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Operetas e revistas

2.8 Gramofones e Cinemas

Gramofones

O fonógrafo foi o primeiro aparelho capaz de registrar e reproduzir o som, criado por Thomas Edison em 1877. A partir dele, Alexander Graham Bell apresentou o grafofone, na década seguinte, com diferenças no meio de reprodução a partir dos cilindros e seus materiais de revestimento e nas técnicas de gravação do som.

Embora o uso do disco já fosse conhecido por Edison e outros exploradores dos inventos, o alemão Emile Berliner, partindo para os Estados Unidos, divulgou um novo suporte, com nova tecnologia material a partir do zinco e moderno meio de gravação, na qual a reprodução do som era melhor em qualidade. Surgia então o gramofone patenteado por Berliner, que em 1898 estabeleceu-se empresarialmente com a Deutsche Grammofon.

Nos Estados Unidos, passou a ser comercializado pela Victor Talking Machine Company, estabelecida em 1901. Em 1906, a Victor constituía-se como a maior empresa de força de mercado e lançou a chamada Victrola, com sua trompa de ligação interna na cabine, modelo de ampla distribuição.

O primitivo modelo do fonógrafo foi apresentado em Campinas ainda no século XIX. Sabe-se que em 1895, foi trazido por Frederico Figner ao Teatro São Carlos na mesma ocasião em que trouxe o kinetoscópio. Em 1899, novamente foi ouvido durante algumas exibições na Casa Mattos, com reprodução de óperas, modinhas, bandas, monólogos e discursos. A novidade poderia ainda ser levada a casas de famílias e clubes.

No mesmo ano, José Boucoult fez a primeira exibição do grafofone no Rink, reproduzindo discursos e peças musicais e, em 1900, em um salão à rua Barão de Jaguara, expôs-se então o Graphophone Grand, a “maravilhosa máquina falante”. Com grande interesse, o aparelho reproduziu músicas executadas por bandas – como Fausto, Fra-Diavolo, e Trovador, por orquestras, como Cavalleria Rusticana, Serenata de Gounod, e marchas. Ouviram-se solos líricos, como o de Carmen e canções americanas, além de discursos de Floriano Peixoto, Saldanha da Gama e até mesmo de Carlos Gomes. Esse aparelho não tinha necessidade de “canudos de borracha” nos ouvidos, pagando-se 1$000 pela audição de cinco peças.

As exposições e esforços de divulgação pelos empresários itinerantes preparavam os consumidores em potencial para absorverem as ofertas que logo viriam com a instalação da filial Casa Edison. Em junho do mesmo ano de 1900, a Casa Livro Azul passou a oferecer a novidade em várias opções de aparelhos, cujos preços variavam entre 80$000 a 300$000. Os cilindros, contendo o repertório musical, poderiam ser adquiridos por 5$000.

Em 1907, na comercial rua Barão de Jaguara, também a loja Ao Bastidor oferecia grafofones ao lado dos gramofones, segundo as marcas Bijou, Columbia e Arion, além de discos da Odeon, que variavam de 3$ a 7$000, conforme seus modelos e tamanhos. No ano seguinte, uma iniciativa da Casa Neubern criou o Club de Grammophones. A julgar pelo anúncio, aparentava tratar-se de um consórcio, no qual pagava-se 3$000 por semana durante 30 semanas, e os premiados receberiam um excelente gramofone. A loja também anunciava seu sortimento de aparelhos e discos, com canções em diversas línguas.

A filial da Casa Edison, por sua vez, disponibilizava gramofones da Columbia e Phoenix este de preços mais acessíveis, e discos Victor, até mesmo com repertório sacro gravado na Capela Sistina. Era possível ainda consultar um catálogo com mais de 4 mil discos. A Casa Miguel de Franco, aberta em 1913, dedicava-se igualmente ao comércio dos aparelhos musicais.

