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A música e seus espaços: palcos, salões, altares e ruas

2.1 O Teatro São Carlos

O primeiro teatro campineiro abrira suas portas ainda em 1850, alguns anos depois de Campinas elevar-se de sua condição de vila para a de uma cidade. Construído e mantido por uma associação teatral, o Teatro São Carlos ergueu-se como espaço de representação da modernidade, tornando-se fundamental para a vida cultural ali observada, que se intensificaria na década de 1870. Nesse tempo, centralizava os mais diferentes eventos artísticos e de divertimentos, de óperas e concertos a espetáculos de variedades.

Junto ao teatro, emergiu também a figura de um público, sendo bastante intrínsecas as relações surgidas entre o espaço e seus frequentadores. Enquanto adequavam-se os padrões de comodidade do recinto teatral, modificavam-se também os padrões de comportamento dos espectadores.

No entanto, o movimento ascendente em seus níveis de acolhimento ao público, observado pelas adaptações feitas nas acomodações até avançados anos de 1870, pareceu declinar após esse período, de forma que, em pouco tempo, o teatro deixaria de cumprir seu papel satisfatoriamente.

Na década de 1880 registram-se duras críticas ao prédio, já considerado incapaz de corresponder adequadamente, por sua estrutura um tanto ultrapassada, ao desenvolvimento da cidade, nem às necessidades das companhias artísticas que o visitavam. Naqueles mesmos anos surgiram também as discussões sobre a urgência da construção de um novo teatro, levando a iniciativas concretas para a tal finalidade que, no entanto, não apresentaram resultados devido a dificuldades com a Câmara Municipal. (NOGUEIRA, 2001: 60-1).

Ao passo que a insatisfação pela insuficiência do São Carlos tornava-se generalizada – insatisfação que duraria por todos os anos restantes da existência desse espaço – o teatro passava por frequentes reformas, como as efetuadas entre 1886 e 1887. Grandes melhoramentos, como a ampliação dos camarins e dos camarotes, a construção das escadarias

laterais e de um amplo salão na parte térrea contribuíram para elevá-lo a uma condição razoavelmente superior, complementada ainda com novas ampliações em 1889. (idem, p.63).

Não obstante os recorrentes esforços de adequação do prédio teatral, outra comissão com a finalidade de construir o novo teatro achava-se organizada no início de 1896, formada, entre outras figuras expoentes, por Bento Quirino dos Santos e pelo Barão Geraldo de Rezende. O movimento cessou, no entanto, devido às momentâneas dissoluções ainda trazidas pelo surto epidêmico daquele ano.

De forma considerável, o acanhamento do São Carlos passou a resultar, em muitos casos, no próprio distanciamento de seu público. Em 1898, começando a se tornar um velho e repetido tema na imprensa, a urgência de um novo teatro volta à tona expondo uma plausível relação entre o interesse do público por espetáculos artísticos, a qualidade das companhias líricas ou dramáticas e a falta de capacidade estrutural do teatro São Carlos. Defende o redator que, sendo o teatro incapaz, por suas limitações, de corresponder às expectativas das melhores companhias, atraindo apenas as de nível inferior e de menores exigências materiais, o público campineiro manifestava-se, então, desinteressado em comparecer a tais espetáculos, sendo pouca a concorrência nessas ocasiões:

Se, muitas vezes, vemos o teatro vazio quando aqui trabalham companhias, não se explica o fato pela pouca estima que o público inteligente de Campinas preste às questões de arte. Poucos são mais dedicados à arte; nenhum, como ele, exigente. E, nessa exigência, se deve ir buscar a origem, a razão suficiente, precípua, do abandono em que, por vezes, o nosso povo deixa esta ou aquela empresa teatral. Assim é que o público, ou repleta o teatro quando são boas as companhias de variedades que por aqui aparecem, ou para assistir as revistas tão ao gosto de nosso paladar apimentado. Às companhias dramáticas ou líricas, ele pouca ou nenhuma atenção presta. Também, benza-as Deus! As que nos dão a honra de uma visita, são quase imprestáveis ou pouco menos. Compreende-se, pois, nesses casos, a frieza do público, como se compreende bem o seu entusiasmo, quase delirante, para com empresas de primeira ordem, como a Ferrari. Deem-nos um bom teatro capaz de comportar encenações regulares, e com lotação suficiente aos gastos das boas companhias, e vereis como o teatro será procurado pelo povo, ora como distração, ora como meio de educação popular dos costumes. (Diário de Campinas, 12 de outubro de 1898).

