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Face às argumentações para o uso deste artefato tanto por Moran (1995) quanto por Ferrés (1996) percebe-se uma necessária contribuição ao que podemos afirmar uso tecnológico do vídeo. A compreensão do tecnológico aqui vai do conceito empregado por Sancho (1998) para a empregabilidade e diferenciação dos termos técnica e tecnologia. Sancho (1998) faz um apanhado histórico dos termos e nos apresenta o sentido metodológico da ação. Desta forma aplicada a ação humana, as técnicas fazem parte do ato de incorporar o “novo” artefato tecnológico. Para que ocorra essa incorporação será necessário que o sujeito tenha ao menos os conhecimentos mínimos para o uso, as limitações e potencialidades desta ferramenta, do artefato que mediará sua ação. Só após a incorporação destes esquemas poderá ocorrer um uso.

4. CAPÍTULO 4.1. A PESQUISA

A presente pesquisa origina-se no cerne das atividades do pesquisador que atua há dez anos como membro da equipe técnica da videoteca/audioteca. Esse espaço é destinado às atividades com o uso do vídeo e de áudio pelos professores da RMER e possui atualmente um vasto acervo de programas, em sua maioria do TV Escola. As estatísticas de acesso à videoteca/audioteca

mostravam a ausência de consultas ao acervo pelos professores de Matemática da RMER. Esta observação fez com que o pesquisador formulasse uma questão para estudo: o fato de os professores de Matemática da RMER não consultarem os vídeos do TV Escola de Matemática, disponíveis no acervo da videoteca/audioteca, significa que também não usam esses ou outros vídeos em sua prática? Se for o caso, por que esses professores não utilizam vídeos? Por falta de atenção pedagógica voltada para estes professores? Tais questionamentos conduziram a situar melhor o contexto desta pesquisa, o que será objeto do presente capítulo.

Em meados do século XX, a televisão tem sua origem, marcando uma nova fase, assim como foi o rádio, de veículo de massa. As revoluções tecnológicas da informação e da comunicação (TIC) motivaram inúmeros estudiosos a compreender os impactos de tais fenômenos como ação cultural, na forma de produção, transmissão, compreensão das informações e do conhecimento, pois tais transformações não ficaram restritas às ruas, elas impuseram também às escolas uma nova forma de interação com a sociedade:

Muitas crianças e jovens crescem em ambientes altamente mediados pela tecnologia, sobretudo a audiovisual e a digital. Os cenários de socialização das crianças e jovens de hoje são muito diferentes dos vividos pelos pais e professores. O computador, assim como o cinema, a televisão e os videogames atraem de forma especial a atenção dos mais jovens que desenvolvem uma grande habilidade para captar suas mensagens. De fato, estão descobrindo o mundo e lhes custa tanto aprender a realizar trabalhos manuais como a programar um vídeo ou um computador. Estão descobrindo as linguagens utilizadas em seu ambiente e lhes custa tanto ou mais decifrar e dominar a linguagem textual como a audiovisual. (SANCHO, 2006, p. 19).

Segundo Rabardel (1995) nenhum instrumento e nenhuma ação instrumentada é neutra. A posição tomada em sala de aula pelo professor de Matemática pode vir a refletir o que se impõe a ele, enquanto políticas pedagógicas: macro, micro e local. A escola tecnológica implantada em sua rede de ensino poderá contribuir para posições pedagógicas determinantes de suas atividades didáticas.

Iremos caracterizar a RMER, levando em consideração nossa chegada até o professor de Matemática em sua sala de aula. Em nosso entendimento

não há uma atividade pedagógica, sem que para isso exista uma condução normativa para essa dimensão educacional. A compreensão deste contexto envolve o histórico do Programa TV Escola no Recife, o qual está conectado com o histórico e organização institucional das tecnologias na educação neste município, o que está ligado às políticas públicas brasileiras, mas apresenta também especificidades.

