• Nenhum resultado encontrado

No ano de 2015, e por iniciativa do Banco Solidário de Mirandela (BSM), foi idealizada e criada a PLASMIR, sendo que, após um período de testes, que se revelou necessário, esta plataforma ficou operacional. A ideia de criar a plataforma surgiu da necessidade de articular e otimizar a distribuição dos mais diversos tipos de apoios às famílias desfavorecidas do concelho de Mirandela, efetuados pelas diversas instituições locais que atuam nessa área. Pelo facto de existirem várias entidades a prestar apoios sociais, verificava-se a sobreposição desses mesmos apoios (multi-assistencialismo), o que significava, muitas vezes, situações de iniquidade. A título de exemplo, o utente que se dirige a duas entidades com o intuito de prover para si apoio em duplicado. Ou ainda as entidades parceiras terem informação imediata, neste caso refiro-me ao momento do atendimento, a respeito do utente/família para que se possa perceber qual é a necessidade naquele momento. Pode até mesmo algum tipo de apoio ter uma data de término. É neste sentido que é importante a partilha de informação entre as entidades parceiras. Nesse sentido, a existência e operabilidade plena da plataforma PLASMIR permitiria “fazer o registo de todas as ajudas que cada família recebe, de uma ou de várias instituições, permitindo assim às organizações que estão no terreno agirem em rede, numa proximidade constante e organizada”12, pois neste território foi identificado o problema da sobreposição e alguma desorganização na concessão dos apoios sociais que podem ser concedidos pelas várias entidades que integram a Rede Social de Mirandela. O BSM apresentou a esta última a proposta de criação da plataforma PLASMIR, explicitando os moldes em que iria funcionar, conforme ficou registado em ata de reunião da Rede social de Mirandela “criação de uma plataforma informática – PLASMIR” (Ata nº51, Núcleo Executivo, 2015, p.3).

Dando seguimento ao acordo alcançado em sede da Rede Social de Mirandela, foi efetuado contacto por parte do BSM com uma empresa informática sediada em Mirandela,

12 Citação da Equipa técnica do projeto Incentivar retirada de http://www.programaescolhas.pt/enter/arquivo-

enter/ver-dicas/5594115bb8bae/incentivar-e5g-lanca-plataforma-local-de-apoios-sociais-plasmir (acedido em 06-09-2018).

58 que acedeu em colaborar na criação, gestão e alojamento da plataforma no seu site, de forma a estar partilhável/acessível a todos os parceiros da área social do município. Esta colaboração foi encarada como contributo social por parte da empresa, tendo em conta a natureza desta plataforma. Por essa via cobrou um preço simbólico pelo trabalho de programação, tendo como retorno, numa fase inicial, a divulgação e publicitação da empresa através do alojamento da plataforma no seu site. Da parte do BSM e tendo em vista replicar a esta iniciativa de gestão dos apoios sociais, foi cedida à empresa em causa a possibilidade de a comercializar/disseminar para outras empresas/entidades.

Findas estas diligências, a fase seguinte consistiu na elaboração propriamente dita da plataforma local de apoios sociais, tendo por base a organização do processo individual de cada utente/família. Este processo teve a duração de, aproximadamente, três meses, e após salvaguardadas algumas questões relativas à segurança dos dados e de testes relativos ao funcionamento do sistema informático, a plataforma ficou disponível para uso das entidades e dos parceiros da Rede Social de Mirandela. A ideia foi levada a sede de Rede Social conforme consta dos assuntos em ata e aprovada por todos. Não existiu propriamente formação específica para trabalhar com a PLASMIR (nessa altura ainda era assim denominada). Foi solicitado às entidades, via e-mail, a presença em algumas reuniões de trabalho com a finalidade de mostrar como trabalhar com a plataforma. No que diz respeito a resistências manifestadas pelas entidades, sim, houve da parte dos organismos tutelados pela segurança social no que diz respeito à confidencialidade de dados e partilha dos mesmos.

Posteriormente, foi apresentada ao Conselho Local de Ação Social de Mirandela (CLASMIR) a versão definitiva da plataforma, tendo a mesma sido aprovada para implementação, de forma a gerir e articular os apoios sociais no concelho; passando a constar no Plano de Desenvolvimento Social (PDS) – Eixo de grupos desfavorecidos. De seguida, foi necessário definir as entidades e os técnicos que iriam ter acesso à plataforma, bem como a possibilidade de estes poderem partilhar as informações disponibilizadas na PLASMIR.

