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Arena contemporânea: o embate dialógico nas fanpages "Verdade sem manipulação" e "Movimento Endireita Brasil"

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE Centro de Ciências Humanas Letras e Artes

Programa de Pós-Graduação Em Estudos da Linguagem

Morgana Lobão dos Santos Paz

ARENA CONTEMPORÂNEA:

o embate dialógico nas fanpages “Verdade sem manipulação” e

“Movimento Endireita Brasil”

Natal/RN 2019

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Morgana Lobão dos Santos Paz

ARENA CONTEMPORÂNEA:

o embate dialógico nas fanpages “Verdade sem manipulação” e

“Movimento Endireita Brasil”

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem/PPgEL (UFRN), como requisito para obtenção do título de Mestre em Estudos da Linguagem.

Área de conhecimento

Estudos em Linguística Aplicada Linha de pesquisa

Estudos de práticas discursivas Orientadora

Profa. Dra. Marília Varella Bezerra de Faria

Natal/RN 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA

Paz, Morgana Lobão dos Santos.

Arena contemporânea: o embate dialógico nas fanpages "Verdade sem manipulação" e "Movimento Endireita Brasil" / Morgana Lobão dos Santos Paz. - 2019.

109f.: il.

Dissertação (mestrado) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2019. Natal, RN, 2019.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marília Varella Bezerra de Faria. 1. Embates dialógicos - Dissertação. 2. Polêmicas abertas - Dissertação. 3. Facebook (Rede social on-line) - Dissertação. 4. Fanpage - Dissertação. I. Faria, Marília Varella Bezerra de. II. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 81'33

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Morgana Lobão dos Santos Paz

ARENA CONTEMPORÂNEA:

o embate dialógico nas fanpages “Verdade sem manipulação” e

“Movimento Endireita Brasil”

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem/PPgEL (UFRN), como requisito para obtenção do título de Mestre em Estudos da Linguagem.

Aprovada em: 23 de julho de 2019

Banca Examinadora

Profa. Dra. Marília Varella Bezerra de Faria (UFRN) Presidente

Profa. Dra. Roxane Helena Rodrigues Rojo (UNICAMP) Membro externo

Prof. Dr. Josenildo Soares Bezerra (UFRN) Membro interno

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AGRADECIMENTOS

A sola do pé conhece toda a sujeira da estrada. (Provérbio africano)

Aos meus mentores espirituais por me guiarem nessa encarnação, pelo amor, força e paciência, a mim, emanados.

À minha orientadora, Profa. Dra. Marília Varella Bezerra de Faria, pela oportunidade е apoio na elaboração deste trabalho.

À minha mãe, Maria Francisca Lobão de Castro, por nunca me deixar faltar nada e por ser a melhor mãe que alguém pode ter. (Mainha, se hoje eu sou mestra, eu devo a senhora. Amo-te!)

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) por ter financiado, por determinado período, o desenvolvimento desta pesquisa.

Ao Grupo de Estudos Bakhtinianos – GEBAK – pelas reuniões quinzenais aos sábados cujas discussões foram fundamentais para realização deste trabalho.

À secretaria do PPgEL, nas pessoas de Betinha e Gabriel que, além de competentes, sempre foram atenciosos e solícitos.

À professora Dra. Maria Bernadete Fernandes de Oliveira e ao professor Dr. Josenildo Soares Bezerra, que aceitaram compor minha banca de qualificação, pelas sugestões e análises significativas.

Às queridíssimas, Clarice da Conceição, Manuelly Vitória e Tatiani Novaes, pela parceria e amizade que transcendem a academia.

Ao meu colega de pós-graduação, Maurício, nosso “Mau”, pela arte da capa. Aos irmãos que o universo colocou em minha vida e escolhi para conviver: Aline Bispo, Naline Dantas, Rachel Fragoso e Wagner Monteiro. Amor incondicional, sempre. A distância não nos separa.

Ao meu eterno amor, Penha Casado, pelo estímulo, mesmo quando o cansaço parecia me abater e, principalmente, pela confiança e o carinho de sempre.

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RESUMO

A modernidade se apresenta fluida (BAUMAN, 2001), uma vez que o tempo e o espaço se mostram marcados pela dinamicidade e pelo movimento incessante (HAN, 2015; CRARY, 2016). A quebra dos sólidos, das verdades inabaláveis, dos discursos engessados e das instituições impenetráveis, tem nos lançado para a investigação de práticas discursivas que se dão em esferas que demandam a construção de conhecimento a fim de se compreender o sujeito que se gesta nessa modernidade fluida. As redes sociais, especificamente, o Facebook, estão no cotidiano das pessoas, como espaços sóciodiscursivos que ampliam/potencializam/amplificam e promovem o surgimento de vários gêneros discursivos e suportes de texto nesse cronotopo virtual (MELO, 2016). As novas interações, construídas e constituídas pela/na internet, geram novas relações sociais, novos padrões de relacionamento com o outro e com o mundo. Este trabalho objetiva analisar os embates dialógicos que foram/são construídos pelos sujeitos, na rede social em questão, mais especificamente, nas fanpages: Verdade sem manipulação e Movimento Endireita

Brasil, e como se constituem, discursivamente, esses embates encontrados nos

enunciados concretos que compõem o corpus de análise. O recorte se deu temático-temporalmente, delimitando-se o tema “impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff” no período que compreende desde a sua aceitação pelo presidente da Câmara até a sua admissibilidade pelo plenário. Para analisar esse corpus, recorre-se ao aporte teórico de Círculo de Bakhtin (1998, 2003, 2009, 2015, 2016, 2017, 2018) no que diz respeito à concepção de linguagem, constitutivamente dialógica; de embate dialógico e posicionamentos/valorações. No que concerne à modernidade líquida, recorre-se às postulações de Bauman (2001) e de cultura da conexão de Jenkins (2014). A construção dos dados, deu-se a partir do enfoque da pesquisa qualitativo-interpretativista, lançando mão da interpretação dos índices linguístico/discursivos, a partir do paradigma indiciário de Ginzburg (1989). Os resultados apontam para presença de polêmicas abertas cujos processos dialógicos se configuraram por meio de bivocalidade, de subversão, de reacentuação, de reenquadramento de enunciados alheios em uma luta encarniçada na arena discursiva, Facebook.

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ABSTRACT

Modernity presents itself fluid (BAUMAN, 2001), since time and space show themselves marked by dynamicity and by ceaseless moviment (HAN, 2015; CRARY, 2016). The rupture of the solids, of the unshakeable truths, of the plastified speeches and the impenetrable institutions, has launched us to the investigations of the discursive practices that happen in spheres that demand the construction of knowledge in order to comprehend the subject that is conceived in this fluid modernity. The social media, specifically, the Facebook, are part of people’s daily lives, as socio discursive spaces that magnify/potentialize/amplify and promote the emergence of varied discursive genres and text supports in this virtual chronotope (MELO, 2016). The new interactions, built by and on the internet, generate new social relationships, new relationship patterns with the other and with the world. This work aims to analyze the dialogical clashes that were/are constructed by, on the specified social media, more specifically, on the fanpages: Verdade sem manipulação (Truth without manipulation) and Movimento Endireita Brasil (Right Brazil Moviment), and how are constituted, discursively, these clashes on the concrete statements that compose the corpus of analysis. The cutout happened thematically-temporally, delimiting the theme “impeachment of former president Dilma Rousseff” in the period that comprehends since her acceptance by the president of the Chamber until her admissibility by her own self. To analyze this corpus, it is referred to the theoretical foundation of the Bakhtin Circle (1998, 2003, 2009, 2015, 2016, 2017, 2018) in what concerns the conception of language, constitutively dialogical; the dialogical clash and positioning/valuations. In what concerns the liquid modernity, it is resorted upon the postulations of Bauman (2001) and the culture of connection of Jenkins (2014). The construction of data, happened from the focus of the qualitative-interpretivist research, making usage of the interpretation of linguistic/discursive indexes, from the indiciary paradigm of Ginzburg (1989). The results point to the presence of open controversies, whose dialogical processes are configured by means of bivocality, of subversion, of reaffirmation, of reframing, of disconnected statements in a fierce clash in the discursive arena, Facebook.

