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Expansão Financeira: Período de Instabilidade

A GEOPOLÍTICA E GEOECONOMIA DO PETRÓLEO Apesar das apreensões de muitos, o mundo provavelmente não

1.5 PETRÓLEO E HEGEMONIA, SOB A ÓTICA DA ECONOMIA POLÍTICA DOS SISTEMAS-MUNDO

1.5.3 Expansão Financeira: Período de Instabilidade

O período de expansão financeira da hegemonia norte- americana foi marcado, como os anteriores, por uma crise de sobreacumulação na economia-mundo capitalista. A crise de lucratividade teve como causas, em primeiro lugar, o aumento da concorrência horizontal entre empresas capitalistas34, ocasionado pelo desenvolvimento da Europa ocidental (em especial a Alemanha) e do Japão (ARRIGHI, 2008, p. 133). Assim como o crescimento econômico da Alemanha e dos Estados Unidos no fim do século XIX colocou em cheque a hegemonia britânica, o aumento da concorrência intercapitalista na produção marcou a deterioração da hegemonia norte-

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Além da concorrência horizontal, a crise de lucratividade foi agravada pela pressão vertical: os trabalhadores organizados do centro em torno de sindicatos impedem que a queda da lucratividade se resolva por meio da depreciação de seus salários (ARRIGHI, 2008, p. 133); também a industrialização do “Sul global” foi um dos elementos mais dinâmicos no aumento da concorrência (Ibidem, p. 142). Ao aumento da concorrência e à entrada de mercadorias de baixo custo no mercado norte-americano (e mundial) seguiu-se a estratégia dos Estados Unidos de desvalorizações cambiais a fim de aumentar a competitividade da produção doméstica, desestabilizando assim o regime do padrão dólar-ouro internacional.

americana: a hegemonia norte-americana no âmbito da produção estava em sua fase final.

Ameaçados no campo da produção, os Estados Unidos reagem no campo das finanças, pressionando, principalmente através do Fundo Monetário Internacional (FMI), a abertura dos mercados em geral e mercados de capitais ao comércio internacional (HARVEY, 2004, p. 58)35. O padrão dólar-ouro foi abandonado formalmente em 1973 em lugar das taxas de câmbio flexíveis. A partir daí os fluxos monetários passariam a ser totalmente liberados do controle dos Estados e a economia passou a operar a partir de um sistema financeiro desmateralizado (Idem).

Expansões financeiras desse tipo repetiram-se desde o século XIV, como a reação característica do capital à intensificação das pressões competitivas que decorreram, invariavelmente, de todas as grandes expansões do comércio e produção mundiais. A escala, o âmbito e a sofisticação técnica da atual expansão financeira são, é claro, muito maiores que os das expansões anteriores. Mas essa maior escala, âmbito e sofisticação técnica nada mais são que a continuação da sólida tendência da longue durée do capitalismo histórico à formação de blocos cada vez mais poderosos de organizações governamentais e empresariais como principais agentes da acumulação de capital em escala mundial (ARRIGHI, 1996, p. 309).

Além do mais, as iniciativas militares dos Estados Unidos, em especial a Guerra do Vietnã (1955-1975), resultaram na escalada do balanço de pagamentos e endividamento crônico norte-americano (HARVEY, Op. Cit., p. 59), resultando em pressões inflacionárias mundiais (Ibidem, p. 57), que contribuíram para o fim de Bretton

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As semelhanças com a expansão financeira britânica são diversas: “Ambas foram longos períodos de lucratividade reduzida; ambas de caracterizaram pela intensificação da pressão competitiva sobre as empresas capitalistas no sistema como um todo; e ambas foram precedidas de uma expansão excepcionalmente constante e lucrativa do comércio e da produção mundiais. Além disso, em ambos os períodos a crise de lucratividade e a intensificação da concorrência brotaram da mesma fonte que a expansão precedente: o êxito dos países atrasados em “alcançar” as conquistas desenvolvimentistas antes “monopolizadas” por um país líder” (ARRIGHI, 2008, p. 126).

