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Emanuel Ferreira Braga¹*, Gabriel Chabudet de Mesquita¹, Ana Alice De Carli¹

1Universidade Federal Fluminense. emanuelferreira@id.uff.br

RESUMO

Em meados dos anos 2000 pesquisas da FBDS - Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável deram origem a um novo entendimento a respeito das precipitações pluviométricas no território nacional. O projeto rios voadores mostra que existe um fluxo de vapor d’água de proporções maiores que o próprio rio amazonas e que (ZORZETTO, 2009, p.1):

nasce sobre o Atlântico próximo à linha do Equador, ganha corpo sobre a Floresta Amazônica e segue para oeste até os Andes, onde o encontro com a imponente muralha rochosa o faz desviar para o sul. Dali esse imenso volume de água flutua sobre a Bolívia, o Paraguai e os estados brasileiros de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo.

Após a divulgação do fenômeno dos denominados rios voadores, alguns ruralistas se opuseram à veracidade da pesquisa, apresentando contra-argumentos com base na ideia de que a mídia teria afirmado que haveria correlação direta entre o desmatamento na Amazônia e a seca ocorrida no Estado de São Paulo, em 2014. De fato, não existem provas contundentes acerca da existência deste fenômeno. Entretanto, o Projeto Rios Voadores conta com uma metodologiade coleta de dados e de estudo de campo.Os pesquisadores sobrevoaram áreas sobre todo o território que sofre influência do fluxo dos rios voadores, coletaram amostras de água das nuvens e num espectrômetro de absorção a laser, a água coletada pôde absorver a luz de um comprimento de onda específico, por conseguinte, foram identificados os átomos da amostra, técnicas isotópicas permitiram caracterizar a origem dessa água e, assim, acompanhar o deslocamento das massas de ar que as levaram ao local onde foram coletadas. (PROJETO RIOS VOADORES, 2013). Contudo, a recente expansão agrícola na bacia amazônica e o alarmante desmatamento relacionado à exploração econômica direta e indireta estão prejudicando o sistema dos rios voadores na medida em que é dependente da vegetação, “as deforestation of the Amazon continues at an alarming pace (1.5 × 104 km2/yr in the Brazilian Amazon from 1978 to 1988 [Skole and Tucker, 1993]), it is important to quantify the effects of such a reduction in rain forest area on local and global climate.” (WERTH; AVISSAR, 2002). Nesta mesma linha, pesquisadores da Universidade de Duke, Carolina do Norte, desenvolveram em 2002 um estudo objetivando quantificar os efeitos da remoção da cobertura vegetal amazônica, bem como suas consequências climáticas, tanto em escala local quanto global, fazendo uso de simulações numéricas desenvolvidas no modelo climático da Goddard Institute for Space Studies (WERTH; AVISSAR, 2002). Uma análise estatística comparou um grupo de seis simulações controladas com outro grupo de seis simulações onde ocorreu desmatamento, e os resultados foram expressivos na direção de indicar o quão forte é o efeito climático deste último cenário na Região Amazônica,com reduções nas taxas de precipitação, evapotranspiração e quantidade de nuvens. O estudo também revelou impacto considerável em diversas outras regiões do mundo, várias das quais mostraram uma redução de precipitação em temporadas chuvosas, com intensidade diretamente proporcional às respectivas distâncias geográficas em relação à floresta amazônica. Outro ponto relevante do estudo em tela mostra que tais regiões sofrem impactos negativos em seus recursos hídricos e, mais especificamente, em sua produtividade agrícola (WERTH; AVISSAR, 2002). Resta o questionamento acerca dos prejuízos causados pelo desflorestamento em relação aos direitos fundamentais (os quais envolvem os direitos humanos, da natureza e da fauna), considerando-se, inclusive, a visão ecocêntrica da OHCHR (Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas sobre Direitos Humanos) a qual atualmente, considera que, ao lado de dignidade e justiça, desenvolvimento, cultura, gênero e participação, o meio ambiente constitui um dos seis temas transversais dos direitos humanos (CORAZZA,