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LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 ... 33 FIGURA 2 ... 80 FIGURA 3 ... 84 FIGURA 4 ... 88 FIGURA 5 ... 89 FIGURA 6 ... 92 FIGURA 7 ... 95 FIGURA 8 ... 96 FIGURA 9 ... 98 FIGURA 10 ... 101

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SUMÁRIO

1 LOGIN: INICIANDO A DISCUSSÃO ... 10

1.1 Estado da arte: compartilhando outras vozes ... 15

2 ACESSANDO O SISTEMA: REDES SOCIAS EM TEMPOS LÍQUIDOS ... 20

2.1 As redes sociais em perspectiva histórica ... 25

2.2 Explorando a rede: desvendando o Facebook ... 29

2.2.1 Contexto histórico prévio ... 30

2.2.2 Gênese do “TheFacebook” ... 32

2.2.3 O “diagrama social”: do “mural” inicial à implantação do “feed de notícias” ... 37

2.2.4 O uso da plataforma Facebook como ativismo político ... 40

3 TIMELINE: NA HISTORICIDADE DAS CONCEPÇÕES TEÓRICAS ... 48

3.1 A concepção dialógica de linguagem ... 48

3.2 O enunciado concreto em perspectiva dialógica ... 52

3.3 O cronotopo e a constituição de sujeitos ... 56

3.3.1 O cronotopo virtual: quando o tempo e o espaço se fundem na fluidez ... 58

3.3.1.1 O cronotopo virtual no Facebook ... 59

3.4 As relações dialógicas ... 61

3.4.1 Os embates dialógicos ... 63

3.4.2 O enquadramento do discurso alheio ... 66

4 ADICIONANDO AS LENTES METODOLÓGICAS ... 68

4.1 A metodologia nas ciências humanas ... 68

4.2 A pesquisa em LA ... 69

4.3 A perspectiva qualitativo-interpretativista ... 70

4.3.1 O paradigma indiciário de Ginzburg ... 71

4.4 A construção dos dados da pesquisa ... 72

4.5 O contexto histórico de onde emergem os dados da pesquisa ... 73

5 STALKEANDO: ANÁLISE DIALÓGICA DOS ENUNCIADOS ... 76

5.1 A Fanpage “Verdade sem manipulação” ... 78

5.2 A Fanpage “Movimento Endireita Brasil” ... 78

5.3 Seguindo pistas e indícios dos enunciados ... 80

6 COMENTÁRIOS: (IN)CONCLUSÕES FINAIS ... 103

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1 LOGIN: INICIANDO A DISCUSSÃO

No momento em que realmente vivo a experiência de um objeto – mesmo que apenas pense nele – o objeto se torna um momento dinâmico daquele evento em curso que é o meu pensá-lo e experimentá-lo; ele adquire, assim, o caráter de alguma coisa por se realizar, ou, mais precisamente, ele me é dado no âmbito do evento na sua unidade, dos quais são momentos inseparáveis o que é dado e o que está para se cumprir, o que é e o que deve ser, o fato e o valor.

Mikhail Bakhtin

A modernidade1 se apresenta, conforme Bauman (2001), fluida em que o tempo

e o espaço se apresentam marcados pela dinamicidade e pelo movimento incessante. A quebra dos sólidos, das verdades inabaláveis, dos discursos engessados e das instituições impenetráveis, tem nos lançado para a investigação de práticas discursivas que se dão em esferas que demandam a construção de conhecimento a fim de se compreender o sujeito que se gesta nessa modernidade fluida, conforme Bauman afirma

O “derretimento dos sólidos”, traço permanente da modernidade, adquiriu, portanto, um novo sentido, e, mais que tudo, foi redirecionado a um novo alvo, e um dos principais efeitos desse redirecionamento foi a dissolução das forças que poderiam ter mantido a questão da ordem e do sistema na agenda política. Os sólidos que estão para ser lançados no cadinho e os que estão derretendo neste momento, o momento da modernidade fluida, são os elos que entrelaçam as escolhas individuais em projetos e ações coletivas – os padrões de comunicação e coordenação entre as políticas de vida conduzidas individualmente, de um lado, e as ações políticas de coletividades humanas, de outro (BAUMAN, 2001, p.12).

É nessa visão de contemporaneidade e na concepção de língua como interação que a LA (nomeação a ser utilizada no decorrer deste trabalho em referência à Linguística Aplicada) se espraia. Depois de um longo processo de maturação, parece

1 Fazemos opção neste trabalho pela nomeação modernidade líquida a partir da concepção de Bauman e, em alguns enfoques do atual estado da sociedade, também faremos uso do termo contemporaneidade de forma mais ampla.

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haver um consenso que a LA tem como objeto de investigação a linguagem como prática social (MENEZES, 2015).

Posto está que a LA, cujo aporte teórico assumido, nos limites deste trabalho, dá-se com as reflexões de Moita Lopes (2015), considera o sujeito constituinte e constituído por linguagem, logo, não há como se estudar a linguagem como um mero instrumento comunicativo sem considerar o sujeito, o contexto e o evento de comunicação. Com essa visão de linguagem e ancorada na perspectiva de uma LA híbrida, mestiça, fronteiriça e indisciplinar (MOITA LOPES, 2006), ancoramos nosso objeto de investigação do qual trataremos em seguida.

É inegável que os sites de redes sociais, especificamente o Facebook, estão no cotidiano das pessoas, como espaços sociodiscursivos (ARAÚJO, 2007), como lugares de existência e resistência que ampliam/potencializam/amplificam e promovem o surgimento de vários gêneros discursivos e suportes de texto. Para Araújo (2007), a internet integra milhares de redes eletrônicas que, ao se integrarem, criam uma comunicação verbal que se espraia por todo o planeta. Trata-se, portanto, de uma pesquisa que se constituiu com caráter responsivo às demandas de sistematizar e construir conhecimento sobre as práticas de linguagem que se dão nesse espaço sociodiscursivo. As novas interações construídas e constituídas pela/na internet geram novas relações sociais, novos padrões de relacionamento com o outro e com o mundo, posicionamentos ideológicos e situados axiologicamente. Tal perspectiva pode ser confirmada pela visão de que

[…] qualquer enunciado é, na concepção do Círculo, sempre ideológico – para eles, não existe enunciado não-ideológico. E ideológico em dois sentidos: qualquer enunciado se dá na esfera de uma das ideologias (i.e., no interior de uma das áreas da atividade intelectual humana) e expressa sempre uma posição avaliativa (i.e., não há enunciado neutro; a própria retórica da neutralidade é também uma posição axiológica) (FARACO, 2006, p. 46).

Com outra visão sobre tecnologia e sobre o virtual na contemporaneidade, Lévy (1996) afirma que a cultura virtual formata uma nova realidade social. Na verdade, a discussão entre o que se considera mundo real e mundo virtual já não se sustenta, uma vez que os sujeitos atuam e vivem nos dois mundos e, por vezes, o que se considera “mundo virtual” tem mais repercussão e consequências sobre o sujeito do aquilo que lhe chega no tido mundo “real”, ou melhor dizendo, no mundo off-line.

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Nesse sentido, essas novas interações favorecem, para além dos meios institucionalmente construídos para esse fim, a organização de pessoas e grupos por afinidades. Para Jenkins (2014), as decisões que cada um de nós toma quanto a passar adiante ou não textos de mídia estão remodelando o próprio cenário da mídia. Ele afirma, ainda, que “[...] estão fazendo isso não como indivíduos isolados, mas como integrantes de comunidades mais amplas e de redes que lhes permitem propagar conteúdos muito além de sua vizinhança geográfica” (JENKINS, 2014, p.24). Nessa propagação “frenética” de conteúdos, há uma inversão de paradigmas, considerando que, por vezes, o que está na rede é tido como verdade2 se sobrepondo,

muitas vezes, ao mundo não-virtual. De modo que os julgamentos, cuja condenação/absolvição antes era atribuída unicamente aos tribunais e cortes e se davam após os trâmites legais (ritos), atualmente, ocorrem em um novo tribunal, nas redes sociais, fato que mudou a face do julgamento público: círculos de ódio coletivo, demonizam, insultam, humilham com proporções devastadoras. “A justiça foi democratizada” e a maioria, antes silenciosa, ganhou voz. E essas vozes, impiedosamente, buscam as falhas alheias. Tem-se utilizado a humilhação pública nas redes sociais como forma de controle social (RONSON, 2015). Ou, ainda, como afirma Jenkins:

Nessa cultura conectada em rede, não podemos identificar uma causa isolada que leva as pessoas a propagar informações. As pessoas tomam uma série de decisões de base social quando escolhe difundir algum texto na mídia: vale a pena se engajar nesse conteúdo? Vale a pena compartilhar? É de interesse para algumas pessoas específicas? Comunica algo sobre mim ou sobre meu relacionamento com essas pessoas? Qual é a melhor plataforma para espalhar essa informação? Será que deve circular com uma mensagem especial anexada? (JENKINS, 2014, P. 37).

