• Nenhum resultado encontrado

7 EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS E MODELOS ADOTADOS

7.1 Parceria Público-Privada

7.1.1 Minas Gerais

Com a assinatura do contrato administrativo, em 16 de junho de 2009, o Estado de Minas Gerais foi pioneiro ao realizar licitação e contratação para implementar a parceria público-privada no âmbito do sistema prisional. Até então, só existiam exemplos de privatização por meio de terceirização de serviços. O edital de concorrência nº 01/2008 foi realizado de acordo com as Leis nº 11.079/04 (Federal) e nº 14.868/03 (Estadual) para a construção e a gestão da penitenciária.

De acordo com o governo mineiro280, o Complexo Penal de Ribeirão das Neves irá durar 27 anos; exigiu um investimento privado de R$ 180 milhões, sem custo inicial para o concedente.

O governo de Minas Gerais firmou parceria com o consórcio de empresas Gestores Prisionais Associados (GPA)281, na submodalidade Design Build Operate Transfer (DBOT)282 que significa desenhar o projeto arquitetônico, construí-lo, operá-lo e transferi-lo, ao fim do contrato, ao Estado. O Complexo Penal terá 5 unidades283, 3.040 vagas entre regime fechado e semiaberto (1.824 vagas para o primeiro e 1.216, para o segundo).

280 Disponível em: < http://www.ppp.mg.gov.br>. Acesso em: 04 abr.2012.

281 Consórcio formado pelas empresas CCI – Construções S/A, Construtora Augusto Velloso S/A, Empresa Tejofran de saneamento e Serviços, F.F Motta Construções e Comércio e o Instituto Nacional de

Administração Prisional (INAP).

282 DBOT significa elaborar o projeto arquitetônico, construir o complexo, operacionalizar e, após o término do contrato, repassar todo o complexo e sua administração ao setor público.

283 Serão 608 vagas em cada unidade prisional; são 4 presos por cela, em regime fechado, e 6, no semiaberto.

O Estado de Minas Gerais pagará R$74,63 284 por dia e por detento, o equivalente a R$ 2.100 ao mês por detento. Segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social, este valor é 25% menor que o custo atual de manutenção dos presos.

Conforme o prospecto de apresentação da “PPP – Complexo Penal – Unidade PPP”, todos os serviços de vigilância interna e assistenciais, a manutenção da infraestrutura e os demais aspectos da operação serão prestados pelo parceiro privado. Os serviços de segurança externa e das muralhas, além da movimentação de internos, continuarão sob a gestão governamental.

A contraprestação estatal285 começa somente após a implantação da infraestrutura, ou seja, quando já for possível ocupar as vagas. O pagamento público será composto por parcelas referentes às vagas ocupadas e disponíveis. É previsto em contrato que 20% do pagamento mensal será submetido à avaliação periódica de desempenho286 para cumprir o que determina a lei. O poder público deve, ainda, garantir uma demanda mínima de 90% da capacidade do complexo penal, durante todo o contrato de concessão administrativa.

Em respeito a outras determinações legais, o Estado mineiro garantiu o pagamento mensal na forma de penhor sobre bens de sua propriedade: direitos creditórios de contratos de abertura de créditos do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG); debêntures simples, da espécie quirografária, não conversíveis em ações e títulos da dívida federal.

O parceiro privado, por sua vez, para cumprir as obrigações assumidas, irá garantir a execução do contrato, no valor de 5% do custo contratado.

284 Contrato de Concessão Administrativa – Publicado em Minas Gerai, em 24 jun. 2009, p.47.

285 Segundo informações da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (SEDE) – Unidade Parceria Público-Privada, cada preso nesse modelo de cogestão custará ao Estado R$

2.100,00/mês, valor esse que abarca a construção e a operacionalização. Conforme o SEDE, se o Estado assumisse esse projeto, iria gastar com cada preso o valor de R$ 2.400/mês. Atualmente, o estado mineiro gasta R$1.700,00 com cada preso, ao mês, mas somente com operacionalização. Disponível em <

http://www.ppp.mg.gov.br/projetos-ppp/projetos-celebrados/complexo%20penal/noticias/consulta-publica/>. Acesso em: 16 abril. 2012.

286 Conforme o contrato, são indicadores para avaliar o desempenho: avaliação quantitativa dos serviços assistenciais e de segurança (porcentagem de presos trabalhando, p. ex.), avaliação qualitativa dos serviços assistenciais (qualidade da educação aos presos, p. ex.), avaliação de manutenção de infraestrutura (e.g. permanente atendimento dos equipamentos aos padrões contratuais).

Conforme notícia veiculada no site do governo do Estado de Minas Gerais, a prioridade no modelo de gestão apresentado pela concessionária (Consórcio GPA) será a ressocialização, a ser efetivada por meio do estabelecimento de atividades educativas, artísticas e culturais. Além disso, estão previstos cursos profissionalizantes com o objetivo de capacitar os presos para o mercado de trabalho, quando do seu reingresso na sociedade, conforme as exigências da Lei de Execução Penal.

O Estado de Minas Gerais não pretende (e nem poderia) realizar o trespasse da gestão da segurança para o concessionário. Ele mantém titularidade exclusiva da função constitucional neste setor, cuidando da disciplina e do cumprimento das penas, acompanhando sua execução junto ao Tribunal de Justiça, ao Ministério Público e à Defensoria Pública.