Woods e do sistema de câmbio fixo (ARRIGHI, 2008, p. 144). As contradições da hegemonia citadas anteriormente, elevadas ao tom do nacionalismo crescente, acabaram por enfraquecer a credibilidade e a ordem do sistema interestatal como um todo. A Guerra do Vietnã representou a “crise sinalizadora” da hegemonia dos Estados Unidos, que face à queda de credibilidade passou a utilizar da força de maneira intensiva para conter o nacionalismo e o comunismo na periferia (Idem). Se a expansão financeira anterior representou a colonização, esta seria marcada por uma onda de guerras, revoluções e descolonização no sul (Ibidem, p. 146).

Em resumo, a crise da hegemonia norte-americana, para Arrighi, se deu em três frentes:

Militarmente, o exército norte-americano entrou em dificuldades cada vez mais sérias no Vietnã; financeiramente, o Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos verificou ser difícil e, depois, impossível preservar o modo de emitir e regular o dinheiro mundial estabelecido em Bretton Woods; e, ideologicamente, a cruzada anticomunista do governo norte-americano começou a perder legitimidade no país e no exterior. A crise teve uma deterioração rápida e, em 1973, o governo norte-americano havia recuado em todas as frentes (ARRIGHI, 1996, p. 310).

O fracasso da Guerra do Vietnã e a crise de legitimidade e do poder norte-americano, somados à percepção da importância estratégica das reservas de recursos naturais e humanos dos países do Terceiro Mundo, provocaram uma sensação de inversão de poder no sistema mundial, em favor dos países do Terceiro e Segundo Mundos (Ibidem, p. 333); igualmente, a desvalorização cambial da moeda norte- americana no início da década de 1970, que objetivava o aumento da competitividade norte-americana face à entrada de mercadorias de baixo custo nos mercados norte-americano e mundial, forçou tais países a adotarem uma postura mais agressiva com relação ao preço de suas exportações de matérias-primas industriais, principalmente o petróleo: o Choque do Petróleo foi, deste modo, também uma resposta a estes eventos (ARRIGHI, 2008, p. 167-168).

Se a nacionalização da indústria do petróleo pelos países produtores já havia criado uma ansiedade com relação à oferta de energia nos principais centros consumidores, o uso do petróleo como uma arma econômica trouxe à tona a dependência dos países do centro

do sistema com relação aos países exportadores de petróleo. Com relação aos impactos na circulação de capital, ao mesmo tempo em que o preço da energia se tornava mais caro aos principais consumidores, os países do Primeiro Mundo, agravando a crise de lucratividade e a inflação, a liquidez abundante foi redirecionada para investimento nos países do Terceiro Mundo (e do Segundo): “por alguns anos, o capital pareceu ter-se tornado tão abundante que era quase uma mercadoria gratuita”36

(ARRIGHI, 1996, p. 334). Porém, os choques do petróleo da década de setenta tiveram seus efeitos colaterais, que redefiniram a indústria do petróleo.

Após a nacionalização em larga escala da década de 1970 no setor do petróleo e a quebra da histórica integração vertical, as grandes companhias privadas de petróleo adotaram um amplo leque de estratégias a fim de manter sua atividade e lucratividade em uma indústria em processo de mutação. Além do direcionamento para novas áreas de produção, outras companhias passaram a focar suas atividades no downstream da cadeia do petróleo e desenvolver novos produtos derivados; as técnicas de refino se tornam mais sofisticadas e as refinarias mais flexíveis, a fim de acomodar uma maior variedade de tipos de petróleo – processo que gerou, além do mais, uma maior concentração da indústria de refino de petróleo nos Estados Unidos, devido ao fechamento de empresas menores (LINDE, 2000, p. 17). Uma segunda estratégia adotada foi o enfoque na produção de gás natural. A necessidade de garantir a segurança da oferta levou as companhias privadas a desenvolverem suas habilidades na produção, transporte e distribuição de gás natural, que se tornou parte essencial dos negócios das grandes empresas privadas de petróleo (Ibidem, p. 18).

Mas, mais importante, a alta dos preços do petróleo após o choque de 1973 e a consequente entrada de capitais permitiram que as grandes companhias privadas de petróleo explorassem novas reservas de petróleo que antes possuíam custos proibitivos, como, por exemplo, o mar da Norte e o Alasca. Esse direcionamento para áreas de mais difícil

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Como veremos no capítulo a seguir, o caso brasileiro foi emblemático: a alta liquidez internacional e a facilidade de concessão de empréstimos impulsionaram projetos de desenvolvimento e modernização da indústria no Brasil sob o regime militar – é o caso do Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (1975-1979) do Governo Geisel. Além disso, a alta dos preços do petróleo tornaram viáveis os investimentos offshore da Petrobrás, conferindo à empresa posição de vanguarda em tecnologia de exploração em águas profundas.

produção, que necessitam de tecnologias mais avançadas, impulsionou o desenvolvimento de novas habilidades de gerenciamento e inovação no interior das companhias privadas, que redefiniu as dinâmicas competitivas no mercado internacional de petróleo e ergueu as barreiras de entrada no setor petrolífero.

