• Nenhum resultado encontrado

Therezinha Coelho de SOUZA Universidade de Vassouras Brasil

FORMAÇÃO DOCENTE: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Refletir sobre práticas pedagógicas para o século XXI exige colocar em questão a Formação de Professores e os locais de Formação. Considerando-se a perspectiva de António Nóvoa (2000), quando afirma que a produção

146 de práticas educativas eficazes só surge de uma reflexão da experiência pessoal partilhada entre os colegas, sendo importante ter conhecimento sobre o significado que a escola tem na história de vida das pessoas, na história de cada local, para a construção dos significados possíveis desse espaço de representação. No mesmo sentido, Paulo Freire (1996) considera que formar um professor é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas, destacando que a prática necessita estar alinhada a teorias. Nas perspectivas de Ken Zeichner (1992, 1998) e de Nóvoa (1992, 2000) não basta mudar o profissional, é preciso mudar também os contextos em que ele intervém.

É neste sentido que a IES precisa construir o futuro professor com habilidades e competências durante o seu processo de formação, para que não exista desarticulação entre teoria e prática, entre universidade e escola básica. Contudo, tal prática, necessária ao percurso formativo dos discentes, não nos exime de considerar que, em se fazendo um balanço das condições atuais das licenciaturas, observa-se, como nos informa Romanowski (2010), que na maioria das instituições ocorreu o processo de reforma desses cursos. Entretanto, as reformulações parecem orientar-se para reorganização das disciplinas que compõem a grade curricular, permanecendo a formação de professores conectada à reprodução disciplinar de conteúdos descontextualizados em relação aos problemas da escola básica e trabalhados de modo fragmentado.

Então, considerar qual o conjunto, o sentido e a direção das alterações que deve tomar uma inovação curricular na formação inicial de professores, deve fazer parte do espectro de análise do processo de pesquisa sobre formação docente.

Cunha (2010) defende que

A questão pedagógico-curricular é muito mais profunda e anterior ao mero rearranjo do conhecimento disciplinar: é de ordem epistemológica, pois vem da concepção de conhecimento, e de ordem pedagógica, isto é, de como se percebe o ato de aprender. (p. 139)

Para além das proposições de Cunha (2010) e objetivando inovação curricular na formação inicial de professores, Imbernón (2001), ao se referir às novas tendências para o campo de estudo, nos apresenta um cenário no qual:

Uma reestruturação da formação de professores precisa se opor frontalmente a toda manifestação explícita ou oculta da racionalidade técnica que, com outros nomes e procedimentos, nos leva de volta ao passado (competências, planos estratégicos, qualidade, eficiência, eficácia...), sem análise, seja nos conteúdos curriculares ou nas formas de gestão, seja no controle técnico-burocrático da educação e da formação. É preciso assumir uma perspectiva crítica em educação e formação. (p. 37)

García (1999, apud KELLER-FRANCO e MASETTO, 2018), apresenta os seguintes componentes do conhecimento profissional dos professores: conhecimento psicopedagógico envolvendo temas relacionados com o ensino, a aprendizagem e os alunos; conhecimento do conteúdo contemplando o conhecimento substantivo, que inclui o corpo de conhecimentos de uma área, e o conhecimento sintático, que diz respeito ao domínio que o professor tem das tendências, linhas, perspectivas e paradigmas em jogo no seu campo de especialidade e na pesquisa da área; conhecimento didático do conteúdo, combinando o conhecimento da matéria e o pedagógico; e, finalmente, conhecimento do contexto, incluindo a conscientização e a valorização dos aspectos socioeconômicos e culturais da região e as oportunidades que oferecem para o currículo. Deve estender-se, também, ao conhecimento da realidade em nível nacional e internacional, bem como a competências didáticas para integrar esses conhecimentos nas unidades didáticas e projetos curriculares. Inclui, ainda, o conhecimento da escola e da sua cultura, dos alunos e professores.

147 Gatti (2010) refere que muito se tem mencionado acerca da crise nas licenciaturas. Destaca que, há décadas, pesquisas vêm mostrando problemas nesses cursos; entrementes, tenham sido propostas reformulações em um ou outro aspecto, mas o impacto dessas modificações tem sido modesto, frente aos desafios apresentados.

METODOLOGIA

Para dar conta dos objetivos propostos para o estudo em tela, foram delimitados alguns recortes no processo de investigação, assim constituídos: formação inicial, formação continuada e trajetórias sociais. Por assim o ser, cabe, a esse trabalho em especial, o olhar diretivo acerca do processo formativo do acadêmico do curso de Pedagogia. É prudente salientar que a formação de professores na tendência reflexiva configura como caminhos para práticas pedagógicas exitosas. O interesse científico, nesta temática, valoriza o desenvolvimento dos saberes docentes, uma vez que supõe condições de trabalho propiciador de formação de professores. Desta forma, o alinhamento à proposta metodológica do estudo se fundamenta a pesquisa qualitativa, conduzida na perspectiva teórico-metodológica do Construtivismo Social, que aponta os objetos de estudo em permanente construção. Essa visão, diz-nos Guba (1990, apud Alves-Mazzoti; Gewandsznajder, 2002, p.133-134):

[...] as realidades existem sob forma de múltiplas construções mentais, locais e específicas, fundamentadas na experiência social de quem as formula; os resultados são sempre criados pela interação pesquisador/ pesquisado e as construções individuais são provocadas e refinadas através da hermenêutica e confrontadas dialeticamente.

