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Para o Serviço Social, as novas tecnologias devem ser aproveitadas no sentido de aprimorar os processos de trabalho, mas também no superior interesse daqueles que a ele recorrem. Por outro lado, numa visão positiva, este uso das tecnologias digitais poderá desencadear oportunidades de criatividade na nova organização do trabalho, contrariando a tendência conservadora e centralizada que marcava o trabalho no séc. XX (Kanan & Arruda, 2013, p. 585).

Silva (s.d, p.1), apoiando-se na teoria marxista dos processos de trabalho5, refere que a modernização tecnológica dos mesmos tem repercussões mais ou menos profundas no âmbito do Serviço Social, no sentido de que este campo disciplinar-técnico “não pode ser encarado como algo isolado do conjunto de condições históricas e sociais”. Assim sendo, as tecnologias da informação fazem parte da evolução dos processos de trabalho, incluindo os dos assistentes sociais. Veloso destaca que

[…] Toda máquina e toda criação tecnológica estão vinculadas à etapa correspondente de um processo social, onde têm origem. São as condições vigentes na sociedade, as relações entre os produtores, que ditarão as possibilidades de aproveitamento dos instrumentos e das técnicas. É preciso ter noção global do processo histórico, uma percepção [sic] que considere o caráter social da produção, sem separar produtor e produto, captando a relação dialética que os liga e explica um pelo outro (Veloso, 2010, p. 519).

Na perspetiva de Iamamoto (1998, citada por Veloso, 2010), “a prática profissional deve ser tomada como trabalho e o exercício profissional, inscrito em processos de trabalho” […] o Serviço Social “é um trabalho especializado[…], tendo por objeto de trabalho as expressões da questão social […]” (p. 523), pelo que os profissionais confrontados com a realidade social atual devem desenvolver a sua ação com todos os recursos que tenham ao seu dispor. As novas tecnologias de informação e comunicação emergem, desta forma, como um desses recursos, permitindo um variado leque de potencialidades. Porém, poderão existir obviamente alguns condicionalismos. Assim, é importante notar que a ampliação de conhecimento a nível do uso das novas tecnologias de informação e comunicação é um pilar imprescindível na prática profissional do assistente social, sendo que

[…] a profissão do Serviço Social tem de assegurar o seu lugar nos novos contextos sociodemográficos, políticos, econômicos, tecnológicos e culturais, para que possa melhorar ou desenvolver esses mesmos contextos de existência. Uma das dimensões essenciais desse

5 Segundo Barjonet (1975, p. 93),“O processo de trabalho compreende: a atividade pessoal do homem (trabalho

propriamente dito), objeto sobre o qual o trabalho se refere (a terra, os minerais, as matérias primas, etc.) os meios pelos quais se trata Máquinas, produtos químicos, etc”. São estabelecidas “categorias” de trabalho: “trabalho alienado”; “trabalho produtivo”; trabalho passado (ou morto) e trabalho vivo”; “trabalho simples”; “trabalho complexo”; “trabalho concreto”; “trabalho abstrato”; “trabalho necessário”; “trabalho suplementar”; “trabalho ‘parcelar’ ou em ‘bocados’ (idem, pp. 91-95).

24 reenquadramento passa pela formação e pela qualificação dos profissionais (Carvalho e Pinto, 2015, pp. 82-83).

Passando para uma vertente mais prática, o processo de trabalho de base do assistente social constitui-se por via do que a medicina denomina de “anamnese”, isto é, recolha de informação acerca do utente/comunidade na qual se intervirá. Logo, nesta fase será fundamental que estas informações sejam inseridas numa base de dados devidamente estruturada e organizada. Este trâmite torna-se fulcral e contribuirá para análises mais diversificadas, aprofundadas e pertinentes. Um outro instrumento fundamental é também o “Diagnóstico Social”, definido como:

[…] um processo de elaboração e sistematização de informação que implica conhecer e compreender os problemas e necessidades dentro de um determinado contexto, as suas causas e a evolução ao longo do tempo, assim como os fatores condicionantes e de risco e as suas tendências previsíveis; permitindo uma discriminação dos mesmos consoante a sua importância, com vista ao estabelecimento de prioridades e estratégias de intervenção, de forma que se possa determinar de antemão o seu grau de viabilidade e eficácia, considerando tanto os meios disponíveis como as forças e actores sociais envolvidos nas mesmas (Idáñez & Ander-Egg, 2007, p. 27).