The key element in this strategy is the imposition by the international oil companies of a new phase on the value chain, a phase preceding exploration: exploration R&D. Although the initial costs of developing new exploration and production techniques were high, the international oil companies could develop these techniques under the price umbrella of OPEC [OPEP, na sigla em inglês] and recoup their investments. When these techniques were mastered, costs began to decline, and oil produced in these initially high cost areas became cheaper (Idem, p. 18).

Além de uma maior concentração tecnológica na indústria do petróleo, impulsionada pela necessidade de inovação nas empresas privadas para tornar possível a produção em ambientes mais hostis (e sob a proteção dos preços altos proporcionada pela OPEP), o direcionamento das atividades das empresas para locais de produção anteriormente inviável foi surgir uma maior competição na indústria que culminou na diluição do poder da OPEP sobre seus rivais. Também na própria organização, internamente, há a exacerbação da assimetria de interesses entre seus membros devido à concorrência crescente no mercado.

Em um âmbito mais geral, posteriormente, a Revolução Iraniana de 1979, que tirou do poder o regime amigável aos Estados Unidos do Xá e instaurou o regime dos aiatolás, os consequentes acontecimentos da crise de confiança do dólar, a invasão soviética do Afeganistão e o segundo choque do petróleo convenceram os Estados Unidos a recentralizar o poder de compra em suas mãos, buscando uma nova aliança com as altas finanças. (ARRIGHI, 2008, p. 334). O aumento da taxa de juros nos Estados Unidos redirecionou maciçamente os fluxos de capital para o país e para o dólar, e a “dívida externa crescente permitiu que os Estados Unidos transformassem a crise cada vez pior da década de 1970 numa belle époque totalmente comparável ao período eduardiano da Grã Bretanha e, em alguns aspectos, bem mais espetacular” (Ibidem, p. 155).

“Os efeitos devastadores das políticas monetárias restritivas norte-americanas, das altas taxas de juros e da desregulamentação logo colocaram os países do Terceiro Mundo de joelhos” (ARRIGHI, 1996, p. 334). Ao passarem a absorver o capital mundial, a partir da alta das taxas de juros na década de 1980, as crises da dívida assolaram a América Latina e demais países do Terceiro e Segundo Mundos que haviam aproveitado o crédito fácil para buscar colocar em prática seus planos de desenvolvimento. Os modelos de austeridade do FMI abriram o caminho para a colocação em prática do projeto neoliberal defendido pelos Estados Unidos. A dívida externa crescente permitiu que os Estados Unidos “conseguissem pelos meios financeiros o que não conseguiriam pela força das armas: derrotar a União Soviética na Guerra Fria e domar o Sul rebelado” (ARRIGHI, 2008, p. 155).

A queda dos preços do petróleo em meados de 1986, causada por um excesso de oferta face uma demanda reduzida naquela que ficou conhecida como “a década perdida”, contribuiu para o colapso dos planos de desenvolvimento dos países exportadores de petróleo, assim como para a derrocada do sistema soviético, altamente dependente das receitas da exportação de petróleo. Em meio ao caos que se seguiu à dissolução da União Soviética e ao novo status da Rússia como um Estado independente a partir de 1992, a estabilização da economia e construção dos alicerces de uma economia de mercado, ao lado da privatização de um amplo leque de empresas e recursos de propriedade do governo, eram as necessidades mais imediatas.

A indústria do petróleo russa, altamente capaz, porém sofrendo o peso de uma infraestrutura obsoleta e também operando em meio à mesma anarquia do resto da economia (YERGIN, 2014, p. 36), seria também de importância fundamental para o novo Estado que surgia. Porém, a privatização e a reestruturação que se seguiram foram feitas nos moldes ocidentais: se antes a indústria do petróleo era organizada horizontalmente, com diferentes ministérios para cada setor (petróleo, refino, petroquímica e comércio exterior, por exemplo), e organizada a partir do sistema de planejamento central soviético, agora ela seria integrada verticalmente, com exploração e produção, refino e comercialização em uma só estrutura (Ibidem, p. 37).

