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5 STALKEANDO: ANÁLISE DIALÓGICA DOS ENUNCIADOS

5.3 Seguindo pistas e indícios dos enunciados

E1

Figura 2 – print de um post da página Movimento Endireita Brasil

Fonte: https://www.facebook.com/endireitabrasil/. Acesso em: 30.set.2017

O E1 é um post publicado na fanpage “Movimento Endireita Brasil”, cuja data de publicação é 3 de dezembro de 2015. O post é constituído por elementos verbais e não verbais. No que diz respeito aos elementos não verbais presentes no post, em

questão, podemos visualizar no canto superior esquerdo de E1, o espaço destinado ao upload de imagens. Tais imagens, geralmente, carregam signicamente a marca identitária da página. Note-se que, neste espaço, poderia ter-se postado toda a bandeira do Brasil, contudo, há a presença apenas de um lado da bandeira do Brasil, no qual foram adicionadas as inicias da página “M.E.B” (como uma espécie de carimbo que atesta a apropriação do símbolo), o lado direito. Tal enquadramento já denuncia o posicionamento ideológico presente na página. Ao enquadrar apenas o lado direito da bandeira é possível a leitura de que a página “flerta” com valores inerentes à ideologia de direita. A ausência do lado esquerdo da bandeira brasileira, funciona signicamente, pois remete a exclusão de uma parcela da população cujos valores vão de encontro aos assumidos pela página. Confirma-se, assim, o signo funcionando ideologicamente ao refratar valores, ao enquadrar imagens, criando, assim, um novo fundo dialógico para bandeira brasileira.

Outra leitura possível é que, ao recortar o lado direito da bandeira, a imagem final corresponde, iconicamente, à imagem do botão “play” que remete a prosseguimento, a avanço, a seguir em frente. Ainda em relação aos elementos não verbais presentes no E1, temos, centralizado, o vídeo do discurso do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) na câmara dos deputados, discursando a favor do impeachment do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Esclarecemos que não constitui nosso trabalho a análise do vídeo, dado o recorte da pesquisa e os objetivos elencados. Dito isso, passemos à análise do post em foco. Na parte inferior do E1, temos os ícones das “reações” que, até o ultimo acesso, totalizaram mais de 2 mil e duzentas. Por fim, há no topo do E1, centralizado, o título da página e, em seguida, a ação realizada por ela, no caso, o compartilhamento de um vídeo postado, anteriormente, pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).

No que concerne ao texto verbal, temos duas partes: a primeira, que integra o compartilhamento do post, feito pelo deputado Carlos Sampaio, enuncia:

“Amigos, os petistas cínicos e prepotentes, que hoje criticam a oposição ao pedir o impeachment da Dilma, pediram, em 1999, sem qualquer fundamentação jurídica, o afastamento do FHC! Vejam as falas desses deputados caras de pau (alguns estão presos) à época em que pediram a saída do presidente!!!”. #carlossampaio

No enunciado, em destaque, temos evidenciado, por meio de escolhas lexicais, o posicionamento do deputado do PSDB em relação tanto à legalidade do processo de impeachment quanto à imagem dos que afirmam que esse processo seria um golpe, no caso, os deputados filiados ao PT. O autor do enunciado, ao fazer uso do vocativo “Amigos”, intenta criar uma proximidade com o interlocutor da sua postagem. Ainda no enunciado destacado, há uma valoração negativa em relação à imagem dos parlamentares do PT, como fica evidenciado nos trechos: “os petistas cínicos e prepotentes” e “desses deputados caras de pau”. O uso do artigo definido “os”, como o adjunto adnominal do substantivo “petistas”, evidencia, considerando que a função do adjunto adnominal é caracterizar e determinar “um nome”, uma generalização que engloba todos os petistas o que não ocorreria se ele fizesse uso, por exemplo, do artigo indefinido “uns”, que não carrega, semanticamente, a ideia de totalidade, mas sim de uma parte. As adjetivações “cínicos”, “prepotentes” e “caras de pau”, por sua vez, explicitam o julgamento do autor em relação à postura desses parlamentares que, dado o exposto, são incoerentes e agem de acordo com seus próprios interesses. O reenquadramento intencional do vídeo cria um novo fundo dialógico e ratifica o posicionamento do autor.

Por fim, há uma informação dada entre parênteses. Sabemos que o uso desse sinal de pontuação tem a finalidade de intercalar e acrescentar ao texto uma informação acessória e dispensável. Contudo, seu uso, nesse enunciado em foco, extrapola essa função dando destaque a uma informação que se mostra fundamental para a construção da imagem negativa dos parlamentares do PT, ou seja, mais do que “cínicos”, “prepotentes” e “caras de pau” são criminosos.

