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A escolha pelo percurso metodológico recaiu sobre o grupo focal pelas possibilidades que esta técnica permite em gerar informações, levantar impressões, estimular novos conceitos, interpretar resultados obtidos e avaliá-los, enfim, de chegar aos padrões que é o objetivo deste estudo.

Conforme alguns autores como Westphal; Bógus e Faria, citados por Chiesa e Ciampone (1999, p. 309), “os grupos focais aparecem como técnica de pesquisa no campo das ciências sociais na época da II Guerra Mundial, ressurgindo mais recentemente, sobretudo no campo da psicologia social, nas pesquisas de mercado e no campo da saúde; sendo que neste último, vem se consolidando como uma opção metodológica ligada às pesquisas qualitativas”.

Quanto à abordagem grupal pautada na concepção linear-tradicional, Mucchielli (1980, p. 31-32), afirma que “muito do que acontece no interior das organizações, denominado como encontros de grupos, é do tipo ‘reuniões de trabalho’, nas quais predominam opiniões racionalizadas, impessoalidade nas interpretações e superficialidade na abordagem de temas e papéis”. A dinâmica, muitas vezes, é conduzida seguindo protocolos de formas desejáveis a cada participante, e por essa razão, há comportamentos ensaiados que surgem para

evitar ou abafar situações conflitantes e, conseqüentemente, os sentimentos são reprimidos.

Neste contexto, emergem vários mecanismos de defesa para enfrentar a angústia da opressão constante, desencadeando simulações e disputas desonestas de poder, em algumas circunstâncias, na formação de subgrupos e facções paralelas que surgem para derrotar o poder para a sua própria sobrevivência.

Lane (1994, p.79), denomina essa situação como sendo “grupo objeto, grupo tipo bando ou seita, onde os seres humanos, através da serialidade, são mantidos sob formas justapostas em uma capa de coerência”.

Para Ciampone (1998); Lapassade (1989) e Lane (1994), mesmo que haja um discurso participativo, nesta perspectiva, os papéis são estáticos e previamente definidos.

Quando partimos para uma perspectiva dialética de abordagem grupal, podemos então dizer, com a afirmação de Pinchon-Rivière (1991, p. 174), que o sujeito não é um sujeito relacionado, é um sujeito produzido em uma práxis, ilustrando a perspectiva dialética de compreensão e abordagem grupal.

Pinchon-Rivière (1991, p. 177), define grupo como um conjunto de pessoas ligadas entre si por constantes de tempo e espaço e articuladas por sua mútua representação interna, que propõe explícita ou implicitamente89 uma tarefa, o que constitui sua finalidade.

Segundo Gayotto & Domingues (1995, p. 30-31), a técnica de grupo operativo pode ser adequada a qualquer contexto, desde que se respeite o que lhe é essencial: procurar desvendar o fazer das pessoas nos aspectos explícitos e implícitos.

O grupo operativo, conforme a definição do iniciador do método, implica um conjunto de pessoas com um objetivo comum, que procuram abordá-lo, trabalhando como equipe. Para o autor, a estrutura da equipe só se consegue na medida em que

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O explícito corresponde ao que se propõe na tarefa, como motivo pelo qual as pessoas estão reunidas. O implícito é o pano de fundo da interação grupal, é a base que sustenta a persecução do motivo. Aí estão implicadas as ansiedades básicas, isto é, o medo da perda e do ataque. O medo da perda é com referência à perda do equilíbrio já alcançado em situações anteriores (PINCHON-RIVIÈRE, 1991, p. 178).

opera, isto é, na medida em que ocorra transformação qualitativa na aprendizagem de novas condutas.

Essas novas condutas geram mudanças e, com isso, aparece o medo do ataque que surge mediante o novo, o inusitado, a diversidade e, como conseqüência, apresentando como ameaça ao rompimento de noções e da maneira de perceber essa transformação.

De acordo com Westphal; Bógus e Faria (1996, p. 473), grupo focal é uma técnica de pesquisa que utiliza sessões grupais como um dos foros facilitadores de expressão, de características psicossociológicas e culturais... diz respeito a uma sessão grupal em que os sujeitos/atores do estudo discutem vários aspectos de um tópico específico.

O grupo focal, como técnica, para Sena & Duarte (1999, p. 328), permite a obtenção de dados qualitativos, incluindo os relacionados às emoções e aos sentimentos dos atores envolvidos no processo, por isso concordamos com Morgan (1988), quando salienta que o grupo focal não deveria ser relegado a uma parte preliminar ou exploratória da pesquisa.

Desta forma, o grupo focal constitui-se em um espaço de formulação de alternativas para a definição de padrões para prevenir e controlar as infecções em cirurgias ortopédicas e promover um cuidado livre de risco. Morgan (1988), ainda afirma que “a finalidade mais direta dos grupos focais é se aproximar das compreensões que os participantes possuem do tópico de interesse do pesquisador”.

Segundo Pereira (1999), além de permitirem o pensar coletivo de uma temática, os grupos focais criam oportunidades aos participantes, através de um processo dinâmico, de conhecer e observar como as controvérsias se expressam e são resolvidas, por meio de um processo de interação que ocorre fora dos grupos, além disso, também favorece o expressar coletivo.

O grupo focal, para a mesma autora, além de constituir uma técnica especial, tem indicações para uma conversação planejada, na qual já existe uma área definida de interesse, com projeção a obter informação e perspectiva dentro de uma atmosfera permissiva e não-diretiva.

O grupo focal, como técnica de coleta de dados na abordagem qualitativa, tende a envolver a equipe em um processo de mudança, gerando inquietações e possibilidades nos protagonistas, que, para Pereira (1999), estimula a emancipação e a criatividade que são essenciais para o processo.

