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BREVE PANORAMA REFLEXIVO ACERCA DA RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

GT 02: AS FACES DA ÁGUA ECOFEMINISMO E O USO CONSCIENTE DA ÁGUA: SOMOS PARTE DE UM

TODO

Jessyca Bernardes Diniz1, Nicole de Souza Soares1*, Ana Alice DeCarli1

1*Universidade Federal Fluminense. Email: nicole_soares@id.uff.br

RESUMO

O ecofemismo é um movimento que teve seu termo cunhado na década de 1970, com o objetivo de alertar para a exploração tanto humana, quanto não - humana, isto é, do meio ambiente natural como um todo (<http://sustentareviver.blogspot.com/2014/04/ecofeminismo.html>). Alguns estudiosos, a exemplo, de James Lovelock, consideram a terra um grande ser vivo; um “superorganismo vivo” (LOVELOCK, 2010, p.33). De modo que este super ser vivo é capaz de se autorregular, com base no princípio da resiliência. O argumento do ponto de vista feminista, ao se preocupar com a natureza, é pautado na intersecção entre a opressão sofrida pelas mulheres e o sistema de exploração sem limites dos ecossistemas existentes no Planeta Terra, em benefício dos interesses humanos. Assim, busca-se neste breve ensaio, a partir de uma pesquisa exploratória, baseada em doutrina, analisar a lógica de dominação relacionada à estrutura patriarcal. Para tanto se fará um recorte metodológico, com vistas a destacar a questão do acesso à água boa. A água – recurso ambiental finito e essencial à vida do e no planeta - tem sido utilizada de forma inconsequente, diante da falsa premissa de que seria infinita. É nesse contexto que se encaixa o objetivo desse resumo, ao analisar a relação íntima entre a mulher e o meio ambiente – este visto como um ser vivo autossustentável - e como essa combinação se aplica ao papel do movimento feminista, enquanto auxiliador no consumo consciente da água. Nessa toada, tem-se que o feminismo almeja contestar qualquer tipo de injustiça, no que tange aos sistemas de opressão e exploração; combater a desigualdade de gênero, no que se relaciona ao poder masculino de um modo geral; e, bem assim, participar do processo de mudanças de paradigmas em relação à proteção do meio ambiente natural, e das águas, em particular. Nesse diapasão, acentua Eldis Camargo: “têm-se difundido cada vez mais, círculos de mulheres que evocam sua relação da mulher com a natureza: são mulheres guardiãs da Terra, das Águas e dos Biomas, com o rirme propósito de resgatar a relação do feminino com a natureza e com as tradições culturais “(CAMARGO, 2019, p.272). De acordo com Deegan e Podeschi (The Ecofeminist Pragmatism of Charlotte Perkins Gilman. Environmental Ethics, p. 19.) o homem tem “tendência patriarcal de conquistar, doma, manipular, oprimir e explorar o que é temido e visto como menos poderoso”. Essa visão de que a natureza precisa ser conquistada, explorada e dominada se intensificou principalmente após a Revolução Industrial e, a despeito de alguns avanços, ainda permanece esta visão antropocêntrica da exploração dos bens naturais, muitas vezes sem o devido cuidado. Tal cenário de exploração, de certa forma, se relaciona com o feminismo, na medida em que este movimento procura combater o poder que o homem exerce sobre a mulher - que perdura ao longo dos séculos – e o movimento em prol da natureza visa a minimizar os impactos da exploração da humanidade sobre a natureza. Nesse sentido vale trazer as palavras da ativista indiana Vandana Shiva (Vandana Shiva, <https://www.youtube.com/watch?v=XcKx-uE4xrw>):

no que se refere à vida, as mulheres são experts. Não porque nossos genes e biologia nos fazem assim, mas porque nos deixaram para cuidar do sustento da vida, nos fez experts de uma ponte para o futuro, onde teremos que voltar à vida, às considerações de como manter a vida nesse planeta.