Em decorrência da indelegabilidade das funções de ordenação das unidades prisionais, o poder público nomeará um agente público como diretor de segurança, para cada uma das cinco unidades do complexo. Eles ficarão encarregados da coordenação e das medidas de segurança. O Estado ainda poderá intervir em situação de crise, confronto ou rebelião, por meio de agentes penitenciários dos seus quadros funcionais.

Conforme notícia veiculada no jornal Folha de S.Paulo, de 18 de janeiro de 2013, o Complexo Penal Ribeirão da Neves recebeu nesse mesmo dia os seus primeiros 75 presos.287

7.1.2 Pernambuco

O Governo do Estado de Pernambuco, em 28 de novembro de 2008, após realizar uma concorrência pública, atribuiu a um consórcio de empresas (que apresentou um projeto de parceria público-privada, na modalidade concessão administrativa) a construção do Centro Integrado de Ressocialização de Itaquitinga (CIR Itaquitinga).

287 Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1217184-presos-sao-transferidos-para-1- presidio-publico-privado-do-pais.shtml>. Acesso em: 21 de jan. 2013.

A sociedade de propósito específico foi formada pelas empresas Advance Construções e Participações Ltda. e Yumatã Empreendimentos e Serviços de Manutenção Ltda. O valor do contrato foi R$ 1.953.324.301,44 (um bilhão, novecentos e cinquenta e três milhões, trezentos e vinte e quatro mil, trezentos e um reais e quarenta e quatro centavos)288, por 33 anos de parceria e incluiu a construção das instalações prisionais.

O contrato prevê a concessão administrativa para explorar o Centro Integrado de Ressocialização de Itaquitinga (CRI Itaquitinga) e construir o complexo penal289, mediante execução, gestão e fiscalização dos serviços delegados; o apoio na execução dos não delegados, a gestão e a fiscalização dos complementares.

O prazo estimado para a concessão administrativa é 33 anos, e pode ser prorrogado, no máximo até 35 anos, para assegurar o prazo mínimo de exploração econômica de 30 anos, a contar do início das operações.

O CIR Itaquitinga está sendo construído em uma área de 98 hectares, com capacidade estimada para 3.126 apenados, o que equivale a quase 20% da população do município. Dessa vagas, 1.200 serão destinadas aos condenados em regime semiaberto, divididas em 2 unidades. As demais 2126 vagas comportarão o regime fechado, divididas em 3 grandes unidades.

A remuneração paga pelo parceiro público, denominada Contraprestação da Concedente para Ressocialização (CCR), deverá ser suficiente para cobrir os custos de amortização e os juros de financiamentos, relativos às obras de construção.

Ademais, a contraprestação estatal deverá ser suficiente para a parceira privada cumprir as obrigações tributárias e atender às condições operacionais mínimas do complexo penal. A exigência decorre do necessário equilíbrio econômico-financeiro que deve constar nos contratos administrativos.

288 Conforme termo de homologação e adjudicação na Concorrência Pública Nº 001/2008, do governo estadual de Pernambuco.

289 O custo total da construção do CIR Itaquitinga é estimado em R$ 240 milhões, sob a responsabilidade integral do parceiro privado.

A contraprestação a que fará jus o parceiro privado será influenciada pelo seu desempenho, uma nota atribuída a partir do Quadro de Indicadores de Desempenho.

A sociedade de propósito específico (SPE) tem permissão para explorar fontes de receitas alternativas, complementares, acessórias, ou de projetos associados à concessão, desde que respeite os padrões de qualidade do serviço sem comprometê-los. O governo pernambucano estima um custo aproximado de pouco mais que R$ 2 mil por preso, por mês.

A fiscalização da concessão administrativa (abrangendo as atividades da parceira privada, durante a vigência do contrato), será executada pelo Comitê Gestor do Programa de Parceria Público-Privada de Pernambuco (CGPE) e por um Verificador Independente. Esta última é a empresa a ser contratada pelo concedente para monitorar permanentemente o desempenho da concessionária, nos termos previstos no edital.

7.1.3 Ceará

Em 09 de dezembro de 2011, o Estado publicou um edital para a elaboração de um estudo de viabilidade com o objetivo de construir uma penitenciária de Alta Segurança, em Aquiraz, na modalidade parceria público- privada, na submodalidade Design Build Operate Transfer (DBOT), ou seja, desenhar, construir, operar e transferir. As exigências eram as mesmas feitas para a construção da penitenciária em Minas Gerais.

O objetivo era construir duas penitenciárias, com 100 e 650 vagas, respectivamente, incluindo o orçamento das construções e todos os custos com pessoal de atividade meio, veículos, mobiliários, equipamentos eletroeletrônicos, médico hospitalares, de segurança e de tecnologia da informação, materiais permanentes e de consumo.

Até 9 de novembro de 2012, nenhuma informação foi divulgada sobre o andamento do projeto.

7.1.4 São Paulo

Em 3 de março de 2012, o Diário Oficial do Poder Executivo chamou empresas privadas interessadas em concorrer, na modalidade parceria público-privada, para apresentar estudos técnicos e de modelagem de uma penitenciária.

O edital informava que a construção, a operação e a manutenção seriam em cogestão. Não há notícia sobre a continuidade do projeto.