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GÊNERO, ARTE E EDUCAÇÃO: ANÁLISE DAS PRÁTICAS, RECURSOS E MATERIAIS DIDÁTICOS NA DOCÊNCIA EM ARTES VISUAIS

PEREIRA1, Herbert Charles da Silva; ABREU2, Carla de

Palavras-chave: Ensino de Arte, Gênero e Sexualidade, Praticas Docentes

Introdução

Este projeto pretende analisar os discursos de poder presentes nas visualidades, bem como problematizar as práticas docentes no Ensino de Arte, com a intenção de pensar em estratégicas mais inclusivas que criam possibilidades de romper com os estereótipos de gênero baseados na diferenciação e em relações desiguais de gênero. A partir de uma abordagem transdisciplinar e desde as contribuições dos estudos em Cultura Visual e estudos Feministas da História da Arte, pretende-se incentivar posicionamentos mais críticos em salas de aula e o uso de conteúdos visuais mais heterogêneos que questionem a hierarquização das representações visuais.

É importante destacar que as investigações Feministas e os estudos da Cultura Visual propõem uma orientação transdisciplinar e a elaboração de problemas de investigação baseados na multiplicidade das experiências, especialmente as dos grupos socais que historicamente foram pouco representados (ou mal representados) pelos sistemas culturais das sociedades. Em realidade, essas perspectivas teóricas estão, pouco a pouco, transformando os processos de ensino de Artes Visuais, configurando um contexto onde as experiências e as subjetividades individuais são mais valorizadas, dando ênfase aos jogos de poder e aos discursos sociais que buscam “normalizar” identidades e corpos segundo determinados padrões de comportamentos e regras (FOUCAULT, 2006).

Estabelecer relações entre arte, ensino de arte e gênero permite construir significados alternativos às definições hegemônicas que fabricam as imagens e os imaginários sociais (RICHARD, 2008, p. 7). Significa também sair dos lugares cômodos para adentrar em mundos silenciados, esquecidos, invisíveis ou simplesmente não valorizados nas salas de aula. Neste sentido, este projeto se

1 Faculdade de Artes Visuais/UFG - e-mail: herbertc2010@gmail.com

2 Faculdade de Artes Visuais/UFG - e-mail: carlaluzia@gmail.com

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2016) 3240 - 3244

justifica dada a baixa incidência de pesquisas neste campo e nos processos de formação docente da área de Artes Visuais, já que os silêncios também fazem parte dos conteúdos curriculares e, as omissões, também podem ser formas de “educar”.

Considerando que a cultura visual e o gênero são construções sociais localizadas e temporais (hooks, 2000, p. 47) este projeto procurará trabalhar as imagens desde interpretações horizontais e abertos ao diverso, interpretações que questionam os discursos oficiais da arte ocidental que determinam o que deve ser valorizado e respeitado, para tornar visíveis as legitimações e as exclusões, dando ênfases às imagens alternativas ou marginalizadas pelos mesmos discursos.

Nesta direção, Hernández (2013, p. 92) propõe que a finalidade da educação em artes visuais a partir da cultura visual é questionar nossa relação com as representações visuais, para pensar o que transmitem as imagens e como elas conformam ideais, comportamentos e valores que condicionam as respostas dos e das espectadoras. Este posicionamento pedagógico é importante para incentivar discussões sobre as “verdades” que querem transmitir as imagens, pois, “sem uma visão crítica e sem um sentido de responsabilidade, as pessoas poder ser manipuladas” (MARTINS, 2006, p. 73).

No contexto brasileiro existem algumas publicações importantes que abordam as temáticas de gênero, sexualidade e educação, tais como: Dias (2008, 2011);

Loponte (2002, 2005) e Louro (2007). Destaco também as publicações da revista Visualidades, do programa de pós-graduação em Arte e Cultura Visual da Universidade Federal de Goiás, nas quais há vários artigos que problematizam a constituição das identidades e a relação entre as visualidades e os discursos de poder.

Estes autores e autoras irão auxiliar a pensar a arte e suas visualidades. Não somente para analisar os conteúdos dos programas curriculares, mas ao próprio modo de pensar a docência, porque cruzam as fronteiras das disciplinas, transitando dentro e fora de seus limites, produzindo efeitos teóricos e políticos que se relacionam com as experiências vividas e internalizadas, para pôr em contraste os estereótipos e os silêncios produzidos pelos discursos que legitimam as temáticas na área de Ensino em Artes Visuais.

Refletir sobre as imagens desde os marcadores sociais de gênero e sexualidade é importante porque permite experimentar estratégias de contra discursos que

facilitam a compreensão da estreita relação entre visualidades e o território cultural onde as discriminações e os estereótipos foram ou são negociados.

