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Representações sociais face à reorganização da rede escolar

PARTE II ESTUDO EMPÍRICO

CAPÍTULO 6. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.7 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA COMUNIDADE EDUCATIVA

6.7.1 Representações sociais face à reorganização da rede escolar

A reorganização da rede escolar da educação pré-escolar e do 1º Ciclo do Ensino Básico, com encerramento e construção de “centros escolares” para aqueles níveis de educação, é uma medida de política educativa que tem, por parte dos seus responsáveis, a justificação da melhoria da qualidade do serviço educativo oferecido pelas escolas, ainda que também seja assumida a necessidade de racionalizar a utilização dos recursos educativos e da despesa pública. Esta reestruturação é cada vez mais assumida como uma condição indispensável ao processo de desenvolvimento e melhoria do desempenho a nível educativo. No quadro que se segue tentamos perceber quais as representações sociais dos encarregados de educação face à actual reorganização da rede escolar em curso no concelho. Para uma mais fácil análise e compreensão as respostas apresentadas nas tabelas que se seguem correspondem àquelas que obtiveram uma maior percentagem no número de respostas nos questionários realizados. Nelas constam também, separados por colunas, os dados dos dois agrupamentos que na altura existiam no concelho onde o estudo foi realizado. (No anexo 4º podem ser observados os gráficos em separado, pergunta a pergunta.)

Tabela 14: Representações sociais dos encarregados de educação face à reorganização da rede escolar

Questão Agrupamento Dairas Agrupamento Búzio

V F V F

As decisões tomadas no seio dos agrupamentos de escolas são

influenciadas pelos educadores/professores do 1º ciclo. 48,78%

51,22%

38,60% 61,40% A reorganização da rede escolar dá resposta aos problemas sentidos pelos

JI/EB1. 27,50%

72,50%

36,00% 64,00% Com a nova reorganização da rede educativa os JI e as EB1 perderam

identidade e autonomia. 60,26%

39,74%

75,00% 25,00%

A câmara municipal tem procurado assumir todas as competências legais

que lhe foram atribuídas. 48,75%

51,25%

46,67% 53,33% O Ministério da Educação orienta a sua acção tendo em conta os

interesses das comunidades locais. 18,52%

81,48% 9,62% 90,38%

Fonte: Inquérito aos pais/encarregados de educação

Pela análise da tabela anterior pode-se perceber que a maioria dos encarregados de educação inquiridos acha que a actual reorganização da rede educativa não se mostra capaz de responder aos problemas sentidos pelos JI/EB1. Acreditam também que a câmara municipal poderia fazer mais do que aquilo que tem feito em relação a esta reorganização da rede educativa e que o ministério da educação orienta a educação sem ter em conta as comunidades locais para as quais os decretos normativos serão aplicados. Pela análise da tabela pode-se ainda verificar que os encarregados de educação (38,6%) no caso do agrupamento do Búzio e 48,7% no caso do agrupamento das Dairas, acham que os professores não têm poder dentro do sistema em que estão inseridos, estes não influenciam as decisões que são tomadas no seio dos agrupamentos.

Passar-se-á agora à análise das representações sociais que os educadores e professores do 1º ciclo possuem em relação à reorganização da rede escolar em curso no concelho.

Tabela 15: Representações sociais dos Educadores de Infância/Professores do 1º ciclo face à reorganização da rede escolar

Questão Agrupamento Dairas Agrupamento Búzio

V F V F

As decisões tomadas no seio dos agrupamentos de escolas são influenciadas

pelos educadores/professores do 1º ciclo. 54,17%

45,83%

10,53% 89,47% A reorganização da rede escolar dá resposta aos problemas sentidos pelos

JI/EB1. 7,69%

92,31%

6,26% 94,74% Com a nova reorganização da rede educativa os JI e as EB1 perderam

identidade e autonomia. 76,92%

23,08%

75,00 25,00%

A câmara municipal tem procurado assumir todas as competências legais que

lhe foram atribuídas. 43,48%

56,52%

66,67% 33,33%

O Ministério da Educação orienta a sua acção tendo em conta os interesses

das comunidades locais. 8,70%

91,30%

5,56% 94,44

Fonte: Inquérito aos Educadores de Infância/Professores do 1º ciclo do Ensino Básico

A opinião mantém-se semelhante nos dois agrupamentos, com excepção da primeira e quarta questões. No agrupamento das Dairas os professores consideram que as decisões tomadas no seio do agrupamento são influenciadas pelas suas opiniões. No

