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VISUALIDADES, GÊNEROS E EDUCAÇÃO: NOVAS QUESTÕES PARA PENSAR O ENSINO DE ARTE

COMPUTADOR PO ALUNO (PROUCA)

VISUALIDADES, GÊNEROS E EDUCAÇÃO: NOVAS QUESTÕES PARA PENSAR O ENSINO DE ARTE

GARCIA, Ruth Marçal Honorato(bolsista); DE ABREU, Carla Luzia(orientadora) Palavras-chave: Visualidades, Gênero, Educação, Arte

1. Justificativa / Base teórica

Os discursos incorporados às imagens têm a ver, basicamente, com os ideais que querem nos convencer que as coisas são assim, sempre foram assim e assim devem permanecer. Contribuem para a produção visual de imaginários que supõem uma ordem natural, transformando as pessoas em objetos dos estereótipos e dos discursos que querem domesticar e produzir sujeitos obedientes a pressupostos fictícios sobre as políticas do corpo e da identidade. Isso quer dizer que as imagens adquirem um sentido que vai além de sua materialidade e produzem efeitos nas formas como vivemos nossas subjetividades. Este contexto incentiva pensar no papel das representações visuais nas sociedades contemporâneas. Como os repertórios visuais levados às salas de aula expressam a relação com “outro”?

Como incluir temas transversais ou imagens consideradas polêmicas nas práticas pedagógicas? Qual o espaço ocupado pelas narrativas e experiências que dão ênfases à conformação da identidade de gênero nas práticas docentes? Esses são alguns dos questionamentos de professores e professoras de arte que pensam suas práticas pedagógicas a partir das relações de poder e da mediação das vivências dos discentes com as visualidades. Como em outras disciplinas que trabalham no domínio da cultura, a "virada pictórica" (MITCHELL, 1994) causou uma mudança significativa nos discursos teóricos da arte/educação. E, embora o Ensino de Arte continue sendo o estudo das manifestações humanas, passamos a considerar que também é um lugar para questionar, entrar, analisar e transformar a cultura. Essa mudança significou, por um lado, repensar o Ensino de Arte e, por outro, ofereceu novos elementos para pensarmos nossas práticas docentes. A perspectiva da Cultura Visual considera que as imagens exercem uma influência significativa na compreensão das normas socioculturais e convida o professorado de artes visuais a investigar a procedência das imagens, assim como as funções sociais que estão

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2016) 377 - 3381

táticas de poder, empregadas por facções sociais rivais em sua luta pela legitimação de valores e crenças” (DUNCUM, 2011, p. 21). Kerry Freedman (1994) defende a ideia que embora os estudantes recebam uma enorme quantidade de imagens diariamente, não estão preparados para refletir em como a cultura visual influencia a construção de suas identidades. Com a intensa difusão das imagens midiáticas, os sujeitos passaram a receber uma infinidade de informações visuais que repercutem diretamente nas práticas cotidianas. Freedman sugere que a arte/educação deve pensar em propostas criativas que ajudem os discentes a compreender as questões emergentes das sociedades e os problemas de ordem social e cultural que influenciam na construção de suas identidades. Identificar os discursos de inclusão e de exclusão é importante porque ajuda a decodificar as hierarquias e as diferenças que se refletem nas imagens, para “compreender problemas novos ou até agora silenciados na escola” (HERNÁNDEZ, 2007, p. 36). Esse posicionamento exige atuar desde uma abordagem mais ampla, que questione o que está supervalorizado, o que foi subjugado, o que foi legitimado e o que foi esquecido ou ocultado dos imaginários visuais. Nesta direção, incorporar nos processos de ensino e aprendizagem em arte visuais imagens que questionam a lógica normativa e convergente de nossas construções sociais, ajuda a promover discussões que se relacionam com a diversidade e as inquietações, especialmente as que se articulam com a padronização dos corpos, dos afetos e dos desejos. Refletir as visualidades desde os marcadores sociais de gênero e sexualidade ajuda a construir a ideia da diversidade como um bem cultural, “que não somente resiste acriticamente às representações visuais, mas incentiva a visão crítica como uma prática que desenvolve a imaginação, a consciência social e um sentido de justiça.” (DIAS, 2011, p. 83). Gênero, sexualidade e corpos sexuados são elementos presentes na escola, não há como evita-los ou fingir que os e as estudantes não os têm como características centrais em suas vidas. No entanto, em muitas ocasiões, além de evitar os temas considerados polêmicos no âmbito da sexualidade, as escolas também funcionam como “dispositivos pedagógicos”, termo desenvolvido por Jorge Larrosa (1995, p. 282) para explicar como as práticas constroem e mediam a relação do sujeito consigo mesmo. Este dispositivo tem como objetivo normalizar as práticas pedagógicas e reforçar os discursos que legitimam e configuram a matriz heterossexual (BUTLER, 2007). A ausência de referências mais plurais e abertas ao diverso no escopo imagético dos conteúdos curriculares influencia a forma como o

alunado constrói significados a partir das imagens, portanto, torna-se essencial inserir mais artistas mulheres nos conteúdos levados à sala de aula e trabalhar com imagens de artistas que usam o gênero e a sexualidade como motor de seus projetos, buscando novas narrativas que fomentem a ideia da diversidade como uma característica cultural da humanidade. Atuar desde essa perspectiva significa pensar em visualidades não hierárquicas e professores e professoras preocupadas em romper com a noção cultural das inscrições de gênero na cultura visual, com a intenção de dar visibilidade às imagens que (ainda) não afetam as práticas docentes ou os conteúdos escolhidos para compor os processos de ensino e aprendizagem em artes visuais. Problematizar e relativizar nossas construções sociais facilita a compreensão da estreita relação entre cultura visual e as construções de gênero.

