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Fontes personalizadas em Sistemas de Identidade Visual

A tipograia customizada como elemento identitário de Sistemas de Identidades Visuais

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4.1 RIJKSMUSEUM, 2012

__ Para celebrar a reabertura do principal museu nacional da Holanda, o Rijksmuseum (Museu do Estado), um novo projeto gráico reformulou a identidade visual da instituição inalterada desde 1980 (figura 071). O novo projeto não se ocupou somente em criar outro novo padrão gráico, mas buscou também incorporar e ampliar aspectos da nacionalidade holandesa. As decisões para formar as bases dos elementos tipográicos do logotipo, os padrões cromáticos e, especial- mente na família tipográica Riksmuseum, consideraram ingredientes do gosto holandês e reforçaram questões idiomáticas na tipograia.

4.1.1 O Dutch Style: a identidade holandesa

__ As particularidades históricas e geográicas e a população diminuta do país sempre puseram em cheque as questões culturais da Holanda, sob o risco de diluir suas peculiaridades através das fronteiras muito próximas de outros países. Jan Middendorp (2004:9–10) lembra que apesar do eterno dilema entre o país estar inserido no contexto mundial, especialmente o europeu, e preservar as próprias características como nação, os holandeses consegui- ram criar e impor seus valores, produzindo gerações de artistas e designers que inluenciaram a produção cultural europeia. A preocupação em compreender e proteger esse patrimônio intangível, que vai além do próprio idioma e da produção artística, é assunto de que muitas nações instintivamente se ocupam. O autor cita o designer de tipos alemão Erik Spiekermann, que considera a Holanda o país com a maior concentração relativa de designers de tipos no mundo e o que o impacto mundial da produção vinda desses designers afeta continuamente a comunidade tipográica global. Pragmatismo, individualismo e perfeccionismo são características que predominam no peril desses proissionais que têm se destacado pela contribuição de novos padrões da emergente tecnologia tipográica digital (MIDDENDORP, 2004:10). Para o tipógrafo Gerard Unger (2007), um dos mais importantes designers de tipos atuantes do país, o design de uma tipograia relete o caráter e a personalidade de quem a cria, reletindo sua educação e os valores da sociedade na qual viveu. No entanto, a tradição do design holandês de produzir tipos utilitários e funcionais também deu espaço para a criação de algumas “experiências exóticas” como ZwartVet (1990) de Max Kisman, Cocum (1998) de Evert Bloemsma e Twin Weird (2003) de Erik van Bokland e Just van Rossum (UNGER, 2007:104).

figura 071_ A designer Irma Boom acompanha a reinauguração do Rijksmuseum na companhia do diretor do museu Wim Pijbes.

Paul van der Laan

Designer de tipos holandês nascido em 1972, trabalhou como designer gráico e web designer na empresa 5D, participou paralelamente de projetos na The Enschedé Font Foundry (tEff). Cursou a pós-graduação em Tipograia e Design de Tipos na Royal Academy of Art (kabk) em Den Haag (Haia), formando-se em 2000. No mesmo ano, fundou o estúdio tipográico independente Type-Invaders com foco em tipograias customizadas. Ainda em no ano 2000, foi premiado com a medalha de prata na Competição Internacional de Design de Tipos da Linotype com a fonte Rezident. Desde 2003 é professor tutor na kabk no curso em que se graduou. Em 2008 fundou a

type foundry Bold Monday juntamente

com o designer de tipos Pieter van Rosmalen, concentrando a comercialização de suas fontes (MIDDENDORP, 2004:283–284).

Suas principais fontes incluem Rezident (Linotype), Flex (Type Invaders), Chalet Comprimé (House Industries), ff Kievit Pro (FontFont, em parceria com Mike Abbink), Feisar (Type Invaders), e as customizadas para clientes como Audi, Usa Today, General Electric, Nbc Universal e Rijksmuseum Amsterdam.

4. Fontes personalizadas em Sistemas de Identidade Visual

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(2004) sugere que observadores externos a determinada cultura podem identiicar com mais clareza as características formais dos tipos pertinentes a ela. O designer lembra a airmação de Gerard Unger em seu artigo Dutch landscape with leters:

O caráter nacional é o único componente necessário para o

reconhecimento do estilo do design tipográfico. Os principais elementos do estilo não são apenas os produtos do país, região ou cidade em que por acaso vive o designer, mas também são moldados pelas suas próprias qualidades pessoais e da época em que ele trabalha (BIL’AK, 2004, s.n. — tradução minha 51).