Educação Básica, Poder Local e Reorganização da Rede Escolar: um caso

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caso do agrupamento do Búzio a grande maioria dos inquiridos não acredita que a sua opinião possa influenciar as decisões tomadas no agrupamento. Poderá ter a ver com o relacionamento que os docentes têm com o seu órgão de gestão (conselho executivo), podendo haver uma maior ou menor proximidade entre eles. Há um pormenor a referir, o número reduzido de educadores de infância que responderam a este inquérito, no agrupamento do Búzio. Também no caso do pessoal docente que respondeu aos inquéritos se considera que esta reorganização não veio resolver os problemas sentidos pelos JI/escolas em que trabalham. A outra questão refere-se ao poder local. Num dos agrupamentos (Dairas) acredita-se que a Câmara não procurou assumir todas as competências legais que lhe foram atribuídas, no caso do agrupamento do Búzio os professores acreditam que a câmara faz tudo o que pode. Também o pessoal docente acredita que esta reorganização não foi feita tendo em conta os interesses das comunidades locais.

Na tabela 16, que se segue, estão demonstradas as representações sociais dos pais/encarregados de educação face à reorganização da rede escolar no concelho. Para uma análise mais facilitada das representações sociais dos encarregados de educação sobre a reorganização da rede escolar, far-se-á uma análise por agrupamento. No agrupamento das Dairas, as respostas na categoria “Concordo Plenamente” às questões “Criar condições para o aumento da qualidade das aprendizagens”, “Aumentar as possibilidades de todas as crianças frequentarem uma escola de qualidade”, e “Aumentar a interacção com a Junta de Freguesia, Câmara Municipal e grupos locais” foram aquelas que obtiveram uma maior percentagem de resposta. O que mostra que a maioria dos encarregados de educação deste agrupamento acreditam que a nova reorganização vai melhorar as condições de aprendizagem e fazer com que as possibilidades de todos aqueles que frequentam a escola frequentem uma escola de qualidade, acreditam ainda que esta reorganização irá facilitar a interacção entre toda a comunidade educativa. A opção “Concordo” foi seleccionada maioritariamente para as seguintes respostas: “Racionalização/rentabilização dos recursos humanos”, “Rentabilizar os materiais/físicos”, “Melhorar o conhecimento de cada ciclo e o seu processo de funcionamento”, Interesses económicos”, “Melhorar a articulação entre ciclos”, “Acabar com o isolamento das escolas”, “Diminuir problemas de adaptação na transição dos alunos”, “Aumentar a participação dos pais e da comunidade na vida da escola”, “Criar condições para que se concretize uma maior autonomia”, “Facilitar as tarefas administrativas”, “Aumentar o convívio entre alunos”. Nestas respostas dadas podemos concluir que os encarregados de educação acham que esta reorganização da rede serviu para racionalizar e

rentabilizar os recursos humanos e materiais, logo se baseou em interesses económicos. Em termos pedagógicos esta reorganização, na sua opinião, permitirá uma maior articulação entre ciclos e um conhecimento mais aprofundado entre os dois ciclos, permite diminuir os problemas de adaptação na transição entre eles.

A categoria “Combater a exclusão social” ficou com a mesma percentagem de respostas entre a categoria “concordo” e “concordo plenamente”. Neste agrupamento a opção “discordo” nunca foi alvo da maioria das resposta por parte dos encarregados de educação. Por sua vez no agrupamento do Búzio a opção “discordo” foi seleccionada maioritariamente apenas na opção “Acabar com o isolamento das escolas”. A opção “Concordo Plenamente” nunca foi seleccionada como resposta maioritária, sendo as restantes todas com a maioria de respostas no “Concordo”; o que denota uma falta de tomada de posição clara por parte dos encarregados de educação deste agrupamento que responderam aos inquéritos. De um modo geral podemos dizer que os encarregados de educação optaram por uma posição homogénea, isto é, a maioria das respostas que deram encontra-se na coluna do “concordo” não assumindo posições firmes, claras. Isto pode-se verificar por dois motivos: o principal, porque não conhecem em profundidade esta nova reorganização; o segundo, porque podem não ter tido coragem suficiente para assumir essa posição.

