3 MÉTODO DE PESQUISA
4.3 MODELO DE AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO TRABALHO REMOTO
4.3.1.2 Família dos Pontos de Vista Fundamentais
Esboçado o contexto do problema que se pretende apoiar, inicia-se a construção da Árvore dos Pontos de Vista Fundamentais.
Ensinam Ensslin, Montibeller e Noronha (2001) que a Família de Pontos de Vista (FPV) contempla: (a) Identificação dos objetivos estratégicos; (b) Identificação dos Elementos Primários de Avaliação (EPA); (c) Construção dos Conceitos; e, (d) Construção da Família de Pontos de Vista. A figura abaixo ilustra os passos mencionados:
Figura 18 - Etapa de construção da Família de Pontos de Vista Fundamentais (FPV)
Os objetivos estratégicos na percepção do decisor, que evidenciam as principais preocupações associadas à avaliação do trabalho remoto na Procuradoria Federal, foram inicialmente identificados, por meio de entrevista preliminar, resultando em três objetivos, quais sejam: custos, processos e pessoas.
Após a identificação dos objetivos estratégicos apontados pelo decisor é que se passou a identificação dos Elementos Primários de Avaliação (EPAs), a partir de entrevistas semiestruturadas. O roteiro flexível para as entrevistas, na forma de um brainstorm, com o decisor está relacionado no quadro abaixo:
Quadro 16 - Roteiro para entrevista semiestruturada
✓ Trace um panorama geral do modo como a equipe de trabalho remoto dos benefícios previdenciários por incapacidade atua no momento
✓ Fale-me sobre como ocorre atualmente a gestão da equipe de trabalho remoto ETR-BI da PF/SC.
✓ Defina um problema geral para a gestão da equipe de trabalho remoto;
✓ Existem indicadores de desempenho já em uso pela gestão?
✓ Quais seriam as principais oportunidades existentes?
✓ Existe um plano de metas para a equipe no curto, médio e longo prazo?
✓ Quais seriam os maiores obstáculos enfrentados rotineiramente pela gestão?
✓ Quais seriam suas maiores incertezas no tocante à coordenação da equipe?
✓ O que faz o trabalho desta equipe remota ser complexo?
✓ De que ferramentas a gestão dispõe para apoiar o trabalho?
✓ Qual a importância das pessoas nos procedimentos diariamente realizados?
✓ Quais seriam os seus objetivos para a equipe a curto, médio e longo prazos?
✓ Qual o nível de autonomia do coordenador da equipe de trabalho remoto?
✓ Como o coordenador avalia o apoio que a gestão geral fornece para a equipe?
✓ Quais as maiores conquistas de sua gestão até este momento?
✓ A quantidade de recursos humanos, tecnológicos e de materiais é adequada ao volume de trabalho?
✓ O desempenho dos membros da equipe, é adequado?
✓ Como o desempenho dos indivíduos membros da equipe é mensurado?
✓ Como o desempenho da equipe como um todo é mensurado?
✓ O que o coordenador entende por bom desempenho?
✓ Como é o relacionamento do coordenador com os setores dos quais necessita de apoio?
✓ Até que ponto a gestão da infraestrutura está em sua esfera de competência?
✓ Até que ponto o coordenador consegue sugerir a abertura de novas vagas na equipe?
✓ O volume de trabalho é suportável pelo dimensionamento atual da equipe?
✓ O que mais lhe preocupa com relação à gestão de pessoas? Fonte: Elaborado pela autora (2017).
Ensslin, Montibeller Neto e Noronha (2001) afirmam que o quantitativo de EPAs deve ser detalhado atendendo ao pressuposto de exaustividade na percepção do decisor, a fim de gerar informações para definição do problema a ser resolvido, e, por conseguinte, para a estruturação do modelo multicritério de avaliação. No quadro a seguir apresentam-se os sessenta e seis EPAs levantados, enquadrados conforme os objetivos estratégicos do decisor:
Quadro 17 - EPAs por objetivo estratégico
EPAS POR OBJETIVO ESTRATÉGICO
CUSTOS PROCESSOS PESSOAS
14 Eficiência no gasto 2 Ciclo do contencioso Previdenciário 1 Eficiência do Procurador 17 Aperfeiçoamento
do uso do espaço físico interno das unidades
4 Demandas do Setor de Cálculos 3 Comprometimento do Procurador
28 Redução de custos com espaço físico
7 Acesso Remoto aos Sistemas da Previdência Social
5 Treinamento prévio para realização do trabalho remoto
29 Redução de custos com materiais
13 Especialização\Setorização 6 Orientações Ergonômicas
62 Redução de custos com energia
19 Sistemas de controle das atividades desenvolvidas
8 Condições de trabalho
65 Custos com água 20 Clareza das metas 9 Interação coletiva 21 Aprimoramento e estimulo a
propostas de acordo
10 Reuniões periódicas
23 Mecanismos de acompanhamento pela alta gestão
11 Metas de desempenho
24 Rotinas e fluxos padronizados 12 Cultura do trabalho remoto 25 Informações atualizadas sobre
volume de trabalho
15 Atualização constante dos Procuradores 26 Atividades do setor de cálculos 16 Apoio da Procuradoria
27 Integração Regional 18 Comprometimento dos servidores de apoio
32 Qualidade das peças processuais 22 Saúde dos Procuradores 35 Triagem processual diária 30 Servidores de apoio
36 Instrução Processual 31 Suficiência da equipe de apoio 38 Gestão do trabalho 33 Capacitação para uso dos sistemas
informatizados da AGU/PGF 39 Estatísticas de processos 34 Aperfeiçoamento das equipes de
trabalho
41 Eficiência do gerenciamento 37 Gestão de Afastamentos 42 Mensuração do trabalho realizado 40 Coordenação da Equipe 43 Execução Invertida 44 Suporte Remoto da DTI 45 Atenção aos casos de maior valor 46 Estagiários
47 Gerenciamento geral 50 Qualidade de vida
48 Recursos 51 Gestão de talentos
49 Tempo de tramitação interna 52 Alinhamento estratégico na gestão de pessoas
59 Gerenciamento de Sentenças 53 Necessidades individuais de capacitação
60 Gerenciamento de intimações 54 Relacionamento com APS-ADJ (INSS)
64 Defesa do ente público 55 Relacionamento com setor de cálculos
56 Relacionamento com o judiciário 57 Relacionamento entre procuradores
58 Relacionamento com a chefia da PFSC
61 Horas à disposição da instituição 63 Perfil do Procurador 66 Relacionamentos com os envolvidos Fonte: Dados da pesquisa (2017).