Assim sendo, a pesquisa foi de cunho qualitativo, realizada com questionário semiestruturado proposto aos licenciandos do curso de Pedagogia, todos voluntários, foi disponibilizado em um link de formulário eletrônico, através de indicador uniforme de recurso (URL), e posteriormente, via Facebook e grupos próprios de WhatsApp, cujos dados são enviados, automaticamente, para o e-mail dos pesquisadores, porém sem identificação do respondente.

Estabelecido o embasamento teórico/metodológico, propuseram-se etapas para o processo de investigação, bem como da coleta de dados, feita através de questionário, aprovado, anteriormente, pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), da Universidade de Vassouras, disponibilizado através de um formulário eletrônico, apresentado ao pesquisado, acadêmico do curso de Pedagogia da Universidade de Vassouras, por link, no Google Drive, do formulário contendo 55 perguntas, cujo indicador uniforme de recurso (URL) foi disponibilizado, posteriormente, via Facebook e grupos próprios de Whatsapp aos convidados para respondê-las, cujos dados são enviados, automaticamente, para o e-mail dos autores da pesquisa compartilhado pelo Google Drive, porém sem identificação do respondente. Os dados são analisados a partir das propostas de Bardin (2000).

A pesquisa é considerada de fluxo contínuo, uma vez que a instituição continua formando alunos na área da educação, bem como os pesquisadores têm muito que acompanhar a História de Vidas dos referidos graduandos da IES em tela. Os dados coletados e depurados à luz dos teóricos de referência no tema orientam novas ações e proposta de trabalho, em prol de qualidade ofertada pelas IES.

RESULTADOS

No delineamento do objeto deste artigo, foram extraídos da amostra maior os dados dos acadêmicos ingressantes no curso de Pedagogia, frente ao recorte temporal de 2014 a 2016. No grupo pesquisado, em valores percentuais de respondentes somou-se, respectivamente, 95%, 48% e 82%, dos regularmente matriculados. Entre os ingressantes no ano de 2014, apenas 52% tinha formação de nível médio no curso normal, os ingressantes em

148 2015 compõem33%, e os de 2016, 48%. Informam os pesquisados que 27% encontravam-se atuando na docência da escola básica.

Gatti (2010) nos apresenta, por estudos realizados em 2006, o perfil dos alunos licenciados no Brasil, em trabalho financiado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Esta pesquisa indica o perfil etário discente dos licenciandos entre os 20 e 30 anos situando-se na casa dos 66%. Esclarece, ainda, que os estudantes de pedagogia tendem a ser mais velhos que os cursistas das demais licenciaturas. Relata que os graduandos de pedagogia são mais numerosos no intervalo de 30 a 39 anos e acima dos 40. Em nossa pesquisa, esses dados demonstram outro perfil, uma vez que nos dizem que 74% encontravam- se, na ocasião da pesquisa, com menos de 30 anos, e desses, 77% na primeira metade da vintena de suas vidas. Quantos aos demais, 26%, posicionaram em gradações entre 30 e mais de 40 anos. No que tange aos ingressantes no curso de pedagogia, no ano de 2015, existe uma concorrência de dados quanto ao processo de feminização da docência. O estudo aponta para 92,5% de mulheres cursista. Nosso quadro aduz a 90% de mulheres entre os ocupantes dos bancos do curso de Pedagogia.

Entre os empregados, compostos por 88%, dos pesquisados, identificam-se como docentes, e, por conseguinte, concluintes do curso de formação do magistério, em nível médio, 27% dos partícipes. Esses números estão alinhados com os indicados na pesquisa de Gatti (2010), que apontam para 28,2% dos alunos com formação docente. A média salarial obtida em 96% dos cursistas que contribuíram com nosso estudo é de remuneração entre 1 e 3 salários mínimos.

Assim, o quadro que se forma e prevalece é de jovens trabalhadores, em sua maioria mulheres. A estes

mesmos jovens foram i -se as horas de aula?

Obtivemos como resposta que 74% dedicam de duas a quatro horas semanais; 15,6% não dedicam hora nenhuma, ficando com o estudo que ocorre nas aulas; 9,1% dedicam de cinco a sete horas semanais de estudo; e, 1,3% usam de oito a nove horas semanais. Evidenciando que o tempo para formação, para além do período na universidade, constitui em poucas horas de dedicação.

Esse cenário nos apresenta como desafio na construção de um percurso formativo para os que declaradamente exercem outras atividades durante o dia e que encontra na Universidade o espaço de formação e construção da identidade docente. Nesse sentido, mostra-se basilar a necessidade de promover intervenções e práticas pedagógicas que possam propiciar experiências.

