• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E CONCEPTUAIS DA

2.1 Evolução histórica e conceptual da supervisão em Serviço Social

A supervisão é uma actividade essencial no Serviço Social. Destina-se a apoiar os assistentes sociais na apropriação e consolidação da sua identidade, reflectindo sobre seus papéis, práticas e intervenções. Promove um maior rigor no exercício das actividades profissionais (Bourque, 2010) e acompanhou desde sempre a profissão.

Evolução histórica

A supervisão é uma prática que está vinculada ao Serviço Social desde as suas origens, tanto na formação dos assistentes sociais, como em todos os processos de intervenção social. Começou-se a delinear a par das acções filantrópicas desenvolvidas pelas organizações sociais do século XIX, consideradas as origens do Serviço Social (Cruells, 2009). Kadushin e Harkness (2014) afirmam que a sua evolução e desenvolvimento ocorreram em simultâneo com o progresso teórico, prático e as transformações do Serviço Social. Na sua obra podemos encontrar descrições de Smith, que já em 1901 escrevia sobre a actividade dos supervisores. Estes supervisores eram, normalmente, colegas mais experientes que

43 A supervisão desenvolve-se em diferentes ciências humanas, sociais e psicológicas e nos campos da educação e da saúde. Não obstante, “sem excluir nenhum sector específico, os profissionais que exercem práticas vinculadas à atenção ou ajuda às pessoas (onde a relação é relevante) são quem mais a pratica e apoia.” (Cruells, 2011a: 129).

acompanhavam o trabalho do voluntário, apoiando-o nas suas necessidades, para que melhor pudesse ajudar os outros.

Apesar de na bibliografia de Serviço Social se fazer referência apenas à supervisão em sentido “clínico” a partir do início dos anos vinte, o conceito associa-se à própria profissão de assistente social nos EUA. Nesse contexto, o trabalho dos supervisores era supervisionar o trabalho desenvolvido pelos voluntários (friendly visitator) nas organizações caritativas: “Para que se cumprissem os objectivos pré-estabelecidos pelas organizações, os supervisores deveriam orientar, formar e animar os agentes voluntários.” (Aristu, 2008: 63, itálicos do autor).

Este trabalho de supervisor era realizado por profissionais com mais experiência, sem que isso requeresse uma formação específica para o efeito. De salientar que foi precisamente neste contexto, em que os primeiros assistentes sociais sentiam a necessidade de diferenciar o trabalho que eles realizavam daquele que realizavam os visitadores voluntários, que surgiram as primeiras escolas de Serviço Social. Confluíram, assim, três elementos: por um lado a necessidade de clarificar, delimitar e especificar o lugar dos diferentes agentes; por outro lado a necessidade de surgimento de locais de formação em Serviço Social e, por fim, a necessidade de supervisionar a prática (voluntária e profissional) (Kadushin e Harkness, 2014).

Foi em 1911 que se organizou o primeiro curso do que mais tarde se veio a denominar por supervisão, sob responsabilidade da organização caritativa Russel Sage Foundation, cujo departamento era dirigido por Mary Richmond44 (Aristu, 2008; Kadushin e Harkness, 2014). Com esse curso começava a surgir uma nova profissão dentro da também recentemente criada profissão de agentes sociais, ou seja, o agente supervisor. O seu papel era dirigir e coordenar o trabalho dos voluntários e dos trabalhadores, prestando-lhes também suporte emocional:

“São três as actividades que se mantêm como tarefa ao longo do exercício da supervisão relacionadas com o Serviço Social, e vêm já desde o início da ajuda aos agentes sociais: a tarefa de orientar, a de formar ou instruir e a de apoiar.” (Aristu, 2008: 64)

Este trabalho de supervisão, no início, era eminentemente individual, o que coincide com o método de Serviço Social mais desenvolvido na altura, o casework (Tsui, 2005; Wonnacott, 2012; Kadushin e Harkness, 2014).

44 Mary Richmond e Octavia Hill, enquanto percursoras do Serviço Social profissionalizado, foram pioneiras também não integração do papel e das funções de supervisoras, no seu trabalho. Octavia Hill foi quem desenvolveu as primeiras acções de capacitação do pessoal e Mary Richmond considerava que o trabalho de supervisão deveria ser realizado por profissionais experientes no sentido de solucionarem situações complexas.

Apesar de o primeiro texto de Serviço Social que utiliza no seu título a palavra supervisão ter sido “Supervision and Education in Charity”45, de Jeffrey Brackett em 1905 (Zueras, 2012; Kadushin e Harkness, 2014), a supervisão teve a sua origem na Charity Organization

Society [COS] no século XIX (Kadushin e Harkness, 2014). As COS dispunham de pessoal

voluntário (visitadores) para apoiar as famílias. Uma vez que não eram profissionais, surgiu a necessidade de prestar aconselhamento prático ou supervisão, por parte do pessoal remunerado da organização (Zueras, 2012).

