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3 MÉTODO DE PESQUISA

4.2 ANÁLISE SISTÊMICA DA LITERATURA CIENTÍFICA

4.2.1 Lente 1 – Abordagem

A primeira lente, denominada ‘Abordagem’, busca analisar os artigos quanto a três

aspectos distintos, quais sejam: (a) quanto à abordagem de avaliação de desempenho utilizada no texto; (b) quanto ao ambiente em que o modelo foi desenvolvido; e, (c) quanto à harmonia entre a abordagem de avaliação de desempenho utilizada e o uso/aplicação no modelo desenvolvido.

Em síntese, esta lente busca responder ao seguinte questionamento: a abordagem utilizada pelos autores para construção do modelo de avaliação de desempenho está em harmonia com sua aplicação?

A análise que se faz da abordagem busca, ainda, evidenciar se esta leva em consideração os valores, crenças e percepção do decisor na elaboração do modelo de avaliação de desempenho. Sob este prisma, as abordagens podem ser classificadas em: normativista/ descritivista ou, simplesmente, realista, e, prescritivista/construtivista, ou, simplesmente, subjetivista (ROY, 1993). As abordagens realistas fazem uso de modelos teóricos pré-existentes, quer com objetivo de buscar soluções consideradas ótimas, quer visando descrever e replicar experiências e padrões de comportamento que tenham funcionado anteriormente em outros ambientes.

As abordagens subjetivistas, por sua vez, consideram os valores e preferências do decisor, o responsável pela tomada de decisões relativas ao contexto avaliado. O quadro abaixo resume a aplicação ideal de cada uma das abordagens:

Quadro 9 – Aplicação Ideal das Abordagens - Lente 1

Abordagem em uso Classificação Decisor do modelo

Ênfase do modelo Contexto de Aplicação

DESCRITIVISTA Realista Universal /Genérico

Descrever/Replicar padrões de sucesso

Genérico

NORMATIVISTA Realista Universal /Genérico

Encontrar solução ótima

Genérico

CONSTRUTIVISTA Subjetivista Valores e preferências particulares Construir conhecimento no decisor Específico/Singular

PRESCRITIVISTA Subjetivista Valores e preferências particulares Construir conhecimento no pesquisador/facilitador Específico/Singular

Fonte: Adaptado de Ensslin; Ensslin; Pacheco (2012).

Ciente da aplicação ideal de cada abordagem passa-se à análise dos 22 (vinte e dois) artigos do portfólio oriundo do Proknow-C, de acordo com a primeira lente da análise sistêmica.

Observou-se que os artigos se concentram na abordagem realista para construção do modelo de avaliação de desempenho. A abordagem subjetivista, consoante proposta por Roy (1993) não foi identificada em nenhum dos artigos analisados. Nem sempre, porém, os artigos empregaram aplicação genérica.

O uso de um modelo realista para um contexto particular, complexo – no qual as percepções, valores e preferências do decisor influenciam a tomada de decisão –, não possui harmonia. As abordagens realistas quando aplicadas a contextos complexos apresentam resultados comprometidos.

Entre os 22 (vinte e dois) artigos apenas 7 (sete) – 27% (vinte e sete por cento), portanto –, apresentam modelos com aplicação em contextos genéricos, e, portanto, harmônicos com a abordagem realista utilizada. Os demais artigos não possuem harmonia entre o modelo e o contexto de aplicação.

Para contextos de apoio à decisão, como os apresentados no PB, Roy (1993) manifesta que para o apoio à decisão a via (abordagem) a ser utilizada é a do construtivismo/prescritivismo, pelo que se conclui que o uso de abordagens subjetivistas para o contexto de construção de modelos de avaliação de desempenho é o recomendável. Roy (1993) alerta para a importância de que os modelos construídos tenham legitimidade em termos de representar os valores e preferências daquele a quem o modelo se destina, assim como das características objetivas do ambiente físico e isto só é conseguido com a aplicação em ambientes específicos ou singulares.

