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O PAPEL DO CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

PARTE II ESTUDO EMPÍRICO

CAPÍTULO 6. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.5 O PAPEL DO CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

De acordo com o artigo 3º do Decreto-Lei n.º 7/2003, de 15 de Janeiro, o Conselho Municipal de Educação é um órgão de coordenação e consulta que tem por objectivo promover, a nível municipal, a coordenação da política educativa, articulando a intervenção dos agentes educativos e dos parceiros sociais interessados, analisando e acompanhando o funcionamento da educação no concelho, propondo as acções consideradas adequadas a promoção de maiores padrões de eficiência e eficácia do mesmo. Recordam-se a este propósito uma declaração do vereador da educação, através da qual se pode verificar o estado de espírito que existe em torno das questões

da reorganização da rede escolar, salientando a pouca importância do CME:

“O CME reuniu exactamente quando nos chegou a informação da directora regional, do CAE, a dizer quais eram as escolas encerradas e é aí que nós discutimos e em função disso vamos arranjando soluções para este tipo de problema. É evidente que o CME para nós, é fundamental, e serve muito mais para informar e também, quer dizer, formar e informar, nós formamos opiniões sobre a comunidade educativa e ao mesmo tempo nós informarmos e aí já sabemos qual o impacto das medidas relativamente ao município inteiro dentro das diversas áreas. Portanto o CME, regra geral, embora com toda a franqueza não manda nada porque manda tanto como nós, mas na verdade é fundamental, ao menos sentimo-nos solidários uns com os outros.” (E7)

O professor do 1º ciclo pertencente a este órgão afirmou que:

“Em termos de intervenção o CME tem um papel importante, agora as competências de facto ficaram um bocadinho aquém, digamos que, acaba por ser praticamente só um órgão com funções consultivas mas de decisão, digamos que são muito limitadas, portanto, o CME é um órgão que deveria ter mais peso nessas decisões.” (E4)

Todos reconhecem que é um órgão com muito poucos poderes, chegando mesmo alguns agentes da comunidade educativa a desconhecerem a sua existência. “Sim, pois, mas eu francamente não sei responder a isso.” (E3).

O Conselho Municipal de Educação deveria ser um órgão onde participam todos os agentes educativos na definição de políticas educativas de um concelho, medidas estas articuladas com o que está estipulado na Carta Educativa, nomeadamente, no que se refere à reorganização da rede escolar. Como se pode verificar, no caso concreto do concelho estudado, o Conselho Municipal de Educação assume um papel neutro em toda esta reorganização. É também desta forma que os entrevistados definem as funções do CME. A educadora de infância entrevistada, membro deste órgão, define assim a sua função:

Educação Básica, Poder Local e Reorganização da Rede Escolar: um caso

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“É assim, o que eu penso é que devemos dar o nosso parecer mas as coisas são feitas muito a correr, por exemplo há uma reunião para decidir e depois temos de decidir e temos pouco tempo para ouvir os colegas, às vezes precisamos de mais tempo. Damos a nossa opinião e gostávamos que as coisas fossem feitas com mais qualidade, qualidade da educação, qualidade dos espaços, qualidade das pessoas que estão à frente destas componentes quer a refeição, quer o prolongamento de horário/AEC’s [actividades de enriquecimento curricular], nós pensamos sempre mais nessa componente pedagógica e de qualidade. Por vezes, como estamos a ver que as coisas estão a andar muito depressa antes de serem construídos os espaços adequados, por vezes a nossa opinião esbarra com esse problema, com essas barreiras que não permitem que façamos o que gostávamos de fazer. Agora as coisas não foram feitas como nós gostaríamos que fossem porque não há os pólos, volto a repetir, que gostaríamos que existissem, foi isso que prometeram para fazer esta reorganização. (E1)

A função do CME, neste caso concreto, passa mais por uma função de distribuição de informação:

“Portanto, eu tento sempre saber a opinião dos meus colegas face as propostas que são feitas pela DREN e tento transmiti-las nos órgãos com quem reúno que é a Câmara Municipal, o Centro de Área Educativa de Entre Douro e Vouga e tentamos chegar a um consenso, sabendo que todas as partes foram ouvidas e também tento corresponder às necessidades e anseios que a DREN nos apresenta perante a nova a nova rede, perante a nova situação do país cuja população está a alterar bastante.” (E1)

É através dos seus membros que parte da comunidade escolar tem acesso ao conhecimento da reorganização que se pretende implantar, na sua maior parte professores e educadores. Um membro do CME entrevistado atribuiu a este órgão um

papel de divulgação de informação, no que diz respeito à classe docente. “Essa

informação partiu e foi para o terreno para que os professores ou intervenientes no terreno não fossem os últimos a saber do processo.” (E4)

Não obstante o seu estatuto de órgão consultivo da administração municipal, alguns entrevistados referiram que as opiniões e conclusões a que se chega no seu seio esbarram com as condições físicas da rede escolar do concelho ou então com questões temporais de execução do planeado. A este respeito uma educadora pertencente a este órgão referiu:

“O CME tem participado fazendo as suas propostas mas muitas vezes tem que se cingir às condições dos edifícios e às condições que a câmara municipal tem, ou seja, a câmara municipal não tem meios financeiros para, por exemplo, alugar contentores onde as crianças pudessem estar, também não tem carrinhas para fazer a deslocação das crianças, ou seja, enquanto não vier o dinheiro para criar as estruturas adequadas as coisas ainda vão funcionar um bocadinho precariamente porque está-se a fazer com a prata da casa e agora estamos à espera daquilo que nos prometeram que nos pólos as coisas serão bem feitas, com bibliotecas, com espaços para eles comerem condignamente, casas de banho condignas para eles

poderem fazer a sua higiene após o almoço, antes do almoço, casas de banho condignas para eles poderem fazer a sua higiene após a educação física, porque neste momento não temos nada disso, ou seja, estamos a realizar as actividades, ok, a escola a tempo inteiro mas quem está dentro da escola vê que não há muitas condições.” (E1)

Legalmente o CME foi criado visando a coordenação da política educativa ao nível municipal de forma a obter uma maior eficiência e eficácia do sistema educativo, analisando, acompanhando e propondo acções conducentes à melhoria do referido sistema. Na prática, o papel do CME na reorganização da rede escolar do concelho foi desempenhado de uma forma muito ténue. Funcionou como um órgão de consulta e divulgação de informação, onde os seus membros formaram as suas opiniões mas que, devido a razões explicadas anteriormente, na maioria das vezes não foi possível colocá- las em prática.

Educação Básica, Poder Local e Reorganização da Rede Escolar: um caso

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6.6 A Carta educativa no processo de reorganização da