Nos anos trinta surgiu uma prática de assistência/orientação técnica que tinha como objectivo intervir no processo de organização nas obras sociais, orientando, controlando e fiscalizando-as. Nesse contexto, a supervisão era entendida como um processo educativo através do qual uma pessoa com mais saber e experiência tinha a responsabilidade de treinar outra com menos recursos técnicos (B. Vieira, 1989; Guerra e Braga, 2009). Sob influência norte americana, o enfoque situava-se no Serviço Social de casos, onde a ênfase era colocada na abordagem individual e psicossocial. É nesta lógica que surgiu, em 1936, a primeira obra, considerada como um tratado sistemático da supervisão, com o título “Supervision in

Casework” da autora Virginia Robinson.

Os livros de Virginia Robinson sobre a supervisão determinaram consideravelmente a visão sobre a natureza do Serviço Social (Martinez, 1991). Também a obra de Bertha Reynolds “Learning and Teaching in the Practice of Social Work”, publicada em 1942, faz as primeiras referências à supervisão, concebida em diferentes formatos: como forma de apoio administrativo ou de controlo, como apoio educativo e formação, e como apoio ao desenvolvimento pessoal (Buriolla, 2003; Tsui, 2005; Cruells, 2009; Kadushin e Harkness, 2014).

Charlotte Toule, no seu livro “Common Human Needs” de 1945, conceptualiza e teoriza a supervisão de forma mais aprofundada, o que fez com que viesse a ser considerada uma das mais influentes obras nesta matéria (idibem)46

Um importante contributo teórico foi o de Alfred Kadushin, um dos primeiros autores a sistematizar o tema da supervisão em Serviço Social, no seu livro Supervision in Social

Work em 1975 (Tsui, 2005; Cruells, 2009; Kadushin e Harkness, 2014).

45 Neste texto é utilizada a palavra supervisão referindo-se aos conselhos públicos das instituições de bem-estar social.

46 Nessa altura, a prática da supervisão alargou-se à área da psiquiatria, dos serviços de saúde e às próprias escolas de Serviço Social, ainda com muita influência das teorias da aprendizagem adaptativa à luz da psicanálise. Só mais tarde, nos anos 1950, com a evolução das metodologias de trabalho de grupo, a supervisão se começou também a realizar em grupo, alargando-se o interesse à instituição.

Sendo certo que enquanto prática, a origem da supervisão em Serviço Social se situa nas COS, face à necessidade de orientar e capacitar as pessoas que nela trabalhavam, não se pode falar de supervisão em Serviço Social até que surjam as primeiras escolas e se concretize o Serviço Social como profissão.

A evolução da prática da supervisão profissional em Serviço Social no contexto europeu

Aristu (2008) constata que na Europa o conceito de supervisão só foi introduzido em 1945, tendo sido depois da Segunda Guerra Mundial que se estendeu a países como a Inglaterra, Alemanha, Holanda e na Europa Central em geral. Os primeiros supervisores destes países, em primeiro lugar da Holanda e os da Suíça, prepararam-se para esta actividade nos finais dos anos 1950 e início dos anos sessenta nos Estados Unidos. Posteriormente seriam os alemães a preparar-se na Holanda e na Suíça, coadjuvados por professores norte americanos. Foi nos países da Europa Central que mais se desenvolveu a formação e a actividade profissional da supervisão com modelos próprios. Todos eles eram unânimes ao definir a supervisão como um processo de reflexão sobre situações ou momentos de conflito no exercício da profissão (Aristu, 2008).

Por exemplo em Espanha, só em 1983 se começou a registar algum interesse explícito pela supervisão, sobretudo na formação de assistentes sociais, com a publicação do decreto de criação das Escolas Universitárias de Serviço Social. Nesse decreto é explícito que para a valorização compreensiva da profissão de Serviço Social deverão ser utilizadas diversas técnicas de supervisão (individual, grupal, no campo das práticas e em meio educativo) por profissionais de Serviço Social das escolas e das instituições. Em 1993 foi criada a associação de formação de supervisores – Asociación Navarra Mitxelena [ANM] – criada por Jesús Hernández Aristu juntamente com um grupo de assistentes sociais e educadores sociais, em colaboração com o Institut für Beratung und Supervision de Aquisgrán47 (ibidem).