É possível afirmar, assim, que há embates dialógicos (BAKHTIN, 2015) nas redes sociais. Dado que o nosso corpus foi construído em um site de rede social, é preciso considerar a velocidade e a perecividade das postagens que não permitem a reflexão acerca das “verdades” que circulam na rede. O atual momento político e

2 Para Bakhtin (1993), a verdade pode se configurar como pravda ou com istina. Pravda é a verdade histórica contingente provisória e remete as singularidades do sujeito e de seus processos. Istina é a verdade abstrata, absoluta, que não considera nem a singularidade do sujeito nem os processos históricos.

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social do Brasil dá visibilidade ao acirramento e polarização de pontos de vista que têm nos mostrado uma outra face da nação que foi sempre apresentada como “pacífica” e “tolerante” com as diferenças e singularidades, uma vez que se constituiu com as diferentes mestiçagens e etnias. À primeira vista, tal configuração poderia garantir, segundo uma visão de senso comum, a convivência e o respeito às diferenças, às singularidades das diversas identidades do sujeito na contemporaneidade. Sobre a experiência e o excesso de opinião, Larossa aponta que a modernidade dá ensejo a um equívoco entre opinião e informação, como se vê no fragmento abaixo reproduzido:

Em segundo lugar, a experiência é cada vez mais rara por excesso de opinião. O sujeito moderno é um sujeito informado que, além disso, opina. É alguém que tem uma opinião supostamente pessoal e supostamente própria e, às vezes, supostamente crítica sobre tudo o que se passa, sobre tudo aquilo de que tem informação. Para nós, a opinião, como a informação, converteu-se em um imperativo. Em nossa arrogância, passamos a vida opinando sobre qualquer coisa sobre que nos sentimos informados. E se alguém não tem opinião, se não tem uma posição própria sobre o que se passa, se não tem um julgamento preparado sobre qualquer coisa que se lhe apresente, sente-se em falso, como se lhe faltasse algo essencial. E pensa que tem de ter uma opinião. Depois da informação, vem a opinião. No entanto, a obsessão pela opinião também anula nossas possibilidades de experiência, também faz com que nada nos aconteça (LAROSSA, 2002, p. 22).

Tais polarizações e confrontos discursivos têm ganhado visibilidade nas redes sociais, uma vez que os sujeitos postam, publicam, comentam e o que antes era discutido na esfera privada, ou em pequenos grupos, ganha dimensão pública e se propaga com a velocidade e rapidez inerentes à rede para além da vizinhança geográfica (JENKINS, 2015). Tais práticas discursivas sinalizam o movimento na direção de modelo mais participativo de cultura no qual o público não é mais visto como, simplesmente, um grupo de consumidores de mensagens, mas como pessoas que estão moldando, compartilhando, reconfigurando e remixando conteúdos de modos vários nunca antes sequer conjecturados.

Tais embates podem ser observados nas páginas Verdade sem manipulação e Movimento Endireita Brasil. Assim, investigamos, com base nos pressupostos do

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Círculo de Bakhtin3 e em outros teóricos que tenham investigado tanto essa

contemporaneidade quanto as práticas discursivas nas redes sociais, essas duas

fanpages. Para tanto, a pesquisa buscou respostas para as seguintes questões e

objetivos:

Ø Considerando-se que os sujeitos constroem posicionamentos e valorações acerca da aceitação do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, nas fanpages e Movimento Endireita Brasil, como se constroem dialogicamente esses posicionamentos?

Ø Considerando-se que os posicionamentos se constroem no embate dialógico, como se configuram, discursivamente, as polêmicas abertas nessas duas

fanpages?

Para sistematizar responsividade para essas duas questões, apresentamos os seguintes objetivos:

Ø Problematizar como se constroem, dialogicamente, os posicionamentos e valorações acerca da aceitação do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, nas fanpages Verdade sem manipulação e Movimento

Endireita Brasil.

Ø Cotejar dialogicamente os posicionamentos e valorações nas fanpages

Verdade sem manipulação e Movimento Endireita Brasil a partir da constituição

das polêmicas abertas postadas.

Após elencadas as questões e objetivos, apresentamos, na subseção a seguir, outras vozes que dialogam com nosso trabalho.

3 Denomina-se Círculo de Bakhtin um grupo de pensadores advindos de áreas diversas (Literatura, Jornalismo, Linguagem, Ciências Naturais, Música, dentre outras). Participavam dele M. Bakhtin, Volochinóv, Medviédiev, Lev Pumpianski, Matvei Kagan, Maria Iúdina e Ivan Solertinski. Imputa-se a esse grupo a discussão e a publicação de textos que tinham como centralidade questões atinentes à linguagem, ao sujeito e aos modos de funcionamento dialógico e ideológico da palavra em diferentes esferas.

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1.1 Estado da arte: compartilhando outras vozes

Ao acessar o banco de teses e dissertações da Capes, fez-se uma busca com as palavras-chave que permeiam nosso trabalho: “Embates dialógicos”, “Redes Sociais” e “Facebook”. A pesquisa nos retornou um grande número de trabalhos, contudo, a grande maioria deles não apresentou proximidade com a discussão proposta no presente trabalho. Uma causa provável seria a polissemia encontrada nas duas primeiras palavras-chave: “Embates dialógicos” e “Redes Sociais”, embora não haja outra empregabilidade para o termo “Facebook” que não remeta à rede social, há de se considerar que existe um vasto campo de pesquisa no qual a palavra “Facebook” pode ser encontrada além do campo de investigação da LA.

Desses trabalhos, dissertações e teses entre 2006 e 2017, aproximam-se de nosso enfoque investigativo as três pesquisas às quais nos reportamos a seguir.

Recuero (2006) defende a tese intitulada Comunidades em Redes Sociais na

Internet: Proposta de Tipologia baseada no Fotolog.com. O trabalho propõe tipos de

comunidades virtuais para redes sociais constituídas por páginas pessoais de fotografias. Tais páginas on-line de fotografias, os fotologs, permitem que outras pessoas, além do próprio dono, comentem-nas. Para Recuero, a definição de comunidade virtual parte de uma análise dos conceitos denominados utópicos (TÖNIES, 1947, 1995; DURKHEIM, 1978; BUBER, 1987) e dos conceitos denominados contemporâneos (WEBER, 1987; WELLMAN, 2001, 2002; MAFFESOLI, 1996, 2000) e, também, da compreensão de seus elementos em comum: interação social, laços sociais e capital social. Essa definição é levada em conta, conjuntamente, com a visão de comunidades em redes: a estrutura de clusters (muitos nós ou nós muito conectados na rede). A partir dessas concepções e da observação de campo dos fotologs, a autora propõe a tipologia de comunidades virtuais. Os tipos propostos constituem-se em comunidades emergentes, ou seja, aquelas formadas por meio da interação social mútua (PRIMO, 1998, 2003), compostas por laços relacionais (BREIGER, 1974), capital social diversificado (BERTOLINI; BRAVO, 2004) e trocas comunicacionais; comunidades associativas, ou seja, aquelas formadas por meio da interação social reativa (PRIMO, 1998, 2003), compostas por laços mais associativos e de capital social diversificado (BERTOLINI; BRAVO, 2004); e comunidades híbridas, que são aquelas que possuem características dos dois tipos anteriores. Por fim, essa tipologia é analisada a partir de

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sua estrutura, dinâmica e composição, como também, das ferramentas da abordagem de redes sociais, onde se demonstra que há diferenças entre os três tipos e que cada um possui elementos diferentes associados.

