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GRÁFICO 7 VÍDEOS DISPONÍVEIS NO DOMÍNIO PÚBLICO DO TV ESCOLA %

4.6. OS VÍDEOS DO TV ESCOLA

Desde o seu lançamento em 1996 o programa TV Escola, tem promovido mudanças no tratamento quanto à exposição dos vídeos aos professores. Por vários anos a programação do TV Escola chegou via correios e telégrafos às escolas. Em 2008 a grade de programação não mais chegou às escolas, sendo sugerido pelo MEC/SEED/TV Escola que os interessados fizessem download da programação no próprio site.

Uma publicação importante é catálogo do TV Escola conhecido por GUIA DE PROGRAMAS. Neste guia é possível ter uma ideia das produções disponíveis no domínio público e em outros sites oficiais. No entanto, uma questão que nos chama a atenção são as sinopses das séries dos vídeos que poderiam ser fator facilitador para as escolhas dos vídeos pelos professores, o que na verdade constituem-se numa questão limitada, ou seja, elas não traziam uma condição fiel dos episódios, essa é uma consideração com a qual concordamos com Gomes (2008, p. 479):

No caso do vídeo, além de muitos deles não trazerem informações encartadas que auxiliassem na sua escolha, tais como sinopse, índice dos temas, tipo de abordagem, público a que se destina, profundidade do tratamento dado ao tema e dados catalográficos. Não era raro encontrar vídeos que não dessem referências sobre seus autores e suas produções anteriores, dificultando a avaliação tanto em relação à qualidade do produto em si quanto à de seu conteúdo.

Para que um professor possa de fato construir novos esquemas de utilização ao artefato em questão, é necessário que os mesmos tragam não apenas os conteúdos do objeto matemático, mas sobretudo tragam considerações quanto ao uso e aplicação. Não se trata de uma bula, uma receita, mas de reflexões sobre o conteúdo do vídeo, como afirma Gomes (2008) e também já bem discorrido por Moran (1995).

As atividades de sala de aula devem ser concebidas mediante uma construção correspondente, ou seja, ideias, planejamento e prática, como uma ação cíclica do processo de construção pedagógica. Então como é que os professores escolhem os vídeos na maioria das vezes? Segundo Mandarino (2002) “talvez devido [...] a falta de tempo detectamos que o critério mais frequente de escolha de um vídeo, para uso em sala de aula, seja a indicação de um outro professor”. Esta também é uma afirmativa que encontramos durante as nossas entrevistas.

O TV Escola, além de disponibilizar os vídeos, traz em outras mídias elementos complementares, como indicação de atividades, sites para interação. Este foi um dos aspectos que mais chamou a atenção dos professores, pois nenhum deles tinha conhecimento desta articulação. Um dos documentos encontrados no domínio público sob o título “Vivendo e

aprendendo: como usar os vídeos da TV Escola 8” traz contribuições ricas de dois especialistas, Bigode e Soares para a Série Mão na Forma, em especial para os episódios: O Barato de Pitágoras; 3,4,5 e o Pentágono; Nas malhas da Geometria e A Espiral e As Proporções Áureas. (MEC/SEED, 2002).

Atualmente este documento encontra-se como outro nome, atendendo as especificações da didática sob o título de “Dicas Pedagógicas”. Neste novo formato o professor obtêm uma série de informações passadas por consultores contratados pela SEED/MEC para a elaboração atividades baseadas numa determinada série. Com isso notamos um melhora nas construções das sinopses que trazem preocupações quanto ao conteúdo trabalhado em cada episódio da série, as principais características. Podemos observar esse tratamento com a nova Série do TV Escola, “Matemática em Toda Parte”, apresentada por Bigode. Nos anexos podemos observar as recomendações da SEED para os consultores, além do fascículo nº 8 do Vivendo e Aprendendo (BRASIL, 2002, p. 29-42).

5. CAPÍTULO

5.1. FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA

O presente estudo tem como foco principal o trabalho do professor de Matemática com o uso de vídeos, sendo assim, a natureza das observações são as mais próximas possíveis. Pensamos que a abordagem Estudo de Caso Etnográfico, que requer um detalhamento minucioso das situações em quem estão mergulhados os sujeitos deste trabalho daria conta por completo, no entanto no decorrer das atividades percebemos a necessidade de interagir de forma mais qualitativa junto aos professores. As observações aqui descritas consideram o prisma da abordagem no viés do Estudo de Caso, porém a ação direta junto aos professores desponta para a pesquisa-ação.

A pesquisa-ação tende a transformar uma situação, onde o contexto de sua inserção requer mais que uma observação ou descrição dos sujeitos e de suas atividades, ela propõem uma mudança, uma ruptura na construção social e cultural dos sujeitos, o que de certa forma representa “novas” maneiras de se utilizar determinado objeto. Ao agregar o processo metodológico da Pesquisa-

ação, percebemos que agregamos significado ao trabalho de pesquisa, que poderia não dar conta da análise do trabalho exposto, se continuássemos apenas descrevendo episódios.

