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1 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PENAIS ORIENTADORES NA

3.1 O instituto da remição penal a partir da Lei de Execuções Penais

3.1.2 A remição da pena pelo estudo

Conforme o artigo 126 da Lei de Execução Penal, atualmente, o apenado poderá remir a pena tanto por exercício do trabalho quanto pelo estudo. Entretanto, até o ano de 2011, o estudo não era considerado pela LEP como atividade-meio para a remição da pena. Porém, o Superior Tribunal de Justiça já reconhecia a possibilidade de remição por meio do estudo, por meio da Súmula 341 do STJ, a qual dispunha que “A frequência a curso de ensino formal é causa de remição de parte do tempo de execução de pena sob regime fechado ou semiaberto.” Assim, as reiteradas decisões utilizando esse entendimento, levaram à elaboração da Lei 12.433 de 2011, a qual alterou a LEP para fazer constar a possibilidade de remição também pelo estudo.

Destaca-se que as decisões que concediam a remição penal com base no estudo, antes da edição da lei 12.433 de 2011, fundamentavam-se no sentido de que o estudo propicia, assim como o trabalho, um meio para vida digna fora das penitenciárias. Assim, utilizavam a analogia in bonan partem, ou seja, aplicação analógica do dispositivo que permitia a remição pelo trabalho, para concessão também da remição pelo estudo, em benefício do apenado.

Outrossim, importante ressaltar que a educação é uma garantia fundamental concedida à todo indivíduo pela Constituição Federal, conforme estabelece o seu artigo 6º. Portanto, estando o direito ao estudo assegurado pela Carta Magna à todo cidadão, necessário que seja concedido àqueles que estão privados da liberdade, modo pelo qual o Estado deverá possibilitá-lo também dentro das penitenciárias.

Nessa perspectiva, observa Julião (2011):

[...] é importante ter claro que os reclusos, embora privados de liberdade, mantêm a titularidade dos demais direitos fundamentais (integridade física, psicológica e moral). O acesso ao direito à educação lhe deve ser assegurado universalmente na perspectiva acima delineada e em respeito às normas que o asseguram.

Portanto, além de ser um instrumento e incentivo para a reinserção do apenado na sociedade, e, assim, também positivo à sociedade, o estudo é, acima de tudo, um direito fundamental do apenado e não pode ser ignorado pelo Estado.

Partindo dessa premissa, insta observar que o instituto da remição penal busca reafirmar esse direito, bem como incentivar o estudo do apenado, através da redução da execução de seu tempo de pena. Para tanto, a LEP regula os parâmetros que o apenado deverá observar, para que seja concedida a remição pelo estudo.

Assim, o parágrafo 1º do artigo 126 da LEP estabelece que

§ 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de:

I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias;

Entretanto, o apenado deverá comprovar as atividades desenvolvidas, devendo a autoridade policial, segundo estabelece o artigo 129 da LEP, encaminhar ao juízo o registro de todos os condenados que estejam exercendo atividade educacional ou laboral, fazendo constar os dias e horas de frequência exercida por cada um deles.

Não obstante, o estudo pode ser desenvolvido dentro das penitenciárias ou fora delas, de forma presencial ou por metodologia de ensino à distância, desde que seja devidamente certificada pelas autoridades educacionais competentes dos cursos frequentados, segundo estabelece o artigo 126, parágrafo 2º da LEP.

Cumpre observar que a utilização da modalidade de ensino à distância no cárcere seria ferramenta de grande potencial para garantir o direito ao estudo e à remição aos apenados,

diante da falta de profissionais dispostos à ministrar aulas nas penitenciárias. Entretanto, essa modalidade de ensino não é muito utilizada na prática, devida à falta de infraestrutura e de investimentos nessa área.

Outrossim, o apenado que cumpre pena em regime semiaberto poderá realizar estudo em instituição que se situe fora do estabelecimento penal, desde que a atividade de estudo se refira a curso profissionalizante, de 2º ou superior e desde que a instituição de ensino declare a frequência e aproveitamento escolar do apenado para fins de comprovação mensal à direção do estabelecimento prisional. Entretanto, essa possibilidade de estudo fora das penitenciárias condiciona-se apenas ao regime de prisão semiaberto ou aberto, pois é necessária a autorização de saída temporária. Da mesma forma, é necessária autorização do Juízo de Execução (AVENA, 2015, p. 264).

Assim, verifica-se que o instituto da remição penal se estende aos presos em regime aberto ou que usufruem de livramento condicional, bem como àqueles que se encontram em prisão cautelar, conforme estabelece o parágrafo 6º e 7º do artigo 126 da LEP. Nesse sentido, segundo Avena (2015, p. 264), “viabiliza-se a remição pelo estudo também em relação aos presos provisórios. Evidentemente, nesse caso fica o abatimento da pena condicionado à superveniência de condenação criminal.”

Observa-se que a LEP além da remição de um dia de pena a cada 12 horas de frequência escolar, traz previsão ainda, à um desconto “extra”, o qual é concedido assim que o apenado concluir o ensino fundamental, médio ou superior. Assim, dispõe o parágrafo 5º do artigo 126 da LEP: “O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) no caso de conclusão do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde que certificada pelo órgão competente do sistema de educação.”

De tal forma, conforme expõe Avena (2015, p. 264), esse dispositivo visa assegurar o preso ao aprimoramento cultural, de modo que prevê que o tempo de remição será acrescido de 1/3 em havendo conclusão do ensino fundamental, médio ou superior, devidamente certificado pelo órgão competente. Conforme observa o autor, “para fins de incidência do acréscimo legal, os cursos mencionados deverão ser concluídos durante a execução da pena.”

Avena (2015, p. 264-265) ainda destaca que “o referido índice tem pertinência apenas à hipótese de conclusão do ensino fundamental, médio ou superior, não incidindo, portanto, na órbita das atividades profissionalizantes e de requalificação profissional.”

Portanto, a LEP traz diferentes possibilidades de propiciar ao preso a realização do estudo, com a finalidade de remir tempo de pena. Entretanto, vemos que não é de forma adequada que essas normas estão sendo aplicadas na realidade do sistema prisional. É flagrante em várias penitenciárias a falta de profissionais que se disponham a prestar o serviço de ensino dentro das penitenciárias, bem como a falta de estrutura para propiciar o ensino aos mesmo.

Cumpre observar que a instituição do estudo como atividade-meio para alcance da remição penal é ainda muito recente, sendo normatizado apenas em 2011, pela Lei 12.433. Entretanto, o estudo como direito do preso foi instituído a mais de três décadas, desde a entrada em vigor da LEP. Dessa forma, a preocupação com o ensino dos presos deveria ter começado trinta anos atrás, de modo que hoje deveriam estar concretizadas as mudanças implantadas pela LEP. Porém, o que se vê na atual realidade da execução penal brasileira é um sistema gatinhando nessa direção.