Assim sendo, os utilizadores definidos pelos vários parceiros em reunião do BSM, mas à partida tinha ficado definido que seriam as entidades que atribuem os apoios sociais existentes no concelho de Mirandela e enquadradas na Rede Social de Mirandela, e que foram os seguintes: Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Mirandela/Provedor e Mesário do pelouro; Executivo da CMM (Presidente/vereadora da Cultura e Ação social); Técnicos da Ação Social da CMM e da Santa Casa da Misericórdia (assistentes sociais); Junta

de Freguesia de Mirandela (presidente); Cruz Vermelha Mirandela (presidente); Coordenadora de Rede Social de Mirandela; CLDS-Gabinete de Apoio à família (educadora social); GSC – Grupo Socio-Caritativo – Salesianos (não definido); RLIS (coordenadora e assistente social); Segurança Social de Mirandela (assistente social /coordenadora do NLI).

Às entidades e técnicos acima referidos foi-lhes atribuído um número de utilizador e respetiva password, sendo os mesmos responsáveis pela informação inserida. Simultaneamente foi notificada a Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) no intuito de informar e obter autorização relativa ao tratamento de dados pessoais, com a finalidade de gestão dos apoios sociais no concelho de Mirandela.

A plataforma entrou em funcionamento a 24 de fevereiro de 2015, sendo esta a data em que é inserido o primeiro “requerente” (o mesmo será descrito pormenorizadamente neste trabalho mais à frente), passando a ser utilizada pelas entidades acima referidas. Como se poderá constatar no Eixo I do Plano de Desenvolvimento Social 2016-2018 da Rede Social de Mirandela, uma das estratégias de ação, dada a existência de várias respostas no âmbito social, é a operacionalização da plataforma PLASMIR. Estratégia tal que, como já referido acima, permitiria uma maior rentabilização/distribuição dos recursos em forma de apoios sociais, evitando a sobreposição destes (PDS, 2016-2018, p.31). No Diagnóstico Social de Mirandela de 2016 é mencionado (p.114) que o desafio da Rede Social é “potencializar os diferentes apoios através de um trabalho em parceria efetiva” e que uma das estratégias estabelecidas, sendo de consenso do grupo de trabalho, “operacionalizar a plataforma P.L.A.S.M.I.R.”.

No primeiro ano completo de utilização, 2016, foram apenas duas as entidades a inserir dados: a Câmara Municipal de Mirandela e o BSM, em cinco tipologias de respostas sociais. Da parte do BSM os apoios em termos de ajudas básicas e o cabaz alimentar e POAPMC. Da parte da CMM os apoios previstos são o PES e RAE. As restantes entidades apenas visualizaram informações: campo de pesquisa relativo ao agregado familiar e também as respostas sociais atribuídas. Durante esse ano foram feitas algumas reuniões de trabalho a fim de as entidades se inteirarem do funcionamento da plataforma e, eventualmente, serem discutidos/propostos melhoramentos à mesma, o que se veio a verificar. A exemplo disso houve a alteração da ordem dos campos de pesquisa de dados. Igualmente na ficha de requerente foram alterados alguns campos. Nas respostas sociais foram acrescentadas as

60 visitas domiciliárias e encaminhamento a fim de melhorar as funcionalidades da plataforma, de acordo com todos os técnicos envolvidos.

Em 2017, a plataforma sofreu um retrocesso sobretudo devido a uma certa resistência das entidades em inserir dados, tendo consequentemente levado a uma reestruturação da PLASMIR. Esta postura prejudica, sem dúvida, o funcionamento de uma plataforma desta natureza, dado que “uma entidade organizacional tem que ter conhecimento do que é feito pelas outras organizações para poder acionar ou encaminhar o usuário que atende para outros serviços de atendimento social” (Neves, 2009, p.156). De notar que, durante a referida reestruturação – o que se prolongou por seis meses – a plataforma encontrava-se inoperacional.

