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A POESIA VAI À ESCOLA: FORMAÇÃO DE LEITORES E A MEDIAÇÃO DO TEXTO LITERÁRIO

COMPUTADOR PO ALUNO (PROUCA)

A POESIA VAI À ESCOLA: FORMAÇÃO DE LEITORES E A MEDIAÇÃO DO TEXTO LITERÁRIO

MENDES, Marcos Vinícius Gonçalves Corceli (bolsista)1 SILVA, Célia Sebastiana (Orientadora)2

Justificativa/base teórica

Este trabalho tem a sua principal relevância pelo fato de estudar o papel da escola em formar leitores do texto literário, com ênfase na mediação da leitura de poesia.

Vem ao caso, portanto, a compreensão de que a Literatura é uma necessidade do ser humano. Cândido (2011), no texto “Direto à literatura”, faz uma reflexão sobre os Direitos Humanos e a Literatura, considerando que um dos direitos humanos fundamentais deve ser o acesso à literatura. Para essa reflexão, ele retoma as ideias do Padre dominicano Louis-Joseph Lebret, que propõe uma distinção entre

“bens incompressíveis” e “bens compressíveis”. O primeiro refere-se aos “que não podem ser negados a ninguém” (2011, p. 175), o segundo é o inverso do primeiro.

Nesse sentido, os bens incompressíveis formam um conjunto de necessidades básicas do ser humano e é nessa categoria que a literatura está colocada.

Entendendo-se a escola como agência propulsora da Literatura, é função dela proporcionar esse direito aos seus alunos. Consequentemente, a escola como responsável em contribuir para que o aluno leia tem um papel salutar, pois é quase exclusivamente nela que a leitura se exerce de forma efetiva. Não obstante, a leitura proporciona a reflexão e essa reflexão atinge níveis que outro ato não poderia alcançar. É por ela que o sujeito se vê, vê o outro, e consegue ver o mundo, em seus aspectos sociais e políticos. Sobre isso, Benedito Nunes afirma que “A prática da leitura seria um adestramento reflexivo, um exercício de conhecimento do mundo, de nós mesmos e dos outros”. (NUNES, 1998, p. 175).

Dentre as possibilidades de leitura está a poesia. E é papel central da escola colocar o aluno na dimensão do mundo poético. Desse modo, acredita-se que cabe ao professor apresentar aos alunos o texto poético, não com propósito de que este se torne um poeta, mas para que consiga ler um poema e extrair dele os sentidos construídos pela linguagem poética. Ligia Marrone Averbuck afirma que é papel da

1 FL/UFG – e-mail: marcoscorceli@hotmail.com.

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2016) 3312 - 3316

escola “desenvolver no aluno (leitor) sua habilidade para sentir a poesia, apreciar o texto literário, sensibilizar-se para a comunicação através do poético e usufruir da poesia como uma forma de comunicação com o mundo” (AVERBUCK, 1982, P. 65).

Esse processo implica mediação. Ela não é uma mera atividade realizada por um professor, mas é uma medida que atinge níveis governamentais e uma discussão que vai muito além da escola. Nesse sentido de entendê-la como uma ação institucional, José Castilho Marques Neto faz uma reflexão sobre a PNLL (Plano Nacional do Livro e Leitura), plano instituído em 2006 com o objetivo de criar uma política voltada para a leitura, a formação de mediadores e a estruturação de bibliotecas.

Entre os quatro eixos deste plano, o segundo é “Fomento à leitura e à formação de mediadores” no qual está declarado que se realizem programas de capacitação de mediadores, que possibilitem o estímulo à leitura. Nesse sentido, entende-se que o objetivo deste plano é promover a leitura por meio de mediadores capacitados para tal ofício.

Sobre isso, Neto (2009) salienta que a prioridade das prioridades para se fazer um país de pessoas leitoras é basicamente formar mediadores capacitados. Tendo essa prioridade, o que se pretende com a mediação é ter pessoas que serão “facilitadores das circunstâncias que aproximarão o leitor do texto, da leitura” (NETO, 2009, p. 66).

Objetivos:

O objetivo desse trabalho é dimensionar o papel do professor de Língua Portuguesa como leitor e mediador da leitura do texto poético, verificando de que maneira a formação leitora, tanto do aluno e do professor, interfere na leitura de poesia na sala de aula. Também compreender a poesia como base fundamental da constituição da humanidade do sujeito e o papel importante da escola nesse processo.

Metodologia

Esse projeto foi em duas partes principais. A primeira consistiu na leitura de textos teóricos sobre literatura, poesia, mediação, poesia na escola e de textos literários, especialmente, de leitura de poesia. Já na segunda parte foi realizada a coleta de dados.

Para a coleta de dados, procurou-se observar duas turmas de nono ano no CEPAE

(Centro de Ensino e Pesquisa Aplicados à Educação). As observações consistiram em identificar a presença da poesia na sala de aula e como ocorre a mediação e leitura do texto poético. Posteriormente, foram realizadas leitura e análise com as turmas, do poema “Viagem na Família”, de Carlos Drummond de Andrade pelo bolsista, com o objetivo de fazer um recorte entre as demais leituras para verificar como, de fato, ocorre o processo de mediação na leitura de uma poesia.

Também foi realizada uma oficina de leitura de poesia no CEARVF (Colégio Estadual Ary Ribeiro Valadão Filho), localizado na cidade de Inhumas-GO. Ela foi realizada nos dias 13 e 14 de junho de 2016, e consistiu na leitura do mesmo poema mencionado anteriormente, buscando realizar uma mediação eficaz e o desdobramento disso na construção dos sentidos do poema pelos alunos. Ao final da oficina foi realizada uma atividade em que os alunos deveriam escrever um pequeno relato sobre a experiência da leitura do poema. A oficina estava composta por 20 alunos, somente 6 entregaram a atividade solicitada.

