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PRIMEIRAS NORMAS OFICIAIS DESTINADAS AOS EDIFÍCIOS ESCOLARES

UIDEF do Instituto de Educação, Universidade de Lisboa

2. PRIMEIRAS NORMAS OFICIAIS DESTINADAS AOS EDIFÍCIOS ESCOLARES

Durante a apreciação do Orçamento para 1866-1867, alguns deputados pronunciaram-se sobre o estado impróprio das casas em que funcionava a maior parte das escolas existentes; quando no Ministério das Obras Públicas estava, desde algum tempo, cativada uma verba para a construção de espaços escolares e o Ministério do Reino possuía 5 000$000 réis destinados a apoiar os municípios nos trabalhos de conservação de instalações existentes. E no Parlamento, o Ministro do Reino (Joaquim Augusto de Aguiar), reconhecia:

Não se podem estabelecer escolas sem as casas necessárias para funcionarem (e os utensílios e todos os mais acessórios; isso é outra verba de aumento). Supondo que cada casa das escolas que é preciso estabelecer não custa mais de 1 000$000 réis, porque é preciso que tenham todas as comodidades que não têm as escolas existentes, e que são indispensáveis para estes estabelecimentos, teremos uma verba de alguns centos de contos de réis.15

A existência de condições aceitáveis para o funcionamento das aulas de ensino primário correspondia por quase todo o país a um problema que parecia de difícil solução tendo em conta as dificuldades financeiras dos municípios. A execução do testamento do Conde de Ferreira16 veio criar esperanças em algumas vereações

municipais na medida em que o legado se destinava à construção de 120 edifícios em regiões de características rurais, seguindo projetos muito semelhantes; e não podendo ser erguidas mais de duas em cada concelho, nem gastar-se mais de 1 200$000 réis por edifício, incluindo a aquisição da mobília17. Pela tutela governamental foi

estabelecido que, para concorrer ao legado, as câmaras ou as juntas de paróquia deviam reunir condições bem

12 Relatório referente ao ano letivo de 1856-1857 (apud Gomes, 1985, p. 246). 13 Portaria de 17 de outubro de 1859.

14 Cf. Circular de 30 de julho de 1863.

15 Sessão de 17 de abril de 1866. Diario de Lisboa, n.º 65, p. 1223. 16 Emigrante brasileiro, falecido a 24 de março de 1866.

57 definidas: apresentar a planta do edifício e do terreno destinado à construção, com um espaço que serviria para horta do professor e recreio das crianças; orçamento da obra projetada; cópia do orçamento camarário geral ou suplementar devidamente aprovado, que incluísse uma verba não inferior a 400$000 réis para a construção da escola pretendida; deliberação do órgão autárquico de como se obrigava a executar fielmente a planta no período de um ano contado desde o dia em que fosse concedido o subsídio governamental18.

Terminado o prazo para as candidaturas a tal benefício (no final de outubro de 1866) e estimando-se que as despesas importariam no dobro do legado, o que significava um encargo excessivo para os municípios, o poder central procurou salvaguardar a apresentação de orçamentos rigorosos. Para isso, encarregou os governadores civis de fornecer ao Ministério do Reino as seguintes informações relativamente às câmaras municipais que tivessem concorrido: cálculo discriminado das despesas com a aquisição do terreno, a construção do edifício e o equipamento necessário; verba específica reservada pelo município no caso da quantia do legado não ser suficiente; existência, ou não, de oferta de donativos por parte de instituições particulares. E, muito especificamente, nota sobre a localização e a área de terreno disponível19.

Em princípio, a planta das escolas Conde de Ferreira seria a mesma para todo o país, mas não existia lei nem regulamento que determinassem as condições a que devia obedecer cada edifício. Por isso, poucos dias depois de ser tornado público o legado do Conde de Ferreira e definido o papel que os municípios deviam desempenhar na sua aplicação20, foram publicadas as primeiras normas desenvolvidas quanto à construção de edifícios escolares

desde a dimensão e implantação no terreno, às condições de arejamento e iluminação das salas de aula, mobília adequada21.

acesso, desviada das estradas de muito movimento, remota de estabelecimentos incómodos ou perigosos, quer à endo ao que fora exigido no legado do Conde de Ferreira, as normas dispunham que devia existir uma porção de terreno (entre 600 a 900 metros quadrados) em redor do edifício escolar, cercado de muros ou valas servindo de isolamento em relação a outras habitações. Os espaços escolares

escolas femininas, e um átrio ou dois se a escola fosse destinada aos dois géneros. O espaço ocupado pela sala de aula dependeria não só do número de alunos, mas do método de ensino e da mobília, não podendo todavia ser inferior a um metro quadrado por aluno.

Como as despesas de construção das escolas do legado variavam muito de localidade para localidade, alguns testamentários precisaram de adotar uma planta mais reduzida, de maneira que a quantia cativada não fosse excedida. De um modo geral, estas escolas corresponderam a edifícios de linhas clássicas, de uma só sala, com fachada encimada por um pequeno frontão triangular e porta ladeada por duas janelas. E, tal como as normas

22..

18 Circular de 20 de julho de 1866. Diario de Lisboa, n.º 163, 23 de julho.

19 Ofício da 4.ª Repartição da Direção-Geral de Instrução Pública, datado de 9 de outubro de 1866 (ANTT, Ministério do Reino,

maço n.º 3632).

20 Decreto de 27 de junho de 1866. 21 Portaria de 20 de julho de 1866. 22 Decreto de 20 de julho de 1866.

58 Face às dificuldades financeiras manifestadas por alguns municípios, o Ministério do Reino inscreveu no Orçamento de Estado uma verba extraordinária para auxiliar nessas construções; verba que veio a ser transferida de ano para ano sem a sua aplicação. Em meados da década de 1870, ainda havia municípios a requerer a cedência de terrenos públicos para poderem usufruir do legado, conforme podemos verificar nas atas da Câmara dos Deputados. Somente vieram a ser construídas 91 escolas Conde de Ferreira, quando estavam previstas 120 (Mendes, 2014, p. 60).

Talvez por influência do legado do Conde de Ferreira, outras doações foram feitas para a construção e funcionamento de escolas masculinas e femininas. Há também notícia de um número elevado de concessões de edifícios públicos em mau estado ou devolutos, que as câmaras municipais se responsabilizavam por adaptar seguindo as normas aprovadas. No entanto, estas construções não obedeciam a projectos próprios elaborados pelos serviços técnicos competentes mas eram edifícios semelhantes a outros existentes nas suas regiões.

A par das más instalações, estava a falta de mobiliário adequado e de material escolar. Em 1863-1864, os visitadores classificaram como insuficiente o mobiliário existente em cerca de 80% das escolas e, quanto ao material escolar, a mesma apreciação fizeram em 87% das escolas. É, contudo, interessante verificar que as avaliações não foram dadas para o mesmo número de escolas visitadas (respetivamente 1677, 1376 e 1519), o que pode indiciar que se registaram omissões devido ao tão degradado e inadequado estado em que funcionavam algumas delas, ou para não prejudicar alguns municípios.

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