Os discos comercializados nessas casas reproduziam as consagradas modinhas, polcas, valsas, mazurcas e schottichs, mas seriam também veículo de divulgação das canções populares, difundidas amplamente a partir das possibilidades de gravação. Por si só, os títulos das músicas às vezes desconhecidas, revelam seu caráter popular, como Urucubaca miúda, Tia Philomena ou Minha Carabôo. Havia ainda os choros do Grupo do Bahianinho e peças do Grupo do Canhoto, do violonista Américo Jacomino, formado por violão, trombone, clarineta e cavaquinho.

Embora as poucas referências não permitam a nomeação de mais peças e repertórios distribuídos na cidade, o que seria naturalmente de difícil acesso, Tinhorão pontua como gêneros que entraram em grande circulação no período, como

a modinha seresteira, os lundus cantados, as cançonetas de teatro e palquinhos de cafés-cantantes, as marchas dos primeiros ranchos carnavalescos, as chulas e as chamadas cantigas sertanejas, entre as quais muitas vezes se incluíam músicas do folclore. (1981: 27)

Desde a busca e o interesse pelas novidades tecnológicas das exibições públicas dos aparelhos de reprodução musical, Campinas buscava inserir-se nas modernas formas de apreciação musical, o que ocorreu pelas vias comerciais da cultura de consumo, processo que passou a despontar na passagem dos séculos com a exploração do mercado em expansão dos centros urbanos. As condições econômicas relativamente restritas para se obter um gramofone, no entanto, tornaram sua posse privilégio de poucos e almejado por muitos:

Músicas e modinhas: Da casa n.17 da rua 7 de Dezembro, furtaram hontem às 14 horas mais ou menos, um grammophone de propriedade do sr. Cincinato Ferreira. Eis ahí um gatuno amante de lindas músicas e sentimentais modinhas. (Diário do Povo, agosto de 1916)

Cinemas

Como o mais atraente divertimento público às populações urbanas no início do século XX, o cinema traria consigo transformações sensíveis ao cenário cultural das cidades, estabelecendo hábitos coletivos e novas formas de observação e percepção do real. Precedeu à formação dos espaços específicos de exploração – as salas de cinema, um período relativamente curto e rápido de divulgação e evolução técnica dos suportes de projeção, assim como dos objetos, formas e narrativas da imagem.

Em Campinas, a primeira exibição de um aparelho projetor de imagens deu-se em 1895, trazido por Frederico Figner ao Teatro São Carlos. Tratava-se, no entanto, do kinetoscópio de Edison, no qual 20 mil fotografias passavam-se em dez minutos, resultando em cenas de brigas de galo, boxeadores, equilibristas e operetas. Nesse primeiro modelo, as imagens poderiam ser contempladas de forma individual, através de um visor sobre a grande caixa. Em algumas ocasiões nos anos seguintes, apresentaram-se no mesmo teatro aparelhos mais modernos, de projeção externa e coletiva.

Os cinematógrafos tornaram-se crescentemente frequentes em Campinas na década de 1900, marcadamente a partir de 1906. O Teatro Rink, destacado espaço de entretenimentos populares, recebeu os primeiros empresários proprietários das máquinas de projeção, cujas sessões exibiam grande repertório de fitas, vistas nas capitais brasileiras e pela

América do Sul. As empresas Richebourg e Candburg ofereceram os primeiros e atrativos programas ao público local, que passou a corresponder com grande interesse.

A imagem em movimento tornou-se espetáculo diante dos numerosos espectadores e abriram caminho à grande expansão visual do mundo. A multiplicidade das cenas urbanas de Paris, ou até mesmo de Campinas, como o Largo do Rosário e a Rua Direita, as vistas naturais e cenas de guerra, as experiências de Santos Dumont na aviação, ou então as pequenas tomadas com enredos cômicos, tornaram o real em objeto de contemplação, de efeitos insuperáveis e de atração pública jamais vista. A imaginação sobre o desconhecido e as possibilidades do conhecimento do outro uniam-se pelos poderes das projeções: “Graças ao cinematógrafo podemos ver, como se lá estivéssemos, cenas que se desenrolam em longínquas terras e de que unicamente a fotografia, com todos os seus aperfeiçoamentos, não nos permitiria ter uma ideia.” (Cidade de Campinas, 20.08.1907)

