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1 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PENAIS ORIENTADORES NA

3.1 O instituto da remição penal a partir da Lei de Execuções Penais

3.1.3 A remição da pena pela leitura

O instituto da remição penal, conforme estabelecido pelo texto legal do artigo 126 da LEP, é viabilizado por meio da realização de atividades como o estudo e o trabalho. Entretanto, nos últimos anos, a leitura também vem sendo interpretada como atividade que possibilita a remição.

Esse entendimento teve início com a instituição da Recomendação nº 44/2013 do Conselho Nacional de Justiça, a qual recomendou aos Tribunais de Justiça o estímulo à remição pela leitura dentro dos estabelecimentos penitenciários, como forma de atividade complementar “notadamente para apenados aos quais não sejam assegurados os direitos ao trabalho, educação e qualificação profissional, nos termos da Lei n. 7.210/84 [...]”

Por meio da Recomendação nº 44, o CNJ estabeleceu alguns parâmetros para o desenvolvimento da atividade de leitura com a finalidade de remição da pena dentro das penitenciárias estaduais e federias. Dentre tais recomendações está a de assegurar a disponibilização de uma obra literária à cada participante, incluindo-se os presos cautelares. Estabelece ainda que nos acervos das bibliotecas deve existir pelo menos 20 exemplares de cada obra que será trabalhada.

Atualmente, a remição pela leitura já encontra-se sedimentada, pois possui entendimento favorável proveniente do Superior Tribunal de Justiça, que em junho de 2015, reconheceu essa possibilidade por meio na decisão ao Habeas Corpus nº 312.486 – SP, relatado pelo ministro Sebastião Reis Junior, com base nos seguintes fundamentos:

3. O estudo está estreitamente ligado à leitura e à produção de textos, atividades que exigem dos indivíduos a participação efetiva enquanto sujeitos ativos desse processo, levando-os à construção do conhecimento. A leitura em si tem função de propiciar a cultura e possui caráter ressocializador, até mesmo por contribuir na restauração da autoestima. Além disso, a leitura diminui consideravelmente a ociosidade dos presos e reduz a reincidência criminal. 4. Sendo um dos objetivos da Lei de Execução Penal, ao instituir a remição, incentivar o bom comportamento do sentenciado e sua readaptação ao convívio social, a interpretação extensiva do mencionado dispositivo impõe-se no presente caso, o que revela, inclusive, a crença do Poder Judiciário na leitura como método factível para o alcance da harmônica reintegração à vida em sociedade (BRASIL, 2015).

Portanto, o STJ segue a mesma tese utilizada para conceder a remição da pena pelo estudo, antes da criação da Lei 12.433, qual seja, a de utilizar a analogia in bonan partem, visto que o artigo 126 da LEP tem o objetivo de ressocializar o condenado.

Além disso, doutrinariamente há o entendimento de que a leitura é considerada exercício que integra a atividade de estudo, não podendo, portanto, ser descartada pelo Estado, visto que tem o papel de desenvolver a capacidade individual de aprendizado, agregando conhecimento, cultura e propiciando a evolução intelectual do indivíduo. Portanto, possui escopo ressocializador, à medida que contribui para o desenvolvimento intelectual dos apenados, além de diminuir o tempo ocioso dos mesmos, transformando-o em momento de aprendizado.

Destarte, apesar de existir entendimento do STJ favorável à remição pela leitura, o único regulamento que dispõe os parâmetros para a concessão desse direito, atualmente, é ainda a Recomendação elaborada pelo CNJ no ano de 2013. Assim, as penitenciárias que vem implantando projeto de remição pela leitura utilizam com parâmetro o disposto nessa recomendação.

Nos termos da Recomendação 44 de 2013 do CNJ, o apenado poderá remir pela leitura quatro dias de sua pena, bem como, ao final de até doze obras efetivamente lidas e avaliadas, tem a possibilidade de remir quarenta e oito dias, no prazo de doze meses.

Outrossim, o CNJ estabelece também um critério objetivo que deverá ser observado pelos estabelecimentos para fins de remição, qual seja, o prazo de 21 a 30 dias para a leitura da obra literária, devendo ser apresentado ao final desse período, uma resenha referente à obra lida, que será submetida a um critério legal de avaliação. Além disso, nas penitenciárias onde há a implantação do projeto remição pela leitura, os livros a serem ofertados são previamente selecionados.

Importante destacar que, passados pouco mais de dois anos da recomendação pela instituição da remição pela leitura, alguns estados brasileiros estão sendo pioneiros ao implantar esse projeto, conforme noticiado no site do CNJ, por Luiza de Carvalho Fariello (2015)

Dois anos e meio após a sua aprovação, a Recomendação n. 44/2013 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que propõe a instituição, nos presídios estaduais e federais, de projetos específicos de incentivo à remição pela leitura, já está consolidada em quase todo o país. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP), por exemplo, instituiu, ainda em 2013, uma portaria de remição de pena por meio de oficinas de leitura, com o objetivo de incentivar sua adoção pelos juízes das varas de execução criminal, e até o segundo semestre de 2016 espera-se que a iniciativa já esteja implantada em 90% dos presídios do estado.

Outrossim, as penitenciárias federais de Catanduvas/PR, Campo Grande/MS, Porto Velho/RO e Mossoró/RN fazem parte, desde 2009, do Projeto Remição pela Leitura, o qual, segundo levantamento realizado até junho de 2014, obteve um número de 3.067 participantes, tendo sido produzidas 2.687 resenhas, das quais 2.338 foram aprovadas para fins de remição

penal. Entretanto, como a recomendação do CNJ e a decisão favorável do STJ ainda são recentes, a remição pela leitura é implantada apenas como projeto nas referidas penitenciárias.

Conforme informado no relatório da DEPEN, realizado em 2014,

Por meio da Portaria Conjunta Depen/Corregedoria-Geral da Justiça Federal nº 276/2012, em consonância com a Lei Federal 12.433 de 2011, foi instituído o Projeto Remição Pela Leitura nas Penitenciárias Federais. Por meio do Projeto, os presos que participarem de atividades de leitura orientada podem obter a redução do tempo de pena. O custodiado pode ler um livro por mês, podendo reduzir quatro dias de pena, 48 dias no total de um ano, para cada leitura resenhada adequadamente. À luz dessa iniciativa, alguns estados, como o Paraná, adotaram programa análogo em suas unidades prisionais. Em estados onde essa atividade não é regulamentada pelo Poder Executivo, ademais, há casos de juízes da Vara de Execuções Penais que instituíram a prática em sua comarca por meio de decisão judicial.

Assim, segundo o levantamento, há apenados realizando atividades relacionadas à leitura em penitenciárias dos estados da Bahia, Pará, Acre, Minas Gerais, Goiás, Maranhão, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rondônia, Amapá, Mato Grosso, Sergipe, Tocantis, Pernambuco, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Desse modo, em 2014 existiam 5.120 apenados utilizando-se da atividade da leitura dentro das penitenciárias brasileiras, sem contabilizar o estado de São Paulo.

3.2 O efeito do estudo e do trabalho no comportamento do acusado, reflexos além da