A segunda parte, no que concerne à linguagem verbal presente no E1, é composta por um texto cuja autoria é da própria página, em consonância com o texto compartilhado do deputado PSDBista, Carlos Sampaio:

“Impeachment é golpe!!!! Engole o choro PTzada hipócrita. 1999: Dirceu e Chinaglia pedindo impeachment do presidente. #acabou #forapt #pt #lula #esquerda #Hipocrisia”.

No trecho “Impeachment é golpe!!!!”, constata-se uma relação dialógica com o discurso repetitivo da esquerda de que o impeachment seria um golpe. A presença do discurso bivocal (BAKHTIN, 2015), nesse trecho, é enfatizado pelo recurso estilístico

de quadruplicar o uso do sinal de exclamação. Tal recurso pode ser inferido como uma referência direta ao discurso repetido, à exaustão, pelos parlamentares que apoiavam o governo da presidente Dilma Rousseff. Tal bivocalidade é confirmada pelo trecho “Engole o choro PTzada hipócrita” que polemiza abertamente com o excerto anterior. No texto reenquadrado, de Carlos Sampaio, há a informação de que em 1999, também sem fundamentação jurídica, os parlamentares do PT pediram o afastamento do então presidente Fernando Henrique Cardoso e à época, para eles, não seria um golpe. A valoração da postura desses parlamentares é confirmada pelo vocativo (não marcado por vírgula) “PTzada hipócrita”.

Dado o exposto, podemos inferir que a junção intencional do sufixo “zada” à sigla do Partido dos Trabalhadores (PT) constrói uma valoração negativa. “Ada”, segundo a gramática normativa, é um sufixo que tem valor semântico de grupo ou aglomeração. Geralmente, é utilizado para formar palavras indicando ideia de conjunto, medida ou ação; também, pode ser empregado para formar palavras que denotem filiação e/ou descendência. No entanto, dada a historicidade dos signos, na perspectiva do Círculo de Bakhtin (VOLÓCHINOV, 2017), observamos que, nessa palavra, o sufixo se carrega de valor negativo e o sentido que remeteria a grupo/filiação é substituído pelo sentido de bando cujo valor semântico é de ajuntamento de pessoas, de animais, de integrantes de um partido ou de uma facção. Coadunando com a análise feita, o adjetivo “hipócrita”, ao valorar negativamente os petistas, confirma o posicionamento da página que polemiza, abertamente, com o discurso defendido/revozeado pelos integrantes do PT.

E2

Figura 3 – print de um post da fanpage Verdade sem manipulação

Fonte: https://www.facebook.com/VerdadeSemManipulacao/. Acesso em: 30.set.2017

O E2 é um post publicado na fanpage “Verdade sem manipulação”, cuja data de publicação é 4 de dezembro de 2015. O post é constituído por elementos verbais e não verbais. No que diz respeito aos elementos não verbais presentes no post, em

questão, podemos visualizar no canto superior esquerdo do E2, o espaço destinado ao upload de imagens. Tais imagens, como já dissemos, anteriormente, carregam signicamente a marca identitária da página. Observe-se que, nesse espaço, a imagem presente também se apropria das cores verde e amarelo que integram a bandeira brasileira. É possível inferir que, ao também se apropriar das cores que simbolizam o patriotismo, a fanpage, intencionalmente, tenta passar a imagem de que a esquerda também é patriota tanto quanto a direita. objetiva propagar a ideia de que patriotismo não constitui a identidade, somente, dos adeptos da direita, mas, sim, de todos os brasileiros, independente do seu posicionamento político. Além das cores, outro elemento presente são as formas geométricas. Centralizado em um fundo verde, temos um círculo amarelo e nele se destaca um texto verbal com um posicionamento político veemente e em primeira pessoa “Meu voto é contra o PSDB”. Ao atentarmos para a composição dessa imagem, percebe-se a centralidade do texto verbal no círculo. Ao fazer uso intencional dessa composição, a página põe o texto em foco. Uma leitura possível dessa centralidade é a de que a página visa, objetiva, tenciona combater o PSDB e, assim, tudo o que ele representa.

Tendo em vista a concepção de enunciado como elo na cadeia discursiva (BAKHTIN, 2016), o enunciado “Meu voto é contra o PSDB” evoca um lema de militância política que objetiva construir uma adesão à causa. Um dos recursos utilizados, para isso, é o uso da primeira pessoa do singular que gera sensação de pertencimento no sujeito que é exposto a esse lema.