A observação e descrição de todo processo é importante, no entanto não daria conta do sentido transformador que foi requerido neste trabalho. Ao perceber que havia pouca ou nenhuma informação sobre o uso de vídeos, de modo geral, percebemos que seria importante apresentar aos professores envolvidos algo que tornasse a ação do uso significativa. Ao assumir esta postura rompíamos o estabelecido para uma ação descritiva. Uma das características dos estudos qualitativos, principalmente no âmbito social, é que temos o dever de compreender quando se faz necessária uma reavaliação do que foi inicialmente proposto.

Assim a opção por uma segunda abordagem surge como complemento e não como oposição, pois permitiu a realização de encontros direcionados, leituras, trocas de experiências e maturação do estudo, tanto por parte dos professores de Matemática envolvidos na pesquisa, quanto da parte do pesquisador. Desta maneira a Pesquisa-ação elucidou do ponto de vista metodológico algumas sombras, que poderiam ter ficado se tivéssemos mantido apenas a visão Etnográfica.

Por outro lado a análise plena de um processo de gênese instrumental requer um período de tempo maior que o disponível no âmbito desta pesquisa. Apesar da limitação temporal, escolhemos construir os procedimentos metodológicos buscando coordenar dados de natureza quantitativa, por meio de questionários aplicados com os professores da rede municipal de Recife e um estudo de natureza qualitativa. O presente capítulo visa expor e justificar as estruturas metodológicas da pesquisa, construídas para buscar atingir os objetivos traçados.

5.2. ESTUDO DE CASO ETNOGRÁFICO

A opção metodológica pelo estudo de caso etnográfico exige nos deter especificamente em identificar onde estão e quem são os possíveis sujeitos de nossa ação investigativa. Esta modalidade metodológica prima pelo conhecimento profundo do meio pesquisado.

os estudos de caso buscam o conhecimento do particular, são descritivos, indutivos e buscam a totalidade. Além disso, eles estão mais preocupados com a compreensão e a descrição do processo do que com os resultados comportamentais 47

(MERRIAM, 1988 apud. ANDRÉ 2008 p. 51)

Tomamos como preocupação as indicações de André (2008) quanto à aplicação e à validação da presente pesquisa, suas análises e resultados bem como os aspectos inovadores empregados ao objeto de pesquisa, na abordagem proposta aos sujeitos.

O cuidado quanto ao detalhamento apresentado em nosso trabalho, que pode parecer repetitiva, mas não é apenas uma questão de entrelace das informações e é devido ao alerta fornecido por André (2008), “Outra qualidade usualmente atribuída ao estudo de caso é o seu potencial de contribuição aos problemas da prática educacional”. Para a autora esta abordagem sugere aos futuros leitores da pesquisa uma tomada de decisão, tendo em vista a dimensão política dos resultados apontados pelo trabalho.

Compreender o processo da Gênese Instrumental proposta por Rabardel (1995) se faz necessário inicialmente que possamos nos deter especificamente onde está e quem são os possíveis sujeitos de nossa ação. Também será necessário que após a identificação dos sujeitos dessa pesquisa possamos validar sua importância para o aspecto de generalização local como prevê esta metodologia. Esta modalidade metodológica prima pelo conhecimento profundo do meio pesquisado. Posicionamo-nos assim, a mais de um ano realizando registros quanto aos objetos, vídeos de Matemática do TV Escola, onde apontamos diversas mídias para então escolher as que fossem mais significativas para o universo dos sujeitos.

O estudo de caso etnográfico nos permitirá validar os dois casos escolhidos para essa pesquisa. Nossa escolha será mais bem tratada adiante, de forma que possamos Como exige essa abordagem teremos o cuidado de descrever o contexto onde estão inseridos os sujeitos e objetos de nossa pesquisa, pois

deve ser dada atenção especial ao contexto particular em que se desenvolvem as práticas educacionais, devem ser levadas

47

em conta as dimensões sociais, culturais, institucionais, que cercam cada programa ou situação investigada e devem ser retratados diferentes pontos de vista de diferentes grupos relacionados ao programa ou à situação avaliada(ANDRÉ, 2008, p.38).

Essa é uma preocupação apresentada em nosso trabalho, que possa parecer repetitiva, mas não é apenas uma questão de entrelace das informações e é devido ao alerta fornecido por André (2008), “Outra qualidade usualmente atribuída ao estudo de caso é o seu potencial de contribuição aos problemas da prática educacional”. Para a autora esta abordagem sugere aos futuros leitores da pesquisa uma tomada de decisão, tendo em vista a dimensão política dos resultados apontados pelo trabalho.

