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Luiná Silveira de Moraes¹*, Ana Alice De Carli¹

1*Universidade Federal Fluminense. luinamoraes@gmail.com

RESUMO

Um dos grandes problemas da atualidade diz respeito à ineficiência da gestão dos resíduos sólidos, caracterizando-se um dos maiores desafios das sociedades contemporâneas, especialmente no que concerne aos danos provocados ao solo, ao ar, aos recursos hídricos e, sistematicamente, à saúde pública. Os impactos provocados pela destinação inadequada dos resíduos sólidos municipais, em particular na América Latina, precisam ser controlados, visto que a sua eliminação por completo é praticamente impossível. O lançamento indiscriminado dos resíduos no meio ambiente natural - prática comum nas cidades – pode afetar a saúde de todas as formas de vida. Em 2012, após a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a denominada Rio+20, retomou-se a discussão acerca da proteção da Pachamama, a fim de conciliar desenvolvimento econômico com a proteção dos ecossistemas. Assim, atualmente, um dos alvos do debate ambiental é o gerenciamento sustentável da produção e disposição final dos resíduos, principalmente, por essa questão implicar diretamente na qualidade da saúde pública e ambiental. Sabe-se que o desenvolvimento econômico e a revolução tecnológica provocaram intensificação da produção e consumo de bens e serviços, o que, por consequência, trouxeram a reboque aumento na produção de resíduos sólidos. Um exemplo prático de aumento de resíduos nos ecossistemas são as embalagens dos produtos, que cresceram de forma exponencial nos últimos anos. Em regra, são embalagens não recicláveis, as quais em muitos casos são desnecessárias. Vive-se a era dos hábitos alimentares artificializados, com isso há mais lixo doméstico, industrial, comercial, sem descuidar do lixo decorrente dos serviços de saúde (ZANETI; LAIS MOURÃO, 2002). De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) “são coletadas 183,5 mil toneladas de resíduos sólidos por dia, atendendo 90% do total de domicílios, dado que representa 98% das moradias urbanas”. No entanto, mesmo com o atendimento de grande parte da população, o manejo de resíduos sólidos em solo brasileiro é preocupante, na medida em que não se tem de forma universal e contínua a separação do que é lixo e do que é resíduo passível de reciclagem. Ainda, segundo Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), estima-se que 50,8% dos municípios utilizam como destinação final dos resíduos, os vazadouros a céu aberto (lixões). Além dos malefícios provocados pela disposição inadequada dos resíduos sólidos urbanos, há de se levar em conta também a saúde e o bem-estar dos indivíduos trabalhadores desse setor. Nesse contexto, a presente pesquisa é exploratória, fundada em revisão bibliográfica, e tem por desiderato trazer à baila preocupações sobre os impactos da gestão inadequada dos resíduos sólidos, tendo como eixo principal os danos provocados aos ecossistemas e à saúde do trabalhador envolvido no serviço de saneamento básico. A importância do estudo se dá, sobretudo, pelo constatado excesso de produção de lixo, pela deficiência no sistema de coleta e disposição final de resíduos sólidos municipais e pela lacuna existente no tocante a estudos sobre a saúde dos trabalhadores, que atuam na parte executiva das atividades de saneamento básico, sobretudo, no processo de coleta do lixo urbano domiciliar (FERREIRA; ANJOS, 2001). Estudos apontam que a gestão e a disposição inadequada dos resíduos sólidos implicam danos socioambientais, tais como: a degradação do solo; a danificação dos corpos d’água, a intensificação de enchentes; além de contribuírem para a poluição do ar e à proliferação de vetores e condições insalubres de coleta dos materiais nas ruas e nas áreas de disposição final (JACOBI; BESEN, 2011). A problemática ambiental em torno da questão dos serviços de saneamento básico, em especial da gestão dos resíduos sólidos, deve levar em conta, além dos