Lima (2013), na dissertação de mestrado intitulada: Vozes Sociais em Diálogo:

uma análise bakhtiniana dos diários de leituras produzidos por alunos do ensino médio, tem como objetivo principal analisar enunciados produzidos por alunos do

Ensino Médio, no gênero discursivo diário de leituras, partindo da concepção de linguagem proposta pelo Círculo de Bakhtin. Para a autora, o gênero discursivo elencado apresenta características peculiares que justificavam sua escolha para o trabalho, sobretudo, no que diz respeito às marcas de subjetividade, que revelavam, por meio do embate ideológico, posicionamentos sobre os temas mais diversos. A partir dos enunciados selecionados para o corpus, Lima (2013) criou categorias, durante a pesquisa, conforme orientações de Guba e Lincoln (2006), Mazzotti e Gewandsznajder (1998) e Amorim (2002), para quem a pesquisa na área de humanas não pode basear-se em categorias preestabelecidas. Na pesquisa, a autora considera o diário como um gênero discursivo (BAKHTIN, 2010a), que traz em si as características de composição, de estilo e de conteúdo. Outros conceitos do Círculo, que dizem respeito ao enunciado, as relações dialógicas, as vozes sociais, a responsividade e a exotopia também serviram de base para o estudo. Além disso, durante a análise dos enunciados que compõem o corpus da pesquisa, utilizou os conceitos de polêmicas discursivas (BAKHTIN, 2010b) e Enquadramento (2010a). Ao término da investigação, a pesquisadora concluiu que a situação de avaliação em que os alunos se encontravam; o fato de estarem em uma instituição cuja política segue os documentos nacionais, embasados pela diversidade e pela pluralidade; e conviverem em um espaço de sala de aula em que há diversidade de classe social, faixa etária, enfim, de realidades diferentes, não foram fatores suficientes para que essa diversidade fosse bem aceita em seus posicionamentos. Assim, seus enunciados são constituídos por vozes que demonstravam uma dificuldade em aceitar o outro que é diferente de si. Diante disso, Lima (2013) concluiu que os professores precisam estar preparados para lidar com esses discursos, criando estratégias para a mediação dessas vozes destoantes, com as quais precisa travar contato, cotidianamente, no ambiente escolar.

Por fim, Fujisawa (2015) teve por objetivo analisar o Facebook, um site de rede social propriamente dito, acessado mensalmente, em 2014. Para a autora, no

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Facebook, os usuários, atores da rede, conectam-se com outros atores e fazem suas enunciações por mensagens privadas, fotos, vídeos, diversos enunciados verbais ou multimodais, que compõem a cadeia de comunicação discursiva dentro dos limites do site. A base teórica centra-se no conceito de arquitetônica do círculo de Bakhtin, alicerçado na avaliação social (mediadora entre os sistemas de avaliação – diversas linguagens – e a realidade concreta), na teoria dos gêneros do discurso, na perspectiva bakhtiniana. A pesquisa, também, faz uso do conceito de rede social na internet, das lógicas comunicacionais e culturais, das gerações tecnológicas, dos multiletramentos, dos novos letramentos e de remidiação. A pesquisa fez uso da metodologia qualitativa observacional e com base em “documentos” que foram gerados a partir de navegação na web, utilizando o recurso de captura de tela para o registro, além de artigos da esfera jornalística. Após o estudo, a autora concluiu que a arquitetônica do site de rede social Facebook tem por base os valores da cultura da visibilidade, das aparências e do espetáculo, na qual estão envolvidos, principalmente, valores de aspectos relacional e cognitivo do capital social. Além disso, discute os valores da mentalidade da modernidade tardia, a valorização das práticas seletivas da cultura das mídias e da cibercultura. Analisa, ainda, uma sociabilidade baseada no individualismo, em que, na maioria das vezes, estabelecem-se, entre as pessoas, laços fracos que não necessitam de comprometimento, de reciprocidade.

Para além da pesquisa realizada no site da CAPES, no qual encontram-se, apenas, dissertações e teses produzidas nacionalmente, há outros trabalhos que contribuem/aproximam-se do nosso estudo e que julgamos relevantes para compor nosso estado da arte. Assim, embora não seja uma tese ou tampouco uma dissertação, há na literatura da LA um artigo de Moita Lopes (2010) intitulado Os

novos letramentos digitais como lugares de construção de ativismo político sobre sexualidade e gênero que tem como principal objetivo compreender os chamados

novos letramentos digitais como práticas socioculturais, argumentando que tais espaços se tornaram, na contemporaneidade, lugares de ativismo político e de construção de significados transgressores sobre a vida pública e privada, por meio dos quais subpolíticas são construídas. Em seguida, o autor trata da vida social, nos letramentos digitais, como típica da Web 2.0 no sentido de que envolve modos de ação e de pensar específicos, que questionam a autoria, já que são colaborativos e participativos, ao passo que nos colocam em meio à multidão e seus discursos

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inovadores, desestruturadores e inesperados. Para ele, tais discursos são cruciais, pois podem colaborar na reinvenção social, ensaiando o futuro. Para finalizar, o autor analisa dois espaços de afinidades na Web 2.0, centrados no ativismo político sobre sexualidade e gênero, caracterizando os movimentos interacionais em desenvolvimento em tais práticas sociais de letramentos e o modo como expõem o sujeito a futuros alternativos: uma demanda crucial em nossos tempos.

Outra pesquisa relevante para o nosso trabalho, foi realizada na Universidade do Minho, Portugal. Amaral (2016), na sua investigação, procura compreender a apropriação de ferramentas de interação mediada por computador, por meio de técnicas de indexação semântica, de onde emergem novas modalidades de sociabilidade e efetivam novas práticas e relações sociais que representam um termômetro desterritorializado da sociedade. A autora defende a tese de que o conteúdo é o novo laço relacional das redes sociais assimétricas, transformando essas estruturas em mapas de mediações e de interações sociais delineadas pela utilização da técnica. Para isso, ela problematiza a ideia de desterritorialização da sociedade e apresenta uma redefinição dos conceitos de espaço, de lugar, de rede e de comunidade, enfatizando a necessidade de adaptação das noções de esfera pública, de território e de presença no cenário digital. A autora apresenta, também, o conceito de “Sociedade 2.0” enquanto processo que se materializa por meio da inteligência coletiva gerada pela interação digital e, por fim, desenvolve um estudo de caso dividido em três momentos: contextualização do objeto empírico, instrução do olhar sobre as propriedades dos dados e análise de redes sociais desenhadas a partir de interações num conjunto de mensagens, publicadas no Twitter, com indexação semântica. Os resultados globais da investigação permitem que a autora afirme que emergem novas modalidades de sociabilidade decorrentes de práticas potenciadas pelas ferramentas técnicas e que são distintas das tradicionais, concretizando-se em interações e relações sociais baseadas no conteúdo e mobilizando diversas formas de capital social. No seu trabalho, Amaral (2016) identifica um padrão de “individualismo em rede” (WELLMAN; GULIA, 1999; CASTELLS, 2003; RECUERO, 2009) que traduz potencial de ação coletiva e viralidade, velocidade de transmissão da informação e integração de audiências de audiências com redes múltiplas. Esse modelo de participação evidencia, ainda, fraca cooperação e reciprocidade, estruturas sociais fragmentadas em pequenos grupos coesos e sedimentadas com a prevalência de laços fracos, atores centrais e redes pouco democráticas. Os novos laços sociais

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que interligam redes a redes no ciberespaço centram-se no conteúdo e na conversação, transformando as tradicionais audiências e os consumidores em

prosumers4 e abrindo possibilidades a novos gatekeepers, mas não materializam o

fim da centralidade dos media profissionais. A conclusão global da sua tese é de que nas redes sociais assimétricas, criadas por meio da indexação do conteúdo, emergem sociabilidades distintas das tradicionais que permitem a construção de uma realidade social.

