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OS PRETENSOS EFEITOS AMBIENTAIS E ORÇAMENTÁRIOS DA TRIBUTAÇÃO ECOLÓGICA SEGUNDO A “ROTA 2030” NA TUTELA DO AR

Bruno de Paula Soares1*

1*Universidade Federal Fluminense. Email: achtungbruno@gmail.com.

RESUMO

O fenômeno recente da tributação ecológica, frequentemente referida como “tributação verde”, já possui suas bases doutrinárias delineadas. Por consistir em meios pelos quais o tributo cumpre também função extrafiscal, o Estado poderá se valer da tributação ecológica com o fito de intervir no domínio econômico e direcionar o comportamento humano através do direito, em especial, o Direito Tributário Ambiental. Nesse cenário, objetiva- se com esta pesquisa averiguar a aptidão genérica da viabilidade do programa instituído pelo Governo Federal, intitulado de “Rota 2030”, sobre a possibilidade de intervir no comportamento dos atores sociais para, então, com metas específicas, lograr êxito na redução da emissão de poluentes na atmosfera e, consequentemente, criar condições de qualidade do ar para garantir saúde e, em última instância, a vida do e no planeta Terra. A metodologia adotada é exploratória, de caráter qualitativo, com apoio na doutrina e na legislação. No plano de análise da tributação ecológica, há de se realçar a noção de extrafiscalidade, com a qual se busca com o tributo mudanças de comportamento. Nesse sentido, pontua Schoueri que “a própria incidência do tributo não é neutra sobre a economia, pois acaba por impactar na forma como a totalidade dos recursos é dividida para utilização no setor público e no setor privado. Reflexo da função alocativa, tem-se a indução de comportamentos” (SCHOUERI, 2019, p. 36). A tributação ecológica constitui fenômeno atual e relevante à sustentabilidade e à racionalidade ambientais. Desse modo, os tributos com função ambiental – ou tributos ambientais stricto sensu, como os que “pretendem orientar as condutas dos diversos agentes econômicos de forma que o seu impacto no meio ambiente seja realizado de forma sustentável” (PERALTA, 2015) – são instrumentos econômicos relevantes para mudanças de paradigmas. Os princípios de proteção da natureza encontram-se positivados na ordem constitucional brasileira de 1988, no art. 225 (do meio ambiente) e no art. 170 (BRASIL, 1988), que trata dos princípios da ordem econômica. Com isso evidencia-se o compromisso do pacto social ambiental firmado em 1988 entre as gerações presentes e futuras. Para mais da função extrafiscal, a tributação ecológica refere-se especificamente a incentivos fiscais que a Administração Tributária pode conceder em nome de valores axiologicamente irradiados pela Carta Magna de 1988 para o “esverdeamento fiscal”. No intermeio das relações Estado-contribuinte, para fazer valer a solidariedade ambiental e a responsabilidade pelos recursos findáveis, podem ser concedidos benefícios fiscais específicos direcionados a setores estratégicos da economia, potencialmente poluidores. Os incentivos fiscais devem ser integrados ao orçamento fiscal como espécie de gasto direto, tanto na doutrina denominada Tax Expenditure, quanto pelo texto constitucional no art. 167, §6º (BRASIL, 1988), e pela Lei de Responsabilidade Fiscal (BRASIL, 2000). Os gastos tributários devem compor o orçamento público com o acompanhamento de informações sobre o impacto orçamentário, dentre outras previsões do art. 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal (BRASIL, 2000). Os conceitos apresentados, de responsabilidade ambiental, de tributação ecológica-extrafiscal e de renúncias de receitas com acompanhamento do impacto financeiro no orçamento convergem com o plano “Rota 2030”, instituído pela Lei 13.755/2018 (BRASIL, 2018b). Este plano é destinado à criação de regime tributário às pessoas jurídicas que comercializam veículos automotores novos a partir de 1º de dezembro de 2018, com vigência até 30 de novembro de 2023. A Lei 13.755/2018 (BRASIL, 2018b) obriga o investimento em pesquisa e desenvolvimento (“P&D”), assim como em engenharia e inovação, para incorporar nas cadeias produtivas da indústria automobilística metas sobre eficiência energética, dentre outras. Em relação ao Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o programa prevê redução de até 2%