Os aspectos que fazem da RMER uma escolha relevante para o processo de investigação, é em primeiro lugar devido ao contexto profissional em que está inserido o pesquisador. Em segundo por apresentar aspectos técnico-logísticos públicos em consonância com o governo federal. É importante destacar que não será alvo deste trabalho analisar as questões de infraestrutura, no entanto, é uma variável relevante para a análise dos dados coletados. Em terceiro, por ser desde 1995 uma instituição fomentadora das suas concepções próprias do uso das TIC, o que motivou a criação de um Programa de Tecnologia na Educação Municipal - PMTE. Em 1995, o Recife era um dos três únicos municípios brasileiros que tinha, especificamente um Programa para este fim, no estado o primeiro. Isso lhe conferiu de certa forma um papel de destaque no estado, seguido posteriormente por Petrolina em 2001 e Olinda em 2002.

4.2. TV NA ESCOLA E TV ESCOLA

A televisão chega às escolas brasileiras, não para que se possa ter acesso a sua programação aberta, mas traz consigo um contexto político pedagógico, cuja intenção inicial é o de capacitar os professores das escolas públicas por meio de programas via satélite quanto ao uso dos recursos tecnológicos, a televisão e o vídeo. De acordo com relatório do Brasil (2002) de 1996 até 2002 o TV Escola32 exibia diariamente uma programação de 14h que eram dividida em: Ensino Fundamental (Vendo e Aprendendo); Ensino Médio: Como Fazer?, Como Fazer? A Escola, Ensino Legal, Acervo; e o Salto para o Futuro; além das faixas especiais Escola Aberta, Língua estrangeira Moderna.

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Em muitas obras pode-se encontrar o termo “a TV Escola”. Este trabalho usa o termo “o TV Escola”, tendo em vista que estamos tratando “o Programa”. Apesar de muito usado o termo “a TV Escola” não dá referência ao programa e sim ao canal, a programação. Nosso sentido é da institucionalização do programa de governo como uma política pública.

O Salto para o Futuro é um dos mais antigos programas do Instituto Roquette-Pinto, que visa promover a discussão interativa em tempo real entre especialistas e os professores localizados em pontos chamados telepostos. É preciso lembrar a trajetória que essa ferramenta leva até chegar às unidades de ensino públicas brasileiras.

Segundo Mattos (1990), a televisão e o vídeo não fazem parte apenas dos lares, tampouco do objeto publicitário, nem do controle do governo, mas, das escolas públicas onde receberam um tratamento de estrela no final dos anos 90, com a entrega de kits tecnológicos: TV 21’, antena parabólica e receptor analógico, conjunto de 10 fitas VHS.

Em 1995, o Ministério da Educação começa a formular uma política de capacitação de professores. Em maio de 1996 é criada a Secretaria de Educação a Distância (SEED)4 através do Decreto nº 1.917, que visa implantar a política do governo federal de educação a distância e de informatização das escolas públicas do país. Neste mesmo ano são criados os Programas TV Escola5 lançado experimentalmente no Piauí, em setembro de 1995, indo ao ar em março de 1996 para todo Brasil, e o Programa de Apoio Tecnológico (PAT). Este último instituído pela Resolução n. 15 do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação, que financiou progressivamente os kits tecnológicos para o universo de escolas da Rede Municipal e Estadual de Ensino com mais de 100 alunos no país (ROCHA, 2005. p. 22.).

ROCHA (2005) diz que os kits chegaram efetivamente às unidades de ensino públicas no ano de 1996, pois faziam parte de um movimento do governo federal para capacitar professores à distância, além de levar programas com conteúdos pedagógicos para o ambiente escolar. Com essa primeira tentativa, algumas questões começaram a surgir em todo o país. O uso deste veículo era um dos pontos importantes para reflexões pedagógicas. Outra era a TV Escola, canal que viabilizava os programas, que em tese, estariam sendo acompanhados pelas escolas que tivessem acesso a esta ferramenta por meio dos kits.