Na construção deste diagnóstico, as novas tecnologias poderão apresentar-se como uma mais-valia, pois normalmente existem muitos dados a serem trabalhados e uma grande diversidade de operações que podem ser realizadas em vários âmbitos.

Em Portugal, e até ao ano 2000, sendo a Administração Pública simultaneamente o maior empregador de assistentes sociais e a figura principal na construção das Políticas Sociais, aquando da criação da primeira escola de Serviço Social em 1935, o desenvolvimento desta profissão assumiu um papel transversal nestas duas vertentes (Fernandes; Marinho & Portas, 2000, p.135). Segundo Francisco Branco (2009, pp.64-65), e note-se que este documento foi publicado há dez anos, refere que “em Portugal, o número de Assistentes Sociais não é fácil de aferir uma vez que não existem séries estatísticas oficiais sobre este grupo profissional que possibilitem conhecer a evolução quantitativa da profissão em termos diacrónicos”. Prossegue e no mesmo espaço temporal, referindo que dada a existência de um

número considerável de Organizações Sociais sem Fins Lucrativos tais como as IPSS assumindo que sejam “o maior empregador de assistentes sociais em Portugal” sendo igualmente por consequência da diminuição da oferta de emprego na administração pública. (idem, p.68). É no entanto difícil, mesmo atualmente, saber exatamente o número de assistentes sociais que trabalham em Portugal em que áreas específicas.

O assistente social necessita para a realização do seu trabalho quotidiano de instrumentos/ferramentas/suportes. A utilização de fichas, grelhas de análise e toda uma vasta série de instrumentos em suporte de papel, com desvantagens como a ocupação de espaços consideráveis, o “não estar à mão” para consulta e/ou alterações, leva-nos a refletir acerca da complexidade da intervenção do assistente social. A utilização das novas tecnologias poderá possibilitar ao profissional a simplificação/agilização das suas práticas de intervenção, o que poderá incluir a organização de todo o processo relativo ao utente/família ou até numa comunidade, desde o início até à sua finalização. Por exemplo, em organizações de dimensão considerável, com um elevado número de processos sociais, as bases de dados em suporte de papel, como acontecia antes da emergência do uso das tecnologias digitais, tornavam os processos de intervenção demasiado complexos e lentos.

Hoje em dia, a intervenção parte de um conjunto de recursos, em que as tecnologias assumem um papel preponderante na demanda das respostas às situações e necessidades emergentes dos problemas dos indivíduos, tendo em atenção os seus direitos sociais e de cidadania, bem como colocando ao seu dispor as políticas sociais adequadas, sendo que, “para isso, é necessário não sucumbir ao caráter instrumental de absorção e manuseio de recursos proporcionados pelas tecnologias da informação, em seu viés tecnicista e gerencial” (Veloso, 2010, p. 522).

É, portanto, pertinente dizer que não é somente necessário ter acesso a estas tecnologias, mas também saber como devem ser utilizadas e querer utilizá-las. Não nos podemos desviar do caminho que a Internet como ferramenta vem propiciando, dado que perante esta “não estamos diante de uma ilimitada tecnologia de acesso e fornecimento de informação. Estamos diante de uma tecnologia social, onde milhares ou milhões de diversos atores e sujeitos sociais interagem, criando, portanto, dimensões novas de relação social e projetando até, porventura, novas formas de organização social” (Oliveira, Cardoso & Barreiros, 2004, p. 20).

26 Após esta reflexão, quem define e confere esta ou aquela valorização ao trabalho e aos processos de trabalho são as sociedades, pois

[…] O saber/fazer social ocorre hoje no entrelaçamento de redes alimentadas por fluxos contínuos de conhecimento, informação e interação. Esta noção de rede se caracteriza como sinérgicas, convergente e movente; interconecta serviços similares e complementares, organizações governamentais e não governamentais, comunidades locais, regionais, nacionais e mundiais; mobiliza parcerias e ações multissectoriais; constrói participação; mobiliza vontades, adesões e implementa pactos de complementaridade entre actores sociais, organizações, projectos e serviços (Brant, 2001, p. 343).

Exige-se a consequente modernização e interiorização de novas formas de investigar, de interagir e de intervir proporcionadas pela velocidade da informação através das novas tecnologias. De notar que, efetivamente, novos problemas sociais tiveram origem na larga utilização das novas tecnologias da informação e da comunicação. Por seu turno, pode passar pela sua utilização a resolução/amenização dos mesmos.