Em Espanha, foram principalmente dois os autores que estudaram em profundidade, sobretudo a partir dos anos noventa, a evolução da supervisão: Jesús Aristu e Josefina Barrera (Cruells, 2009). Ambos constataram que o interesse pela supervisão cresceu a par do desenvolvimento das escolas de Serviço Social, verificando-se ainda hoje uma relevância significativa nos actuais planos de estudo da instauração da supervisão. Refere Cruells

47 Foi durante vários anos a única organização em Espanha que ofereceu formação completa em supervisão (450 horas) (Aristu, 2008)

(2009: 52) que esta notabilidade se pode entender à luz da complexidade da sociedade contemporânea onde se desenvolve o Serviço Social:

“As instituições formadoras têm de se adaptar à complexidade, já que (…) se requer mais flexibilidade na formação das profissões e o desenvolvimento de uma atitude prática de aprendizagem, onde o centro da atenção deve ser a pessoa em si própria.”

Actualmente a Asociación Navarra Mitxelena para la Supervisión y el Desarrollo Personal foi substituída e integra a Gingko Asesoramiento e Desarrollo Personal, uma empresa que começou o seu trabalho em 2007 (depois de 13 anos de experiência da ANM)48.

Inspirada especialmente em paradigmas psicoterapêuticos, posteriormente libertou-se da sua dimensão de controlo (Lodewick e Pirotton, 2008). Desta forma, de uma relação vertical (clínica tradicional) passou-se a uma relação mais horizontal, conceptualizada de supervisão de apoio (mais democrática) (ibidem). Esta distinção entre controlo e apoio não impede que, na prática, possam existir interferências.

Constata-se, de facto, que a supervisão em Serviço Social é levada a cabo em diferentes países de forma distinta (Bradley et al., 2010). Podem existir uma multiplicidade de configurações, desde espaços informais de profissionais que compartilham inquietações, a uma profissão estruturada, uma actividade regulamentada e reconhecida como tal em diferentes países (Association of National Organizations for Supervision in Europe [ANSE], 2016).

É importante ter em consideração que a supervisão pode ser um importante instrumento de trabalho não só para os profissionais que vivenciam problemas no seu trabalho, mas também para todos os que queiram melhorar o seu desempenho:

“Supervisores da Alemanha, dos Países Baixos, Suíça, Áustria ou Hungria e em Espanha entendem a supervisão como uma actividade de aconselhamento para pessoas que procuram realizar melhor o seu trabalho, e como um método específico de orientação para reflectir sobre o fazer profissional.” (Cruells, 2009: 80)

Lodewick e Pirotton (2008) assinalaram o crescimento da procura de supervisão (individual e de equipa) nos últimos anos, não só em organizações do sector social solidário, mas também no sector público. Constatam que a supervisão começa a ser identificada,

48 O assessor técnico da Gingko é Jesús Hernández Aristu, professor honorário da Universidade Pública de

Navarra, formador de orientação, supervisão e coaching a nível internacional. Para além do seu conhecido trabalho na área do Serviço Social, Aristu tem também um vasto trabalho relacionado com o tema da supervisão, sendo de destacar a sua colaboração na criação de organizações internacionais de supervisão e

coaching (e.g. ANSE), e a sua pertença, como membro da associação europeia de supervisão e coaching com

sede em Berlim (EASC). A sua obra mais relevante em matéria de supervisão é: “Acción comunicativa e

reconhecida e estimulada pelos poderes públicos que muitas vezes as impõem mesmo às equipas.

Em Espanha, é sobretudo a partir dos anos 1990 que se começa a desenvolver produção científica sobre a supervisão como método de aconselhamento a profissionais da área social, destacando-se os trabalhos de Hernández Aristu, responsável pela introdução do modelo alemão de supervisão49.

Agências europeias de supervisão

A Associação Europeia de Supervisão e Coaching [EASC], fundada em 1994 como

European Association for Supervision (adoptando a actual designação European Association for Supervision and Coaching em 2010), é uma associação comercial europeia que tem

como objectivo a garantia da qualidade na supervisão e do coaching50. Desenvolve cursos de formação certificada nesta área e promove o diálogo entre associações de supervisão e

coaching na Europa.