2018). Com a diminuição do fluxo pluviométrico ao longo das regiões que forem afetadas pelo desmatamento, o direito à água em cotejo com o direito das águas e consequentemente o direito fundamentalà vida poderão ser violados. A rigor, não existem propostas concretas em âmbito nacional para conservar o sistema de rios voadores através da promoção de alguma medida preventiva ou utilização de força policial para impedir o avanço da destruição florestal na Região Amazônica, pelo contrário, o que se observa na atualidade, em terra brasilis, é a tendência de uma nova mudança no Código Florestal, caso venha a ser aprovada a Medida Provisória nº 867/2018. De acordo com o Instituto Socioambiental, a referida Medida Provisória, foi emendada com vista a até “propostas de redução drástica da Reserva Legal (RL) em quatro biomas” (INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2019). Alterações significativas como essas tornariam os ecossistemas sensíveis, isto é, ainda mais suscetíveis à exploração extensiva. Esclarece Alisson que (ALISSON, 2018, p. 1):

o novo Código Florestal, revisado em 2012, ganhou o artigo 15, parágrafo 5, inserido a pedido do Estado do Amapá, que permite aos Estados amazônicos reduzirem esse requisito de reserva legal de 80% para 50% se mais de 65% de seus territórios estiverem protegidos por unidades de conservação ou terras indígenas. Se esse artigo for implementado, entre 7 e 15 milhões de hectares de área de floresta ficariam desprotegidos e sujeitos ao desmatamento legal. Isso porque outros Estados da região, como Amazonas, Roraima e Acre, têm cerca de 80 milhões de hectares de terras públicas ainda não designada.

A pesquisa em tela nos mostrou que a conservação das áreas cobertas pela floresta amazônica - e consequentemente dos rios voadores – é fundamental, tendo em vista o impacto que estas possuem nas condições climáticas em nível local e a nível global, e que o combate ao desmatamento crescente é essencial para assegurar os direitos fundamentais. Por fim, sob a perspectiva metodológica, adotou-se pesquisa exploratória com elementos quantitativos e qualitativos.

REFERÊNCIAS

ALISSON, Elton. Nova regra do Código Florestal pode aumentar desmatamento na Amazônia. Disponível em: <https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-ambientais/nova-regra-do-codigo-florestal-pode-aumentar- desmatamento-na-amazonia/> Acesso em: 10 mai. 2019.

CORAZZA, Rosana. Direitos humanos e meio ambiente no sistema das Nações Unidas: quais princípios para uma justiça climática?. Disponível em: <https://www.unicamp.br/unicamp/ju/artigos/direitos- humanos/direitos-humanos-e-meio-ambiente-no-sistema-das-nacoes-unidas-quais>. Acesso em: 09 mai. 2019. INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. ISA critica possibilidade de revisão do Código Florestal por MP. Disponível em: <https://www.socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/isa-critica-possibilidade-de- revisao-do-codigo-florestal-por-mp.>. Acesso em: 15 mai. 2019.

PROJETO RIOS VOADORES. Metodologia. Disponível em: <http://riosvoadores.com.br/as- pesquisas/metodologia/>. Acesso em: 09 mai. 2019.

WERTH, David; AVISSAR, Roni. The local and global effects of Amazon deforestation. J. Geophys. Res., 107 (D20), 8087, doi:10.1029/2001JD000717, 2002. Disponível em: <https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1029/2001JD000717#>. Acesso em: 10 mai. 2019.

ZORZETTO, Ricardo. Um rio que flui pelo ar. Edição 158, abr. 2009. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/2009/04/01/um-rio-que-flui-pelo-ar/>. Acesso em: 09 mai. 2019.

3º Seminário de Meio Ambiente UFF VR 2019

Floresta, água e clima no século XXI

GT 02: AS FACES DA ÁGUA

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