• Nenhum resultado encontrado

2 ACESSANDO O SISTEMA: REDES SOCIAS EM TEMPOS LÍQUIDOS

2.2 Explorando a rede: desvendando o Facebook

2.2.2 Gênese do “TheFacebook”

"Nosso projeto foi posto em ação como uma maneira de ajudar as pessoas a compartilhar mais coisas em Harvard", diz Zuckerberg, "de modo que pudessem ter uma visão mais ampla do que estava acontecendo na faculdade. Eu queria fazer isso para poder ter acesso a informações sobre qualquer pessoa e para que qualquer um pudesse compartilhar tudo do o que quisesse." (KIRKPATRICK, 2011, p.36).

Mark Zuckerberg estava disposto a criar um diretório confiável com base em informações reais sobre os alunos de Harvard no qual pudesse vivenciar esse modo de partilha mencionado na citação que abre essa subseção. Essa visão simples tornou-se o conceito central do que viria a ser o “Thefacebook”. Para construir o “Thefacebook”, Zuckerberg tomou como base algumas ideias de programas criados por ele anteriormente, um desses softwares foi o “Facemash”. Um dos principais entraves do “Facemash” tinha relação direta com questões de privacidade e, por tabela, com questões legais que poderia haver ao se carregar informações de outrem. Como solução para essa questão, Zuckerberg teve o insight de deixar que os próprios usuários carregassem suas próprias informações. Parte desse insight, ele deve ao editorial do Crimsom sobre o Facemash que escreveu: “‘Muitos dos problemas em torno do Facemash poderiam ter sido eliminados’, [...], ‘se o site tivesse se limitado a estudantes que voluntariamente fornecessem suas próprias fotos’” (KIRKPATRICK, 2011, p. 36).

Outro problema detectado no Facemash diz respeito a questões de hospedagem do site, pois, parte dos problemas que Zuckerberg teve com o conselho administrativo da instituição devia-se ao fato de ter usado a rede harvard.edu para hospedá-lo. Zuckerberg decidiu não repetir o mesmo erro e procurou na internet uma empresa que hospedasse seu projeto. Conforme Kirkpatrick afirma:

Então, dessa vez ele adotou uma abordagem mais séria. Procurou na internet e descobriu uma empresa de hospedagem chamada Manage.com, para a qual começou a pagar, por meio de seu cartão de crédito, 85 dólares por mês pelo espaço em um servidor. Seria aí que residiriam o software e os dados do Thefacebook. Seria Thefacebook.com e não parte da rede www.Harvard.Edu. Ele não tinha certeza, mas, no fundo de sua mente, tinha uma noção de que aquilo poderia resultar em mais do que apenas um breve entretenimento (KIRKPATRICK, 2011, p. 38).

Seguindo seu objetivo, antes de disponibilizar o site, Zuckerberg procurou Eduardo Saverin, um aluno do penúltimo ano que pertencia a mesma fraternidade que Zuckerberg, ao qual fez uma proposta de sociedade. Caso Saverin investisse 1.000 dólares, Zuckerberg se comprometeria a passar um terço do “Thefacebook”. Por fim, Zuckerberg colocou o domínio “Thefacebook.com” no ar em 4 de fevereiro de 2004.

Figura 1: print da página de entrada do “Thefacebook” em 12 de fevereiro de 2004

Fonte: http://revistaalceu.com.puc-rio.br/media/alceu%2028%20-%20168-187.pdf Acesso em:13.jul.2018.

Ao traduzirmos o texto verbal contido na figura 1, temos a seguinte sequência explicativa: “Thefacebook” é um diretório on-line que conecta pessoas por meio de redes sociais nas faculdades. Abrimos o “Thefacebook” para uso popular na Universidade de Harvard. Você pode usar o “Thefacebook” para: procurar pessoas na sua faculdade; descobrir quem está nos mesmos cursos que você; procurar amigos dos seus amigos; ver uma representação visual da sua rede social. Para continuar,

click abaixo e se registre. Se você já possuir registro, você pode fazer login.

Com relação à imagem apresentada na barra superior, ela foi elaborada por um amigo de Zuckeberg que desenhou um logotipo, usando uma imagem de Al Pacino que encontrou na internet e, em seguida, a cobriu com uma névoa de uns e zeros (KIRKPATRICK, 2011).

Segundo Dustin Moskovitz, colega de Zuckerberg: assim que Mark terminou o Facebook, comentou o fato com alguns amigos, tendo um deles sugerido a sua divulgação através da lista de emailing da Kirkland House, que incluía cerca de 300 endereços de e-mail. [...]. Em 24 horas, conseguimos entre 1.200 e 1.500 registos no Facebook (CASSIDY, apud CORREIA e MOREIRA, 2014).

Assim, começou uma explosão viral, segundo Kirkpatrick (2011), as pessoas não conseguiam parar de usá-lo e, na época em que o Thefacebook foi lançado, já existia uma rede social chamada “My Space” que possuía mais de 1 milhão de membros e estava rapidamente se tornando a principal rede social do país. O “Thefacebook” foi concebido na contramão do que era o “My Space” tendo em vista que o “Thefacebook” oferecia aos usuários funções limitadas, uma página de perfil branca, clean, limitada a estudantes das universidades de elite.

