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FPCE Universidade de Coimbra; PPGDança/ Universidade Federal da Bahia

O PROGRAMA DE MEDIAÇÃO ARTÍSTICA NO VIVADANÇA DE

Para o Vivadança (2017), Mediação Cultural "é um programa que visa à democratização do palco e ao acesso à dança" através da formação da plateia (Vivadança, 2017). De acordo com o festival, a formação de plateia é uma área de atuação da mediação cultural que visa, dentre outros, também o acesso ao espaço físico, teatro. A estrutura do festival é composta por espetáculos, oficinas, palestras, workshops com artistas nacionais e internacionais, rodada de negócios e ações de mediação cultural.

O Vivadança é um espaço no qual transitam desde companhias, grupos e coletivos que estão iniciando no mercado cultural até artistas renomados. E o público tem a oportunidade de prestigiar a dança tanto em espaços ro Vila Velha, em Salvador, quanto espaços culturais alternativos como ruas, praças, shoppings e afins.

Se, em outros anos, o Vivadança acontecia em trinta dias e conseguiu investir em transporte e alimentação para o público da mediação, nesta última edição de 2017, as ações do Programa ficaram restritas principalmente à distribuição de bilhetes para um público específico devido significativa redução de financiamento e patrocínio. O Programa de Mediação Cultural foi realizado por uma equipe composta de uma coordenadora e duas voluntárias, absorvidas pelo programa de voluntariado do Festival. Segundo informações da coordenação, em 2017, o programa

154 disponibilizou em média quatrocentos bilhetes com entrada gratuita que incluíram alunos e professores da rede pública de ensino, grupos artísticos, grupos de comunidades periféricas e instituições direcionadas para a terceira idade.

A 11ª edição do Vivadança Festival Internacional - 2017 promoveu uma diversidade de danças, ideias, formas e expressões. Possibilitou, nesta polifonia, o intercâmbio entre artistas e sociedade numa programação com duração de onze dias, decorridos entre 27 de abril e 7 de maio. Envolveu sete espaços culturais e quatorze espetáculos locais, nacionais e internacionais. Destes, seis espetáculos, de produção local, fizeram parte da Mostra Baiana de Dança Contemporânea, com foco na valorização de produções locais. Importante ressaltar essa Mostra, pois, muitos destes espetáculos compõem a base da curadoria pedagógica na programação do Programa de Mediação Cultural.

A Mostra Casa Aberta que existe há dez anos, aconteceu em dois dias envolvendo trinta e sete espetáculos com mais de cem bailarinos por noite. Como o próprio nome da ação indica, o processo de seleção desta mostra é aberto para qualquer dançarino, grupo, companhia, coletivo ou academia de dança que se inscrever para se apresentar nestes dias. Todos os trabalhos inscritos passam pela curadoria de profissionais indicados pela coordenação. É característica desta ação a presença da diversidade estética, de diferentes idades tanto no palco quanto na plateia.

As apresentações desta mostra são consideradas como amadoras se comparadas a maioria das obras apresentadas durante o festival, pois, os dançarinos da mostra, em sua maioria, estão em processos iniciais de capacitação e/ou investigações em danças. Em consequência deste fato, os espectadores da mostra são, em sua maioria, amigos e familiares dos dançarinos. No entanto, a valorização da diversidade cultural soteropolitana nesta ação específica é, do nosso ponto de vista, a maior contribuição e exemplo de democratização cultural do festival. Nesta mostra percebemos que a Dança é considerada como uma linguagem 'encantadora' para muitos deles, mas, outro fator chamou a atenção neste processo de observação. A relação do público com a Dança, em qualquer das estéticas apresentadas, revelava naquele momento uma relação cúmplice e atrelada ao reconhecimento dos seus em cena e não a dança em si. Podemos perceber que o (re) conhecer alguns dos artistas mudava o estado corporal deste público para um estado efusivo. Pois, nestes momentos, presenciamos bailarino/irmão/amigo no palco. Esse reconhecimento e as conseguintes demonstrações que se seguiam provavelmente tecem relações sensíveis entre os envolvidos transformando o ambiente.

Observamos que algumas pessoas atendiam o celular durante as apresentações, outros intencionavam filmar com o flash do celular ativado mesmo depois se serem avisadas que não era permitido. Outros conversavam tranquilamente durante as obras, e entre outras manifestações, destacam-se os assobios, gritos, elogios e muitos aplausos. Para constar, estes espectadores são normalmente considerados os menos experimentados pelas coordenações dos festivais.

Estas observações de maneira alguma são seguidas de reprimenda ou certezas. Ao contrário, é legítima a forma como cada público se posiciona porque é essa liberdade de bem-estar é que faz com que o público esgote a bilheteria nesta mostra. O ponto que tensionamos é que o fato destes espectadores se comportarem de maneira diferente não indica necessariamente que são menos ou mais experimentados ou que tecem ou não relações sensíveis com a dança. Pois, não é a frequência nos eventos que garante que os espectadores estão abertos ao devir de novas experiências com a linguagem, mas, também não a excluí.

155 Nesse sentido, a mediação artística poderia ser voltada a trabalhar, com equilíbrio e sensibilidade, para perceber as necessidades e potencialidades tanto dos espectadores quanto dos dançarinos, das obras e dos 'outros' no encontro com a dança, se não dificilmente essas experiências vão passar de um mero momento espetacular. E deste modo, é preciso que um tipo de mediação artística que provoque o espectador para que ele encontre por si só motivações que possam estabelecer uma relação estética alargada com a Dança.

Nestas noites a plateia é sempre lotada e toda a verba arrecadada com a bilheteria é revertida para o cachê dos dançarinos e, portanto, não há ações de mediação cultural, digo distribuição de bilhetes gratuitos, por este motivo. Isso aponta que se o espectador se sente motivado para esta aproximação; o valor dos bilhetes talvez seja o menos importante e desfaz o mito de que as ações de mediação artística devem sempre trabalhar com a gratuidade dos bilhetes.

Da nossa perspetiva, ao contrário esta noite deveria ser vista como espaço frutífero de ações de formação do espectador diante da potencialidade que a mostra carrega. Aponto isso, pois, considerando que a fruição diversificada poderia corroborar com a ideia de potencialização da experiência estética, aliado a postura motivacional que os leva espontaneamente à mostra, esta seria a noite adequada para propor vivências e debates sobre no mínimo as variadas estéticas apresentadas e as reverberações que provocam no espectador. Além da possibilidade de fomentar o desejo destes espectadores em ampliar sua frequência e experiências em outros espetáculos para além da mostra.

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