Ainda em relação aos elementos não verbais presentes no E2, temos, centralizada, a imagem da presidente Dilma Rousseff. Tendo em foco a historicidade que é constitutiva de todo signo, procuramos recuperar sua trajetória de circulação. A imagem destacada, no centro do enunciado, cuja autora é Stephane Lavoue/ Pasco, foi publicada no portal da revista TIME em 21 de abril de 2011. A revista Época também fez uso da imagem em capa, na edição publicada em 28 de maio de 2011, como chamada para a reportagem exclusiva sobre a saúde de Dilma (à época enfrentando o diagnóstico de um câncer).

Essa capa foi objeto de crítica por alguns que interpretaram a composição da imagem (Dilma ao centro emoldurada por um fundo negro) como representação de morbidez. Contudo, ao ser reenquadrada no post, sob novo ângulo dialógico, a mesma imagem, antes relacionada à morbidez, agora ganha outra valoração. A forma composicional do post não permite que a imagem tome conta de todo o E2, pois a

diagramação do post, no Facebook, possui uma estrutura pré-determinada na qual a imagem compartilhada, vem emoldurada por um fundo claro. Desse modo, o fundo negro é restringido, não predominando mais, servindo de recurso para dar destaque tanto à imagem de Dilma Rousseff quando ao texto adicionado, posteriormente, a essa imagem. Cercada por palavras, nas cores branca e vermelha, a fisionomia, da então presidente, pode ser interpretada como uma expressão serena e tranquila como se as palavras que a cercam funcionassem como proteção e amparo. Vale ressaltar que as cores branco e vermelho são cores identitárias do Partido dos Trabalhadores, logo, é possível reconhecer a voz que ressoa o posicionamento desse partido.

Na parte inferior do E2, temos os ícones das “reações” que, até o ultimo acesso, totalizaram mais de 3 mil e quatrocentas. Por fim, há no topo do E2, centralizado, o título da página e, em seguida, a ação realizada por ela, no caso, o compartilhamento da “foto”, postada, anteriormente, pela fanpage “PeTistas de Coracão”. No que concerne ao texto verbal, temos o texto, abaixo reproduzido, repetido três vezes.

“Nada justifica o impeachment! Não há provas nem argumentos contra Dilma, apenas o sentimento de ódio dos antipetistas.”

No enunciado, em destaque, temos evidenciado, por meio de escolhas lexicais, o posicionamento da página em relação tanto à legalidade do processo de impeachment quanto às suas motivações. Em polêmica aberta, o enunciado é construído por palavras (no sentido que o Círculo de Bakhtin as compreende) que confrontam o discurso alheio. Com marcas claras de pressupostos (dado que são materialmente visíveis no enunciado), o enunciado nega algo dito anteriormente, afirmado pela direita. Em “Nada justifica o impeachment”, a palavra “nada” refuta, confronta, nega o discurso defendido pela direita de que o impeachment seria justificado. No E1, analisado anteriormente, um dos argumentos usados para defender a legalidade do impeachment, foi o vídeo no qual aparecem dois deputados do PT, quando lhes era conveniente, defendendo o afastamento de FHC, em evidente postura hipócrita, como avalia o deputado (PSDBista) Carlos Sampaio. No embate dialógico com essa perspectiva, o enunciado “Nada justifica o impeachment”,

polemiza abertamente com qualquer ponto de vista contrário; até o do deputado Carlos Sampaio no E1. Em “Não há provas nem argumentos contra Dilma”, a polêmica aberta se materializa por meio do uso das palavras “não” e “nem” que marca um “já dito” de que existiriam provas e argumentos para a instauração do processo de impeachment. Pois de acordo com Bakhtin (2015):

Duas palavras de igual peso sobre o mesmo tema, desde que estejam juntas, devem orientar inevitavelmente uma à outra. Dois sentidos materializados não podem estar lado a lado como dois objetos: devem tocar-se internamente, ou seja, entrar em relação semântica (BAKHTIN, 2015, p. 216).

Por fim, em “apenas o sentimento de ódio dos antipetistas”, o uso do operador argumentativo “apenas” introduz o que seria o argumento conclusivo, definitivo e, semanticamente, restritivo de que todo o processo tem no cerne, não uma base racional e jurídica, mas, sim, uma base emocional que se fundamenta no sentimento de ódio dos antipetistas. Tendo em vista, a arena discursiva que constitui a rede social digital, na qual construímos nosso corpus, é inegável que há responsividade nos dois enunciados analisados, um dos indícios (GINZBURG, 1989), além de ser uma rede, é a data das postagens. As adjetivações “cínicos”, “prepotentes”, “caras de pau” e “PTzada hipócrita”, presentes no E1, por sua vez, podem configurar o sentimento de ódio aludido pelo E2.