2 custos das operações de um aterro adequado, os custos decorrentes dos danos provocados aos seres vivos em geral e até à atividade econômica, quando não implementadas as políticas nesse sentido. Igualmente, o problema visto a partir de uma perspectiva mais ampla revela que as políticas públicas do gerenciamento dos resíduos sólidos municipais não adotam como ponto de partida um conhecimento objetivo da complexidade do sistema socioeconômico que gera os resíduos, tendo-se geralmente propostas atreladas à lógica do consumo (ZANETI; LAIS MOURÃO, 2002). Os impactos, no entanto, desse consumo insustentável são disseminados entre todos os estratos sociais, em menor e maior grau, podendo estender-se à população não humana de forma ainda mais incisiva, principalmente, por meio da poluição e contaminação do solo, dos corpos d’água e dos lençóis subterrâneos, direta ou indiretamente, dependendo do uso da água e da absorção de material tóxico ou contaminado. Há estudos sobre o tema que alertam, inclusive, que grande parte dos vazadouros está próxima de cursos d’água, o que pode provocar fortes impactos ambientais e desequilíbrio do ecossistema (FERREIRA; ANJOS, 2001). No que que diz respeito à mão de obra deste setor ainda tão desestruturado sob a perspectiva universal, constata-se que os trabalhadores - envolvidos nos processos de manuseio, transporte e destinação final dos resíduos – estão cotidianamente expostos às adversidades. Essa exposição se verifica, principalmente, pelos riscos de acidentes de trabalho e de contaminação, provocados pelo contato direto com poeiras, fumaça, ruídos, monóxido de carbono e com micro-organismos patogênicos presentes nos resíduos. Tais exposições a riscos variados não têm preço que possa ser pago com adicional de insalubridade ou de periculosidade! Ainda, considerando a tendência mundial à privatização dos serviços de limpeza urbana e gerenciamento de resíduos, vemos tais serviços serem operados pela iniciada privada, sob a forma de terceirização. Essa modalidade de contratação, por sua vez, intensifica a precariedade da ocupação, repercutindo diretamente na saúde do trabalhador, uma vez que além de uma redução nos seus padrões salariais, há grande rotatividade nessa modalidade de contratação, o que inviabiliza programas de treinamento e de prevenção de acidentes de trabalho (FERREIRA; ANJOS, 2001). Ressalte-se, ainda, que não há significativos estudos epistemológicos voltados à segurança e à saúde dos trabalhadores, que atuam no setor de saneamento básico, especialmente, em relação à coleta domiciliar, mesmo sendo esta uma atividade fundamental à preservação ambiental e à promoção da saúde pública. Esse dado é contraditório, sobretudo, quando se busca a prevenção e controle dos efeitos negativos ao exercício dos direitos à saúde e ao meio ambiente equilibrado e saudável. Nesse cenário, entende-se que o princípio da prevenção deve ser aplicado no tocante ao desenvolvimento de tecnologias, não apenas para que os resíduos sólidos possam se tornar soluções positivas para o meio ambiente natural, mas também para proteção e capacitação técnica dos profissionais do setor de saneamento. Faz-se mister investir mais em pesquisas científicas sobre o tema, juntamente com políticas públicas, que transformem o lixo em “luxo”, no sentido de que tais resíduos possam retornar à sociedade como bens úteis, a exemplo de muitos países, como a Alemanha, que objetiva alcançar ainda nesta década o patamar de lixo zero para os aterros sanitários, que hoje não chega a 1% (SENADO FEDERAL, 2019).

REFERÊNCIAS

FERREIRA, João Alberto; ANJOS, Luiz Antonio dos. Aspectos de saúde coletiva e ocupacional associados à gestão dos resíduos sólidos municipais. Cadernos de saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 17, p. 689-696, 2001. IBGE, Diretoria de Pesquisas. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, 1989/2008. Disponível em <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv45351.pdf> Acesso em 02.05.2019.

IPEA.Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Brasil coleta 183,5 mil toneladas de resíduos sólidos/dia. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=13932. Acesso em 20.04.2019.

JACOBI, Pedro Roberto; BESEN, Gina Rizpah. Gestão de resíduos sólidos em São Paulo: desafios da sustentabilidade. Estudos avançados, São Paulo, v. 25, n. 71, p. 135-158, 2011. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142011000100010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 20.04.2019.

SENADO FEDERAL. Como alguns países tratam seus resíduos. Disponível em <https://www12.senado.leg.br/emdiscussao/edicoes/residuos-solidos/mundo-rumo-a-4-bilhoes-de-toneladas- por-ano/como-alguns-paises-tratam-seus-residuos>. Acesso em 30.04.2019.

ZANETI, I. C. B. B.; SÁ, LAIS MOURÃO. A educação ambiental como instrumento de mudança na concepção de gestão dos resíduos sólidos domiciliares e na preservação do meio ambiente. Encontro Da Associação

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