A interação, a observação, o custo e o tempo, de acordo com Sena & Duarte (1999), são as principais razões de utilizar grupos focais como técnica de análise qualitativa.

A grande vantagem dos grupos focais são as oportunidades que se tem de verificar uma interação sobre determinado tópico, em curto período de tempo, e são apropriados para temas referentes a atitudes e opiniões com possibilidade, que Sena & Duarte (1999, p. 328), ressaltam como maneira de identificar e analisar profundamente problemas a partir das percepções, sentimentos e emoções dos participantes e ainda “permitem, também, que sejam observadas as controvérsias a partir da interação entre comentários de uns e opiniões emergentes de outros”, dando, assim, oportunidades aos membros do grupo de participarem, além da avaliação, também do planejamento.

Conforme Debus (1997), a técnica de moderação pode ser de dois tipos, sendo a primeira, diretiva, que utiliza perguntas dirigidas e limita muito especificamente a gama de respostas que raramente é utilizada; e a segunda, não-diretiva, que apresenta perguntas abertas, o que permite aos participantes expressarem seus sentimentos verdadeiros e reduz ao mínimo a influência do moderador, é o melhor estilo para conduzir grupos focais.

Quanto ao estilo do grupo focal, Debus (1997), o classifica em três categorias: (1) Estruturado: o moderador trabalha a partir de um guia de temas preparados, incluindo as questões que deve abordar e as áreas específicas para indagação. O guia de temas assegura que constem todos os questionamentos e pontuações de forma bem estruturada e dirigida para os objetivos da investigação. Este tipo de grupo focal permite uma comparação fácil entre uma série de grupos. (2) Não- estruturado: recorre-se a um guia de temas bastante vagos. O foco e o estilo do debate ficam a cargo do próprio grupo. Às vezes, aplica-se na etapa inicial de definição do problema de um projeto, quando não se dispõe de uma investigação anterior e quando a coordenação do programa usufrui de pouca familiaridade com o

tema e não tem hipóteses quanto aos aspectos ou razões para o problema. (3) Semi-estruturado: geralmente é o mais eficaz, portanto, o mais difundido, que compreende um guia estruturado de temas e perguntas abertas, implicando que o moderador atente para todo conteúdo alocado no guia de temas, porém, de forma a proporcionar uma conversação flexível, isto é, um diálogo construído através de vários pontos de vista, de argumentos e contra-argumentos, de posições similares ou contrárias.

Em relação à explanação sobre os aspectos éticos, temos que estabelecer o

setting (enquadre, juramentação ou contrato grupal), que se assenta no

compromisso de todos os envolvidos, é a condição necessária para que o Esquema Conceitual Referencial Operativo (ECRO90) grupal se consolide. Deste modo, além do consentimento informado com cada sujeito, também se fará um contrato grupal (PICHON-RIVIÈRE, 1982).

As regras básicas de convivência, em consonância aos valores e expectativas das pessoas que compõem um grupo, são estabelecidas no setting. Essas regras não se consolidam apenas no comportamento, mas as atitudes são valorizadas, principalmente na predisposição dos integrantes para colaborarem mutuamente, de maneira que se efetue a dinâmica pretendida.

Portanto, o grupo focal, como técnica de pesquisa, além das regras de conveniência, exige ponderações, que venham privilegiar os aspectos éticos. Sendo assim, dois âmbitos merecem atenção, o compromisso ético unilateral, ou seja, dos pesquisadores com os pesquisados, e o compromisso ético bilateral, quer dizer, pesquisadores e pesquisados entre si, no que diz respeito ao acontecer grupal.

Sena & Duarte (1999, p. 329), ao citarem Stewart & Shandasani, destacam também como vantagem “a interação direta entre pesquisador e respondente, o que proporciona oportunidade para clarificação das respostas, continuação de questões, observação das respostas não-verbais pelo pesquisador, obtenção de rica e larga amostra de dados nas próprias palavras do respondente e em suas expressões não- verbais. O grupo focal permite, também, que os respondentes reajam e desenvolvam as respostas de outros membros do grupo. É muito flexível, podendo ser usado para

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Entende-se o conjunto organizado de noções e conceitos gerais, teóricos, referido a um setor do real, a um universo do discurso, que permite uma aproximação instrumental do objeto particular concreto (PICHON- RIVIÈRE, 1991, p. 173).

examinar grande número de tópicos com uma grande variedade de indivíduos e de locais. Pode ser adotado como estratégia viável de pesquisa para a obtenção de dados em grupos heterogêneos, pois facilita o entendimento dos resultados, aliados à própria interação dos participantes entre si e com o moderador tornando o método dinâmico e descontraído”.

Como desvantagens, as mesma autoras dizem que “o uso de uma amostra pequena e intencional, o que obriga, em alguns casos, os grupos focais a serem complementos de estudos quantitativos. Outro elemento limitante refere-se à interação que ocorre entre os participantes, o que pode provocar alterações no curso da discussão, exigindo grande habilidade do moderador para manter focalizado o assunto em discussão. Aspecto que também merece atenção dos pesquisadores é a necessidade de se estabelecerem formas de garantir a presença dos participantes como: realização de reuniões em locais de fácil acesso, horários adequados etc.. É necessário ressaltar que a análise dos dados é difícil, já que os comentários devem ser interpretados no ambiente social em que se dá a interação do grupo. A interação dos respondentes entre si e com o pesquisador pode ter dois efeitos: as respostas de um membro do grupo não são independentes das respostas de um outro, o que prejudica a generalização dos resultados; os dados obtidos podem ser influenciados parcialmente por um membro mais dominante e opinador”.