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Universidade Federal de Rio Grande FURG; Universidade Pablo de Olavide UPO; Universidade Federal de Rio Grande FURG

2. SUSTENTAÇÃO TEÓRICA

Este item tem o objetivo de contextualizar o processo histórico da Educação Ambiental, trazendo desafios e avanços, além de fundamentar a partir de que perspectiva está sendo trabalhada aquela no processo de pesquisa. Em relação à Formação de Educadores Ambientais, o artigo propõe-se a fazer um diálogo entre os autores, interagindo com a concepção da FETRAF-SUL/CUT e da pesquisadora, no sentido de discutir alguns conceitos, problematizar o modelo de sociedade capitalista e construir possíveis alternativas para contrapor ao sistema atual. Ressalta a importância de a Educação Ambiental ser trabalhada na formação de educadores, a partir da concepção crítica e transformadora e enfatiza a importância dos Movimentos Sociais nas Instituições de Ensino Superior. Faz essa discussão, partindo da concepção freireana. No que diz respeito aos Movimentos Sociais, apresenta a trajetória, a história e a luta destes, especialmente os do Campo e, como parte deles, os da Agricultura Familiar. Ratifica a importância da luta e das reivindicações dos Movimentos Sociais para que a Educação Ambiental seja evidenciada como uma temática relevante e assumida, mesmo que timidamente, pelo Estado.

2.1 Educação Ambiental

O descaso com a questão ambiental, caracterizada pelo querer abusivo do crescimento econômico, está tentando neutralizar questões essenciais para a sustentabilidade, fazendo que grupos preocupados com o meio ambiente iniciem uma discussão comprometida a respeito do tema.

Porém, faz-se necessário ressaltar que não se pode cair na ingenuidade de pensar que somente grupos comprometidos discutem Educação Ambiental. Pelo contrário, o tema está sendo propagado por diversos grupos e setores da sociedade que possuem um interesse, na maioria das vezes, financeiro e que, exaltam o tema de uma maneira brilhante e convincente, em seus discursos. Falar em Educação Ambiental virou modismo, ou seja, o tema

econômica. Tonet problematiza que:

[...] é na sociabilidade capitalista que o estranhamento ganha a sua forma mais acabada, pois ali o conjunto do processo, incluindo o produtor, o processo de trabalho e o próprio produto, se torna uma realidade estranha, poderosa e hostil, que se opõe a uma construção autenticamente humana dos indivíduos. Deste modo, a construção de uma forma de sociabilidade que abra, para todos a possibilidade de uma vida cheia de sentido, implica, necessariamente, como horizonte, a superação do capital [TONET, 2012, p. 21].

Dessa forma, entende-se que não são ações isoladas ou atos individuais que farão com que a Educação Ambiental seja trabalhada numa perspectiva Crítica e Transformadora, promovendo a emancipação social. Mas sim, se faz necessária uma mudança no sistema que, além da Educação Ambiental, usa muitas outras ferramentas que ganham corpo nas discussões a favor da manutenção do seu status quo. Sobre isso, Loureiro enfatiza:

Não cabe mais em EA descontextualizar os temas e se acreditar ingenuamente que é possível reverter esse quadro apenas com a diminuição per capita do consumo ou com mudanças de hábitos familiares e comunitários, colocando a responsabilidade no indivíduo e eximindo de responsabilidade a estrutura social e o modo de produção [LOUREIRO, 2012, p. 61].

As ferramentas e estratégias utilizadas, historicamente na sociedade, priorizaram o econômico em detrimento ao ambiental, social, cultural. As práticas econômicas da sociedade globalizada como, por exemplo, os usos abusivos dos recursos naturais não renováveis têm ameaçado bruscamente o meio ambiente. Sendo assim,

92 faz-se necessário discutir e repensar um outro paradigma de desenvolvimento. E, para isso, é imprescindível que a Educação Ambiental seja concebida como práxis [LOUREIRO, 2012], permeando todos os espaços formais e não formais da sociedade, tendo claro que é essencial que a sociedade civil organizada, os Movimentos Sociais, as Instituições de Ensino trabalhem este tema com responsabilidade e compromisso, levando em consideração que a educação é essencial na formação do cidadão. Nesta perspectiva, propor um projeto contra-hegemônico é papel fundamental dos Movimentos Sociais que estão comprometidos com a maioria da população. E, a Educação

Assim, considerando o modelo de educação atual e remetendo a discussão da Educação Ambiental para o campo da Educação Formal, compartilha-se a ideia proposta pelas Diretrizes Curriculares Nacionais DCNEA , quando destaca a importância da necessidade de pensar a Educação Ambiental numa perspectiva transversal, perpassando o currículo. E para propor um currículo em que a Educação Ambiental seja trabalhada como tema transversal, entende-se de extrema importância discutir a Formação de Educadores Ambientais e a participação dos Movimentos Sociais temas que serão discutidos a seguir.

2.2 Formação de Educadores Ambientais

A formação de educadores ambientais é uma temática que vem sendo muito debatida nos últimos anos. Isso se deve à tomada de consciência sobre a importância do papel do educador como desencadeador de processos educativos críticos, promotores de transformação social e, também, a importância da educação enquanto ato político. Porém, a estrutura atual do Estado é organizada de uma forma que fragiliza a atuação dos educadores, usando-os apenas como instrumentos de trabalho. Vindo ao encontro dessa discussão, Mészáros salienta que:

É por isso, que hoje o sentido da mudança educacional radical não pode ser senão o rasgar da camisa de força da lógica incorrigível do sistema: perseguir de modo planejado e consistente uma estratégia de rompimento do controle exercido pelo capital, com todos os meios disponíveis, bem como com todos os meios ainda a ser inventados, e que tenham o mesmo espírito [MÉSZÁROS, 2008, p. 35].