A Association of National Organizations for Supervision in Europe [ANSE] criada em 1997 pelas organizações profissionais nacionais de supervisão da Áustria, Alemanha, Hungria, Holanda e Suíça, foi constituída enquanto associação “chapéu”, com sede em Viena, para atender à necessidade de cooperação europeia entre as associações e troca de ideias entre profissionais. Representa cerca de 8000 supervisores qualificados e treinados na área da consultoria, em 22 países europeus e mais de 80 instituições de formação (Cano, 2010). A ANSE tem como objectivos: promover intercâmbio de informação entre as organizações e institutos de formação; promover a troca de experiências entre peritos, disseminar a supervisão e o coaching; garantir a qualidade da supervisão e do coaching (standards). Promove também a aprendizagem sobre a diversidade cultural e apoia a cooperação, dando suporte: à fundação de organismos nacionais de supervisão e de coaching; a iniciativas de formação em países europeus; a investigações e iniciativas com vista ao desenvolvimento de teorias e metodologias de supervisão e coaching.

49 A primeira tese de doutoramento sobre supervisão em Espanha “La Supervisión en la Intervención Social:

Un instrumento para la calidad de los Servicios Sociales y el bienestar de los profesionales”, de Carmina Puig

i Cruells (2009), trouxe importantes contribuições para a sedimentação desse modelo, tendo também inspirado a nossa reflexão neste trabalho.

50 O termo coaching provém do verbo inglês “to coach” que significa treinar. É um método que consiste em dirigir, instruir e treinar uma pessoa ou um grupo. Situa-se numa abordagem pragmática, orientada para a procura de soluções (Zueras, 2012).

A Associação Europeia de Supervisores e Coaches [EAS] adverte para o risco da utilização inflacionista e abusiva dos conceitos de coaching e de supervisão, reivindicando um estatuto para a profissão. Actualmente ainda não há, a nível europeu, uma cultura uniforme ou medidas estandardizadas para a supervisão. Apresentam-se, hoje, novas exigências de qualidade aos profissionais: auto responsabilidade, auto organização, capacidade de cooperar e capacidade de aprendizagem ao longo da vida (Büngers-Rabitsch, 2008).

Em termos institucionais Jesús Hernandez foi pioneiro ao organizar o Instituto de

Supervisores/as Profesionales Asociados51 [ISPA], que faz parte da Association of National Organisations for Supervision in Europe.

A Associação Europeia de Escolas de Serviço Social [EASSW] dedicou, em 2007, um seminário regional à supervisão, que, a par de outros eventos semelhantes, se constituiu como uma importante iniciativa para gerar conhecimento sobre o tema, promovendo a criação de redes entre vários assistentes sociais.

Também a revista Políticas Sociais en Europa dedicou, em 2008, um número especial à supervisão, com a designação “Supervisión: análisis, testimonios y perspectivas”, no sentido de apresentar diferentes metodologias e experiências que existem na Europa, a qual se revelou um importante contributo nesta matéria.

Apesar de não pretendermos esgotar a identificação de todas as entidades que desenvolvem a sua acção nesta área, da pesquisa efectuada podemos afirmar que na Europa existem várias associações de supervisores, criadas com a intenção de garantir qualidade do trabalho destes profissionais e também para oferecer espaços de formação contínua. Os profissionais nelas registados trabalham como consultores independentes, e estas associações garantem processos de formação, sistemas de controlo da qualidade e um código de ética.

Supervisão profissional em Serviço Social em Portugal

Em Portugal não conhecemos, até à data, nenhuma associação de supervisores em exercício, embora se tenha conhecimento da existência de diversos supervisores liberais. A Associação dos Profissionais de Serviço Social [APSS] oferece serviços de supervisão em Serviço Social, definindo-a como

“(…) um processo em que um/a assistente social, geralmente mais experiente e informado, orienta outro/a assistente social tendo como referência o desenvolvimento pessoal e profissional, implicando uma orientação prática. A supervisão profissional em

serviço social tem como finalidade melhorar a prática do assistente social no sentido do desenvolvimento profissional e pessoal. Enquanto processo metodológico, possibilita o desenvolvimento e a consolidação da profissão. O seu objectivo consiste em aumentar os conhecimentos e a competência dos profissionais, permitindo melhorar a prática profissional através da orientação e do aconselhamento.” (APSS, 2016)

A metodologia que a APSS preconiza para a supervisão inclui “apresentação e discussão de casos, estudo de temas teóricos, estudo de temas práticos escolhidos e apresentados pelos participantes, partilha de experiências profissionais” (ibidem)

As modalidades oferecidas são: i) a supervisão individual (regular ou pontual); ii) a supervisão em grupo (4 a 6 pessoas); iii) a supervisão institucional ou supervisão de uma equipa de trabalho em contexto institucional (através de protocolo estabelecido entre as partes). Para além destes três tipos de supervisão, oferece também serviços de consultoria (destinada à “concessão de informação/orientação para trabalhos académicos e/ou científicos, apresentações de temas em contextos profissionais, projectos ou outras situações específicas” (ibidem)).

