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DESIGN TIPOGRÁFICO ORIGINAL E ALTERAÇÃO DE FONTE EXISTENTE Para ser considerada uma tipograia customizada original

H. Berthold © , em baixo, comparam as

3. Tipograia Corporativa Personalizada Tipograia Corporativa Personalizada

3.4 DESIGN TIPOGRÁFICO ORIGINAL E ALTERAÇÃO DE FONTE EXISTENTE Para ser considerada uma tipograia customizada original

pressupõe-se que ela se trata de um design original projetado a partir esboços preliminares manuais ou digitais. Explora proposições formais diferentes, que abordam os requisitos referidos no brieing, até chegar ao resultado inal. Sua inalidade principal é se alinhar ao discurso corpora- tivo do modo mais direto, dando coesão a todo o sistema de identidade da marca. Em um meio saturado de informações, predominantemente visuais, distinguir a voz de todos os interlocutores é cada vez mais diícil, entretanto, por mais tênue que seja tal distinção, ela pode ser percebida e a voz se faz distinta das demais.

Uma das importantes contribuições que a adoção de uma tipograia institucional personalizada e exclusiva pode trazer, sobretudo para grandes organizações, é a mudança na cultura de como esta se apresenta visualmen- te na comunicação textual. Em muitos casos ocorre uma dispersão no uso de fontes diferentes e a introdução de uma tipograia única, que representa os princípios da identidade, agrega caráter a toda informação com seu público externo e a produção documental interna da empresa.

Antes reservada a grandes corporações com condições econômicas para investir em um projeto tipográico customizado, este, nos dias atuais, é praticamente acessível a instituições de qualquer porte ou até mesmo por indivíduos. Geralmente, o designer de tipos trabalha vinculado a um escritório de design ou empresa de comunicação responsável ou diretamente com o departamento de marketing da instituição. A tipo- graia corporativa customizada é uma modalidade com muitas varian- tes de complexidade e de volume de tempo e trabalho empregado, pois depende de fatores como número de caracteres necessários, desenvolvi- mento de caracteres especiais, correções óticas para telas de dispositivos digitais (hinting32), desenvolvimento de tecnologias Open Type33 especíi- cas e suporte a múltiplos idiomas. Portanto, não convém estimar valo- res. Ademais, por questões éticas do mercado, esta pesquisa não abor- 32 Hinting: instruções matemáticas aplicadas aos vetores de cada caractere de uma fonte, para o posicionamento ideal dos pixels que formam o desenho da letra quando mostrados em telas de baixa ou média resolução em corpos muito pequenos, o que evita distorções indesejadas dos tipos.

33 OpenType® (OtF) é um formato de arquivo de fonte multiplataforma, desenvolvido em 1997, como uma extensão do formato True Type Font da Apple (ttF). Suporta até 65.535 glifos, o que permite a inclusão de diversos idiomas e conjuntos de glifos especiais como versaletes, algarismos minúsculos, frações, caracteres alternativos estilísticos ou contextuais, e muitos outros (MICROSOFt, s.d.; ADOBE, s.d.).

figura 051_ Tabela que mostra os quatro pontos a considerar no inves- timento de uma fonte corporativa: o propósito de uso, requerimentos técnicos, considerações estéticas e orçamento/licenciamento.

A tipograia customizada como elemento identitário em Sistemas de Identidades Visuais A tipograia customizada como elemento identitário em Sistemas de Identidades Visuais 01 05 10 15 20 25 30 35 01 05 10 15 20 25 30 35

3. Tipograia Corporativa Personalizada 3. Tipograia Corporativa Personalizada

da noções de custo financeiro real, estratégias de comercialização ou de prospecção de projetos, focando exclusivamente nos procedimentos, objetivos e condução do design das fontes.

A customização não se aplica apenas aos casos em que um aspecto diferente no desenho das letras é necessário. Alcançar personalidade não é a única prerrogativa de uma fonte customizada. Legibilidade, consistência formal e técnica, flexibilidade e, sobretudo, a correta adequação aos princípios da identidade visual são fatores importantes a considerar. É apropriado ter um tratamento individualizado nos quesitos funcionais, como espaçamentos ajustados ao uso, nível ideal de legibi- lidade, visualização (rendering) aprimorada para telas de dispositivos eletrônicos, conjuntos de caracteres especiais (features) para atender ao ajuste ino dos textos, adaptados a cada caso.

Para que o valor desse elemento fundamental da identidade seja compreendido e assimilado como um código visual que reforça a marca, é conveniente que a nova fonte seja apresentada para todos os usuários diretos, apresentando sua motivação, características e recomendações de uso e a necessidade de sua adoção generalizada. A inclusão imediata nos Manuais de Identidade Visual ou nos Brand Books colabora para a sedimentação da nova linguagem gráica.

3.4.1 FF Meta

__ Um bom exemplo de uma fonte corporativa custo- mizada é FF Meta (figura 052), que poderia ter sido uma fonte corporativa exclusiva, mas foi abandonada nas últimas etapas do processo. Contudo, tornou-se uma referência em seu tempo e em sua categoria. Além disso, demonstra como um design tipográico original pode ser constituído sem apresentar uma solução demasiadamente impactante ou nova, mas de extrema funcionalidade e adequada ao seu propósito.