2 da alíquota prevista na Tabela TIPI, para veículos que atenderem a requisitos específicos de eficiência energética, como seria o caso de motores e autopeças os quais contribuem efetivamente com emissões controladas de gases de efeito estufa, segundo o art. 2º, I, da Lei 13.755/2018 (BRASIL, 2018b). Os veículos com motores de tecnologia flexible fuel engine terão redução de 3% na alíquota de IPI, no mínimo, em relação aos veículos tradicionais. As empresas que optarem pela adesão ao programa “Rota 2030”, a qual é facultativa, poderão obter créditos presumidos relativos a gastos em pesquisa, desenvolvimento experimental, projetos estruturantes, capacitação de fornecedores, desenvolvimento de manufatura básica e de tecnologia industrial, conforme o art. 11 da Lei 13.755/2018 (BRASIL, 2018), limitado ao valor de 30% destes gastos, para deduzir do valor devido a título de Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Segundo os requisitos técnicos de eficiência energética próprios do anexo ao texto legal, somente farão jus aos benefícios fiscais aludidos de IPI, IRPJ e CSLL as pessoas jurídicas que cumprirem os critérios técnicos de eficiência em relação à massa e à autonomia de combustível de cada automóvel. É possível concluir que, ao menos neste viés, o programa “Rota 2030” prevê critérios específicos e incentivos à produção de veículos consumidores de álcool e gasolina, e também aqueles que possuem maior autonomia de combustível – estes critérios configuram um recado do legislador aos consumidores e aos contribuintes de tributos com função extrafiscal-ecológica para que automóveis menos poluentes sejam produzidos e consumidos. Indiretamente, o programa “Rota 2030” possibilita que a Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1981) e a normativa constitucional alcancem a plenitude de sua efetividade, para, assim, se começar a vislumbrar a possibilidade de mudanças de condutas e a melhora do ar das metrópoles brasileiras. Tem-se como premissa a existência de veículos com menos poluentes, sendo conditio sine qua non para amenizar os impactos negativos no ar e, bem assim, contribuir à proteção da saúde em geral, implicando menos doenças, menor gasto com atendimento médico-hospitalar etc. Apesar de não haver contrapartida social específica no texto da Lei 13.755/2018 (BRASIL, 2018b), como a de criação de empregos, investimento compulsório em pesquisa e tecnologia em outras áreas, ou investimento em programas de inclusão social para a população menos favorecida economicamente, e também por não acompanhar estudos acerca da viabilidade futura das renúncias tributárias, a Lei 13.755/2018 (BRASIL, 2018b) pode configurar uma medida positiva para o meio ambiente. Conforme estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2018), anualmente, 7 milhões de pessoas falecem em razão de doenças oriundas da poluição do ar. De toda forma, ganham os contribuintes e ganha a população que se beneficia indiretamente com a garantia de melhores índices de poluição atmosférica, e para garantia de melhores condições de vida, porém é preciso ressaltar que a melhor técnica acerca da existência de estudos tributários pela renúncia fiscal, conclusivos pela compensação das renúncias de receitas tributárias, de resultados fiscais e econômicos para o futuro, não foi observada na Lei 13.755/2018 (BRASIL, 2018b), fruto da conversão de medida provisória em lei em um processo legislativo sumaríssimo, mesmo atendido o critério do art. 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal (BRASIL, 2000), como se depreende da leitura da Nota Técnica 30/2018 da Câmara dos Deputados (BRASIL, 2018a). Por fim, entende-se que a questão da qualidade atmosférica é de extrema importância, para impor mais ações nos planos da pesquisa, da tecnologia, do consumo e do direito.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Câmara dos Deputados. Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira. Análise da adequação

orçamentária e financeira da Medida Provisória nº 843 de 5 de julho de 2018. Brasília, Distrito Federal, 8

páginas, julho de 2018. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/orcamento-da-uniao/estudos/2018/>. Acesso em 11 de maio de 2019.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/>. Acesso em 15 de maio de 2019.

BRASIL. Lei complementar 101 de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/>. Acesso em 15 de maio de 2019.

BRASIL. Lei nº 13.755 de 2018. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/>. Acesso em 11 de maio de 2019. BRASIL. Lei nº 6.938 de 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/>. Acesso em 11 de maio de 2019. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. 9 out of 10 people worldwide breathe polluted air, but more

countries are taking action. Disponível em: <https://www.who.int/>. Acesso em 11 de maio de 2019.

PERALTA, Carlos Eduardo. Tributação Ambiental no Brasil. Reflexões para esverdear o Sistema Tributário Brasileiro. Revista de Finanças Públicas, Tributação e Desenvolvimento, Rio de Janeiro, v. 3, n. 3, p. 86-114, 2015.

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