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Funções das escolas do 1º ciclo do ensino básico

PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO DO ESTUDO

CAPÍTULO 2. A ESCOLA ENTRE A ACEITAÇÃO SOCIAL E A CONTESTAÇÃO

2.1 FUNÇÕES DA ESCOLA

2.1.2 Funções das escolas do 1º ciclo do ensino básico

Com efeito, estes tendenciais e inevitáveis reajustamentos de papéis da escola são influenciados pelas mudanças verificadas a nível político e sociológico. Actualmente parece imperativo a forte centralidade da análise das finalidades da escola, dado que muitas das suas finalidades tradicionais parecem não só já não corresponder com precisão, como não abarcar na totalidade um conjunto de funções que efectivamente a escola é chamada a realizar.

De acordo com a LBSE, que define os princípios gerais que regulam o sistema educativo, podemos afirmar que a Escola desempenha duas funções essenciais: a função de instrução e a função social. No caso do 1º Ciclo do Ensino Básico, a função de instrução assume maior importância do que na educação pré-escolar. É, precisamente, no artigo

7º, da Lei de Bases do Sistema Educativo que são definidos os grandes objectivos da educação, entre os quais que caracterizam as funções socializadora e a instrutiva:

“São objectivos do ensino básico:

a) Assegurar uma formação geral comum a todos os portugueses que lhes garanta a descoberta e o desenvolvimento dos seus interesses e aptidões, capacidade de raciocínio, memória e espírito crítico, criatividade, sentido moral e sensibilidade estética, promovendo a realização individual em harmonia com os valores da solidariedade social;

[…]

f) Fomentar a consciência nacional aberta à realidade concreta numa perspectiva de humanismo universalista, de solidariedade e de cooperação internacional;

h) Proporcionar aos alunos experiências que favoreçam a sua maturidade cívica e sócio- afectiva, criando neles atitudes e hábitos positivos de relação e cooperação, quer no plano dos seus vínculos de família, quer no da intervenção consciente e responsável na realidade circundante;

[…]

o) Criar condições de promoção do sucesso escolar e educativo a todos os alunos”

A função educativa do 1º ciclo do ensino básico sempre foi mais uma função instrutiva e menos assistencial, ao contrário do que acontecia com a educação pré-escolar. O ensino básico sempre esteve debaixo da tutela administrativa e pedagógica do Ministério da Educação. Mas este papel sofreu alterações ao longo do tempo, cada vez mais é função da escola do 1º ciclo realizar:

“[…] o processo de socialização pode ser entendido de forma diversificada, através da aprendizagem de papéis distintos que qualquer indivíduo vai desempenhando ao longo da sua vida, e da interacção com outros e pela modelação do comportamento que deles se espera. Embora diferenciadas estas perspectivas tornam-se complementares entre si, correspondendo aos vectores: estrutural e interpessoal, referidos por quaisquer dos agentes de socialização” (Arroteia, 1998: 19)

Juntamente com a função instrutiva desenvolvida com o máximo de qualidade possível. Para tal podemos verificar que isto depende de variadíssimos factores:

“Limitando a nossa atenção à escola, verificamos que este processo é por sua vez condicionado por factores de índole diversa, entre os quais constam as características individuais dos alunos – maturidade, inteligência, classe social … -, os traços do professor – personalidade, tipo de formação, motivação, criatividade … - bem como a organização da própria escola – curricula, horários, relações com o meio circundante, actividades extra- curriculares, etc. - dependendo, como é evidente, de vários outros factores de ordem social. De entre esses, o meio familiar constitui, apesar de tudo, um dos principais elementos a ter em conta no rendimento escolar de qualquer indivíduo” (Arroteia, 1998: 19).

Educação Básica, Poder Local e Reorganização da Rede Escolar: um caso

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Em jeito de conclusão podemos afirmar que é inevitável o reajustamento dos papéis por parte da escola, dado que muitas das suas finalidades tradicionais parecem não só já não corresponder com precisão ao que a sociedade necessita, como também já não é capaz de abarcar na totalidade um conjunto de funções que efectivamente a escola é chamada a realizar. Assume-se a educação como um processo complexo que consiste no processo de transmissão de conhecimentos, socialização e integração dos indivíduos na sociedade, através da transmissão de valores, padrões de comportamento que procuram o desenvolvimento das potencialidades dos alunos, no sentido de favorecer a sua auto- realização. A escola não deverá privilegiar qualquer das dimensões, mas tentar equilibrá- las, tanto quanto possível, no pressuposto de que todas elas contribuem igualmente para a formação integral dos alunos. Qualquer uma das dimensões referidas não pode ser considerada separadamente das outras mas em permanente interacção.

Podemos afirmar que as transformações na estrutura da família, com o progressivo desaparecimento das famílias tradicionais, o crescente número de famílias monoparentais e a crescente heterogeneidade cultural e étnica da sociedade portuguesa obrigam a escola a assumir funções que antes não lhe pertenciam. A escola, por si só, não é capaz de desempenhar as funções educativas e sociais que lhe são exigidas. A assunção dessas novas funções pela escola, exigem a criação de ambientes educativos estimulantes com recursos humanos, materiais e espaços físicos adequados. Actualmente a escola assume funções que antes pertenciam à família, o que exige a cooperação e coordenação entre escolas, autarquias, associações e serviços locais facultando todo o apoio necessário às crianças. Arroteia refere a importância de não esquecer que:

“[…] as expectativas que cada um de nós tem da escola são elaboradas a partir de um certo número de padrões, de modelos culturais e de experiências acumuladas que identificam o nosso modelo de sociedade. Daí que não haja concordância absoluta quando se pretende construir uma tipologia única das funções da educação, uma vez que cada uma dessas propostas tem por base um determinado contexto económico, político, e social, sendo por isso difícil reconhecer-lhes um âmbito universal” (Arroteia, 1998: 17).

Espera-se da educação efeitos como o progresso e o desenvolvimento do país.

Posto isto, parece conveniente colocar algumas questões. Como pode a escola responder às exigências da sociedade, se ainda não se encontram claramente definidas quais as funções que a educação tem de desempenhar? Será que a escola não consegue adaptar-se à velocidade com que a sociedade se transforma, ou, será que se pede à escola uma sobrecarga de funções?

2.2 A dificuldade prática na construção da escola para