De acordo com Kirkpatrick (2011), controles de privacidade faziam parte do projeto original da plataforma e, por isso, havia algumas restrições tais como: o sujeito não podia se associar a menos que tivesse um endereço de e-mail Harvard.edu e, além disso, ele precisava usar seu nome real. Era essa forma de validação da identidade dos usuários que distinguia o “Thefacebook” de quase tudo o que surgira antes na internet, inclusive das redes sociais: Friendster e Myspace.

Para se inscrever, você criava um perfil com uma única foto sua, juntamente com algumas informações pessoais. Era possível indicar seu status de relacionamento escolhendo no menu: solteiro, em um

relacionamento ou em um relacionamento aberto. Podia-se incluir o número de telefone, nome usuário do AIM e endereço de e-mail; indicar os cursos que estava fazendo (uma característica inspirada pelo Course Match); livros, filmes e músicas favoritas; os clubes aos quais pertencia; filiação política (muito liberal/ liberal/ moderado/ conservador/ muito conservador/ indiferente); e uma frase favorita. Thefacebook não tinha nenhum conteúdo próprio. Era meramente um software - uma plataforma para o conteúdo criado por seus usuários (KIRKPATRICK, 2011, p. 39).

Só após o usuário criar/configurar o seu próprio perfil, era que se iniciava a interação que consistia, basicamente, em convidar outros usuários para serem seus amigos e, com base nas amizades conquistadas, visualizar um diagrama da sua rede social que mostrava todos a quem se estava ligado. Outro recurso inicial do “Thefacebook” era "cutucar" outros usuários. Ao fazer isso aparecia uma mensagem na página da pessoa “cutucada”, que podia, caso quisesse, "cutucar" de volta. Ao ser questionado sobre o significado desse recurso, Zuckerberg respondeu que pensou em ser mais divertido incluir um recurso, sem nenhuma finalidade, específica e que os usuários pudessem usar como quisessem, porque não receberiam nenhuma explicação. Contudo, pelo menos para alguns, ao se "cutucar" alguém e receber uma "cutucada" de volta, essa interação tinha um significado claramente sexual (KIRKPATRICK, 2011).

Além dos recursos apresentados anteriormente, Kirkpatrick (2011) afirma que muitas pessoas descobriram outros usos mais práticos e mais proveitosos, para o “Thefacebook”. O autor escreve que os usuários podiam criar grupos de estudos para as aulas, podiam organizar encontros de clubes e podiam postar notícias sobre festas. Para ele, o “Thefacebook” era uma ferramenta de auto-expressão e, mesmo naquela fase inicial de seu desenvolvimento, as pessoas estavam começando a reconhecer muitas facetas do seu "eu" que poderiam ser projetadas na tela. Um outro recurso também disponibilizado no site, tinha como alicerce a essência do “CourseMatch”, outro programa de computador criado por Zuckerberg anteriormente. Esse recurso permitia aos estudantes, que estavam logados no “Thefacebook.com”, clicar em um curso e ver quem estava matriculado nele, assim sendo:

Na época do lançamento do Thefacebook, os alunos estavam em pleno processo de escolher os cursos que fariam no semestre seguinte. Era o que se chama de "semana de compras" em Harvard, quando as aulas já haviam começado, mas os alunos ainda podiam

escolher outro curso ou abandonar algum no qual tivessem se inscrito provisoriamente. Para qualquer estudante de Harvard que escolhesse os cursos parcialmente em função de quem estivesse na sala de aula, essa ferramenta do Thefacebook teve uma utilidade imediata. Isso ajuda a explicar a rápida disseminação do site em seus primeiros dias e também a razão de Zuckerberg tê-lo lançado naquela semana (KIRKPATRICK, 2011, p.41).

É possível inferir, dado o exposto, que expandir o “Thefacebook” estava no horizonte de Zuckerberg desde o início, com base na figura 1. Na página inicial do “Thefacebook” estava escrito: "‘Thefacebook’ é um diretório on-line que conecta pessoas por meio de redes sociais nas faculdades.” Uma pessoa de fundamental importância para a expansão da plataforma foi Dustin Moskovitz. Zuckerberg resolveu ajustar a estrutura de propriedade do “Thefacebook” para dar 5% de participação a Moskovitz, tornando-o, assim, um co-fundador desde o primeiro mês de lançamento. Seu principal trabalho consistia em adicionar novas faculdades. Para isso, Moskovitz precisava

[...] configurar o processo de registro. [...] precisava descobrir como os e-mails eram endereçados para alunos, funcionários e ex-alunos.[...] Também devia criar um link para o jornal da faculdade, porque naquela época o Thefacebook tinha um recurso [...] que ligava o perfil de uma pessoa a qualquer artigo no jornal do campus que a mencionasse. Ele gastava cerca da metade de um dia coletando os dados e fazendo a codificação para adicionar cada faculdade[...]. Eles abriram o serviço para os estudantes da Universidade de Columbia em 25 de fevereiro; os de Stanford aderiram no dia seguinte, e os de Yale, no dia 29 (KIRKPATRICK, 2011, p. 43).

Um mês após ter sido criado, cerca de metade dos estudantes de Harvard estavam registrados no website Thefacebook (PHILLIPS, apud CORREIA e MOREIRA, 2014). De acordo com Correia e Moreira (2014), Sean Parker tornou-se informalmente assessor de Zuckerberg, o que resultou na ocupação do cargo de primeiro presidente do “Thefacebook” quando a empresa passou a ter sede em Palo Alto, Califórnia, no verão de 2004.