Compreende-se que o processo de verificação da gênese instrumental junto aos professores de Matemática da RMER constituiu-se numa ação investigativa, descritiva e exploratória onde procuramos detalhar da prática dos professores de Matemática quanto à utilização do artefato vídeo de Matemática da TV Escola. Assim, o estudo de caso etnográfico qualifica-se muito bem no conjunto de ações metodológicas que estruturam as ações de análise documental, das entrevistas, das observações de campo. Segundo André e Lüdke (2008, p. 11) “a pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada, via de regra através do trabalho intensivo de campo.”

Um documento que consideramos importante, pois traça uma meta das atividades de Tecnologia na Educação na Cidade do Recife foi o PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO: Minuta do PME – decênio 2011-2020 publicado em setembro de 2010, que não trata a TV Escola especificamente, mas dentro das demais ações não tendo em vista as considerações do MEC/SEED/TV Escola (1996, 2002 e 2004) e do TCU (2004) que consideram o investimento nas ações que fortaleçam o programa a nível Nacional algo fundamental para seu fortalecimento como política pública e não como projeto de governo. No entanto propõe:

desenvolver a qualificação do pessoal docente e não docente da rede pública de ensino relacionada à inclusão digital, à utilização da TV Escola e de outras redes de programação educacional, ampliando em 20% ao ano a oferta da formação

continuada, utilizando para isso os recursos da educação à distância. (RECIFE/SEEL, 2010, p. 54)

É possível identificar na construção desse objetivo/meta um fator conflitante, tendo em face da TV Escola já ser uma política pública voltada à formação continuada dos professores brasileiros, por isso não deveria apenas figurar num tópico como um elemento de composição, mas como instrumento de mediação para as ações de Rede, municipal e nacional.

No documento surgem elementos que nos mostram as ações meio dos três principais eixos: formação/infraestrutura/projetos (acompanhamentos); estes eixos diretivos são apresentados de forma superficial, como é a característica do documento, pois visa apenas dar um panorama geral do que potencialmente pode ocorrer no nível do Recife para as questões de Tecnologia na Educação.

A formação continuada dos professores é considerada neste documento como um processo importante para consolidação das ações para inclusão digital, e que surge no escopo da redação, antes da infraestrutura dos espaços, o que pode indicar uma hierarquia de concepção. Desta maneira entende-se a presença de uma visão antropotécnica do ponto de vista de Rabardel (1995).

Apesar de considerar também a importância da Educação a Distância como uma ferramenta para o processo de formação e usa o termo “incorporação”, não há indícios de que essa incorporação leve em consideração as condições que pesam sobre as práticas docentes instrumentadas.

As considerações apresentadas dizem respeito às posturas institucionais da PCR/SEEL/DGTEC/DGFP, frente ao programa TV Escola, destacando que a instituição é responsável em propor, sugerir, regulamentar e institucionalizar práticas pedagógicas com ou sem ferramentas tecnológicas contemporâneas, no caso da TV e do vídeo e em particular do TV Escola, não tão contemporâneos. Então se não encontramos na instituição um documento que norteie as atividades dos professores para o uso do TV Escola, como estes professores fazem uso deste artefato em sala de aula, se é que fazem?

Para que pudéssemos dar prosseguimento ao trabalho de investigação seria necessária a exploração do ambiente pedagógico escolar, onde se fazem as práticas didáticas dos professores de Matemática. Neste ecossistema

poderíamos de fato comprovar ou não a existência das atividades destes profissionais com o uso do vídeo. O estudo de caso etnográfico requer detalhadamente todos os aspectos que constituem o processo da ação dos sujeitos deste trabalho em seu ambiente natural e assim narrando os acontecimentos qualitativamente.

Do ponto de vista dessa abordagem metodológica, procura-se obter uma visão mais holística dos fenômenos que leve em conta todos os componentes de uma situação em suas interações e influências recíprocas. (ANDRÉ, 2008, p. 17).

Desta forma não poderíamos deixar de apreciar todo o conjunto das intenções e ações de fato, que indicasse mudança da prática do professor de Matemática em sala de aula. Nossa exploração vai no sentido de analisar o fenômeno por trás do uso ou não uso dos vídeos do TV Escola. Para dar condições a qualquer pesquisador, leitor do que vivenciamos primamos muito mais pela escrita, com detalhes, característico das pesquisas qualitativas. Durante essa pesquisa vimos a necessidade de por uma lupa sobre a ação da sala de aula, como não poderia deixar de ser. Esta ação vai ao sentido do que propõe André (2008) que nos apresenta a abordagem etnometodológica, que diz respeito aos estudos de Harold Garfinkel (1967 apud ANDRÉ, 2008), o qual desenvolve a pesquisa tendo como princípio básico: a observância dos acontecimentos, “as formas de entendimento do senso comum, as práticas cotidianas e as atividades rotineiras que forjam as condutas dos atores sociais” (ANDRÉ, 2008, p. 19).