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MULHERES GUARANI E A VENDA DO ARTESANATO NO CENTRO DE FLORIANÓPOLIS: PERCEPÇÕES E IMAGENS

4.1 Florianópolis e o centro da cidade

Florianópolis é a capital do estado de Santa Catarina, localizada ao Sul do Brasil. O município compreende o espaço geográfico ocupado por uma ilha e também possui uma porção territorial, na parte continental. Segundo o IBGE, a cidade conta com 421.240 moradores, sendo o segundo município com maior população no estado, após Joinville. No âmbito econômico, a cidade tem um desempenho importante nas áreas da tecnologia de informação e serviços em geral (IBGE, 2012). Estes últimos, ligados, sobretudo, à atividade turística, bastante desenvolvida na cidade, e associada às belezas naturais que o município possui, tais como praias e lagoas, assim como a sua história, representada através da arquitetura, da pesca e da confecção de artesanato e rendas, atividades associadas ao ancestral açoriano de alguns redutos populacionais.

No século XVI, com a chegada dos primeiros europeus à Ilha, e conforme discutido no 2º Capítulo, as narrativas apresentam uma população indígena importante, denominada Carijó, e associada ao tronco Tupi-Guarani, que praticava a pesca, a agricultura e a coleta de moluscos. Os Carijós teriam dado o nome de ―Meiembipe‖ (―montanha ao longo do mar‖) à Ilha (PAULI, 1973). Como se disse, de maneira oficial, se aceita que essa população indígena teria desaparecido ou sido assimilada pelo contato com os colonizadores europeus que a teria escravizado, impedindo, assim, a possibilidade de uma narrativa oficial de continuidade da presença de indígenas no local.

A chegada da frente colonizadora na ilha iniciou-se nos séculos XVI e XVII. Contudo, se reconhece que, no século XVIII, com a migração expressiva de migrantes açorianos, efetivamente ocorreu uma ocupação contundente da região incentivada pela coroa portuguesa. Estes seriam os imigrantes que, através da agricultura e da produção e tecelagem de algodão, assim como da produção artesanal de farinha de mandioca e rendas de bilro, teriam feito a região prosperar (IBID), constituindo-se como o ancestral reconhecido e fundador da ilha de Santa Catarina e região, assim como o responsável pelo crescimento econômico e de sua herança cultural (LEITE, 1991).

No século XIX, e mais especificamente em 24 de fevereiro de 1823, a cidade de Nossa senhora do Desterro, tornou-se a capital da Província de Santa Catarina. E desde o começo do século XX a região

passou por grandes transformações, quanto, então, se iniciaram os processos de implantação de água, energia elétrica e rede de esgoto. Nessa época, construiu-se também a Ponte Hercílio Luz, estrutura icônica da capital e primeira passagem terrestre a unir a ilha e o continente. Ao final do século XX seria marcada pela afluência de um grande número de moradores, incentivada pela vinda de algumas grandes empresas e a criação e prosperidade da Universidade Federal de Santa Catarina, trazendo consigo a implementação de obras de infraestrutura que visavam atender esse novo contingente de população (VÁRZEA, 1985).

Entre 1970 e 2004, a população de Florianópolis triplicou de tamanho e a economia local cresceu. O número de universidades atuando na cidade aumentou, fazendo com que a cidade passasse a ser reconhecida pelo grande número de acadêmicos que concentra. O setor de tecnologia da informação e comunicação conta com um polo de base tecnológica que abarca mais de 600 empresas de software, hardware e serviços de alta tecnologia, sendo o setor de maior arrecadação de impostos, responsável por mais de 45% do PIB do município55. O turismo é, igualmente, um dos principais geradores de emprego e renda, sendo que no verão essa atividade se concentra nas praias da região, e na baixa temporada, torna-se alvo de turismo relacionado à realização de eventos de negócios, seminários e congressos56.

O centro da cidade, onde se realizou o trabalho de campo que deu origem ao primeiro capítulo, é passagem obrigatória para quem vem à ilha por via terrestre. Nesse espaço se concentram o terminal Rodoviário Rita Maria e o Terminal de Transportes TICEN, onde embarcam e desembarcam passageiros em trânsito para municípios próximos e para diversos setores da cidade, fazendo dele um lugar que conta uma constante e expressiva circulação de pessoas.

55 http://tisc.com.br/florianopolis-ganha-plano-de-acoes-publicas-para-ciencia-e- tecnologia/. 56 http://www.acif.org.br/dados-economicos.

Mapa nº 1. Município de Florianópolis. Fonte: Google Maps

No centro também se condensam uma enorme variedade de lojas, restaurantes e estabelecimentos que oferecem os mais diversos serviços: bancos, empréstimos, telefonia, cuidados pessoais e de beleza, escolas, restaurantes, etc., configurando-se, assim, como um local de intensas relações econômicas e foco de emprego e de compras entre a população

local. No aspecto patrimonial, o centro da cidade alberga o Mercado Público Municipal, a Catedral Metropolitana de Florianópolis, a Praça XV, o Palácio Cruz e Souza e o Largo da Alfândega, entre outros monumentos arquitetônicos importantes, que também são de interesse turístico e conservam aspectos da memória histórica da cidade.

Destaca-se a Praça XV como eixo central de referência a partir da qual se expandiu o núcleo urbano da cidade, a qual congrega, de maneira constante, muitos grupos de pessoas que nela circulam. Esses frequentadores, ―enquanto indivíduos e grupos, conjugam diferentes inserções sociais que muitas vezes se entrecruzam, vão impondo seus modelos de convivência, sua estética, enfim, suas representações, subvertendo ou não as concepções institucionais e oficiais. Este interessante jogo da apropriação — lembrando Foucault: o poder não é exclusivo — está em todo lugar e depende de negociações constantes. E é nestas que se constroem novas e novas representações sobre a Praça. (...) [Eles] identificam o seu ‗pedaço‘, que passa a ser extensão de si, reconhecem o outro também pelo lugar que ele ocupa e nesse jogo de ter e dar prossegue ressignificando a Praça, os outros e a cidade‖ (CORADINI, 1995, p. 12-13).

Conjugando aspectos da memória histórica da cidade, e dando vida à dinâmica comercial e social em que vendedores, executivos, ambulantes, empresários, moradores de rua, ciganos, aposentados, entre outros, se relacionam de maneira contínua, remodelando o espaço, tal como sugere Coradini (1995), a partir da etnografia da Praça XV, o centro histórico da cidade tornou-se o palco onde tive a possibilidade de me aproximar das mulheres Guarani que nele vendem seu artesanato. A seguir, apresento, então, essa aproximação e seus desdobramentos.

4.2 Olhares e divergências: algumas notas sobre a presença de

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