Por fim, o livro O Efeito Facebook: Os Bastidores da Empresa que está

Conectando o Mundo (KIRKPATRICK, 2011), traz uma pesquisa ampla sobre o

Facebook que nos permitiu compreender, historicamente, a plataforma na qual se deu a construção do nosso corpus.

Sendo assim, tais pesquisas, justificam a nossa investigação que se respalda em outra fundamentação teórica e busca compreender as práticas discursivas em outros domínios que não esses enfocados nesses estudos acima elencados.

Para o registro da pesquisa, nosso trabalho apresenta as seguintes seções: Na introdução, aqui nomeada de Login: iniciando a discussão, apresentamos o trabalho, suas questões e objetivos, assim como o estado da arte. Na seção, Acessando o sistema: redes sociais em tempos líquidos, tratamos das redes sociais e como essas se constituem na contemporaneidade, além de enfocamos os aspectos históricos relacionados à criação dessa rede social digital. Na seção nomeada de TIMELINE: na historicidade das concepções teóricas, são apresentadas as concepções que nortearam a pesquisa e a análise do corpus. Na seção Adicionando as lentes metodológicas, tratamos sobre a nossa escolha pela LA e como nessa área inserimos nosso trabalho. Nessa seção, também damos visibilidade aos procedimentos de construção do corpus e das categorias de análise. Por fim, na seção Stalkeando: análise dialógica dos enunciados, procedemos à análise dos enunciados que compõem o corpus de nossa investigação.

4 O termo prosumer foi criado inicialmente por Alvin Toffler (1980) e, em seguida adaptado para a contemporaneidade cyber, na qual vivemos, por Batista e Motta (2013). Para esses autores, o conceito de prosumer pode ser definindo como: o usuário que se utiliza das redes sociais e sites colaborativos com fins de divulgar suas ideias e experiências com determinados produtos e serviços.

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2 ACESSANDO O SISTEMA: REDES SOCIAS EM TEMPOS LÍQUIDOS

As séries espaciais e temporais dos destinos e das vidas dos homens se combinam de modo peculiar, complicando-se e concretizando-se pelas distâncias sociais, que não são superadas. Este é o ponto do enlace e o lugar onde se realizam os acontecimentos. Parece que o tempo se derrama no espaço e flui por ele (formando os caminhos). Mikhail Bakhtin

Os fluidos se movem, fluem, escorrem, respingam, transbordam, vazam, inundam, não se restringem a qualquer forma e estão constantemente em movimento. Os fluidos não fixam espaço nem prendem o tempo (BAUMAN, 2001). A metáfora da fluidez ou liquidez é usada por Bauman para compreender a presente fase na história da humanidade.

Os sólidos têm dimensões espaciais, reduzem e suprimem a significação do tempo e resistem à liquefação. A atual fase em que nos encontramos evidencia o choque entre “os poderes de derretimento” dessa fluidez e a persistência dos sólidos em permanecerem inalterados. Assim, o que está acontecendo hoje é,

[...] por assim dizer, uma redistribuição e realocação dos "poderes de derretimento" da modernidade. Primeiro, eles afetaram as instituições existentes, as molduras que circunscreviam o domínio das ações-escolhas possíveis, como os estamentos hereditários com sua alocação por atribuição, sem chance de apelação. Configurações, constelações, padrões de dependência e interação, tudo isso foi posto a derreter no cadinho, para ser depois novamente moldado e refeito; essa foi a fase de "quebrar a forma" na história da modernidade inerentemente transgressiva, rompedora de fronteiras e capaz de tudo desmoronar. Quanto aos indivíduos, porém - eles podem ser desculpados por ter deixado de notá-lo; passaram a ser confrontados por padrões e figurações que, ainda que "novas e aperfeiçoadas' eram tão duras e indomáveis como sempre (BAUMAN, 2001, p.13).

Nesse processo de derretimento dos sólidos, ou seja, das instituições, dos padrões, das gaiolas, dos nichos, das classes; evidencia-se, segundo o autor, que nenhum molde foi quebrado sem que fosse substituído por outro. Nessa modernidade líquida, os padrões e configurações não são mais dados e auto-evidentes; eles são heterogêneos, contraditórios e conflitantes. Esse processo de liquefação é perceptível nas interações entre os sujeitos que postam, curtem e compartilham nas redes sociais, cujas relações pessoais, muitas vezes, são reconfiguradas e o valor semântico de

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“amigo” é liquefeito, passando, dessa forma, a significar apenas uma conexão digital. Ampliando-se tal concepção, é inegável o impacto dessa modernidade líquida sobre as relações intersubjetivas. Segundo Bauman (2001, p. 15), estamos deixando uma era de “grupos de referência” (família, coletivos de toda ordem, sindicatos, entre outros.) e entrando em outra era nomeada de “comparação universal”. Desse modo,

[...] o destino dos trabalhos de autoconstrução individual está endêmica e incuravelmente subdeterminado, não está dado de antemão, e tende a sofrer numerosas e profundas mudanças [...]. Hoje, os padrões e configurações não são mais "dados” e menos ainda "auto-evidentes"; eles são muitos, chocando-se entre si e contradizendo-se em seus comandos conflitantes, de tal forma que todos e cada um foram desprovidos de boa parte de seus poderes de coercitivamente compelir e restringir. E eles mudaram de natureza e foram reclassificados de acordo: como itens no inventário das tarefas individuais. Em vez de preceder a política-vida e emoldurar seu curso futuro, eles devem segui-la (derivar dela), para serem formados e reformados por suas flexões e torções. Os poderes que liquefazem passaram do "sistema" para a "sociedade” da "política" para as "políticas da vida" - ou desceram do nível "macro" para o nível "micro" do convívio social (BAUMAN 2001, p. 15).

Assim, fica evidente nessa reconfiguração, a emergência de uma subjetividade marcadamente individualista, na qual o sujeito se mostra flexível, fluido e em processo permanente de adaptação. Nesse processo, até o sólido da identidade se liquefaz. Os grandes projetos coletivos são substituídos por tarefas individuais que garantem o reconhecimento desse “indivíduo” pelo seu desempenho. Guardadas as devidas ressalvas e singularidades do pensamento de cada um desses teóricos – Bauman e Han -, podemos colocar em diálogo suas concepções sobre a sociedade atual e o sujeito que nela se constitui. Assim sendo, conforme a concepção de Sociedade do Cansaço, teorizada por Byung-Chul Han (2015), e a concepção de Modernidade Líquida, pensada por Bauman, encontramos similitudes que podem nos guiar em um entendimento desse estágio da sociedade em que nos encontramos. Para Byung-Chul Han, a sociedade do século XXI é uma sociedade do desempenho. Nessa sociedade, os sujeitos se caracterizam como “sujeitos do desempenho” e de produção; se caracterizam, também, como empresários de si mesmos, senhores e soberanos de si, que se impõem uma auto-exploração cujo excesso de trabalho é imprescindível na sua constituição. O sujeito do desempenho, concebido por Han

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(2015), é multitarefa, marcado pela positividade, pelo excesso de estímulos, de informações e de impulsos.

O excesso de positividade se manifesta também como excesso de estímulos, informações e impulsos. Modifica radicalmente a estrutura e a economia da atenção. Com isso, se fragmenta e destrói a atenção. Também a crescente sobrecarga de trabalho torna necessária uma técnica específica relacionada ao tempo e à atenção, que tem efeitos novamente na estrutura da atenção (HAN, 2015, p. 32).

Portanto, esboça-se, nesses dois pensadores, um entendimento de sujeito no qual o individual se sobrepõe ao coletivo e ao social. Tanto o sujeito líquido quanto o do desempenho se mostram flexíveis e adaptáveis ao que se lhe impõe. As relações sociais são substituídas por conexões marcadas pelo provisório, pela instantaneidade, pela efemeridade da “curtida”.

