicas sobre execução penal, elaborou o projeto da Lei de Execução Penal, publicada em 13 de julho de 1984, a qual trouxe parâmetros normativos específicos a serem observados na execução e administração das penas (MIRABETE, 2004).

Portanto, a Lei de Execução Penal surgiu como resposta às reivindicações doutrinárias referentes à elaboração de regras que tratassem de forma específica a execução das penas, de modo a preencher as lacunas deixadas pela legislação brasileira no âmbito da execução penal, instituindo um sistema de execução penal jurisdicionalizado e mais humano e prevendo direitos aos condenados e princípios a serem observados durante a fase de execução das penas.

Destaca-se que a Constituição Federal promulgada em 1988 recepcionou a Lei de Execução Penal e estabeleceu inclusive outras garantias aos acusados e condenados, dispostas em seu artigo 5º, em meio ao rol de direitos fundamentais. Dentre tais garantias destaca-se a vedação à tortura, ao tratamento desumano ou degradante; assegurando ao preso sua integridade física e moral, além de abarcar os princípios da personalidade e da individualização da pena durante sua definição e execução.

Almeida (2014) destaca que a LEP estabelece tratamento humanitário aos detentos e reclusos, consagrando que os mesmos continuam titulares de todos os seus direitos, que não são atingidos pela sentença condenatória. Portanto, a Lei de Execução Penal surgiu com intuito de impedir a excessos por parte do Estado e garantir os direitos do executado mesmo após a sentença condenatória e durante todo o processo de execução de sua pena.

Além disso, a LEP inovou muito ao tutelar assistências educacional e laboral e criar mecanismos capazes de influenciar o desenvolvimento da dignidade do condenado, como, por exemplo, o instituto da remição penal, o qual permite que o apenado exerça serviços dentro da penitenciária ou em ambiente externo e com isso reduza o tempo de pena a ser cumprida.

Dessa forma, a execução penal, atualmente, é baseada em princípios constitucionais e penais que objetivam a concretização das penas não somente como medidas retribucionistas,

mas também como possibilidade de promover condições harmônicas para a reintegração do apenado à sociedade e reduzir os índices de reincidência.