Resultados/discussão

Os resultados e discussões foram divididos em três partes: aulas de Língua Portuguesa observadas no CEPAE; a experiência da leitura do poema “Viagem na Família” no CEPAE e CEARVF; relatos de experiência de leitura coletados no CEARVF.

Na observação das aulas de Língua Portuguesa ministradas no CEPAE, foi realizado um recorte de uma turma e, especificamente, seis aulas em três encontros. Nessas aulas foi trabalhada a obra Sentimento do Mundo de Carlos Drummond de Andrade.

A observação teve como foco a identificação de como a mediação de leitura de poesia aconteceu, levando em consideração a ação da professora e o desdobramento nos alunos. As aulas consistiram basicamente na leitura de poesia.

Isso mostra o quanto a leitura desse gênero literário é importante para seu entendimento. A partir da leitura, aspectos textuais foram levantados, bem como o contexto de produção do livro, que retoma a Segunda Guerra Mundial e a ditadura militar.

A mediação nessas aulas consistiu na construção dos sentidos do poema, pois é a partir da forma, que é abstraída pela leitura, que se chega ao conteúdo do texto.

comentarem, na qual também há o diálogo sobre os poemas e a exposição dos pontos de vistas, as barreiras da complexidade diminuem e a aproximação entre texto e leitor fica mais tênue, o que resulta no entendimento do poema.

Levando em consideração a prática da leitura do poema nas duas escolas, mesmo que no CEPAE tenha sido uma turma de 9º ano e no CEARVF uma turma de 1º ano, não ocorreu diferença significativa (a não ser entre os alunos mesmos, pois a percepção dos sentidos do texto é individual), uma vez que a recepção do poema foi muito satisfatória em ambos os casos. Por mais que os alunos do CEPAE possuam maior experiência e familiaridade com a poesia, os alunos do CEARVF, ao lerem

“Viagem na Família”, conseguiram identificar os sentidos do texto. Isso aconteceu, provavelmente, porque o poema é um todo em si mesmo e, como tal, promove universalmente a possibilidade de humanizar. E é humanizador porque por ele os alunos conseguem fruí-lo esteticamente, captar os sentidos e afinar a percepção e a visão do mundo. Nesse sentido, considera-se o que Cândido (2011) afirma,

Entendo aqui por humanização... o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, a afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso de beleza, percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade e o semelhante (2011, p. 182).

Sobre os relatos de experiência de leitura do poema coletados no CEARVF, três ficaram no nível da interpretação e três apontaram elementos que se referem à experiência da leitura. O que se percebe são as diferenças entre os alunos dessa instituição, uma vez que alguns conseguem abstrair os sentidos poéticos do texto.

Outros não conseguem abstrair e, por ser um poema narrativo, apenas identificam e interpretam o poema como se apenas contasse uma história. Infere-se que isso aconteça pela falta da prática de leitura, seja da ficcional ou poética, que alguns alunos têm em relação a outros.

Conclusões

Com essa pesquisa conclui-se que a mediação permite alcançar o entendimento da leitura, e também destrona os preconceitos de que uma escola é melhor que outra.

O que faz diferença é a ação mediadora implicada no processo.

Sobre a poesia é necessário começar a trabalhar, ao menos fazer tentativas, procurar pontes que viabilizem a mediação. Então, a poesia deve ir à escola, deve estar lá, deve ser apreciada, compreendida, sentida, refletida e, principalmente, lida e mediada.

O texto poético está à disposição do formador. Cabe a ele procurar meios que aproximem o leitor do texto e isso ocorre pela mediação, o que resultará na identificação dos múltiplos sentidos. Tal acontece porque poesia é linguagem e a linguagem é viva e está aí para ser fruída.

Referências

CÂNDIDO, Antônio. O direito à Literatura. In:_ . Vários Escritos. 5. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2011. p. 171-193.

FREIRE, Paulo. A importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 23.

ed. São Paulo: Autores associados: Cortez, 1989.

NETO, José Castilho Marques. Políticas públicas de leitura e a formação de mediadores. In. SANTOS, Fábio. NETO, José Castilho Marques. ROSING, Tania M.

K. (Orgs.). Mediação de leitura: discussões e alternativas para a formação de leitores. 1. ed. São Paulo: Global, 2009. p.61-69.

NUNES, Benedito. Ética e Leitura. In. _. Crivo de papel. 2. Ed. São Paulo:

Ática, 1998, p. 175-186.

TODOROV. Tzvetan. Literatura em Perigo. Tradução Caio Meire. 2. ed. Rio de Janeiro: Difel, 2009. 96p.

AVERBUCK, Ligia Marrone. A poesia e a Escola. In. ZILBERMAM, Regina (Org.) Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. 2. ed. Porto Alegre:

Mercado Aberto, 1982. p. 63-83.

MELLO, Ana Maria Lisboa de. A importância da poesia na formação do leitor. In:

MELLO, Ana Maria Lisboa de; TURCHI, Maria Zaira; SILVA, Vera Maria Tietzmann.

Literatura infanto-juvenil: prosa & poesia. Goiânia: Editora da UFG, 1995. p.169-176.

Fonte de Financiamento:

O LÚDICO E AS ATIVIDADES DE CAMPO: UNINDO ESFORÇOS PARA UM

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