Em um outro diagnóstico do mundo contemporâneo, Crary (2016), no seu livro 24/7, nos apresenta um funcionamento em curso na sociedade no qual a configuração da identidade pessoal e social foi reorganizada para se adequar à operação ininterrupta de mercados, às redes de informação e a outros sistemas. Se sempre tivemos instituições e serviços que funcionam 24 horas por dia e 7 dias na semana, tal realidade passa a impactar, inevitavelmente, o sujeito na contemporaneidade que também ele passa a “funcionar” de igual forma e o sono, na duração com a qual estávamos acostumados, passa a ser visto como desperdício e improdutividade. Para caracterizar esse tempo, eis o que Crary (2016) afirma:

O tempo 24/7 é um tempo de indiferença, ao qual a fragilidade da vida humana é cada vez mais inadequada, e onde o sono não é necessário nem inevitável. Em relação ao trabalho, torna plausível, até normal, a ideia do trabalho sem pausa, sem limites. É um tempo alinhado com as coisas inanimadas, inertes ou atemporais. Como slogan publicitário, institui a disponibilidade absoluta – e, portanto, um estado de necessidades ininterruptas, sempre encorajadas e nunca aplacadas (CRARY, 2016, p. 19).

Nessa perspectiva, as leis do comércio, dos serviços, da indústria e das instituições se pautam por uma exploração de uma mão de obra que esteja sempre disponível e se prive daquilo que possa comprometer a funcionalidade dos serviços e da produção necessária para que os lucros garantam o mercado e a circulação do

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capital. Essa lógica também integra, de certo modo, a própria constituição da plataforma Facebook, pois, nesse site de rede social, há um layout cuja finalidade é proporcionar um ambiente no qual não se perceba a passagem do tempo. Induzindo, assim, o usuário a passar a maior quantidade de tempo possível nessa rede social. Há uma máxima no mundo do marketing que diz “se você não paga pelo produto, é porque o produto é você”. Não se paga pelo acesso à plataforma, mas, na plataforma, há empresas que pagam pela divulgação dos seus produtos. Assim, é possível concluir que quanto mais usuários “perdidos” nesse espaço-tempo, maior o consumo de bens e serviços e mais capital é gerado.

O fim do sono, na perspectiva de Crary (2016), é uma das formas mais letais para o ser humano, é a desapropriação violenta do eu por forças que lhe são externas e é o aniquilamento planejado de um indivíduo. Não à toa, a privação do sono, se constitui em um dos instrumentos de tortura mais eficazes para extrair do torturado informações relevantes. Tal tortura, usada há séculos, ganhou requintes com a polícia de Stálin nos anos 30, pelas forças armadas norte-americanas com vítimas de custódia extrajudicial. Para além disso, a sociedade sob o regime 24/7, desperta no sujeito um estado permanente de necessidades nunca saciadas e sempre encorajadas pelo estímulo ao consumo ininterrupto. Já não acumulamos mais coisas, como antes. Nossos corpos e identidades, despertos e sempre disponíveis, exigem e assimilam serviços, imagens, procedimentos e produtos químicos em nível tóxico. O consumo desenfreado e sem interregno se estende para o esgotamento da natureza por meio do gasto permanente e do desperdício sem fim. Portanto, Segundo Crary,

O regime 24/7 mina paulatinamente as distinções ente dia e noite, claro e escuro, ação e repouso. É uma zona de insensibilidade, de amnésia, de tudo que impede a possibilidade de experiência. Parafraseando Maurice Blanchot, é tanto o desastre quanto a consequência do desastre, caracterizado pelo céu vazio, no qual não se vê estrela ou sinal, em que qualquer referência se perde e nenhuma orientação é possível (CRARY, 2016, p. 26).

O mundo, nessa visão, passa a ter funcionamento de shopping center, local de trabalho ininterrupto e de consumo incessante. Conceber, a partir dessas concepções, o atual estado do mundo e do sujeito que está se configurando nesse mesmo mundo, ajuda-nos a compreender as práticas discursivas dos usuários nas redes sociais, uma vez que do ponto de vista do Círculo de Bakhtin, os processos que envolvem sujeito

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e linguagem são sempre históricos, situados e marcados pela dinamicidade da história e da cultura.

Em consonância com essa perspectiva, Castells (2013) afirma que os seres humanos criam significado na interação tanto no seu ambiente natural quanto no social, pondo em conexão as suas redes neurais com as redes do mundo natural e com as redes sociais. Tal constituição de redes é construída pelo ato da comunicação, por ele entendida como processo de compartilhar significado pela troca de informação. Para a sociedade, segundo esse autor, a principal fonte da produção social de significado é o processo da comunicação socializada que se constitui para além da comunicação interpessoal.

A contínua transformação da tecnologia da comunicação na era digital amplia o alcance dos meios de comunicação para todos os domínios da vida social, numa rede que é simultaneamente global e local, genérica e personalizada num padrão em constante mudança. O processo de construção de significado caracteriza-se por um grande volume de diversidade (CASTELLS, 2013, p.15).

É inegável que as redes sociais, especificamente o Facebook, estão no cotidiano das pessoas, como bem afirma Amaral (2016)

[...] a influência das novas tecnologias nas esferas pública e privada da sociedade, mais do que uma reformulação, originou um novo campo social e interfere directamente na forma como percepcionamos o mundo, nos relacionamos com este e com os outros. (AMARAL, 2016, p.17).

No que concerne à concepção desse novo universo de sociabilização no qual esses sujeitos se constituem, Amaral concebe que:

Ainda que virtual, o ciberespaço, existe e produz efeitos. Pode ser definido como o espaço potenciado pelas Comunicações Mediadas por Computador (CMC) e assume-se como um modelo de comunicação individual, permitindo ao receptor ser simultaneamente emissor (AMARAL, 2016, p.17).

Ao afirmar que o ciberespaço pode ser definido como "espaço potenciado" pelas comunicações mediadas por computador e que ele permite que o “receptor” seja

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simultaneamente “emissor5”, fazendo-se as devidas ressalvas teóricas, pode-se

afirmar, com base na citação acima, que o ciberespaço é constitutivamente dialógico, tendo em vista que há interação entre os interlocutores e, inevitavelmente, há embates dialógicos.

Assim, buscamos sistematizar conhecimento sobre as práticas de linguagem que se dão nesse espaço sociodiscursivo a partir da concepção de cronotopo virtual6.

As novas interações construídas e constituídas pela/na internet geram novas relações sociais, novos padrões de relacionamento com o outro e com o mundo, posicionamentos ideológicos, valorados e situados axiologicamente.

Para melhor compreender tais práticas discursivas, necessário se faz refletir sobre um tempo-espaço característico dessa rede social digital denominada Facebook. Para tanto, nos valemos da concepção bakhtiniana de cronotopo que pressupõe sujeitos, interação e práticas discursivas situadas e historicamente marcadas. Sobre redes sociais em uma perspectiva histórica, abordaremos na subseção a seguir.

2.1 As redes sociais em perspectiva histórica

As redes sociais sempre existiram. As sociedades, em diferentes tempos e espaços, sempre viveram em rede ou em redes. As pessoas sempre participaram de redes as mais diversas: família, trabalho, grupo de amigos, associações de várias espécies, comunidades de diferentes configurações e com práticas as mais diversas. Em sendo assim, as redes sociais não surgiram ou foram inventadas apenas nessa modernidade líquida. O que há de “novo” é o surgimento das redes sociais mediadas por computadores e/ou outros dispositivos eletrônicos. Desse modo, o conceito de rede social não é novo, o avanço tecnológico ocasionou um aumento significativo do efeito de rede. Desde a década de 60, já havia conjecturas de como seriam as redes sociais no que, hoje, concebemos como ciberespaço.

5 Os termos “emissor” e “receptor” são constitutivos da teoria da comunicação e dizem respeito a um fluxo de troca de informações nos quais os sujeitos emitem e decodificam mensagens, evidenciando, dessa forma, a atividade de um e a passividade do outro.

6 A discussão sobre cronotopo virtual será verticalizada em seção dedicada a esse conceito. Nessa seção, assumiremos nosso aporte teórico e discorreremos sobre os desafios de operar com essa concepção na contemporaneidade.