-se o foco central nas instituições educacionais , e entendendo que nosso acadêmico do curso de Pedagogia dedica poucas horas para sua formação, vislumbramos um campo e um espaço que precisam, continuamente, serem alimentados com aulas dinâmicas, atualizadas e marcantes para a formação do estudante universitário.

Já que o tempo de dedicação à formação inicial dos pesquisados é pequeno, resta à IES transformar o tempo dos bancos escolares em significativos, no que tange a qualidade do é discutido, ponderado e analisado no espaço direto das aulas, possibilitando empoderamento da formação. Lembrando sempre que possível aos acadêmicos da importância da organização temporal e espacial de sua formação.

Para Nickel (2013), o acadêmico necessita encontrar espaços para discussão e reflexão dos problemas que abarcam suas futuras práticas, visto que será sobre tais problemas que ocorrerá a aplicação de seus conhecimentos, vislumbrando subsidiar sua prática pedagógica de forma crítica, refletida. Assim sendo, o tempo de formação inicial é significativo para qualidade de construção do conhecimento dos futuros egressos do curso.

149 No âmbito deste recorte da pesquisa, não cabe realizar conclusões. O que de fato podemos propor é o compartilhamento de ideias que podem auxiliar na reflexão do tema explorado. Gostaríamos, na verdade, de partilhar três linhas de força de pensamento que empoderam a discussão. A primeira é para destacar que as IES, a todo tempo e momento, precisam acompanhar os ingressantes dos cursos de Pedagogia focando conhecê-los, bem como suas trajetórias sociais e profissionais. Esta ação possibilita as universidades estarem sempre alinhando suas propostas pedagógicas em prol da formação inicial de qualidade aos estudantes. Em segundo lugar, e como consequência da primeira linha, realçar a importância de pensar o futuro, no domínio da cientificidade educativa para a estrutura contínua da profissão de Pedagogo, o que passa, necessariamente, pela formação inicial do ingressante, pensada e fomentada pelo Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso de Pedagogia. Cabe destacar que, de posse dos resultados encontrados na pesquisa, é possível se debruçar para construções de propostas efetivas e exitosas para o curso. Finalmente, se faz necessário destacar que a centralidade da discussão do tempo dedicado aos estudos e da formação dos ingressantes são pontos de domínio de novas investigações em prol da gestão sábia e prudente do curso de Pedagogia.

REFERÊNCIAS

Alves-Mazzotti, A. J., Gewandsznajder, F. (2002). O método nas ciências naturais e sociais. São Paulo: Pioneira. Bardin, L. (2000). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70.

Brasil. (1996). Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. Acesso em: 10 set. de 2019.

Cunha, M. I. (2010). Lugares de formação: tensões entre a academia e o trabalho docente. In: A. Dalben, J. Diniz, L. Leal, & L. Santos (Orgs.), Convergências e tensões no campo da formação docente: didática, formação de professores e trabalho docente (pp. 129-149). Belo Horizonte: Autêntica.

Cunha, M. I. (2012). O bom professor e sua prática. 24ª ed. Campinas, SP: Papirus. Demo. P. (1990). Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez.

Freire, P. (2013). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. García, C. M. (1999). Formação de professores para uma mudança educativa. Porto: Porto Editora.

Gatti, A. B. (2010). Licenciaturas: crise sem mudança? In A. Dalben, J. Diniz, L. Leal, & L. Santos (Orgs.), Convergências e tensões no campo da formação docente: didática, formação de professores e trabalho docente (pp. 485-508). Belo Horizonte: Autêntica.

Imbernón, F. (2001). Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo: Cortez. Keller-Franco, E. &Masetto, M. T. (2018). Formação docente em processos de mudança: análise de uma proposta

de inovação curricular em cursos de licenciatura. Revista Portuguesa de Educação, 31(2),153-174. De https://dx.doi.org/10.21814/rpe.14592.

Moita, M. de C. (2013). Percursos de formação e de transformação. In Nóvoa, A. (Org) et al. Vidas de professores. 2ª ed. Lisboa: Porto Editora.

Nóvoa, A. Os professores e as histórias da sua vida. In: Nóvoa, A. (Org) et al. Vidas de professores. 2ª ed. Lisboa: Porto Editora, 2013.

Pimenta, S. G. (2000). Saberes Pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez. Schön, D.A.(1992). La Formación de profesionales reflexivos. Madrid: Paidós.

150 Tardif, M. (2008). Saberes Docentes e Formação Profissional. 9ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes.

Romanowski, J. P., & Martins, P. L. O. (2010). Situação atual das licenciaturas: o que indicam as pesquisas a partir de 2000. In A. Dalben, J. Diniz, L. Leal, & L. Santos (Org.), Convergências e tensões no campo da formação docente: didática, formação de professores e trabalho docente (pp. 509-526). Belo Horizonte: Autêntica.

151

FESTIVAIS COMO ESPAÇOS DE FORMAÇÃO E MEDIAÇÃO ARTÍSTICA EM DANÇA

ID 266

Fernanda ANDRADE

Outline

Documentos relacionados