OLIVEIRA, Higor Junior1, FREITAS, Elisandra Carneiro2
Palvras-chave: Educação do Campo, Formação de professores, Ensi no de Ciências.
Introdução
O presente trabalho nasce no Curso de Licenciatura em Educação do Campo – Ciências da Natureza da Universidade Federal de Goiás (UFG)/ Regional Goiás.
Cujo curso objetiva a formação de professores para atuarem nas Escolas do Campo.
Propõe-se a atender a uma nova demanda, as populações do campo, que historicamente lutam por uma educação diferenciada e de qualidade, que respeite as especificidades da vida neste contexto.
Neste cenário de luta pelo direito a Terra e por uma Educação de qualidade a Educação do Campo nasce vinculada às questões sociais e políticas públicas que a atendam. Pois, os protagonistas do processo de criação da Educação do Campo são povos do campo, com destaque aos movimentos sociais de luta pela reforma agrária.
Justificativa
De modo específico pouco se encontra sobre a realidade da Educação do Campo no município de Goiás. Segundo Borges, 2011, muitos os desafios que permeiam o cotidiano das escolas do campo do município. Estes iniciam-se desde questões de estrutura física, infraestrutura, transporte de p rofessores e alunos, falta de material didático, permanência de professores efetivos, exausti va carga horária docente, entre outras mazelas.
Nesse sentido, buscamos compreender, em um primeiro momento, este sujeito professor de ciências em exercício nas escolas do campo do município de Goiás. Traçando um perfil deste docente, no tocante as sua formação e as
1 Orientando; Licenciatura em Educação do Campo/UFG – wyhigor@gmail.com;
2 Orientadora. Professora efetiva do curso de Licenciatura em Educação do Campo/UFG –
2016) 3413 - 3417
Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2016) 3245 - 3249
dificuldades encontradas em sua prática pedagógica para alcançar os objetivos do ensino de ciências nas escolas do campo. Em decorrência destes possíveis apontamentos visamos compreender, posteriormente, de que forma a Licenciatura em Educação do Campo – LedoC/UFG/Regional Goiás poderá contribuir e atuar em benefício da formação para a docência em Ciências para atuar nestas escolas.
Objetivos Geral
Caracterizar o perfil do professor de ciências que atua nas escolas do campo no município de Goiás.
Objetivo específicos
Identificar qual a formação docente que os professores de ciências, que atuam em escolas do campo do munícipio de Goiás, possuem para o exercício de suas funções;
Perceber se a prática pedagógica destes professores de ciências dialoga com os objetivos da Educação do Campo;
Entender a contribuição do curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC) para a formação da docência em Ensino de Ciências para atuar nas escolas do campo do município de Goiás;
Estreitar o diálogo entre a LEdoC, a Secretária Municipal de Educação (SME) e as escolas do campo no município de Goiás;
Compreender as especificidades da profissão do docente de ciências nas escolas do campo do município de Goiás.
Metodologia
A pesquisa em educação tem foco de investigação os fenômenos educacionais, nesse sentido para observar a si ngularidades dessas escolas e professores; acreditamos que a abordagem qualitativa, contempla a investigação na perspectiva que proporciona uma compreensão detalhada do problema de pesquisa.
Assim, a fim de caracterizar o perfil dos professores de Ciências do município procuramos a Secretária Municipal de Educação para identificar as escolas do campo no município de Goiás e os professores de Ciências que atuam na mesma para participarem enquanto sujeitos da pesquisa. Assim, definido os sujeitos selecionamos os segui ntes instrumentos para a coleta de dados: questionário exploratório e entrevista semiestruturada.
Para o tratamento dos dados obtidos por meio dos questionários e das entrevistas, recorremos à técnica da análise de acordo com Bardin (2010). Assim a partir do percurso de investigação assumido, procuramos elucidar as questões de pesquisa constitui ndo um corpus de conhecimento sobre a realidade do Ensino de Ciências nas escolas do Campo do município de Goiás.
Resultados
De acordo com a Secretária Municipal de Educação de Goiás, o município possui quatro escolas-polo localizadas no campo que oferecem a segunda fase do Ensino Fundamental. São elas:
Escola Municipal Vale do Amanhecer, locali zada no distrito de Calcilândia, a 27 km da cidade de Goiás;
Escola Municipal Holanda, localizada na área rural, próximo ao Assentamento, a 22 km da cidade de Goiás;
Escola Municipal Terezinha de Jesus, localizada no distrito de Buenolândia, a 45 km da cidade de Goiás;
Escola Municipal Olímpya Angélica, locali zada no Assentamento São Carlos, a 50 km da cidade de Goiás.
Identificamos nove professores que ministram a disciplina de Ciências da Natureza nestas escolas. Destes, seis professores colaboraram com a pesquisa até o momento respondendo ao questionário e às entrevistas. A partir destes instrumentos e dos dados obtidos por meio deles tecemos as análises que se seguem.
Em relação à formação inicial, nenhum dos professores possui formação na área de ciências. Há ainda, entre os sujeitos da pesquisa, uma professora que não possui licenciatura, apenas formação em magistério e atua como docente na Educação Básica, contrariando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).