Educação Básica, Poder Local e Reorganização da Rede Escolar: um caso

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Tabela 16: Reorganização da rede escolar

QUESTÃO

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DAS DAIRAS AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DO BÚZIO

DISCORDO CONCORDO CONCORDO PLENAMENTE

DISCORDO CONCORDO CONCORDO PLENAMENTE

Racionalização/rentabilização dos recursos humanos

27,17% 56,52% 16,30& 34,48% 53,45% 12,07%

Rentabilizar os recursos materiais/físicos

21,51% 59,14% 19,35% 36,21% 50,00% 13,79%

Melhorar o conhecimento de cada ciclo e seu funcionamento

19,79% 46,88% 33,33% 27,42% 46,77% 25,81%

Interesses económicos 29,79% 41,49% 28,72% 16,67% 48,33% 35,00%

Melhorar a articulação entre ciclos

16,67% 58,89% 24,44% 32,79% 50,82% 16,39%

Acabar com o isolamento das escolas 34,41% 43,01% 22,58% 43,10% 41,38% 15,52% Promover o trabalho cooperativo e a partilha de experiência entre docentes do mesmo ou diferentes ciclos 15,79% 62,11% 22,11% 27,59% 62,67% 10,34%

Criar condições para o aumento da qualidade das aprendizagens 18,95% 35,79% 45,26% 32,26% 40,32% 27,42% Diminuir problemas de adaptação na transição dos alunos 22,11% 43,16% 34,74% 33,33% 40,00% 26,67%

Aumentar a participação dos pais e da comunidade na vida da escola 23,66% 51,61% 24,73% 34,43% 47,54% 18,03% Aumentar as possibilidades de todas as crianças frequentarem uma escola de qualidade 16,67% 30,21% 53,12% 22,95% 42,62% 34,43%

Combater a exclusão social 29,45% 39,77% 39,77% 32,76% 41,38% 25,86% Criar condições para que se

concretize uma maior autonomia

14,77% 55,68% 29,55% 27,87% 50,82% 21,31%

Facilitar as tarefas

administrativas 17,05% 61,36% 21,59% 22,03% 52,54% 25,42%

Aumentar a interacção com a Junta de Freguesia, Câmara Municipal e grupos locais

16,13% 40,86% 43,01% 21,05% 56,14% 22,81%

Aumentar o convívio entre alunos

7,69% 50,55% 41,76% 21,67% 60,00% 18,33% Fonte: Inquérito aos pais/encarregados de educação

A tabela 17 diz respeito ao grupo de respostas dos inquéritos realizados aos educadores e professores do 1º ciclo referentes à reorganização da rede escolar. Da sua análise sobressaem algumas reflexões, entre elas a posição semelhante dos docentes dos dois agrupamentos. As questões mais respondidas são coincidentes nos dois agrupamentos, apenas varia a percentagem dessas respostas.

Na categoria “concordo” as respostas com mais pontuação são:

“Racionalização/rentabilização dos recursos humanos”, “Rentabilizar os materiais/físicos”, “Melhorar a articulação entre ciclos”, “Acabar com o isolamento das escolas”, “Promover o trabalho cooperativo e a partilha de experiência entre docentes do mesmo ou diferentes ciclos”, “Criar condições para o aumento da qualidade das aprendizagens”, “Criar condições para que se concretize uma maior autonomia”, “Facilitar as tarefas administrativas”, “Aumentar o convívio entre alunos”.

Na categoria “discordo” apenas temos “Melhorar o conhecimento de cada ciclo e seu funcionamento”, “Diminuir problemas de adaptação na transição dos alunos”, como resposta com maior percentagem, interligados e aos quais os pais e encarregados de educação responderam “concordo”. Na categoria “Concordo plenamente” apenas encontramos “Interesses económicos”, resposta dada nos dois agrupamentos. Através destes dados podemos depreender que o pessoal docente do concelho, à semelhança dos encarregados de educação, também não assumiu uma posição clara em relação a esta reorganização.