No quadro abaixo constam alguns exemplos da construção de conceitos – a partir do raciocínio de um polo presente (desempenho pretendido) e de um polo oposto (ocorrência que o decisor visa a evitar) – para os elementos primários de avaliação (EPA) acima identificados. A leitura que se faz é ter o polo presente ao invés do polo oposto. “A partir de um conceito pode-se questionar ao decisor quais são os meios necessários para atingi-lo, ou então, sobre
quais são os fins a que se destina” (ENSSLIN; MOTIBELLER; NORONHA, 2001, p. 82).
Esta estrutura dos conceitos advindos dos EPAs, na explicação de Ensslin, Montibeller e Noronha, (2001) utiliza a lógica da decomposição, pela qual um critério complexo de ser mensurado é decomposto em subcritérios de mais simples visualização e mensuração. O conceito sugere uma ação e o polo oposto de acordo com a visão do decisor (polo oposto psicológico) diz respeito ao fator ou consequência que este visa a evitar. Veja-se:
Quadro 18 - EPAs e conceitos PVF CUSTOS
EPA POLO PRESENTE POLO OPOSTO
14 Eficiência no gasto - Contribuir para a redução do gasto público
- Manter o consumo elevado mesmo com parte da equipe em outro ambiente
17 Aperfeiçoamento do uso do espaço físico interno das unidades
- Otimizar o uso do espaço físico nas unidades
- Subutilizar os espaços físicos liberados
28 Redução de custos com espaço físico
- Verificar possibilidade de diminuir o gasto com unidades físicas
- Gerar informações para restruturação da PGF
- Manter o mesmo nível de instalações para menor número de usuários
29 Redução de custos com materiais
- Verificar possibilidade de reduzir o gasto com materiais
- Manter os gastos com materiais na mesma proporção
62 Redução de custos com energia - Contribuir para redução dos gastos com energia elétrica
- Manter o gasto com energia elétrica
65 Custos com água - Incentivar a redução de custos com água
- Desperdiçar água na instituição
Fonte: Dados da pesquisa (2017).
O quadro com a integralidade dos EPA e conceitos pode ser visualizado no APÊNDICE B.
A partir dos Elementos Primários de Avaliação, evoluindo na construção do modelo, os conceitos são organizados, com o decisor, agrupados em seus objetivos estratégicos. Nesta etapa de resultados parciais, foi elaborada uma estrutura hierárquica de valor, a qual está representada na figura a seguir:
Figura 19 – Família de Pontos de Vista Fundamentais inicial
Fonte: Elaborada pela autora (2017).
A Família de Pontos de Vista (FPV) identifica os objetivos estratégicos ou áreas de preocupação percebidas pelo tomador de decisão como inerentes à gestão do contexto examinado. Cada área é representada por um conjunto de conceitos. Ressalta-se o seguinte:
A estrutura arborescente (árvore) utiliza a lógica da decomposição, em que um critério mais complexo de ser mensurado é decomposto em subcritérios de mais fácil mensuração. O critério de nível hierárquico superior é definido pelo conjunto de critérios de nível hierárquico inferior que estão ligados a ele na árvore (ENSSLIN; MONTIBELLER; NORONHA, 2001, p. 125).
A partir da árvore de Pontos de Vista (FPV), procedeu-se à construção dos descritores, identificando-se um conjunto de níveis de impacto associados a cada um dos pontos de vista. O contato direto com o decisor é fundamental para o desenvolvimento dos passos seguintes, sobretudo, para elaboração dos mapas cognitivos.
Na figura a seguir, a partir do agrupamento de EPAs, foi possível expandir a FPV de valor em termos de PVEs:
Figura 20 – Família de Pontos de Vista Fundamentais com PVEs
Fonte: Elaborada pela autora (2017).
Observa-se que o Ponto de Vista Fundamental “2. Processos” foi desmembrado nos
PVEs “2.1 Gerenciamento” e “2.2 Resultados do Trabalho Remoto”. O PVF “3. Pessoas” foi desmembrado em três “PVEs”, quais sejam: “3.1 Satisfação”; “3.2 Desempenho” e “3.3 Relacionamento”.