A primeira e mais imediata alteração consistiu numa nova designação da plataforma, passando a chamar-se Sistema Informatizado de Gestão Articulada dos Apoios Sociais (SIGAAS). O novo sistema informático foi desenvolvido pelo BSM/SCMM. Foi criado também um domínio de alojamento da plataforma reestruturada e com nova designação, a plataforma, agora SIGAAS, contém grande parte dos campos existentes na PLASMIR. No entanto, foram introduzidos alguns melhoramentos, como a criação de novos campos que serão descritos posteriormente.

Desde o início do ano de 2018, no âmbito da Rede Social de Mirandela, em reunião do Núcleo Executivo, foi aprovada a nova plataforma, da qual consta um Plano de Desenvolvimento Social, havendo o compromisso dos atuais parceiros em utilizar esta ferramenta como forma de otimizar o trabalho em rede. Faz parte das atividades enumeradas no sub-eixo “Apoios Sociais”, do PDS 2016-2018 da Rede Social de Mirandela, o preenchimento da SIGAAS pelos parceiros, constituindo-se como um dos indicadores o número de entidades que colaboraram nesse mesmo preenchimento (PDS, 2016-2018, p.33). Deste modo, “acionar uma rede consiste […] em criar um processo comum de comunicação para todos os que estão envolvidos no problema e possuem um objetivo comum” (Neves, 2009, p.152). Este trabalho em parceria permite que os apoios sejam distribuídos de forma mais justa e sem sobreposição de ações, conferindo, dessa forma, uma maior racionalidade e eficácia na utilização dos meios e medidas de combate às problemáticas diagnosticadas e de satisfação das solicitações dos utentes/famílias.

Nas considerações finais da sua investigação, Neves (2009) refere que um atendimento social articulado, neste caso entre todos os parceiros que possuem acesso à SIGAAS, possibilita uma melhor circulação de informação bem como “a transparência quanto às ações”, o que por seu turno irá contribuir para um atendimento de qualidade para o utente e para a implementação de processos e práticas de intervenção baseados na cooperação recíproca. Tal já foi referido e fundamentado num dos pontos deste trabalho e, como se pode entender na seguinte afirmação, “a informação deve circular na medida em que for útil para a boa resolução das situações e como condição da eficácia das respostas” (Deus, 2004, pp.90- 91). A plataforma permite que todo o trabalho de gestão dos processos, entidade a entidade, seja feito através dela. Permite ainda, com base na utilidade da informação para a eficácia da resposta de intervenção, que, por exemplo, relatórios sociais elaborados por alguma entidade possam não estar acessíveis a todas as entidades que utilizam a SIGAAS.

A gestão da plataforma SIGAAS, com o já foi dito, está a cargo do BSM, conforme consta no Plano de Atividades de 2018. No seu Regulamento Interno atual, pode ler-se no artigo 3º, ponto nº 6, que uma das suas competências é “proceder ao registo de todo o apoio solicitado e concedido nos impressos próprios e ainda nas Plataformas de Gestão dos Stock e de Respostas Sociais (SIGAAS) ” (SCMM, 2016, p.4). Seguindo as recomendações da CNPD, está implementada uma declaração de consentimento13 onde especificamente se questiona se o utente autoriza ou não a partilha e fornecimento de dados entre as entidades que compõem a Rede Social de Mirandela, bem como o seu tratamento através da plataforma SIGAAS. Mais à frente, este modelo será alvo de uma proposta de alteração.

Após a reestruturação da plataforma e com a nova designação SIGAAS, foi acrescentada uma ferramenta designada “gestão de stock “. Esta funcionalidade, tratando-se de um programa gestão do BSM, tem uma extrema utilidade num duplo sentido. Em primeiro porque esta permite um controle em tempo real dos produtos (alimentos, roupa e calçado, entre outros) existentes nos armazéns. Por outro lado, esta funcionalidade permite num só processo atribuir uma doação, seja de alimentos ou outro artigo ao mesmo tempo que regista a tipologia de apoio atribuída no campo das respostas sociais ao utente/família bem como o abatimento ao stock. Ou seja, a título de exemplo, a gestão de stocks. Ao ser atribuído um cabaz de alimentos a um utente/família, os produtos contidos no mesmo serão automaticamente abatidos no s tock existente. Logicamente o stock existe porque deram

entrada os bens doados/fornecidos ao BSM. Gerem e produtos com que a entidade trabalha.

descrita mais à frente.

2. Funcionamento da plataforma SIGAAS