Percebe-se que as grandes insuficiências do teatro resumiam-se, por um lado, em sua pequena capacidade de lotação – o que, além de não oferecer conforto ao público, tampouco fazia-se em número suficiente para cumprir as expectativas de lucro das maiores companhias artísticas, e era o que levava, não raro, ao encarecimento do preço das localidades. O outro aspecto referia-se às limitações espaciais de seu palco, que não

comportava a grande mise-en-scène e os coros das trupes líricas. O lugar reservado para as orquestras era, de igual modo, reduzido.

Em setembro de 1899, finalizaram-se novas reformas, dessa vez apontadas por um relatório do engenheiro municipal. Ainda em 1898, notavam-se grandes fendas na parede lateral direita, devido ao escoamento da água da chuva para a rua 13 de Maio e que, retidas no local pela estrutura anexa do botequim e infiltrando-se nas bases do prédio, causavam os perigosos danos. Aparentemente, os reparos efetuados em 1899 atenderam a quase todas as indicações, com uma completa limpeza e pintura do teatro, sendo as paredes internas e o teto pintados de verde ultramar, bem como as grades de ferros dos camarotes, varandas, galerias e da plateia, acrescidos de detalhes em dourado. As exigências incluíram obras de complemento de canalizações no prédio do botequim e o calçamento do largo em frente ao teatro. Este último melhoramento, no entanto, só foi totalmente cumprido alguns meses depois, em meados de 1900.

As melhorias, embora frequentes, pareciam não contemplar de todo as muitas necessidades do teatro. Em uma noite de novembro de 1902, quando a companhia Sansone apresentava o primeiro ato de Il Guarayi, uma forte tempestade provocou o alagamento do palco, atingindo também a plateia (Cidade de Campinas, 06.11.1902). Pouco tempo depois, em janeiro do ano seguinte, por ocasião da temporada da companhia lírica Rotoli, as reclamações davam-se em torno da má iluminação do teatro e da precariedade do palco cênico e das dependências, cujos reparos eram urgentes (idem, 30.01.1903).

Após algum tempo, com as reformas de 1906, os camarins foram completamente pintados e melhor iluminados e ventilados, e às janelas adaptaram-se vidros resguardados por arames. As maiores transformações, porém, deram-se nas varandas laterais, nas quais a má disposição dos assentos ao fundo impunham dificuldades na visibilidade do palco. Tal deficiência, na prática, resultava em perda na venda dessas localidades, evitadas pelo público. Para a solução, o projeto do engenheiro René Renault propunha a conversão das varandas em quatorze camarotes, nos quais uma inclinação em seu nível garantiria a visão do palco a todos os seus ocupantes. Medindo 1,5m de frente e 2m de fundo, seriam também ricamente decorados com pinturas internas, franjas amarelas e sanefas de veludo carmesim, e ao fim proporcionariam, junto às varandas em semicírculo ao fundo, um número de 108 lugares.

O relatório da associação para o ano de 1906 confirmava a adaptação dos camarotes, bem como a nova pintura do interior e exterior do teatro, além da instalação de três grandes lâmpadas incandescentes sobre a plateia. Houve também vários melhoramentos nos cenários, cujas peças necessitavam de reformas há mais de quinze anos. O pano de boca pintado por Alexandre de Concilis e Bertoni, no entanto, foi alvo de alguns comentários desfavoráveis de um certo articulista no Correio de Campinas, nos quais julgava inapropriada a seminudez das musas da arte ali representadas. Ao rebater tais críticas, um artigo do Cidade de Campinas revela que a pintura fora, na verdade, inspirada em uma obra artística que se encontra na Ópera de Paris.