Segundo Lima (2010), a formação especiali zada ou disciplinar, que é normalmente exigida do professor de ensino médio, torna extremamente difícil o exercício da profissão e a efetivação de uma escola para os filhos das pessoas que moram no campo além de comprometer a organização do trabalho pedagógico nestas escolas. De acordo com a autora é comum encontrar professores que se deslocam por longas distancias para ensinar ou estudar, assim, para que professores com uma formação específica consigam lecionar em diferentes lugares
é necessário uma peregrinação, além de ter que abandonar os estudantes da localidade em que vive e conhece para ensinar a outros que pertencem a outras realidades.
O que se percebe é que alguns professores das escolas do município de Goiás não moram nas proximidades das mesmas e utilizam o transporte oferecido pela prefeitura até as unidades de ensi no. Fato que corrobora com o posicionamento de Lima (2010), no sentido de que dificulta o envolvimento do docente com a realidade das comunidades do campo.
Em função deste contexto:
“os professores das escolas do campo não lecionam exclusivamente uma disciplina: biologia, química ou física, nem é fácil para eles irem diariamente de uma escola para outra, em função das distâncias, da dificuldade de transporte e das condições de conservação das estradas. Por consequência, um mesmo docente ensina diferentes disciplinas e, muitas das vezes, atua em classes multisseriadas”
(LIMA, 2010, p. 170).
Em relação à quantidade de disciplinas ministradas pelos professores, apenas P (05) ministra aulas somente de Ciências. Todos os outros professores possuem mais de uma disciplina em sua carga horária. O fato de trabalharem em apenas uma escola, cada professor, facilita o envolvimento do docente com a realidade local e a sua comunidade. No entanto, como já mencionado, a maioria se desloca da cidade para as escolas polo, desvi nculando assim as suas vivências com os contextos dos alunos. E nesse sentido carregam os valores da cidade, do urbano para a realidade do campo. O que não contribui para construir a imagem do campo como um espaço rico em vivências, saberes, bem estar, cultura (CALDART, 2011; ARROYO, 2007);
um local em que os alunos queiram viver e planejar o futuro.
Sobre a relação do Ensino de Ciências com as questões do campo a maioria dos professores afirma que nem sempre conseguem realizá-la, pois “falta de material disponível, e por causa da matriz” (P 03). Os professores que afirmaram conseguir realizar a relação Ensi no de Ciências/questões do campo, argumentam que não conseguem em todas as aulas pela falta material didático.
Corroborando com a fala deste professor, Neto e Fracalanza (2003) afirmam que o conhecimento científico é apresentado nos livros didáticos sempre como uma verdade absoluta e desvinculado do contexto histórico e sociocultural dos estudantes. Desta forma, distoa das orientações oficiais da educação propostas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNS) e das diretrizes curriculares oficiais
quando não propõem abordagens e atividades de ensino -aprendizagem que procurem por princípios educacionais como: flexibilidade curricular; abordagem temática interdisciplinar; vínculo com o cotidiano (real) do aluno e com seu entorno sócio histórico e atendimento à diversidade cultural de cada local ou região.
Há uma dependência do professor para com o livro didático, pois se o mesmo não atende as especificidades de seu público e as orientações educacionais oficiais, para que as mesmas sejam atendidas é necessário uma disposição docente em adaptar os conteúdos e realizar as intervenções necessárias para a contextualização no processo de ensino aprendizagem.
Conclusões
As análises realizadas são apontamentos relativos ao perfil dos professores das escolas do campo no município de Goiás, à prática pedagógica dos mesmos e ao papel da Licenciatura em Educação do Campo na formação de professores de ciências para as escolas do município. Há demanda por profissionais com formação na área de ciências para atuar na Educação Básica do município.
Percebe-se que os professores em exercício possuem dificuldades com a contextuali zação e ás especificidades do campo. Nesse contexto, atividades de pesquisa, extensão e os próprios estágios da Licenciatura em Educação do Campo podem contribuir com as escolas e com os professores auxiliando-os a planejar e executar atividades que promovam aprendizagens contextualizadas com a realidade dos alunos e da comunidade escolar. Por fim, ao mesmo tempo, tais iniciativas contribuem com o fortalecimento do curso e a formação inicial dos discentes da LEdoC, possibilitando assim a construção de um espaço de aprendizagens mútuas.
Referências
ARROYO, M. Formação de Educadores e Educadoras do Campo. Brasília: Mimeo, 2005.
___ __. Políticas de formação de educadores(as) do campo. In: Caderno Cedes, Campinas, vol. 27, n. 72, p.
157-176 , maio/ago. 2007.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. 4ª ed. Trad. por Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa, Portugal:
Edições 70, 2010.
CALDART, R. S. Educação do Campo: Notas para uma análise de percurso. In: Trabalho Educação Saúde, v.7, n.1, p.35-64, mar/jun 2009.
NETO, J. M.; FRACALANZA, H. O li vro didático de Ciências: p roblemas e soluções. In: Ciência & Educação. V.
O USO DE FONTES HISTÓRICAS DA MEDICINA MEDIEVAL NO ENSINO DE HISTÓRIA