Em novembro de 1992, o Presidente Boris Yeltsin adota esta nova abordagem e realiza a privatização da indústria petrolífera, prevendo a criação de três empresas integradas verticalmente – Lukoil,

Surgut e Yukos37; além disso, a indústria moderna contava com a estatal Rosneft, seis “minigrandes”, e a Gazprom, gigante de gás do país (Ibidem, p. 41). A Rússia ressurge, assim, como uma grande exportadora de petróleo global. As empresas ocidentais passar a buscar joint ventures com as empresas de petróleo russas (porém, não nas áreas tradicionais de grande produção da Sibéria Ocidental38); também esta corrida aconteceu com as repúblicas ex-soviéticas, com destaque para os países do Cáspio: Azerbaijão, Cazaquistão e Turcomenistão.

Na esteira da financeirização, o início da década de 1980 acendeu o debate sobre o papel do Estado na regulação do setor do petróleo (e da economia em geral), quando os “países tiveram que reconhecer seu fracasso como produtores eficientes e tiveram que admitir sua fraqueza nas capacidades de monitoramento” (LINDE, Op. Cit., p. 04). Se no período de expansão material da hegemonia norte- americana havia uma maior intervenção do Estado na economia a fim de corrigir suas imperfeições, a partir de moldes keynesianos de Estado de bem-estar social, o período que se seguiu foi marcado pela desregulamentação e privatização em larga escala promovidos principalmente pelo FMI.

O processo de privatização da indústria do petróleo na Rússia e nas ex-repúblicas soviéticas contribuiu para o debate e para a pressão estabelecida sobre os países da OPEP, que não possuíam mais tanto poder na defesa de suas receitas como nos anos iniciais: a organização encontrava-se sem coordenação interna, com diversos de seus países assolados por problemas financeiros decorrentes da baixa dos preços do petróleo, e frente a uma competição com empresas privadas fortalecidas tecnologicamente.

No fim dos anos 1980, as diversas tentativas de comercialização de empresas estatais do petróleo demonstraram o reconhecimento das dificuldades vivenciadas pelos países exportadores de petróleo; mas

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A Yukos foi, posteriormente, desmantelada e absorvida pela Rosneft, maior empresa de petróleo da Rússia, com participação majoritária do governo russo (YERGIN, 2014, p. 50).

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A única exceção foi a BP, que conseguiu adquirir 10% da empresa Sidanco, que possuía parceria com a TNK, uma das minigrandes russas, no campo de Samotlor, o maior da Sibéria Ocidental (YERGIN, Op. Cit., p. 44) Outras empresas rumaram para áreas pouco desenvolvidas: a Conoco levou a tecnologia do Alasca para um projeto na região norte do Ártico; a Exxon e a Shell foram para Sakhalin, ilha no extremo oriente da Rússia (Ibidem, pp. 44- 48).

foram os países fora da OPEP, como a Argentina, que tomaram a liderança nos processos de privatização, pois na OPEP ainda havia uma grande relutância em desfazer o processo de nacionalização (LINDE, Op. Cit., p. 05).

Whereas the 1970s and early 1980s were the years in which oil produced for the international oil market was progressively brought under state control, the late 1980s and 1990s showed a contrary development. The oil price fall in 1986 and the continued lower oil prices in the years thereafter unleashed a move away from the, indebted, state. In the 1980s and early 1990s, critical discussions on the rationality of state ownership began to gain ground among policymakers both at national and international level. Although the oil industry was still slow to adopt these insights, just as it was late in bringing it under state control, some countries, in developed as well as in developing countries, took the bold step of privatization (Ibidem, p. 07). No Reino Unido, a estatal Britoil perdeu o status especial que havia conquistado na década de setenta, e grandes ativos da BP em posse do governo foram vendidos; em meio ao processo de abertura de mercados promovida pelo neoliberalismo, e “inspirados” pelo programa de austeridade do FMI que se propunham a estabilizar as economias e solucionar as crises de dívida da década de oitenta, governos de diversos países como o Brasil, por exemplo, realizaram a privatização de suas estatais e liberalizaram a indústria do petróleo (Idem). A crise da dívida trouxe à tona um sentimento de insatisfação com relação ao desempenho dos Estados em liderar o processo de desenvolvimento e industrialização domésticos.