Atuar desde essa perspectiva significa colaborar para a formação de sujeitos mais críticos sobre os ideais opressores que limitam as potencialidades dos sujeitos.

Significa, também, incluir nas práticas docentes alternativas que ajudem a construir a ideia de um mundo diverso e mais tolerante, por meio da análise das condições que reproduzem as injustiças sociais. Lamentavelmente, discriminações de gênero continuam a existir nas práticas docentes. Este deveria ser um problema e responsabilidade de todas as pessoas envolvidas nos processos de ensino comprometidas em eliminar as práticas e saberes que despreciam os seres humanos e geram uma série de comportamentos que reverberam na construção das identidades dos discentes. Assim, este projeto se justifica na medida em que amplia um campo de conhecimento ainda pouco explorado e contribui a pensar nos discursos que influenciam as subjetividades e conformam os repertórios visuais nos processos de ensino e aprendizagem em artes visuais.

2. Objetivos:

Promover reflexões sobre as construções sociais da sexualidade nas práticas de ensino e aprendizagem em Arte, para discutir os lugares onde se geram os saberes que normatizam certas representações em detrimento de outras, com a intenção de problematizar as formas como se inscrevem, se materializam e se naturalizam os discursos de gênero nas visualidades e nas manifestações artísticas da história da arte. Tendo como objetivos específicos: colaborar na elaboração de um curso de extensão para o professorado de Arte das escolas públicas estaduais com o objetivo

metodológicas alternativas que ampliem o escopo imagético e promovam a pluralidade nos conteúdos levados às salas de aula.

3. Metodologia

Esta pesquisa tem abordagem qualitativa e está baseada na pesquisa-ação. As variáveis analíticas estarão relacionadas aos discursos de gênero presentes nas visualidades, cujo alcance percorre os conteúdos do universo das artes visuais. Os dados serão pensados a partir das narrativas do professorado que será convidado a pensar em suas práticas docentes e nos conteúdos pedagógicos utilizados em sala de aula. As estratégias metodológicas percorrerão os caminhos pelos quais os gêneros e as sexualidades influenciam na construção de significados nos processos de ensino e aprendizagem e será através da pluralidade e da multiplicidade das experiências do professorado que se dará a construção de conhecimentos sobre a produção social do olhar, relativa às construções sociais de gênero e sexualidade nas visualidades. Os instrumentos de coleta de dados estarão associados a fatores pontuais, como os contextos e as perspectivas dos sujeitos investigados. Se privilegiará métodos flexíveis e adaptáveis a cada circunstância. De qualquer forma, os dados serão coletados, preferencialmente por meio de questionários, entrevistas e análise dos materiais didáticos usados nas práticas docentes.

Como o foco das ações previstas neste projeto são as práticas docentes, para viabilizar uma aproximação junto ao professorado, se buscará parceria com o Centro de Estudo e Pesquisa “Ciranda da Arte”, órgão da Secretaria de Educação do Estado de Goiás. Em seguida, será ministrado um curso de extensão onde se estabelecerão as trocas de experiências e, através de reflexões conjuntas, se examinará de que maneira o ensino de arte colabora para forjar uma determinada construção visual da diferença sexual. Por último, o professorado será convidado a pensar em alternativas que busquem incluir o diverso, o diferente ou o pouco representativo nas práticas docentes, partindo do pressuposto de que as relações de gênero estão implicadas na definição do discurso sobre arte e na constituição da docência em arte.

4. Resultados

Espera-se que toda equipe envolvida possa ingressar no mundo da pesquisa e conhecer a realidade do contexto das escolas públicas do Estado, além de identificar as práticas e conteúdos que reproduzem os estereótipos de gênero no contexto da educação formal em artes visuais. Podendo, assim, compartilhar e difundir os conhecimentos adquiridos nas distintas fases do projeto, promovendo reflexões e maior criticidade perante as construções sociais nas práticas de ensino e aprendizagem no campo das Artes.

5. Conclusões

O projeto está em andamento desde o início do semestre, com reuniões semanais visando a elaboração do curso de extensão para o professorado e debates reflexivos acerca do tema abordado. Após a imersão no campo de pesquisa, serão feitas entrevistas com os sujeitos investigados e logo a transcrição das mesmas, para análise e sistematização dos dados coletados, finalizando com a participação em congressos e seminários e elaboração de artigos e redação do relatório final.

6. Fonte de financiamento:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – PROLICEN

7. Referências Bibliográficas

BUTLER, J. El Género en disputa. El feminismo y la subversión de la identidad.

Tradução de Maria Antonia Muñoz. Barcelona: Paidós Ibérica, 2007.

DIAS, B. O I/MUNDO da Educação em Cultura Visual. Brasília: Editora da pós- graduação da Universidade de Brasília, 2011.

DUNCUM, P. Por que a arte-educação precisa mudar e o que podemos fazer. In:

MARTINS; TOURINHO (org.). Educação da cultura visual: conceitos e contextos.

Santa Maria: UFSM, 2011. p. 15-30.

FREEDMAN, K. Interpreting Gender and Visual Culture in Art Classrooms. Studies in Art Education, 35, 1994. p. 157-170.

HERNÁNDEZ, F. Catadores da Cultura Visual. Porto Alegre: Mediação, 2007.

LARROSA, J. Tecnologías del yo y educación. In: LARROSA, J. Escuela, poder y subjetivación. Madrid: La Piqueta, 1995. p. 259-332.

MITCHELL, W. J. T. Picture Theory. Chicago: The University of Chicago Press,

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