E1 e E2

Figura 4

Com a análise feita, conclui-se que na arena discursiva, constitutiva das práticas de linguagem na rede social digital, Facebook, o tema “legalidade do impeachment” é colocado sob diversos ângulos dialógicos. Os embates acerca da “legalidade do impeachment” evidenciam dois centros de valor que avaliam/julgam/polemizam axiologicamente. Para isso, fazem uso dos recursos ideológicos do universo dos signos (VOLÓCHINOV, 2017) seja, postando, compartilhando, revozeando, reenquadrando imagens e palavras, em uma luta encarniçada (BAKHTIN, 2015) com o discurso alheio, nessa arena discursiva, como evidencia nossa análise.

E3

Figura 5: print de um post da fanpage Verdade sem manipulação

Fonte: https://www.facebook.com/VerdadeSemManipulacao/. Acesso em: 22.mai.2017

O E3 é um post publicado na fanpage “Verdade sem manipulação”, cuja data é de 31 de março de 2016. O post é constituído por elementos verbais e não verbais. No que diz respeito aos elementos não verbais presentes no post, em questão, temos, no canto superior esquerdo, o espaço destinado à marca identitária da página já, anteriormente, analisada; na parte inferior do enunciado, temos os ícones das “reações” que, até o ultimo acesso, totalizaram mais de 1 mil e duzentas.

Ainda em relação aos elementos não verbais presentes no enunciado, há uma imagem centralizada, resultado do compartilhamento publicado, anteriormente, no portal 247, na qual aparecem à esquerda Dilma Rousseff (falando ao microfone), à

direita o Ministro Marco Aurélio Mello (também ao microfone) e, ao centro uma página do Jornal “O Globo” com uma manchete ampliada. A composição dessa imagem sugere, nos dá pistas, que tanto a presidente Dilma Rousseff quanto o ministro Marco Aurélio estão no embate discursivo com o enunciado presente na folha do jornal.

Colocados esses enunciados sob as lentes da concepção do Círculo de Bakhtin, percebemos que há uma cadeia discursiva dialógica no E3, confirmando, assim, as concepções de Bakhtin (2016), quanto às relações construídas dialogicamente entre enunciados:

Os enunciados não são indiferentes entre si nem se bastam cada a um a si mesmos; uns conhecem os outros e se refletem mutuamente uns nos outros. [...] Todo enunciado é pleno de ecos e ressonâncias de outros enunciados com os quais está ligado pela identidade da esfera de comunicação discursiva. Todo enunciado deve ser visto antes de tudo como uma resposta aos enunciados precedentes de um determinado campo (aqui concebemos a palavra “resposta” no sentido mais amplo): ela os rejeita, confirma, completa, baseia-se neles, subentende-os, de certo modo os leva em conta (BAKHTIN, 2016, p. 57. Grifos do autor.).

Dessa forma, os enunciados presentes no E3, não são indiferentes entre si e se constituem como resposta uns aos outros. Percebemos, nessa arena discursiva, uma luta com a palavra alheia na qual há movimentos tanto de concordância quanto de embate.

No que concerne ao texto verbal, temos três trechos. O primeiro deles integra a imagem centralizada no E3:

Sobram crimes, diz autora de pedido de impeachment

O segundo integra o compartilhamento, mas não está na imagem, e sim abaixo dela:

Globo perdeu a batalha da comunicação: é golpe

Campanha de manipulação preparada pela Globo para tentar provar que "impeachment não é golpe por estar previsto na Constituição" fracassou; na noite de ontem, Jornal Nacional teve de exibir uma fala contundente da presidente...

E o terceiro trecho apresenta o texto do segundo mais desenvolvido.