Educação Básica, Poder Local e Reorganização da Rede Escolar: um caso

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Tabela 17: Reorganização da rede escolar

QUESTÃO

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DAS DAIRAS AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DO BÚZIO

DISCORDO CONCORDO CONCORDO PLENAMENTE

DISCORDO CONCORDO CONCORDO PLENAMENTE

Racionalização/rentabilização dos recursos humanos

25,00% 60,71% 14,29% 42,86% 52,38% 4,76%

Rentabilizar os recursos materiais/físicos

28,57% 60,71% 10,71% 38,10% 52,38% 9,52%

Melhorar o conhecimento de cada ciclo e seu funcionamento

51,85% 40,74% 7,41% 47,62% 42,86% 9,52%

Interesses económicos 19,23% 38,46% 42,31% 23,81% 33,33% 42,86%

Melhorar a articulação entre ciclos

34,62% 53,85% 11,54% 33,33% 57,14% 9,52%

Acabar com o isolamento das escolas 15,38% 73,08% 11,54% 33,33% 47,62% 19,05% Promover o trabalho cooperativo e a partilha de experiência entre docentes do mesmo ou diferentes ciclos 25,93% 62,96% 11,11% 4,76% 80,95% 14,29%

Criar condições para o aumento da qualidade das aprendizagens 40,00% 48,00% 12,00% 33,33% 57,14% 9,52% Diminuir problemas de adaptação na transição dos alunos 40,00% 48,00% 12,00% 47,62% 42,86% 9,52%

Aumentar a participação dos pais e da comunidade na vida da escola 40,00% 52,00% 8,00% 38,10% 57,14% 4,76% Aumentar as possibilidades de todas as crianças frequentarem uma escola de qualidade 38,46% 46,15% 15,38% 35,00% 60,00% 5,00%

Combater a exclusão social 44,00% 40,00% 16,00% 57,14% 38,10% 4,76%

Criar condições para que se concretize uma maior autonomia

50,00% 38,46% 11,54% 38,10% 52,38% 9,52%

Facilitar as tarefas

administrativas 32,00% 48,00% 20,00% 23,81% 61,90% 14,29%

Aumentar a interacção com a Junta de Freguesia, Câmara Municipal e grupos locais

34,62% 50,00% 15,38% 47,62% 42,86% 9,52%

Aumentar o convívio entre alunos

15,38% 69,23% 15,38% 33,33% 47,62% 19,05% Fonte: Inquérito aos Educadores de Infância/Professores do 1º ciclo do Ensino Básico

Numa análise final sobre a reorganização da rede escolar fica a citação de um entrevistado acerca dos problemas da educação no concelho após este processo de reorganização da rede:

“Penso que ainda continua a ser, portanto, escolas […] com bastantes alunos, algumas escolas ainda que tenham fechado ainda se encontram afastadas do centro da cidade e penso que falta também algum equipamento tecnológico e também algum material didáctico que já não se compra há muito tempo para algumas escolas, portanto, é difícil de conseguir acompanhar os ritmos actuais.” (E4)

Não obstante os problemas em cima identificados, o vereador da educação assumiu uma posição crítica acerca da evolução da educação pré-escolar, admitindo que se verificou um retrocesso, nos últimos anos, nesta área, o que se reflecte na qualidade do mesmo:

“Em termos do pré-escolar estamos pior do que estávamos no ano de 1985, porque em 85 havia pré-escolar em todo o concelho instalado em garagens, casas particulares, mas estava a funcionar com uma educadora e uma auxiliar. O núcleo escolar da Lomba que toda a gente conhece em 1985 tinha pré-escolar, 1º ciclo e telescola, havia dois professores para a telescola que havia na altura, uma educadora e uma auxiliar e dois professores para o 1º ciclo, Hoje não tem lá ninguém veja a transformação que isto teve, agora, todas as crianças dos jardins-de- infância onde foram fechadas ficaram entregues a si próprias, agente diz vem para o jardim tal, mas quem é que traz uma criança da Lomba com três anos para Arões, ainda por cima no seu carro e para evitar que o pré-escolar entre em ruptura, estamos a transportar todas as crianças que cabem na nossa rede de transportes criada para o 1º ciclo e para o preparatório, não há carro nenhum que venha vazio todos os carros têm ordem para, como não é legal e nós fazemos o transporte, nós estamos a utilizar a rede instalada para transportar quase toda a gente, portanto, isto no fundo o que é que falta aqui, falta aqui criar legislação mas ninguém avança com este tipo de situações porque o parente pobre de tudo isto é o pré-escolar. Porque se nós temos a obrigação temos de ter dinheiro.” (E6)

A perspectiva assumida pelo entrevistado é a de que:

“O pré-escolar tem tendência a acabar se não forem assegurados os transportes para as crianças. Na freguesia de Arões funciona apenas um jardim-de-infância na sede de freguesia, as crianças desta freguesia apenas 28 têm a oportunidade de frequentar o pré-escolar.” (E6)

6.7.2 Representações sociais dos entrevistados sobre o poder