As sessões cinematográficas seguiriam em seu movimento de popularização com grande ascensão nos anos seguintes, instaurando-se em meio aos demais gêneros de entretenimento como o de maior potencial em vantagens empresariais. De poucas necessidades materiais em relação às companhias artísticas, as quais despendiam altos investimentos em aparatos, artistas e músicos, as empresas exploradoras dos cinematógrafos encontravam-se em excelentes condições de mercado, em que poderiam obter espaços de atuação e público em potencial com extrema facilidade, uma vez que os já existentes cenários culturais urbanos proporcionariam seus teatros e sua assistência às novidades dos filmes.

Acompanhando, por outro lado, as já consagradas formas de diversão teatral, como peças cômicas e artistas cantantes, os programas cinematográficos tornaram-se também ecléticos, combinando filmes variados a sessões musicais e artísticas, ao menos em casas de entretenimento na forma de variedades, como o Teatro Rink e o Cassino Carlos Gomes.

Após a grande divulgação dos espetáculos cinematográficos ocorridos no Rink e também no Teatro São Carlos, a primeira sala de cinema abriu-se em março de 1909, o Cine Bijou. Pouco tempo depois, em maio, inaugurou-se o Cine Recreio e em 1911, o Cine Radium. O Cassino Carlos Gomes, aberto em 1910, era também espaço de exibição de filmes.

Adaptou-se ainda ao gênero o Colyseu31, ambiente semelhante ao Rink. Após 1922, outras salas surgiriam, como o Cine República e o Cine São Carlos, aberto em 1924 e local em que se apresentaria o primeiro filme sonoro em Campinas, em 1930.

Como visto, os filmes sonoros apareceriam na cidade apenas vários anos depois e, assim, o acompanhamento musical tornou-se indispensável durante os novos programas de divertimento nesses primeiros tempos de cinema mudo. Em franca aceitação, as sessões de cinema oferecidas diariamente em quase todas as salas proporcionaram a abertura de numerosas oportunidades de atuação para músicos, fossem pianistas ou em pequenas e maiores formações instrumentais.

Após as primeiras produções de imagens naturais e de registros das cenas reais sem fios narrativos definidos, a crescente produção de filmes com enredo e de gêneros dramáticos, cômicos ou românticos gerou a necessidade de passagens musicais condizentes. “Aquilo que depois do advento do cinema falado se transformaria na chamada ‘trilha sonora’ precisava então ser feito de improviso, com o pianista atento à movimentação das cenas que se projetavam na tela.” (TINHORÃO, 1972: 229)

Nos cinemas de Campinas, mais do que pianistas, destacaram-se os grupos orquestrais, cujas formações foram possíveis graças ao satisfatório número de músicos profissionais e amadores em atuação na cidade, em parte herança de um relevante passado musical desenvolvido durante o século XIX. As bandas de música também devem ser citadas por sua contribuição nesse sentido, embora tenham sido superadas pelas orquestras no cumprimento dessas funções, uma vez que estas possuíam mais agradável sonoridade nos ambientes dos cinemas. Representante do piano, Ana Gomes, irmã de Carlos Gomes, também exerceu sua contribuição como acompanhadora de filmes.

As funções de direção musical ocupadas por músicos com perfil para a regência passaram a ser fundamentais no novo contexto das sessões cinematográficas, que rapidamente se estabeleceram como hábito cultural urbano. No aproveitamento da ascendente popularidade desses programas, as empresas exploradoras perceberam também a importância da presença de bons grupos musicais, bem conduzidos e com repertório adequado. Ao lado da constante

31 Como o Rink, tinha a forma de um grande barracão circular, no qual davam-se apresentações circenses e lutas

variedade e novidade de películas, a qualidade das peças executadas em acordo com os filmes e suas características, ou mesmo a própria boa reputação artística dos instrumentistas em conjunto colaboravam em muito para a atração do público.