A equipa de supervisores da APSS é constituída por assistentes sociais “qualificados, com pelo menos dez anos de experiência profissional e, pelo menos, cinco anos de experiência de supervisão, no contexto pedagógico ou profissional”. (ibidem).

Não obstante a acção da APSS, em Portugal a figura do supervisor e de conteúdos programáticos nesta área são praticamente inexistentes. Como argumenta Anjo (2013: 17):

“(…) em contexto da sociedade portuguesa, a supervisão na agência do Serviço Social é um apoio profissional quase inexistente, tendo um baixo reconhecimento, e (…) quando existe tem uma prevalência na dimensão técnico-operativa, ou instrumental”.

A supervisão, quer na formação curricular em actividade de estágio, quer no próprio exercício da profissão tem logrado pouco espaço de atenção e reflexão na comunidade científica, o que pode significar ser-lhe atribuída pouca importância e, consequentemente, fraca visibilidade. É de assinalar que na carreira de Serviço Social, em Portugal, contrariamente a outras profissões, não existe lugar de carreira para o supervisor (Anjo, 2013).

Também Carvalho (2012b: 89) reconhece que

“(…) infelizmente, em Portugal, na área do Serviço Social, apesar de os profissionais necessitarem de supervisão, esta parece ter sido «extinta» pelos decisores das organizações. Muitos assistentes sociais que dela necessitam têm de socorrer-se de profissionais independentes e liberais que desenvolvem estes processos.”.

Evolução conceptual

Zueras (2012) identifica três épocas diferentes para caracterizar os diferentes enfoques da supervisão: i) na época em que predominavam os aspectos tecnológicos e fundamentalistas, a supervisão era entendida como uma relação de autoridade que implicava dependência e conformidade do supervisando; ii) na época da reconceptualização do Serviço Social, a relação entre supervisor e supervisando tendia a uma relação de horizontalidade; iii) na actualidade, ainda que próxima, existe uma diferenciação maior das partes, uma vez que os papéis e as responsabilidades são diferentes. “A relação entre supervisor e supervisando é de profissional para profissional sem passar por um trato de excessiva confiança que possa vir a interferir na tarefa em que há um compartilhar e um separar” (ibidem: 192).

De acordo com tudo o que temos vindo a enunciar, temos então:

Figura 4: Evolução do conceito de supervisão

Fonte: Elaboração própria

A revisão da literatura sobre o Serviço Social mostra que a supervisão tem sido definida primariamente em termos de funções administrativas e educativas, embora a ênfase varie com o autor e com os tempos. Robinson, no primeiro texto de Serviço Social sobre este assunto “Supervision in social casework”, define supervisão como um processo educativo no qual uma pessoa habilitada com conhecimentos e capacidades assume a responsabilidade de treinar outra pessoa com menos competências (Kadushin e Harkness, 2014). A primeira edição da “Encyclopedia of Social Work” define a supervisão como um processo educativo, especificamente como

“um método tradicional de transmissão de conhecimento das competências práticas do Serviço Social de pessoas treinadas para as não treinadas, das experientes paras alunos e profissionais inexperientes” (Stein 1965, cit in Kadushin e Harkness, 2014: 9).

1920

•Controlo experiencial – distingue voluntários e profissionais •Orientar, formar, instruir

1940

•Administrativa – controlo de execução •Terapêutica – suporte emocional e técnico

1950

•Suporte moral - educativa •Suporte pedagógico - formativa

2000

•Qualidade - optimização de resultados

Reflectindo a rápida expansão dos programas de bem-estar social e saúde e os serviços humanos lançados pela “War on Poverty” em 1965, a 16ª e 17ª edições da “Encyclopedia of

Social Work” (publicadas em 1971 e 1977, respectivamente) enfatizaram a função

administrativa da supervisão, definindo a supervisão como uma função administrativa, um processo para conseguir que o trabalho seja feito e manter um controlo e responsabilização organizacional” (Miller 1977, cit in Kadushin e Harkness, 2014: 9).

A supervisão foi influenciada ao longo da sua história pelas teorias da organização científica (tendo Taylor (1930) como principal referência – one and only best way, há apenas uma única forma de executar bem uma tarefa) e da Escola das Relações Humanas (de Elton Mayo (1924-32) a importância das condições de trabalho na produtividade dos operários) e da Psicologia Dinâmica (Maslow e McGregor (1950-60) conhecimento dos processos dinâmicos que ocorrem no sistema interno das organizações). Quer os contributos da Psicanálise, quer os da Educação52 foram importantes para a supervisão em Serviço Social. Particular influência foi exercida pelo filósofo e pedagogo John Dewey (1930-50 – o