A análise sob a óptica da abordagem, portanto, permite evidenciar a oportunidade de desenvolver um modelo de avaliação de desempenho com objetivo de apoiar a gestão em ambientes complexos, como é o caso dos órgãos públicos, agregando a perspectiva construtivista e mantendo, portanto, harmonia entre o desenvolvimento do modelo e sua aplicação. No quadro a seguir resume-se a análise sistêmica sob o prisma da Lente 1 para os 22 (vinte e dois) artigos empíricos do PB:

Quadro 10 - Análise Sistêmica - Lente 1 - Síntese

Artigos Lente 1 - Abordagem

No. Forma de citar Abordagem utilizada para construção do Modelo Uso / Aplicação do modelo

Harmonia entre Abordagem e Uso/Aplicação

1. AHN, 2001. Realista Específico Não tem harmonia

2. CARLUCCI; SCHIUMA;

SOLE, 2015

Realista Genérico Tem harmonia

3. CAVALLUZZO; ITTNER, 2004 Realista Específico Não tem harmonia 4. CHARBONNEAU; BROMBERG;

HENDERSON, 2015

Realista Específico Não tem harmonia

5. DEY; THOMMANA; DOCK,

2014

Realista Específico Não tem harmonia

6. FAVOREU el al., 2015 Realista Específico Não tem harmonia 7. GREATBANKS; TAPP, 2007 Realista Específico Não tem harmonia

8. HOQUE; ADAMS, 2011 Realista Específico Não tem harmonia

9. JÄÄKELÄINEN; LAIHONEN, 2014

Realista Genérico Tem harmonia

10. KANJI; MOURA E SÁ, 2007 Realista Genérico Tem harmonia

11. KAPLAN, 2001 Realista Genérico Tem harmonia

12. KLOTT, 2009 Realista Específico Não tem harmonia

13. LIN; TAN, 2013 Realista Específico Não tem harmonia

14. MONTESINOS; BRUSCA, 2009 Realista Genérico Tem harmonia 15. MONTESINOS et al., 2013 Realista Específico Não tem harmonia

16. NEMEC et al., 2008 Realista Específico Não tem harmonia

17. NEWCOMER; CAUDLE, 2011 Realista Genérico Tem harmonia

18. NORTHCOTT; MA’AMORA, 2012

Realista Específico Não tem harmonia

19. OTTO; SCHLAGER-

WEIDINGER, 2014

Realista Específico Não tem harmonia

20. PARK, 2014 Realista Específico Não tem harmonia

21. TOMAŽEVIČ et al., 2015a Realista Específico Não tem harmonia 22. TOMAŽEVIČ et al., 2015b Realista Genérico Tem harmonia

Fonte: Dados da pesquisa (2016).

A fim de demonstrar a pertinência dos enquadramentos quanto à abordagem, contexto e harmonia, colaciona-se em apêndice quadros com excertos dos artigos que justificam as classificações realizadas pela pesquisadora. Apresenta-se em apêndice evidência que justifica a classificação do ambiente de aplicação em genérico ou específico/singular.

Alguns dos artigos do PB utilizam a ferramenta balanced scorecard (BSC) para avaliação de desempenho (AHN, 2001; KAPLAN, 2001; HOQUE; ADAMS, 2011;

NORTHCOTT; MA’AMORA, 2012), nem todos, porém, utilizam-no em contextos genéricos.

O gráfico a seguir ilustra as conclusões da pesquisa sobre a harmonia entre abordagem e aplicação dos modelos utilizados:

Gráfico 7 - Lente 1 - Abordagem - Ambiente de Aplicação

Fonte: Dados da pesquisa (2016).

O portfólio bibliográfico (PB) evidenciou que 100% dos artigos desenvolveram modelos realistas e destes, 27% foram aplicados em ambientes genéricos, sendo, portanto, adequados se o problema fosse de tomada de decisão. Uma vez que os contextos evidenciaram uma demanda de apoio à decisão o não uso de abordagens prescritivistas/construtivistas demonstrou existir uma generalizada oportunidade para melhoria do alcance dos resultados por meio destas espécies de abordagem.

Considerando que 100% dos artigos utilizam abordagens realistas, a combinação

“modelo realista com uso específico” não é adequada, pois não há harmonia entre o modelo e

sua aplicação.

Pelo exposto, cumpre dizer que os contextos em que o apoio à decisão é requerido podem ser ajudados por meio de construção de modelos. Estes modelos, segundo Roy (1993), necessitam ser construídos valendo-se de abordagens que tenham em conta as potencialidades e limitações da via utilizada, quais sejam, abordagens subjetivistas.

Assim, modelos realistas justificam-se quando aplicados em contextos genéricos, mas seu uso não se justifica em contextos específicos/singulares, uma vez que deixam de ter em conta as debilidades e potencialidades do contexto. Já os modelos prescritivistas/construtivistas ao serem desenvolvidos a partir de dados intrínsecos a um

27%

73%

Ambiente de Aplicação

Genérico Específico

ambiente e atores ganha, por parte deles, legitimidade sendo, pois, a via recomendada para o apoio à decisão.

Evidencia-se, logo, que do uso de abordagens prescritivistas/construtivistas para o apoio à decisão, considerando este fragmento de tema, é uma contribuição.