Segundo Geraldo Sesso (1970: 319), o Teatro Rink possuía uma das mais completas orquestras, conduzida por José Moreira Lopes. Havia, no entanto, certa rotatividade de regentes que, contratados pelas empresas, poderiam transitar entre diferentes casas. Em março de 1913 ocupava a regência o professor Júlio Dias e por volta de junho do ano seguinte, José Germini. Em 1919, encontrava-se no posto Gutemberg de Moraes Leite, que se destacaria como maestro no preparo e condução de orquestras.

O Cine Bijou, como registrou José de Castro Mendes (1963: 11), possuía uma orquestra formada de mulheres e dirigida pela violinista Eugenia Franc, professora e musicista de destaque que se instalara em Campinas no início do século. No entanto, pouco se sabe sobre esse cinema que, assim como o Cine Radium, fechou-se pela concorrência de outros. Com maior período de funcionamento, o Cine Recreio estendeu suas atividades até 1918, quando foi totalmente leiloado. As descrições de seus espaços e aparatos indicam um ambiente de razoável sofisticação e conforto, características físicas que outros cinemas buscavam conservar, oferecendo-se ao público segundo uma imagem de modernidade e luxo.

Enquanto ainda se encontrava ativo, o Cine Recreio investira em um agradável passatempo para seus frequentadores, como anunciou no Diário do Povo em abril de 1916: “A empresa cinematográfica do Recreio inaugurou mais um ótimo melhoramento, que consiste num quinteto, que antes das sessões, executará composições musicais conhecidas e de grandes autores, na sala de espera.” À semelhança dos cinemas cariocas da Avenida Central, a música nas antessalas funcionava como prenúncios dos bons programas que se seguiriam e relacionava-se aos momentos de sociabilidade.

Em 1917, sabe-se que no Colyseu, de forma peculiar, tocava a banda do maestro Troiano, possivelmente a Banda Progresso Campineiro. Quanto ao Teatro São Carlos, sua orquestra de dez músicos em 1909 era conduzida por Francisco Russo. Arrendado por outras empresas a partir de 1920, o espaço passou a funcionar sob os nomes de Cine-Fox, com a direção de Vianna e Bianchi, e Cine São Carlos, com Thomaz Ortale. Nesses anos, os

programas parecem ter-se condicionado aos níveis da elite, que se dirigia às soirées chics no teatro adaptado a cinema.

Em junho de 1920, por exemplo, anunciava-se um bom programa musical e cinematográfico: “Quem for hoje ao ‘Cine’ passará horas deliciosas, ouvindo belíssimas partituras de músicas clássicas e assistindo emocionantes cenas dramáticas pelos mais notáveis artistas universais.” (Diário do Povo, junho de 1920) Entre outras peças, seriam tocadas as passagens sinfônicas de operetas como a aberturas de Poète et paysan de Franz Suppé e a de Si j’étais roi de Adolpho Adam, o quarteto de Rigoletto, de Verdi e as valsas Alma adorada e Longe, bem longe de ti, do compositor local Hugo Bratfisch. Em outra noite a orquestra executaria o seguinte programa, quase todo ocupado por trechos de óperas:

Revue de la Garde – Marche

Valsa da ópera La Bohème – Puccini Grande Fantasia de Mefistofele – Boito 1ª parte de Madame Butterfly – Puccini

Quintetto e Finale de Lucia de Lammemoor – Donizetti Fantasia O Guarani – Carlos Gomes

Pout-pourri I Pagliacci – Leoncavallo Preghiera de Lohengrin – Wagner

Nesse período, pouco tempo antes do fechamento do Teatro São Carlos, as sessões de cinema destacavam-se pela qualidade de seu acompanhamento musical. Em 1921, então como Cine São Carlos, suas soirées cinematográficas eram abrilhantadas por sua bem organizada orquestra, à frente da qual estava Gutemberg de Morais:

Vale a pena assistir-se uma sessão cinematográfica no Cine São Carlos. Só a orquestra, por si constitui um maravilhoso programa. As partituras sobressaem-se clássicas, são escolhidas com o máximo bom gosto. Ademais a orquestra está agora acrescida de novos e importantes elementos, principalmente de um violino já consagrado no nosso meio artístico. Quem desconhece Gutemberg de Moraes em Campinas? Ninguém, e esse nome tão acatado no meio artístico campineiro, é o bastante para elevar a orquestra do Cine São Carlos. (Diário de Campinas, agosto de 1921)