A onda de privatizações se intensificou na década de noventa, e com ela uma onda de maior concorrência pelo capital circulante e por tecnologia entre os países exportadores de petróleo gerou um retorno da proeminência das grandes empresas privadas de petróleo à cena internacional, após quase duas décadas de papel coadjuvante:

Although they are less often seeking 100% equity stakes than in earlier periods, and are more aware of investment risks, their control over the market has increased. Joint ventures, strategic alliances and, of late, mergers, are serving to balance risk and control for the large private international oil companies thus putting them in a much better position to maintain profitability than the state oil companies, despite lower oil prices (Ibidem, p. 08).

A década de 1990, por outro lado, foi marcada pelo otimismo gerado pelo aumento da integração de países e mercados devido à redução dos custos de transporte e comunicação39, e pela a ascensão econômica dos “tigres asiáticos” – Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Cingapura, além de posteriormente a Malásia, Indonésia, Tailândia e Filipinas. Assim como ocorreu na expansão financeira britânica, a década de 1990 vivenciou uma reação da economia à financeirização, definindo uma belle époque de crescimento momentâneo. Com relação à primeira, a belle époque do início do século XX terminou com a catástrofe das guerras mundiais e o colapso econômico da década de 1930 (ARRIGHI, 2008, p. 127-128).

O crescimento econômico acelerado da Ásia significou o aumento da demanda por energia, em especial o petróleo, revertendo o processo de deterioração dos preços dos anos anteriores. “Esses países haviam se tornado um mercado crescente para o petróleo, e o mundo tinha todos os motivos para acreditar que tal crescimento econômico asiático continuaria em ritmo febril” (YERGIN, 2014, p. 94). O otimismo do período levou os países da OPEP, em 1997, a reunirem-se em Jacarta, na Indonésia, a fim de rever as cotas de produção de petróleo de seus membros; acreditava-se que, mesmo com o aumento da produção, os preços sustentar-se-iam devido às perspectivas de crescimento do leste asiático (Ibidem, p. 95).

Não foi o que ocorreu, entretanto. Se “até o dia dois de julho de 1997, a região do Pacífico asiático era, com justiça, mundialmente considerada a história de sucesso em relação ao desenvolvimento

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Para os estudiosos dos Sistemas-Mundo, a globalização não configuraria um fenômeno novo, inédito e restrito ao fim do século XXI, e sim um processo que se iniciou com a emergência do capitalismo no longo século XVI (BAIR, 2005, p. 157).

econômico e à modernização tecnológica” (CASTELLS, 1999, p. 251), em questão de apenas alguns meses, economias inteiras entraram em colapso (Indonésia, Coreia do Sul), enfrentaram recessões profundas (Malásia, Tailândia, Hong Kong, Filipinas), e a principal economia, o Japão, foi abalada por falências financeiras – e por fim, também entrando em recessão (Idem)40. Ou seja, ao mesmo tempo em que a produção era aumentada, a demanda por energia estava em declínio. “O preço caiu para dez dólares por barril e, para alguns tipos de petróleo, chegou a seis dólares por barril – preços vistos apenas durante o colapso de 1986, e que o mundo acreditava que jamais voltariam a acontecer” (YERGIN, Op. Cit., p. 97). O erro cometido pelos países da OPEP na Indonésia ficou posteriormente conhecido como a “Síndrome de Jacarta” (Idem). Em conseguinte, a nova baixa dos preços contribuiu para o aprofundamento das crises que se seguiam desde a década de 1980:

The economies of the oil-producing countries did not fare well. After the 1986 price collapse, countries such as Mexico, Venezuela, Nigeria and Algeria encountered severe economic and debt problems that required the assistance of the IMF [FMI, na sigla em ingles]. Mexico encountered new problems in 1994-1995, and negatively inf1uenced other economies in Latin America, including smaller oil producers, like Ecuador, Argentina, and Colombia. In Africa, both Algeria and Nigeria have experienced catastrophic political problems, which have caused their

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Na base da crise financeira asiática, encontrava-se a perda da confiança dos