Assim, este projeto se justifica na medida em que amplia um campo de conhecimento ainda pouco explorado e contribui a pensar nos discursos que influenciam as subjetividades e conformam os repertórios visuais nos processos de ensino e aprendizagem em artes visuais, já que os silêncios também fazem parte dos conteúdos curriculares e, as omissões, também podem ser formas de educar. A relevância está em favorecer posicionamentos mais críticos sobre as construções socioculturais no contexto da educação em artes visuais e questionar as forças que categorizam as visualidades e as colocam em posições diferenciadas nas estruturas de poder e saber.

Objetivos

Identificar as circunstâncias em que são reproduzidos os estereótipos de gênero no Ensino de Arte, por meio das opiniões, percepções, posicionamentos e práticas do professorado da rede pública de ensino do estado de Goiás. A partir desses objetivos, nascem os objetivos específicos: - Realizar entrevistas com professoras e professores do Ensino de Arte, etapas Fundamental e Médio; - Incentivar a reflexão e a desconstrução dos discursos de poder incorporados nas visualidades relativos às questões de gêneros e sexualidades; - Lançar novas problematizações que possam pluralizar o escopo imagético e discursivo na docência em ates visuais.

Metodologia

Este projeto pensará a construção de conhecimento desde as práticas pedagógicas, para analisar as implicações metodológicas frente os discursos de poder incorporados nas imagens referente às questões de gênero e sexualidade. O projeto considera que o conhecimento se constrói coletivamente, a partir de processos reflexivos que articulam a teoria com a prática, a partir do compromisso com justiça social. As implicações metodologias desde essa perspectiva exigem uma atitude crítica e investigativa sobre os efeitos das políticas de representação identitária na cultura visual, no “fazer pedagógico” e, consequentemente, no Ensino de Arte.

Pensar a construção de conhecimento desde a prática docente implica trazer ao cenário as vozes do professorado de artes visuais, protagonistas desta investigação. Será a partir de suas experiências e inquietações que as relações

entre gênero e visualidades serão problematizadas. Portanto, aprender com o

“outro” será o foco metodológico e a forma pela qual o conhecimento será construído e a ferramenta pela qual se revisará os discursos naturalizados que reproduzem os estereótipos de gênero na docência em artes visuais.

A argumentação para as estratégias metodológicas percorrerá os caminhos pelos quais o gênero influencia na produção de conhecimento nos processos de ensino e aprendizagem em arte. Nessa direção, será fundamental conhecer melhor essa realidade e, para tanto espera-se contar com a colaboração de professoras e professores de Arte do Ensino Fundamental e Médio da rede pública Estadual de Goiás e, estudantes de Licenciatura em Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás. Para viabilizar uma aproximação com o professorado buscar-se-á parceria com o Centro de Estudo e Pesquisa “Ciranda da Arte”, órgão da Secretaria de Educação do Estado de Goiás.

A coleta de dados consistirá em:

a) Questionários b) Entrevistas

c) Análise dos materiais didáticos usados nas práticas docentes Resultados Esperados

Espera-se que possamos identificar as práticas e conteúdos que promovem as desigualdades sociais no contexto da educação formal em artes visuais e estimular a circulação de ideias que rompam com os discursos de poder incorporados nas visualidades que reproduzem as desigualdades sociais.

Conclusões Esperadas

Este trabalho iniciou-se em Setembro de 2016, com a elaboração do curso para o professorado da rede pública de ensino do Estado de Goiás, portanto, as discussões ainda estão em andamento.

Referências

DIAS, B. Pré-acoitamentos: os locais da arte/educação e da cultura visual. In:

MARTINS, R. Visualidade e Educação. Goiânia: FUNAPE, 2008.

DIAS, B. O I/MUNDO da Educação em Cultura Visual. Brasília: Editora da pós-graduação da Universidade de Brasília, 2011.

FOUCAULT, M. Historia de la sexualidad. La voluntad de saber. Madrid:

Siglo XXI, 2006.

HERNÁNDEZ, F. Pesquisar com imagens, pesquisar sobre imagens: revelar aquilo que permanece invisível nas pedagogias da cultura visual. In:

MARTINS, R.; TOURINHO, I. Processos & Práticas de Pesquisa em Cultura Visual & Educação. Santa Maria: UFSM, 2013a. p. 77-95.

hooks, B. Feminism is for everybody: Passionate politics. Cambridge:

Southend Press, 2000.

LOPONTE, L. G. Docência artista: arte, estética de si e subjetividades femininas. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. 2005.

LOPONTE, L. G. Sexualidades, artes visuais e poder: pedagogias visuais do feminino. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 10, n. 2, p. 283- 300, 2002.

LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: das afinidades políticas às tensões teórico-metodológicas. Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 46, Dez 2007.

MARTINS, R. Porque e como falamos da cultura visual? Visualidades.

Revista do Programa de pós-graduação de la Faculdade de Artes Visuais, Goiânia, GO, Brasil, 4, n. 1, 2006. 65-80.

RICHARD, N. Feminismo, Género y Diferencia(s). Santiago: Palinodia, 2008.

O PERFIL DOS PROFESSORES DE CIÊNCIAS DA NATUREZA DAS ESCOLAS

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