Apesar da contradição entre o que se entende por educador e o que, de fato, é possível, a prática dos educadores incide diretamente na formação dos educandos e, em consequência, em intervenções na sociedade. Para isso, Freire ressalta que ensinar exige entender a educação como uma das formas de intervenção no mundo:

Outro saber de que não posso duvidar um momento sequer na minha prática educativo-crítica, é o de que, como experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento [FREIRE, 1996, p. 98, grifo do autor].

Desta forma, compreende-se a importância da educação para a transformação da sociedade e, por conseguinte, a formação de educadores torna-se imprescindível: seres humanos são inacabados e a sociedade está em constante mudança, externando cada vez mais a necessidade de formação contínua e permanente. Neste sentido, Guimarães atenta para a necessidade e importância do papel das instituições que formam os educadores, enfatizando que a formação vai para além do conhecimento da disciplina e da mediação do processo ensino- aprendizagem:

[...] é urgente que as instituições que formam o professor se deem conta da complexidade da formação e da atuação consequentes desse profissional. Além do conhecimento seguro da disciplina que ensina, da compreensão e de certa segurança para lidar com a mediação do processo ensino-aprendizagem, das concepções a serem desenvolvidas em relação ao caráter ético-valorativo da sua atividade docente, vão se agregando outras habilidades afirmadas como necessárias ao desenvolvimento adequado da sua atividade profissional [GUIMARÃES, 2004, p. 18].

93 Porém, novamente depara-se com a contradição entre a necessidade e a possibilidade de participar de formação, sendo que a jornada real de trabalho da maioria dos educadores não é correspondente à jornada formal.

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os educadores precisam ter consciência da totalidade e serem críticos, para possibilitar que sua prática educativa aponte para um processo de enfrentamento ao sistema imposto.

O educador precisa ter clareza de que não existe neutralidade na educação. Por isso, para além da formação, é fundamental problematizar a orientação política e ideológica dos educadores perante o sistema que os induz ao silêncio, culpabilizando-

políticos, fazemos política ao fazer educação. E, se sonhamos com a democracia que lutemos, dia e noite, por uma escola em que falemos aos e com os educandos para que, ouvindo-

Não se pode negar que toda ação pedagógica é uma ação política e, sendo assim, a neutralidade não existe. Portanto, os educadores, dentro das possibilidades concretas, podem optar entre agir para transformar a sociedade ou para manter o sistema.

Fazendo um diálogo com o fenômeno desta pesquisa, entende-se que os Movimentos Sociais são atores importantes no processo de formação de educadores, no sentido de intervir para que o processo aconteça, possibilitando a inserção da Educação Ambiental e apontando para a transformação social.

2.3 Movimentos Sociais

No século XIX, nas décadas de 60, 70 e 80, os Movimentos Sociais não incorporavam, em suas pautas, a questão ambiental, pois acreditavam que esta estaria consumada, caso se resolvessem os problemas sociais. Mas, com a evidência cada vez maior da problemática ambiental, atingindo sempre e mais a parcela da população menos favorecida, alguns movimentos incluíram-na em sua pauta de lutas e outros movimentos, ainda, surgiram devido a essa evidência.

Sendo assim, é interessante explicar a partir de que concepção, fala-se de Movimentos Sociais, nesta pesquisa, entendendo que o termo é amplo e, em outros contextos, pode se referir a Movimentos Sociais vistos por meio de outras perspectivas, que não dialogam com a deste trabalho. Compartilha-se da concepção da FETRAF- SUL/CUT, em um dos livros do CSJR, quando ressalta que:

Entendemos os movimentos sociais como atores que organizam ações coletivas de caráter sócio-político pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e sobre problemas em situação de conflito e de disputa. [...] Nesse sentido, é espaço de geração de novos direitos e de novos valores que preservam os laços de solidariedade, tendo por finalidade a contraposição ao sistema dominante, tendo em vista consagrar novos valores e novas relações sociais [FETRAF- SUL/CUT, 2007, p. 37].

Dessa forma, entende-se que os Movimentos Sociais constroem um processo social, político e cultural que evidencia uma identidade coletiva, a partir de interesses em comum, sendo que esta resulta do princípio da solidariedade e é construída a partir de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo. Gohn complementa, esclarecendo que:

[...] movimento social refere-se à ação dos homens na história. Essa ação envolve um fazer por meio de um conjunto de práticas sociais e um pensar por meio de um conjunto de ideias que motiva ou dá fundamentação à ação. Trata-se de uma práxis, portanto [GOHN, 2000, p. 12-13].

94 Segundo esta autora, os Movimentos Sociais se fortalecem ou se enfraquecem, conforme a dinâmica do conflito e da luta social, buscando o novo ou repondo e conservando o velho. Os Movimentos Sociais participam, direta ou indiretamente,

transformação social. Assim, entende-se que todo Movimento Social tem uma finalidade política, que implica na tensão entre interesses antagônicos.

Por isso, acredita-se que um dos motivos dessa tensão é que o Estado garante a condição da classe hegemônica e, dessa forma, os Movimentos Sociais contra-hegemônicos se organizam para enfrentar a opressão. Nesta pesquisa, parte-se do princípio que, apesar da burocratização e do enfraquecimento, os Movimentos Sociais são atores importantes e, que, mesmo de uma maneira mais tímida, mobilizam, lutam, defendem e conquistam espaços e políticas em prol dos oprimidos. Dessa forma, acredita-se que a partir da práxis desses Movimentos Sociais, é possível intervir nos espaços de educação, trabalhando a Educação Ambiental de maneira que esta possa ser um dos potenciais para a transformação da sociedade.

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