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O ensaio “The Computer as a communication device”, escrito por Licklider e Taylor (1968), previa, de certo modo, tanto os avanços na tecnologia da comunicação quanto a configuração das comunidades interativas on-line. Nesse ensaio, após a indagação de como seriam essas comunidades, os autores afirmaram que essas comunidades on-line teriam membros geograficamente separados, por vezes agrupados em pequenos grupos; em outras, trabalhando individualmente. Assim, elas não seriam de localização comum, mas sim de interesses comuns. Dado o exposto, é possível inferir que esse ensaio, ao abordar como se daria a configuração das possíveis comunidades on-line interativas, preconizou o conceito de redes sociais digitais ao afirmar que não nos restringiríamos a trocar apenas cartas ou telegramas, mas, com o passar do tempo e o avanço da internet, seria necessário apenas identificar as pessoas cujos arquivos deveriam ser ligados aos nossos (FELDMANN, 2011).

A internet, tal como a conhecemos hoje, nem sempre apresentou essa configuração. Criada durante a Guerra fria, com fins militares, e depois estendida às universidades americanas, com fins científicos, a internet, antes intitulada ARPANET, desenvolveu-se rapidamente. Após a ARPANET, (concebida pelo cientista Robert Taylor, um dos principais desenvolvedores por trás das redes de computadores que deram origem ao complexo sistema que hoje é tão indispensável.) surgiu a Usenet, o primeiro serviço na internet que conquistou um número expressivo de usuários não técnicos. Iniciada em 1979, a Usenet permitia que as pessoas enviassem mensagens a grupos dedicados a temas específicos. Em 1985, Stewart Brand, Larry Brilliant e alguns outros lançaram em São Francisco um “quadro de avisos eletrônico” chamado The Whole Earth ‘Lectronic Link, também conhecido pelas iniciais “Well”. Desse modo, Rheingold (1987), delineia que uma comunidade virtual é

[...] um grupo de pessoas que podem ou não se encontrar face a face, e que trocam palavras e ideias através da mediação de quadros de avisos e redes de computadores. Como qualquer outra comunidade, também é uma coleção de pessoas que aderem a um determinado contrato social (solto) e que compartilham certos interesses (ecléticos). Geralmente, ele tem um foco geograficamente local e geralmente tem uma conexão com um domínio muito mais amplo. O foco local da minha comunidade virtual, a Lectronic Link da The Whole Earth (também conhecida como "The WELL") é a Área da Baía de São Francisco, o locus Wider consiste em dezenas de milhares de outros sites em todo o mundo e centenas de milhares de outros comunitaristas, ligada por meio de trocas de mensagens em uma

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meta-comunidade conhecida como Usenet (RHEINGOLD, 1987, p.3, tradução nossa)7.

Em 1989, a criação do protocolo WWW (World Wide Web) permitiu o desenvolvimento de interfaces (sites) integrando textos, imagens, sons e ligações (links) com outras interfaces. Tais recursos, apesar de poderosos e revolucionários, à época, eram restritos a alguns pesquisadores no mundo. Assim, somente a partir da década de 90, com a criação e a disseminação de mecanismos de navegação na rede (browsers como o Mosaic, o Netscape e o Explorer), a internet popularizou-se no mundo, integrando serviços como o correio eletrônico, as listas de discussão, o comércio eletrônico etc. Conforme Kirkpatrick (2011),

[...] as pessoas comuns começaram a usar o correio eletrônico, também adotando endereços que não correspondiam aos seus verdadeiros nomes. Embora mantivessem listas de endereços de e-mail dentro desses serviços, os membros não identificavam seus amigos da vida real nem estabeleciam vias de comunicação regular com eles. Perto do final da década, os serviços de mensagens instantâneas tomaram o mesmo caminho – as pessoas usavam pseudônimos, não seus nomes reais (KIRKPATRICK, 2011, p.78).

Ainda na década de 90, a concepção do que constituiria uma comunidade

on-line foi se adaptando aos novos tempos. Tais mudanças permitiam aos usuários, por

exemplo, configurar uma página pessoal e, em alguns casos, ligá-la a páginas criadas por outros membros. Como o TheGlobe.com, Geocities e Tripod. Ainda na década de 90, surge a Six Degrees, considerada a primeira rede social moderna8 (BOYD,

ELISSON, 2007). Referente ao conceito de rede social nos ancoramos em Recuero que a define como

[...] um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, intuições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços

7 A virtual community is a group of people who may or may not meet one another face to face, and who exchange words and ideas through the mediation of computer bulletin boards and networks. Like any other community, it is also a collection of people who adhere to a certain (loose) social contract, and who share certain (eclectic) interests. It usually has a geographically local focus, and often has a connection to a much wider domain. The local focus of my virtual community, The Whole Earth 'Lectronic Link (aka "The WELL') is the San Francisco Bay Area; the Wider locus consists of tens of thousands of other sites around the world, and hundreds of thousands of other Communitarians, linked via exchanges of messages into a meta-Community known as the Usenet. (RHEINGOLD, 1987, p.3)

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sociais) (Wassermen e Faust, 1994; Degenne e Forse, 1999). Uma rede, assim, é uma metáfora para observar padrões de conexão e um grupo social, a partir das conexões estabelecidas entre os diversos atores. A abordagem de rede tem, assim, seu foco na estrutura social, onde não é possível isolar os atores sociais e nem suas conexões (RECUERO, 2009, p. 24).

Para ampliar a discussão, faz-se necessário apresentar o conceito do que pode ser considerado um site de rede social. Para Boyd; Elisson (2007), sites de redes sociais são

[...] serviços prestados na web que permitem aos usuários: (1) construir um perfil público ou semi-público dentro de um sistema limitado, (2) integrar-se a uma lista de outros usuários com os quais compartilham uma conexão, e (3) ver e percorrer suas listas de conexões e aquelas feitas por outras pessoas dentro do sistema. A natureza e a nomenclatura dessas conexões podem variar entre os sites (BOYD; ELISSON, 2007, p. 2, tradução nossa)9.

Assim sendo, o que torna os sites de redes sociais únicos não é a possibilidade de conhecer novas pessoas, mas sim, de permitir que os usuários articulem e tornem públicas suas redes socais. A rede social sixdegrees.com foi, de fato, pioneira no sentido de tentar identificar e mapear um conjunto de relações reais entre pessoas reais, que usavam seus nomes reais. Contudo, a rede social em questão chegou “cedo demais” na rede. Já que, na década de 90, a internet era discada e isso a tornava lenta, dificultando, assim, a interação entre seus usuários (KIRKPATRICK, 2011).

Dumbill (apud FELDMANN, 2011) ao discutir sobre a era das redes sociais, esclarece que os atributos constitutivos das redes sociais são importantes para os usuários de computadores. O autor afirma que os sujeitos gostam de identificar, compartilhar, e encontrar seus amigos, colegas de trabalho, família, celebridades nesse ambiente. Desse modo, Dumbill elenca os cinco principais atributos dos

softwares sociais, que são: I – Identificação do usuário (os sujeitos são autenticados

e suas informações armazenadas); II - Compartilhamento (direito de acesso sobre o

9We define social network sites as web-based services that allow individuals to (1) construct a public or semi-public profile within a bounded system, (2) articulate a list of other users with whom they share a connection, and (3) view and traverse their list of connections and those made by others within the system. The nature and nomenclature of these connections may vary from site to site. (BOYD; ELISSON, 2007, p. 2)

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conteúdo armazenado); III - Notificação (os usuários são informados sobre mudanças de conteúdo, incluindo seus contatos); IV – Comentário (possibilidade de comentar acerca dos conteúdos); V – Comunicação (interação direta entre membros do sistema).

Por fim, corroboramos o pensamento de Santaella (2014) que enfatiza o fato de que para compreender os efeitos culturais das redes sociais na internet é necessário compreender sua complexidade, principalmente, o processo histórico de sua construção e constituição. Nessa perspectiva, a autora apresenta os seguintes autores que já abordaram os efeitos culturais nas redes sociais, tais como: Lévy (1994), que tratou da “inteligência coletiva”; Santaella e Lemos (2010), que discutiram a “interação multimodal; Castells (1999), que problematizou a “intemporalidade” e a “vitualidade real”; Recuero (2009, 2012), que pesquisou sobre “topologias e dinâmicas”; Lemos (2007) que investigou a “mídia pós-massiva” e Jenkins (2008) que enfocou “a concepção de convergência midiática”. Quer pensada como modernidade líquida (BAUMAN, 2001); quer concebida como hipermodernidade (LIPOVETSKY, 2004; CHARLES, 2009), o atual estágio social deixa ver a radicalização da modernidade (ROJO; BARBOSA, 2015). Tal radicalização reverbera para novas formas de ser, para novos comportamentos, novas interações discursivas, novos relacionamentos pautados na “conexão”, para novas tecnologias, para novos textos, para novas linguagens e para novos e inúmeros gêneros discursivos. Sobre uma das mais radicais e populares plataformas na qual os sujeitos engendram novas formas de ser e de estar no mundo, trataremos na próxima subseção.