4.1.2

A Identidade Visual do Rijksmuseum

__ O Museu é formado por coleções de obras diretamente relacionadas à arte e cultura holandesa contemplando 900 anos de história, especialmente por obras da Era Dourada Holandesa, período que abrange o século xvII, marcado por uma grande prosperidade política, econômica e cultural daquele país (haUsER, 1982: 599–619). Fazem parte de seu acervo importantes obras de Rembrandt (Ronda Noturna), Johannes Vermeer (a Leiteira) e Frans Hals (O Bebedor Alegre). Foi fundado na cidade de Haia, em 1800, e transferido oito anos depois, para a capital Amsterdam. Em 1885 passou a funcionar no ediício atual projetado pelo arquiteto holandês Pierre Cuypers. Tem uma arquitetura eclética que segue o estilo corrente na cidade velha e mistura elementos do estilo gótico e renascentista. No ano de 2000, foi fechado para uma reestruturação completa. A reabertura em abril de 2013, foi acompanhada de uma reformulação de sua identidade visual conduzida pela designer Irma Boom, mais conhecida por seu trabalho no design editorial, que já trabalhava para o museu havia dez anos e que foi responsável pelo redesenho do logotipo e por todas as publicações e pela sinalização interna e externa (RIjksMUsEM, 2014, s.n.).

Ciente da importância dos três elementos fundamentais de uma identidade, a designer deiniu, além da nova marca, uma paleta cromática extraída da obra do pintor barroco Johannes Vermeer, Het Melkmeisje 51 “The national character is only one of the components needed for a recognizable style of type design. The chief elements of style are the product not merely of the country, region or city in which the designer happens to live, they are also molded by his own personal qualities and the age in which he works” (BIL’AK,2004, s.n.).

Apesar do ecletismo cultural contemporâneo, em que um estilo deixa de ter um contorno nítido, há momentos em que certos padrões são reconhecíveis e circunscritos a um cenário comum. Na tentativa de relacionar uma característica ísica da paisagem local ao design e formas das letras, como suas terras baixas e céus frios, Middendorp (2004) descreve a tipograia que, para Gerard Unger representa a melhor tradição da tipograia holandesa:

Unger tem escrito que a tipografia reflete a horizontalidade da paisagem holandesa: ‘Hollander é um dos meus projetos que refletem o inevitável horizonte holandês. As partes planas das curvas são alongadas, a suavidade resultante desses arcos combinam com as amplas serifas que colaboram para as letras se ligarem visualmente e criar palavras e linhas. (MIDDENDORP, 2004:168 — tradução minha50).

Em uma rápida análise, mais racional, pode- se concluir que essa percepção é subjetiva demais, fugindo de qualquer parâmetro minimamente mensurável. Entretanto, não se pode deixar de observar a inluência que o extenso plano da paisagem rural do país sempre exerceu sobre as artes e ciências, moldando um espírito mais pragmático e realista. Ainda usando Gerard Unger como exemplo, as suas fontes Swit e Demos, igualmente têm forte luência horizontal, como nas partes curvas mais planas de ‘a, c, e, n, s’ que favorecem a leiturabilidade em textos mais longos. Hollander (figura 072) é uma fonte que recupera as proporções e a atmosfera dos tipos holandeses do século xvII de tipógrafos de Utrecht, Leiden e Amsterdam como Hendrik van den Keere, Cristofel van Dijk, Miklós (Nicholas) Kis e Dirk Voskens (MIDDENDORP, 2004:168; DIxON, 2012:G45), com seu eixo humanístico inclinado à esquerda, suas alturas-de-x altas, aberturas amplas e aspecto robusto. O designer de tipos holandês Peter Bil’ak 50 Unger has writen that the typeface relects the horizontality of the Dutch landscape: ‘Hollander is one of my designs to relect the inescapable Dutch horizon. The horizontal part of the curves are stretched, the resultant gentle archés combining with the large serifs to assist the leters in joining visually to make words and lines (MIDDENDORP, 2004:168).

figura 072_ Amostras da fonte Hollander de Gerard Unger, 1983,

inspirada no trabalho dos cortadores de tipos holandeses do séc. xvii, como Christofel van Dijck e Dirk Voskens.

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digitais de origem holandesa e lamenga (figura 075). A fonte Dtl Documenta foi iniciada em 1986 e disponibilizada como fonte Post Script em 1993, sob a intensão de ser forte, contemporânea e reco- nhecível em qualquer situação de uso, de textos à sinalização, um

design reconhecido em seus requisitos como uma fonte de texto robusta e aberta. Segue a tradição tipográica renascentista holandesa, com altura-de-x alta, tem um contraste médio-forte e serifas assimétricas que revelam o traçado caligráico. Apesar de usada por muitos anos como a fonte corporativa do museu, também era usada por outras instituições por se tratar de uma fonte comercializada no catálogo da Dtl (DUtch tYPE lIbRaY, 2014, s.n.).