Contudo, a grande questão é quando o que era diferença ou característica biológica se transforma em presunção de desigualdade, como acontece com as mulheres que, historicamente foram subjugadas, em especial pela

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suposta naturalização da maternidade e do cuidado. É essencial que não se reproduza e reforce o argumento de que a mulher está mais próxima da natureza e, com isso, se justifique posicionamentos patriarcais. É através desse viés, por intermédio do método de pesquisa sócio-histórico-analítico e de uma abordagem dedutiva, que é possível constatar que o ecofeminismo tem a plena capacidade de incentivo e auxílio no modo sustentável de desenvolvimento do nosso planeta, em especial com o consumo consciente da água. Assim pontua Ana Alice De Carli (CARLI, 2015, p. 1):

Os fatos da vida revelam que o homem ainda padece de certo analfabetismo funcional em relação à natureza, porquanto convive com ela, dela extrai seu alimento, água para as mais variadas funções e a matéria-prima para o desenvolvimento de bens e serviços, ou seja, depende dos recursos naturais para tudo, mas, infelizmente, pouco ou nada sabe sobre suas diferentes formas de vida e, bem assim, os seus limites. Aliás, poucas são as pessoas que na atualidade, apesar dos constantes problemas de acesso ao direito fundamental à água, por exemplo, procuram usar tal recurso finito com razoabilidade e responsabilidade, isto é, buscando a sustentabilidade do mesmo.

Defende-se que é possível combinar as pautas defendidas pelo ecofeminismo com aquelas que apregoam “um despertar” para o uso consciente da água, uma vez que o movimento lembra que os seres humanos também pertencem à natureza. Logo, somos todos conectados! Nesse sentido, faz-se necessário que se busque caminhos que possam harmonizar desenvolvimento com a proteção do meio ambiente como um todo, mais especificamente - e defendida nesse estudo – a proteção das águas. Como proposta mais concreta, Ana Alice, traz o que denominou como “a contribuição especial da água”, isto é, uma forma de tributação que, de certa forma, impõe ao consumidor do líquido vital um uso consciente, conforme explica (CARLI, 2015, p. 21):

na verdade, não se objetiva com a tese de criação de uma nova exação, ou seja, com a criação de uma contribuição em prol da água aumentar a carga tributária brasileira, que já é alta, mas sim buscar mudanças de comportamento do consumidor do ouro azul. Vale esclarecer, de pronto, que a cobrança do referido tributo só vai ocorrer para aqueles que utilizarem o líquido precioso sem o devido cuidado e consciência ecológica (...).

Desse modo, conclui-se que a ética ecofeminista é uma forma alternativa de se relacionar com a natureza,uma vez que se busca combater as formas irresponsáveis de exploração e, consequentemente, o mau uso da água. A emancipação das mulheres, assim como de todos os seres humanos, depende da substituição de uma estrutura de sociedade moldada pelo poder e de superioridade do homem, por uma pautada em solidariedade, que entenda que estamos conectados, de forma permanente. Para tal, é necessário políticas sociais que enxerguem a exploração como uma forma de destruição dos nossos recursos naturais e a conscientização, baseada na ideia do feminismo, de que somos todos partes de um todo.

REFERÊNCIAS

CAMARGO, Eldis. O ecofeminismo e a participação das mulheres na gestão das águas. Disponível em: < https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/labore/article/view/86531511>. Acesso em 15.05.2019.

CARLI, Ana Alice De. A Contribuição especial da água: novo tributo de arrecadação zero na hipótese de consumidor ecologicamente consciente. CARLI, Ana Alice De; COSTA, Leonardo A; RIBEIRO, Ricardo Lodi (orgs.). Tributação e sustentabilidade ambiental, Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas; 2015. ANGELIN, Rosângela. Mulheres, ecofeminismo e desenvolvimento sustentável diante das perspectivas de redistribuição e reconhecimento de gênero. Estamos preparados?. Revista Eletrônica Direito e Política, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.9, n.3, 3º quadrimestre de 2014. Disponível em: <www.univali.br/direitoepolitica - ISSN 1980-7791>. Acesso em 15.05.2019.

FERRI, Caroline;CAMARDELO, A. M. Paim; OLIVEIRA DE, Mara (org). Mulheres, desigualdade e meio ambiente - Caxias do Sul: Educs, 2017.

LOVELOCK, James. Gaia: alerta final. Tradução de Vera de Paula Assis e Jesus de Paula Assis. Rio de Janeiro: Editora Inytrínseca, 2010.

3º Seminário de Meio Ambiente UFF VR 2019

Floresta, água e clima no século XXI

GT 02: AS FACES DA ÁGUA

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