O TV Escola tem mantido, desde 1996 sua programação diversificada, direcionada para dois públicos distintos, estudantes e professores.

Além do que produz com recursos próprios, a SEED adquire, no país e no exterior, direitos de exibição de programas educativos. Para garantir o alto padrão de qualidade que faz

com que a TV Escola seja considerada um dos melhores canais de televisão educativa do Brasil, a SEED busca empresas produtoras de reconhecido nome em todo o mundo, tais como: NHK, Japão; CBC e National Film Board, Canadá; WGBH, Discovery Channel, USA; M5, La Sept/Arte, Eva, Marathon, La 5ème, France2, France 3, Canal +, CNDP, França; HIT, London TV, C4 Learning, C4, BBC, BBC Open University, R&M Associates, Inglaterra; NIS, Holanda; DRTV, TV2, Dinamarca; Grifa Cinematográfica, Superfilmes, GNT, Pólo de Imagem, Gyros, Múltipla, Canal Azul, Brasil. Há, também, vídeos cedidos à TV Escola por organismos públicos e privados, OnGs e outros. (SEED/MEC, 2002, p. 18)

Como se percebe o TV Escola mantém uma dupla ação, ora para o professor e seus pares, ora para o professor com os estudantes. Atualmente de qualquer lugar do mundo pode-se ter acesso aos materiais, ao banco de texto, podendo ainda interagir em tempo real com especialistas que estão no estúdio do programa Salto para o Futuro. Pois as considerações do TCU (2004) em relação à demanda no país, pediam a ampliação do acesso e de formação para o uso dessa tecnologia. Assim desde 2004 estão disponíveis na internet os programas livre de copyright. A partir de 2007 a programação começa a ser veiculada também na internet. Recentemente, em 2009 o TV Escola criou uma página oficial no youtube.

4.3. A REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE RECIFE

De acordo com dados obtidos da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer – SEEL em 2010 a Rede Municipal de Ensino do Recife - RMER possuía 22433 Unidades de Ensino. Sendo que: 186 são escolas municipais com ensino fundamental que atendia 1º e 2º Ciclos, 38 com 3º e 4º Ciclos, 41 oferecem educação infantil, 17 ensino profissionalizante, 7 Unidades de Tecnologia na Educação e Cidadania – UTEC34;. Além das UTEC fixas existem também 6 UTEC móveis35 e 7 Módulos de Informática, que estão localizados em escolas

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Uma mesma unidade de ensino pode ofertar várias modalidade de educação. 34

Em todo país este espaço recebe o nome de Núcleo de Tecnologia na Educação - NTE, no entanto, aqui no Recife tendo em vista que há instituído desde 1996 um Programa de

Tecnologia na Educação, foi modificada a nomenclatura para Unidade de Tecnologia na Educação e Cidadania – UTEC.

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Constitui-se em unidades móveis que atendem a população do Recife com cursos de Tecnologia na Educação e Cidadania, além de realizar as mesmas atividades de

acompanhamento pedagógico aos laboratórios de informática das Unidades de Ensino a que são devidos. O atendimento ocorre mediante cronograma realizado pela plenária do

Orçamento Participativo do Recife. Conforme Santana (2011) A ESCOLA ITINERANTE DE IFORMÁTICA DA PREFEITURA DO RECIFE EMQUANTO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO DIGITAL.

municipais e que estão ligados as UTECs Móveis; 1 Escolas Águas do Capibaribe36. Destacam-se dois ambientes importantes para a implementação das políticas educacionais no Recife, o Centro de Formação Paulo Freire, inaugurado em maio de 2010 e a Diretoria de Tecnologia na Educação e Cidadania - DGTEC, que coordena em articulação com as demais Diretorias, Gerências e Escolas as políticas para a inclusão digital de toda a RMER. Em 2009 a RMER contava com 84 professores de Matemática, conforme quadro 5.

QUADRO 5 - PROFESSORES DE MATEMÁTICA DA RMER EM 2009 POR REGIÃO