Em fevereiro de 1985 os correios da Alemanha Ocidental, Deutsche Bundespost, contrataram o escritório de design berlinense Sedley Place Design para reformular sua identidade corporativa. Nesse período, as opções tipográicas mais aceitas se resumiam à Helvetica e Univers ou, se necessário um tipo serifado, usava-se a Times New Roman. A popula- ridade da Helvetica e da Times se dava por razões culturais e principal- mente pela alta disponibilidade dos tipos nos sistemas operacionais. Entre as avaliações iniciais, icou evidente que a Helvetica não cumpria a função de diferenciar a empresa das inúmeras outras que também usavam a mesma fonte, “o resultado é o caos visual ao invés de uma tipograia servir como um denominador comum para todas as comu- nicações corporativas” (MIDDENDORP; SPIEKERMANN, 2006:20). Como os correios utilizam materiais com tipos em tamanhos muito pequenos compostos em espaçamento entrelinhas muito apertado, impressos em papéis de qualidade bastante variada e com tintas diferentes também, a Helvetica não era uma boa opção, pois não foi projetada para isso. Apoia- dos na viabilidade de digitalizar desenhos de letras e obter uma fonte digi- tal, o Bundespost concordou com os designers da Sedley Place em iniciar o projeto de uma fonte customizada, um projeto que foi coniado ao escri- tório Meta Design e dirigido pelo designer Erik Spiekermann.

De acordo com Middendorp e Spiekermann (2006:21), as instruções iniciais davam conta de que, antes dos fatores estéticos, a fonte deveria suportar diíceis condições de uso. Deveria ser muito legível, especial- mente em corpos pequenos; suportar boa leitura em extensos volumes de texto; ser neutra, ou seja, fugir de modismos ou nostalgias; estar disponível em todos os sistemas de composição a um baixo custo; econo- mizar espaço na composição; ter dois pesos claramente distinguíveis; ser distinta e inequívoca; e tecnicamente atualizada.

Para deinir os conceitos gerais que a fonte deveria ter, Spiekermann e sua equipe empregaram nos primeiros esboços (figura 053) um método mais analítico do que empírico. Pesquisaram seis famílias tipográicas observando pontos de convergência e de divergência entre elas. Foram observadas as proporções elementares da altura-de-x, ascendentes, descendentes, versais e algarismos, espessura das hastes, largura média e uma atenção especial foi dada às formas mais críticas de caracteres semelhantes que se confundem e ao balanceamento espacial das formas e contraformas (figura 054). Dessa análise concluíram que o design

figura 052_ Caracteres da FF Meta, do designer alemão Erik Speikermann, 1991.

figura 053_Esboço original feito por Erik Spiekermann, em 1985, o qual estuda as proporções básicas da letra minúscula a partir da letra ‘n’.

figura 054_ Esboço original feito por Spiekermann, em 1985 estuda as contraformas do ‘a, h,b’ para optimi- zação das letras em tamanhos muito pequenos.

A tipograia customizada como elemento identitário em Sistemas de Identidades Visuais A tipograia customizada como elemento identitário em Sistemas de Identidades Visuais 01 05 10 15 20 25 30 35 01 05 10 15 20 25 30 35

3. Tipograia Corporativa Personalizada 3. Tipograia Corporativa Personalizada

deveria envolver, entre outros pontos, os seguintes: ser uma tipograia sem serifas, caso contrário causaria um choque muito forte na cultura conservadora da empresa; ter uma proporção mais estreita, mas não uma versão condensada de uma fonte existente; as hastes principais deveriam ser grossas o suiciente para suportar impressões em super- ícies grosseiras, como papéis reciclados, por exemplo; os caracteres deveriam ter certa individualidade para evitar ambiguidades, mas sem exageros; altura-de-x maior; algarismos deveriam ser claramente distin- tos entre si e um pouco mais baixos que as maiúsculas; curvas deveriam equilibrar a tensão entre linhas externas mais suaves e linhas internas mais ‘quadradas’ para incrementar a clareza e legibilidade (Ibid.:22). Os autores concordaram que esse resultado estava em sintonia com as reco-

mendações do brieing34 e apontava na direção de um design austero e

funcional, bem como levemente humanista e sensível. Após os esboços darem forma às letras e serem digitalizados como uma fonte digital pelo aplicativo Ikarus©35, a tipograia foi batizada de Pt55. Para fornecer uma diversidade suiciente para as necessidades hierárquicas nos textos, três estilos foram desenhados: regular, regular italic e bold. Os pesos regular e bold foram desenhados manualmente e o itálico, gerado por interpola- ção36. Em seguida, foi necessário criar um peso intermediário para um melhor desempenho em sistemas de sinalização, letreiramento arqui- tetônico, veículos e aplicações em títulos grandes. Ainda, muitos sinais especiais como pictogramas, símbolos e inclusive o próprio logotipo do Deutsche Bundespost, poderiam ser incluídos no sotware da fonte, eliminando a necessidade de reproduções fotográicas para aplicação em artes inais.

Finalizada, a Pt55 foi testada em materiais gráicos do novo projeto gráico desenvolvido pela Sedley Place. O resultado foi uma fonte cujo grau de condensação permitia boa economia de espaço na página e uma excelente qualidade de impressão em corpos pequenos, além de 34 Brieing: conjunto de informações dadas a alguém antes de fazer algo, ou a reunião em que isso acontece. Information that is given to someone just before they do something, or a meeting where this happens (Cambridge Dictionary).

35 Ikarus: um marco da era digital na tipograia, é um programa para desenhar e gerar tipos digitais criado

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