2.2 Explorando a rede: desvendando o Facebook

Embora o Facebook não tenha sido concebido como um instrumento político, logo no início seus criadores perceberam que havia ali um potencial peculiar. [...] Desde o início as pessoas perceberam intuitivamente que, se aquilo pretendia lhes oferecer uma forma de expressar on-line sua verdadeira identidade, então suas opiniões e paixões sobre as questões do momento eram um elemento dessa identidade.

David Kirkpatrick

Tendo em vista que a historicidade é inerente à pesquisa na vertente aqui assumida, é de grande relevância que se tenha uma visão mais detalhada sobre a

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concepção do Facebook, já que é nessa rede social digital10 que se dá a construção

do nosso corpus. Para isso, faremos, nessa subseção, uma síntese da história do Facebook. Primeiramente, abordaremos o contexto histórico que antecede sua criação, em seguida, enfocaremos tanto o seu desenvolvimento inicial, enquanto software, quanto os recursos atuais e suas implicações.

2.2.1 Contexto histórico prévio

Frazão (2016) apresenta, de modo breve, no site ebiografia.com, um texto sobre a trajetória de vida de Mark Zuckerberg, cofundador e CEO do Facebook. A autora relata que Zuckerberg nasceu em White Plains, Condado de Westchester no Estado de Nova Iorque, no dia 14 de maio de 1984, filho do dentista Edward Zuckerberg e da psiquiatra Karen Kempner e que, desde criança, mostrava interesse por computadores. Segundo a autora, o CEO do Facebook estudou na Ardsley Hight School, entre 1998 e 2000, instituição na qual se destacou em artes e culturas clássicas. Além disso, Zuckerberg já aprendia Programação Básica com o desenvolvedor de software David Newman e ingressou no Mercy College, onde se graduou em programação.

Frazão (2016) afirma que durante o curso no Mercy College, Zuckerberg desenvolveu um programa de mensagens que denominou “ZuckNet”, tal programa possibilitava a comunicação entre todos os computadores de sua casa e também os do consultório dentário do seu pai. Após deixar a Hight Scool, Mark ingressou na Phillips Exeter Academy. Em 2001, com 17 anos, em um projeto escolar, ele criou um software, capaz de rastrear as preferências musicais dos usuários on-line, que denominou “Synapse Media Player”.

Segundo a autora, o Synapse chamou a atenção de diversas empresas, entre elas estava a Microsoft que, além de propor uma quantia milionária pelo programa, também queria contratá-lo, mas Zuckerberg recusou ambas as propostas. Por fim, em 2002, ingressou na Universidade de Harvard.

Quando estava cursando o seu segundo ano, em Harvard, Zuckerberg levou um quadro branco para o alojamento no qual estavam instalados ele e mais três

10 Primeiramente, Recuero (2009) o denomina de site de rede social, posteriormente, Correia e Moreira (2014) assim como Maia (2017) optam pelo termo rede social digital. Neste trabalho, assumimos a flutuação dos termos e nos reportaremos a partir daqui ao Facebook como “rede social digital”.

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estudantes e, em seguida, começou a traçar um software cuja finalidade principal era auxiliar os demais colegas a escolherem suas próximas matérias tendo como principal critério as escolhas feita por outros graduandos.

Em setembro de 2003, quando estava no segundo ano da universidade, Mark Zuckerberg chegou ao seu quarto na Kirkland House de Harvard arrastando um "quadro-branco" de quase 2,5 metros de comprimento, a ferramenta perfeita utilizada pelos nerds da informática para dar vazão irrestrita às suas ideias. O quadro era grande e pesado, como algumas das ideias que ele iria delinear ali. No apartamento no qual viviam quatro estudantes, havia apenas uma parede onde poderia caber o quadro: a do corredor, a caminho dos quartos (KIRKPATRICK, 2011, p. 28).

O software criado de improviso por Zuckerberg, logo na primeira semana após a aquisição do quadro branco, foi chamado de "Course Match". O "Course Match" foi definido por Zuckerberg (KIRKPATRICK, 2011) como um projeto bastante inocente, que ele fez apenas por diversão, cuja ideia principal era ajudar os alunos a escolherem as matérias que iriam cursar no semestre seguinte com base em quem estivesse matriculado nos cursos.

Segundo Kirkpatrick (2011), Zuckerberg se entusiasmou com o inesperado sucesso do Course Match e decidiu experimentar outras ideias. Em outubro de 2003, o CEO do Facebook criou o “Facemash” em uma jornada ininterrupta de oito horas, empregando o tipo de código de computador normalmente usado para classificar jogadores de xadrez. O propósito do programa era descobrir quem era a pessoa mais atraente do campus e, para isso, ele convidou os usuários a compararem duas fotos de pessoas do mesmo sexo e dizer qual era a mais atraente, em seguida, à medida que a classificação de uma pessoa ia fazendo sucesso, sua foto era comparada com as de outras cada vez mais “sexies”. Para o autor, a comunidade de Harvard teve o primeiro vislumbre do lado rebelde e irreverente de Zuckerberg a partir desse episódio. Ainda em 2003,

Zuckerberg fez um curso de matemática sobre grafos (ramo da matemática que estuda relações entre os objetos de determinado conjunto). No final do semestre, a turma toda saiu para jantar, e eles acabaram falando sobre a necessidade de um "facebook universal". um (KIRKPATRICK 2011, p.36).

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Kirkpatrick (2011) relata que durante recesso de fim de ano, Zuckerberg, empolgado com a conversa que teve com a turma no final do semestre, aprofundou-se na codificação do projeto que viria a aprofundou-ser o “The Facebook”. Zuckerberg, em 11 de janeiro de 2004, pagou 35 dólares para registrar na Register.com o endereço “Thefacebook.com” por um ano. O site que Mark estava construindo tinha em essência algumas ideias dos seus projetos anteriores tais como o “Course Match” e o “Facemash”. Além desses programas, Zuckerberg também fez uso das ideias de um site chamado Friendster (uma rede social que convidava as pessoas a criarem um "perfil" de si mesmas, com dados sobre passatempos, gostos musicais e outras informações pessoais) do qual ele fazia parte.

2.2.2 Gênese do “TheFacebook”

"Nosso projeto foi posto em ação como uma maneira de ajudar as pessoas a compartilhar mais coisas em Harvard", diz Zuckerberg, "de modo que pudessem ter uma visão mais ampla do que estava acontecendo na faculdade. Eu queria fazer isso para poder ter acesso a informações sobre qualquer pessoa e para que qualquer um pudesse compartilhar tudo do o que quisesse." (KIRKPATRICK, 2011, p.36).

Mark Zuckerberg estava disposto a criar um diretório confiável com base em informações reais sobre os alunos de Harvard no qual pudesse vivenciar esse modo de partilha mencionado na citação que abre essa subseção. Essa visão simples tornou-se o conceito central do que viria a ser o “Thefacebook”. Para construir o “Thefacebook”, Zuckerberg tomou como base algumas ideias de programas criados por ele anteriormente, um desses softwares foi o “Facemash”. Um dos principais entraves do “Facemash” tinha relação direta com questões de privacidade e, por tabela, com questões legais que poderia haver ao se carregar informações de outrem. Como solução para essa questão, Zuckerberg teve o insight de deixar que os próprios usuários carregassem suas próprias informações. Parte desse insight, ele deve ao editorial do Crimsom sobre o Facemash que escreveu: “‘Muitos dos problemas em torno do Facemash poderiam ter sido eliminados’, [...], ‘se o site tivesse se limitado a estudantes que voluntariamente fornecessem suas próprias fotos’” (KIRKPATRICK, 2011, p. 36).

Referências

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