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4. O ESTADO NA ECONOMIA BRASILEIRA

4.3. O Governo como agente econômico

A partir de 1967, o estado brasileiro expande seu grau de abrangência sobre a economia passando a intervir mais ativamente como agente financiador e produtor.

Verifica-se que a participação dos gastos públicos em relação ao PIB atinge 25,1% e 23,3%, respectivamente, em 1970 e 1975, valores superiores em 8,5 e 6,7 pontos percentuais, respectivamente, em relação aos 16,6% de 1960 (Tabela 3).

A despeito de uma pequena queda no inicio dos anos 70, os gastos públicos em proporção do PIB voltam a crescer atingindo, nos três últimos anos da década os maiores percentuais em todo período em estudo (Tabela 4).

Note-se pela Figura 2, a importante participação da Administração Descentralizada nesta expansão, também entre 1978/80, em razão do número elevado de novas entidades da administração pública.

Esses números reforçam a hipótese de uma acentuada correlação entre a expansão dos gastos no tempo e os arranques de crescimento da economia brasileira, com percentuais de despesas em proporção do PIB mais significativas no inicio de cada fase expansiva.

Neste período de taxas de crescimento que atingem valores médios anuais superior a 10%, com ênfase na expansão do produto industrial, verifica-se além de maior intervenção do estado, um cenário de condições internacionais favoráveis e crescimento da economia mundial.

As principais fontes de crescimento da economia brasileira nesse período de destaque para a intervenção do Estado podem ser assim discriminadas:

retomada do investimento público em infra-estrutura, possibilitada pela recuperação financeira do setor público; aumento dos investimentos das empresas estatais e surgimento de novas empresas; aumento na demanda por bens duráveis, resultado da expansão do crédito ao consumidor; crescimento da construção civil, através da promoção de investimentos públicos e do aumento na demanda pela expansão de sistema financeiro de habitação; crescimento das exportações em razão, de expansão do comércio mundial, melhoria dos termos de troca, alterações na política externa e nos incentivos fiscais; crescimento ainda que modesto da agricultura, apesar da expansão do crédito agrícola, centrado no Banco do Brasil; e início do processo de modernização agrícola, através da mecanização, fazendo com que esta se tornasse importante fonte de demanda para a indústria.

As usinas de aço do Governo também se expandiram nos anos 70. Executavam amplos programas de investimento. Também ao atuar como produtor direto o Estado viabilizou a criação de subsidiárias da Petrobrás, como a Petroquisa, em 1968, e Braspetro, em 1972, para participarem de joint ventures no exterior, relativas à prospecção de petróleo e assistência técnica geral.

O desempenho da economia neste período também foi influenciado pelo II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), definido pela vontade política do governo militar contra a tendência mundial de retratação do crescimento, a partir da primeira crise do petróleo, em outubro de 1973.

Para financiar os projetos de investimento do II PND, aumentaram-se as captações de recursos externos pelo setor público, enquanto as captações do setor privado retraíam-se, em face da necessidade de ajustar o balanço de pagamentos. Esse processo de endividamento do setor público ficou conhecido como a estabilização da dívida externa.

A ampla facilidade de captação de recursos externos no período pós-74 estava ligada aos amplos superávites dos países exportadores de petróleo, devido ao choque ocorrido em 1973, quando os países membros da OPEP quadruplicaram o preço do barril de petróleo.

A elevada intervenção do setor público na economia pode ser percebida pelo fato de o Estado controlar os principais preços da economia, câmbio, salário, juro e tarifa, além de praticar uma política de preços administrados pelo CIP.

O Estado brasileiro também respondia pela maior parte das decisões de investimentos, quer através de investimentos da administração pública e das empresas estatais, quer através da captação de recursos financeiros.

Em face da grande liquidez internacional, as empresas estatais se constituíram nos principais tomadores de recursos externos, o estado foi assumindo grande passivo para manter o crescimento econômico e o funcionamento da economia, ocorrendo a troca de posições ativas e passivas entre o setor privado e setor público, denominado de ciranda financeira.

Assim, a deterioração da capacidade de financiamento do Estado, nesse período, sem criar mecanismos adequados de financiamento, mostrava-se como um grande problema a ser enfrentado no médio prazo. Outro estrangulamento foi também a elevada concentração de renda como estratégia para aumentar a capacidade de poupança da economia, financiar os investimentos e, com isso, o crescimento econômico. Essa teoria ficou usualmente conhecida como a “teoria do bolo”.

No final da década de 70, ocorreram profundas alterações no cenário internacional, relativamente ao segundo choque do petróleo e, principalmente, à reversão nas condições de financiamento internacional, com elevação da taxa de juros, evidenciando a vulnerabilidade da economia brasileira aos movimentos externos.

Ainda no plano internacional, ocorreram alterações na política econômica norte-americana. Para conter a desvalorização do dólar, que vinha ocorrendo desde a adoção do câmbio flutuante em 1973, o Fed adotou uma política monetária restritiva, com menos crédito, dificultando o financiamento do Tesouro americano. Com o lançamento dos supply-side-economics, ou

reaganomics, pelo Governo Reagan, a situação fiscal do governo se agravou. Ao

financiar-se no mercado em uma situação de aperto creditício, as taxas de juros se elevam, e os Estados Unidos transformam-se em grande absorvedor da

liquidez mundial. Nesse contexto, tem-se a insolvência da Polônia e da Argentina e a moratória mexicana, no chamado setembro negro (1982). Os países em desenvolvimento foram obrigados a adotar uma política de geração de superávits para cobrir os serviços da dívida externa.