O Cassino Carlos Gomes também possuía uma orquestra de destaque com regentes como Francisco Russo, Antonio Leal, Guilherme Mignone, Mario Monteiro e João do Amaral (Mendes, 1963: 93). Em 1912, Antonio Leal regia a orquestra de 10 músicos, substituído temporariamente a partir de abril por Luiz Provesi. Antes de ausentar-se, o

músico acompanhou o filme O mártir do Calvário em um programa na Sexta-feira Santa, tocando harmônio.

Sabe-se que para o enriquecimento do repertório da orquestra e para o oferecimento das necessárias novidades, as partituras eram adquiridas em São Paulo. Em 1914, contratou-se por sua vez o músico Antonio Jorge, há algum tempo presente em Campinas durante celebrações religiosas. Com o maestro Salvador Bove, no entanto, a orquestra chegou ao número de 20 componentes. Em junho de 1920, sob sua regência, foram executadas as peças seguintes:

F. Suppé – Pique Dame, sinfonia Bellini – Norma, fantasia

Waldteufel – Papillons bleus, valsa Meyebeer – Les Huguenotes, fantasia Gugo Noris – Valse d’or, valsa

Ponchielli – Gioconda, grande fantasia Waldteufel – La plus belle, valsa Gounod – Mireille, fantasia

Veem-se marcadamente, ao lado das fantasias sobre motivos operísticos, as valsas de Émile Waldteufel (1837-1915), compositor francês de grande produção de gêneros dançantes, como polcas e mazurcas.

No Teatro Rink, a orquestra organizou-se para acompanhar o filme O rival do padre, em que atuava o protagonista era Carlyle Blackwell e “cujas cenas delicadas e de leves emoções para o espírito se adaptam perfeitamente à vida social moderna, onde tudo é rápido, nervoso, eletrizante” (Diário do Povo, fevereiro de 1922). O recortado repertório, ao adaptar- se às diferentes cenas, mostrou-se igualmente eclético. De Mozart a Moreira Lopes, incluía-se ainda uma peça de fox-trot, influência da música americana que se achava em ascensão.

Nabucodonosor – Verdi

Revue de la Garde (Parade) – Eilenberg Grande Aventure, valsa – Waldteufel Manon, fantasia – Massenet

Au revoir, valsa - Waldteufel

Madame Butterfly, fantasia – Puccini Santa Lucia luntana – A. Moris La Bohème, fantasia - Puccini Marcha Turca – Mozart

Marcha Nupcial – Mendelsshon Margie, fox-trot – Rolinson

Lamentos, valsa lenta – José Moreira Lopes

Os cronistas referem-se ao repertório das orquestras dos cinemas segundo os gêneros mais populares das valsas, marchas, polcas e mazurcas, além de famosos trechos de óperas. Como se viu, as principais referências musicais cultivadas nos tradicionais espaços sociais e artísticos, das soirées dançantes às noites líricas no teatro, deram-se de forma natural às recentes aplicações, uma vez que os acervos de partituras disponíveis, embora renováveis e com algumas novidades, eram basicamente os mesmos de tempos atrás. Peças e estilos de música há muito consagrados combinavam-se, portanto, às novas situações e objetivos.

De intensas atividades nos espetáculos cinematográficos, as orquestras, com seus músicos e regentes, experimentaram funções em oportunidades inéditas, ao mesmo tempo em que empreendiam não poucos esforços para a adequação de repertórios e alcance de qualidade técnica, dividindo-se entre o prestígio e as responsabilidades do fazer musical. De forma positiva, sua atuação e sua música, ainda que em moldes tradicionais, colaboraram para o coroamento do cinema como espaço centralizador do entretenimento também em Campinas, dotando-o da arte audível em excelentes níveis. Como formação instrumental em evidência, a orquestra achou-se no vértice das renovações das práticas musicais, convertidas em outras linguagens junto à contemplação da cena muda.

Capítulo 3