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Vida e saúde são entendidas como a condição mais importante e desejada pelo ser humano. Esta condição que o ser humano tem de organizar86 e realizar algumas funções básicas, como trocar matéria continuamente com as vizinhanças, mas sem alterar suas propriedades gerais, contém informação hereditária reproduzível e codificada que controla a velocidade de reações de metabolização e é um sistema capaz de evolução por seleção natural (MINATTI, 2002).

Dentro deste contexto podemos dizer que, para a ciência, um ser vivo tem que atender a este conjunto para que possamos então delimitar o que é vida, pois não existe uma definição definitiva para a mesma.

“Ocupar-se de si não é, portanto, uma simples preparação momentânea para a vida, é uma forma de vida” FOUCAULT (1977). Esta preocupação do ser humano com a vida é que se traduz, como observa Prigogine e Stengers (1984, p. 66),

“em uma admirável duração de vida do corpo vivo, dada a extrema corruptibilidade da matéria que o compõe, manifesta a ação de um “princípio natural, permanente e imanente”, em uma causa particular estranha às leis da matéria inanimada, e que luta sem cessar contra a corrupção sempre atuante, a qual, por sua vez, resulta dessas leis”.

Sen (2000, p. 314), ao citar Smith, ressalta que muitos homens que se comportam com grande integridade e, no decorrer de toda a sua vida, evitam toda e qualquer censura considerável, talvez jamais tenham tido o sentimento da decência que vemos na probidade de sua conduta, agindo meramente em consideração ao que percebiam ser as regras de comportamento estabelecidas.

Nós, seres humanos, como objetivo finito, somos descendentes de uma única célula, na qual, a maioria das explicações, giram em torno de quatro hipóteses, conforme relata Minatti (2002): explicação: (1) a origem da vida é o resultado de um evento sobrenatural, isto é, além dos poderes descritivos da química e da física; (2) surge espontaneamente a partir da matéria não viva em curtos períodos de tempo, hoje e no passado; (3) é coexistente com a matéria e não tem começo; (4) chegou à

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“Na medida exata em que o homem passa a organizar a sua vida socialmente, desenvolve-se também a dicotomia das relações entre o sujeito e a norma. E, de saída, a dicotomia assume as feições de uma contraposição que, percebe-se logo, não deixa de ser a própria razão de ser” (BIGNOTTO et al 1994, p. 247).

Terra no mesmo tempo da origem do planeta, ou imediatamente depois, e se iniciou na Terra primitiva por uma série de reações químicas progressivas.

Para Minatti (2002), ao se definir vida, temos que levar em consideração alguns requisitos que irão justificar as bases nas quais ela está alicerçada: generalidade que, de um modo geral, deve abranger todas as formas possíveis de vida neste planeta; coerência e não-vitalismo, isto é, a vida não deve envolver noções que sejam contrárias ao que nós já sabemos das coisas vivas e de seus componentes inorgânicos; deve ter elegância na organização conceitual, ou seja, ela deve ser capaz de organizar uma grande parte do campo de conhecimento da biologia e cristalizar nossa experiência com os sistemas vivos em uma estrutura clara; e deve ser suficientemente específica para distinguir sistemas vivos de sistemas que obviamente não são vivos e, ao mesmo tempo, dar uma idéia de qualquer tipo de sistema que possa ter a capacidade de viver, metabolizar, auto-replicar-se, ou quaisquer outras propriedades dos sistemas vivos considerados relevantes.

A busca por uma compreensão universal da vida como um fenômeno emergente coerente explica os seres vivos como entidades materiais altamente organizadas, produzidas por um longo processo de evolução, que sem o qual não poderá desencadear a cadeia a qual chamamos de saúde, por conseguinte, só existirá saúde se existir vida, caso contrário, é impossível esse dualismo.

Diante desta situação, concordamos com Prigogine e Stengers (1984, p. 66) quando dizem que a “análise do problema da vida é-nos, simultaneamente, próxima e afastada; próxima, por sua consciência clara da precariedade da vida e de sua singularidade em relação às leis gerais da dissolução e da dispersão; afastada”, porque, tal como Aristóteles, Stahl definiu, antes de mais nada, o ser vivo em termos estáticos, em termos de conservação e não de transformação.