Globo perdeu a batalha da comunicação: é golpe

Campanha de manipulação preparada pela Globo para tentar provar que "impeachment não é golpe por estar previsto na Constituição" fracassou; na noite de ontem, Jornal Nacional teve de exibir uma fala contundente da presidente Dilma Rousseff em que ela demonstra que um impeachment sem crime de responsabilidade não merece outro nome, a não ser golpe – o que também foi dito pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal; sem argumentos, restou à Globo tentar provar a validade da tese da advogada Janaina Paschoal, convertida em "jurista" pelos Marinho, de que "pedaladas fiscais" que ainda nem foram apreciadas pelo Congresso Nacional são motivos suficientes para afastar um presidente; nesse debate, a Globo também será derrotada

No último trecho em destaque, temos evidenciado o posicionamento da página que, ao repostar o parágrafo completo do texto compartilhado sem alterá-lo ou fazer uso de bivocalidade, se alinha, axiologicamente, ao posicionamento assumido pelo portal 247. Entretanto, por meio de escolhas lexicais e uso de aspas, dialogicamente utilizadas, o último trecho polemiza abertamente com “Sobram crimes, diz autora de pedido de impeachment”.

No trecho “Globo perdeu a batalha da comunicação: é golpe”, o verbo “perder” indica o pressuposto de que tanto havia uma batalha (da comunicação) quanto esta era comandada pela Globo. A afirmação, peremptória, “é golpe” explicita a polêmica aberta com a atuação da Globo em possível afirmação de que o impeachment não seria golpe.

No desenvolvimento do texto, a atuação da Globo foi valorada, negativamente, como evidenciam os fragmentos “campanha de manipulação”, “sem argumentos, restou à Globo tentar provar a validade da tese [...] convertida em ‘jurista’ pelos Marinho”. Por fim, no trecho,

“Globo tentar provar a validade da tese da advogada [...], convertida em ‘jurista’ [...], de que ‘pedaladas fiscais’ que ainda nem foram apreciadas pelo Congresso [...] são motivos suficientes para afastar um presidente”. (Grifos nossos).

Dadas as escolhas lexicais presentes nesse recorte, como também o uso das aspas (marcação autonímica, cuja finalidade é marcar que o autor não se responsabiliza por essas palavras, e, ainda, as coloca sob um ponto de vista crítico) é possível afirmar que, para a página, não há crimes; o que há é uma campanha de manipulação na qual se tenta imputar crimes à presidente em exercício.

E4

Figura 6: print de uma publicação da página Movimento Endireita Brasil

O E4 é um post publicado na fanpage “Movimento Endireita Brasil”, cuja data é de 12 de abril de 2016. O post é constituído por elementos verbais e não verbais. No que diz respeito aos elementos não verbais, presentes no post, há a marca identitária da fanpage e as cores presentes na imagem centralizada em formato de template24.

Temos, ainda, os ícones das “reações” que, até o ultimo acesso, totalizaram 390. As cores presentes no template são: Azul (claro e escuro), vermelho, laranja e branco. Temos, como plano de fundo de todo o template, a cor azul-escuro, e, como plano de fundo dos boxes, a cor azul-claro. A cor azul é a cor mais fria entre os tons frios. Nessa imagem, podemos associá-la, simbolicamente, à serenidade, à harmonia e à racionalidade. Tal leitura coaduna com o propósito comunicativo inerente à macroestrutura prototípica explicativa (pergunta-resposta) presente na imagem que visa explicar por que é considerado crime, apresentando a suposta prova do crime com dados numéricos que atestam a sobriedade/racionalidade no enfoque da temática. Ainda, no que diz respeitos aos elementos não verbais, há, no topo da imagem, uma faixa (centralizada), em destaque, nas cores laranja, vermelho e branco. Percebemos que a cor laranja está nas extremidades da faixa e a cor vermelha está no centro e, nela, há um texto verbal na cor branca. Ao sobrepor o texto verbal “#SOBRAMCRIMES”, à cor vermelha, uma leitura possível é a imputação desses crimes ao Partido dos Trabalhadores.

No que concerne ao texto verbal, temos duas partes. A primeira cuja autoria pertence à própria página e a segunda que constitui o template cuja autoria pertence à fanpage “Juristas pelo impeachment”. Na primeira parte, há o seguinte trecho:

Gastar mais do que o permitido, pode Arnaldo? Mais um pra lista do #sobramcrimes para o impeachment.

No enunciado, em destaque, evidencia-se uma relação dialógica com a Rede Globo. O trecho “pode Arnaldo?” remete a um enunciado recorrente nas transmissões

24 Um template é um modelo a ser seguido, com uma estrutura predefinida que facilita o desenvolvimento e criação do conteúdo a partir de algo construído a priori.

Disponível em: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/conteudo/o/39828 Acesso em: 30. Jun. 2019

de partidas de futebol feitas pela emissora. Nessas partidas, havia um comentarista de arbitragem e ex-árbitro de futebol, Arnaldo Cezar Coelho, que prestava