4.1.3 O novo logotipo

___ A opção para o logotipo desenhada por Irma Boom em 2012, primeiramente, elimina qualquer elemento além da palavra. Não há símbolos, linhas ou planos de cor como retângulos ou círculos (figura 076), portanto a tipograia desempenha um papel de extrema importância. Seguindo as ideias sustentadas por seu compatriota e designer de tipos Gerrit Noordzij, para quem a palavra é a unidade e a condição para aquilo que chamamos de leitura (NOORDzIj, 2013:47), a palavra em sua expressão mais direta e equilibrada ganha força máxima na nova marca – a palavra é uma imagem. O logotipo apresenta apenas a palavra ‘RIjks MUsEUM’ grafada em letras pretas maiúsculas sobre fundo branco, em sua versão preferencial. Um ponto de discórdia entre a designer e os responsáveis pelo projeto no museu recaiu sobre a separação da palavra RIjks (Estado) da palavra MUsEUM (Museu), cuja (1660), uma das obras que constituem o DNa do museu (figura 073). O

conjunto de elementos da nova identidade foi completado por uma fonte tipográica exclusiva, chamada Rijksmuseum, que está presente no logotipo de forma pura e privilegiada.

Ao redesenhar o logotipo, Boom foi direto ao ponto na reairmação da identidade de seu país ao incluir um caractere típico do seu idioma. Para o detentor de um acervo de alta importância nacional e cuja visitação é majoritariamente composta por pessoas de outros países, a designer partiu do pressuposto que “[...] o Rijksmuseum é um museu nacional com forte apelo internacional, o design deve ser limpo e forte para ancorar o museu no presente” (comunicação em palestra, ATyPI 2013, Amsterdam, 2013). O logotipo anterior foi criado em 1980 pelo Studio Dumbar em um período em que Irma Boom já trabalhava ali como estagiária. É uma composição que combina uma fonte sem serifa e uma serifada. A palavra ‘RIjks’ é grafada em News Gothic Condensed

(Linotype©) e ‘MUsEUM’ está em negativo, ocupando uma tarja preta e

grafada em Baskerville maiúsculas, um tipo serifado transicional; a palavra ‘amsterdam’ é grafada na mesma News Gothic Condensed em minúsculas (figura 074). O conjunto relete um design austero e direto que se opunha ao experimentalismo típico dos anos 1980. A

particularidade desse logotipo é o espelhamento da primeira letra ‘M’ e da segunda letra ‘U’ da palavra ‘MUsEUM’, invertendo a sequência do contraste das hastes. Essa inversão aparentemente não agrega nenhum signiicado especíico e, de certo modo, cria um ruído visual que interfere na leiturabilidade da palavra.

Para acompanhar aquela identidade visual, foi empregada a tipograia Dtl Documenta e Dtl Documenta Sans, de autoria do designer tipográfico holandês Frank E. Blokland, palestrante sênior na Royal Academy of Arts em Den Haag (Haia) desde 1987 e professor na Plantin Society, Antuérpia, desde 1995. Blokland dirige a The Dutch Type Library, uma type foundry dedicada à produção e distribuição de fontes figura 074_ Logotipo do

museu criado pelo Studio Dumbar em 1980.

figura 075_ A tipograia DTL Documenta, de Frank E. Bokland, 1993, utilizada pelo museu no projeto gráico anterior ao criado pela designer Irma Boom.

figura 076_ Logotipo criado por Irma Boom em 2012, na versão em positivo e em negativo, utiliza a fonte de Paul van der Laan e ressalta o ditongo ‘IJ’ como forma de airmação da identidade holandesa.

figura 073_ Decomposição de seis cores a partir do quadro A Leiteira de Veermer, que compõe o DNA cromático do Rijksmu- seum. Atualmente, outras 17 pinturas foram adicionadas à coleção e são comercializadas como papéis de parede.

4. Fontes personalizadas em Sistemas de Identidade Visual

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do fonema (ɛi ou æi) e por se tratar de uma pronúncia alongada do ‘i’, pode ser grafado separadamente ou formando uma ligatura: no caso de maiúsculas, o ‘I’ é reduzido em sua altura ocupando o espaço deixado pela forma aberta do ‘J’, logo acima de seu gancho (figura 077), nas minúsculas, a ligatura pode ocorrer por um terminal curvo do ’i’ ligado ao ‘j’ (figura 078). Trata-se de um caractere típico holandês e remete imediatamente a essa cultura. Foi, portanto, um ponto indiscutível para a designer na composição do logotipo a incorporação do caractere em sua forma ligada. Contudo, não deixa de lado a preocupação com a pronúncia desse ditongo por indivíduos de línguas nativas muito diferentes, o que, por outro lado, é uma vantagem: ao se deparar com a graia, surge a curiosidade em compreendê-la e tentar pronunciá-la corretamente, chamando a atenção para uma singularidade nacional. Boom observou que antes de chegar ao resultado inal, algumas ideias passaram por sublinhar a primeira palavra e substituir o ditongo por imagens que remetiam ao universo igurativo turístico da cidade, do emblemático sinal X X X 55, a estrela da marca de cervejas Heineken até coroas, setas e corações (figuras 079 e 080). Na verdade, eram especulações em torno

55 O símbolo x x x refere-se às três cruzes de Santo André, um pescador que viveu no século I d.C. e

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