Assim, a vida é entendida como um conjunto de atividades formadas por conteúdos e estruturas diferentes, dando uma idéia conflitante com a noção intuitiva bastante razoável de que toda a vida (na Terra) de fato compartilha algumas propriedades fundamentais (MINATTI, 2002).

Quando procuramos uma definição para vida, precisamos levar em conta diferentes contextos, principalmente quando envolve o específico e o universal.

Deste modo, podemos requerer que uma definição de vida seja suficientemente geral e coerente com o conhecimento; não faça qualquer apelo a forças vitalistas; seja suficientemente específica, não precisando revelar a realidade última da vida.

Sen (2000, p. 265), ao citar Kant, já caracterizava essas reivindicações gerais como “obrigações imperfeitas”, discutindo a seguir sua relevância para a vida social. As pretensões são dirigidas de maneira geral a qualquer indivíduo que possa ajudar nestas obrigações, muito embora, nenhuma pessoa ou agente específico possa ser incumbido de levar a efeito a fruição dos direitos envolvidos.

A vida, de um modo geral, é uma forma organizada dos sistemas físicos diferentes da cultura, sociedade, mente ou matéria, tornando-se explícita e, uma vez que isto seja feito, pensar na vida não ao nível do organismo individual, mas o ser humano constituído de corpo, mente e espírito.

Os filósofos gregos sempre subordinaram a ética às idéias de felicidade da vida presente e de soberano bem: ainda que os comentadores tenham mostrado uma infinidade de distinções sutis na moral antiga, é certo que o que está sempre em jogo é o desejo do homem de realizar o soberano bem, ou seja, a vida feliz; ou melhor, o objetivo supremo da moral é “encontrar uma definição de soberano bem, de tal maneira que o sábio se baste a si mesmo, isto é, que dependa dele mesmo para ser feliz, ou que a felicidade esteja ao alcance de todo homem racional” (BIGNOTTO et al 1994, p. 8).

Quando corpo, mente e espírito estão em equilíbrio, temos a vida em verdadei- ra saúde.

Neste processo, saúde87 é entendida como a globalidade de direitos voltados para a satisfação e bem viver em estado de melhor harmonia e dinamismo.

Estes são direitos fundamentais do cliente, família e comunidade, e são de natureza biopsicosocial, em caráter permanente de uma condição de equilíbrio biológico ao mais próximo da harmonia, e de melhoria contínua na qualidade de vida, com capacidades e possibilidades de enfrentar riscos e conflitos à saúde. É um

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“É um estado de totalidade ou integridade do ser humano como indivíduo, suas partes e seu modo de funcionamento(...), é integridade e equilíbrio entre mecanismos fisiológicos, psico-fisiológicos e estrutura material (vida biológica), interagindo com outros seres humanos (vida interpessoal) (OREM, 1980. p. 118-119).

processo interativo de capacitação e desenvolvimento que permite evoluir e se comprometer através de motivação, criatividade, produtividade e desenvolvi- mento integral, contribuindo para a satisfação das relações ser humano/ambiente à medida em que há crescimento/evolução/transformação.

Para Aristóteles, a ética é o compromisso do homem com o bem supremo, que para os gregos seria, sem sombra de dúvida, a felicidade. E mais: felicidade no sentido de uma vida feliz, o que não é dito de graça aqui – há uma valorização também do prolongamento da vida até sua potencialidade máxima, o que implica a busca de uma felicidade tal que não se realize contra o corpo (e que, por isso mesmo, não dependa só do corpo) (BIGNOTTO et al 1994, p. 261).

Neste sentido, diversos modos de vida podem ser mantidos se a sociedade assim o decidir, e isso é uma questão de ponderar os custos dessa preservação relativamente ao valor que a sociedade atribui aos objetos e estilos de vida preservados. É claro que não existe uma fórmula pronta para essa análise de custo- benefício, mas o crucial para uma avaliação racional dessas escolhas é o potencial das pessoas para participar de discussões públicas sobre o assunto (SEN, 2000, p. 277).

Concluímos, dizendo que, “a vida moral e a vida do poder dão a impressão de correrem paralelas, com raras convergências. Este desencontro entre a ética e a política incomoda e indigna a todos que querem ver e sentir a presença de virtudes (BIGNOTTO et al 1994, p. 225), condições ímpares e comple-xas da própria vida.