Lia-se também no Commercio de Campinas que as obras no teatro não corresponderam de todo às expectativas gerais:

A transformação das varandas em uma espécie de frisas traz vantagem unicamente à empresa, que encarece as localidades; a iluminação não é das melhores; o pano de boca é positivamente inferior ao velho, ao substituído, e assim por diante. Todavia, há uma face boa na transformação, que é, além de higiênica, muito decente, e essa consiste na limpeza que fizeram em todas as paredes, gradis, forros, etc. (Commercio de Campinas, 07.02.1907)

O fato era que, entre as muitas reformas, o antigo dilema do palco diminuto perpetuava-se. O mesmo crítico acima, que escrevia sobre a representação de Aida, expunha que a estreia havia sido infeliz,

e o há de ser sempre representada com deficiências, com sacrifícios e com dificuldades insuperáveis no pequeno palco do S. Carlos, que não comporta a exibição da formosa peça tal é, como tivemos ainda o ensejo de verificar na entrada dos prisioneiros e das trompas do 2º ato. (idem)

Os primeiros anos do novo século não pareciam apontar tempos de prosperidade à associação teatral. Segundo seus relatórios anuais, o teatro havia sido ocupado somente 18 noites em 1904, e em 1905, 46 vezes. No ano de 1906, o número de ocupações foi de 30 noites, 12 das quais atuou a companhia dramática de Ismênia dos Santos. Esse fato destaca-se por haver essa trupe declarado na imprensa grande insatisfação pelas condições contratuais para o aluguel do teatro, cujo preço, somado a outras custos, resultaria no valor de 570$000, pagos com antecedência. Como expressava a declaração:

Nas condições horrorosas exigidas pela diretoria do teatro não há companhia que venha trabalhar aqui. E é por isso que o teatro está e estará sempre fechado. Trabalhar ali é perder pela certa. A companhia Ismênia dos Santos irá trabalhar no Rink. Faz bem. As despesas são muito menores e o povo quando quer ver espetáculos não se importa com o local. A prova aí está nos espetáculos dados pelo cinematógrafo. O teatro São Carlos está definitivamente fechado. Não há empresário que não se benza, ouvindo falar nele. (Commercio de Campinas, 08.08.1906)

Em face à iminente perda de contrato, mostra o relatório um recuo por parte da diretoria, diminuindo o preço do aluguel de 270$000 para 250$000 por noite, incluindo ao valor os serviços de gás para a iluminação, bem como os do gasista, maquinista, auxiliares para mudanças de cenário, porteiros e bilheteria. Ainda houve, no entanto, grandes dificuldades em serem contratadas outras companhias, que se negavam a vir à cidade sem a prévia cobertura de assinaturas. No fechamento das contas daquele ano, devido às reformas, restava ainda um déficit de 2:701$010, que deveria ser recuperado ao longo de 1907.

Novamente, nesse novo ano não houve avanços, tendo a associação reduzido o aluguel ainda para 225$000 por noite. Embora a casa tenha sido ocupada mais vezes em relação ao ano anterior, o pagamento restante de dívidas e a manutenção do teatro não possibilitou a emergência de um melhor quadro financeiro. Uma justificativa recorrentemente apresentada pela diretoria, cuja presidência era ocupada por Antonio Álvares Lobo, dava-se em torno das gerais dificuldades por que passavam as empresas teatrais naqueles anos, devido à recessão econômica que atingia, primeiramente, os círculos culturais.

Em busca de soluções, observa-se que em abril de 1908 a associação firmou um acordo com a empresa F. Serrador e Comp., proprietária do teatro de Curitiba e arrendatária de dois teatros em São Paulo, a fim de também arrendar o teatro São Carlos pelo período inicial de um ano, sob um aluguel de 18:000$000. A empresa Serrador, portanto, promoveria a vinda de companhias.

Em 1909, um novo investimento foi feito na modernização do teatro, com a instalação da luz elétrica, em substituição à iluminação a gás. Os estudos para a implantação do melhoramento haviam começado no ano anterior, e os gastos para a execução deram-se em mais de 5 contos de réis. A iluminação elétrica, por sua vez, exigiria custos mais reduzidos do que o antigo sistema, proporcionando menores despesas.

O número de ocupações do teatro pouco havia aumentado, voltando-se a diretoria às razões econômicas que há tempos apontava. Por esses anos, a grande popularização das

sessões cinematográficas passa a constituir fator relevante para a explicação do esvaziamento das casas tradicionais. Em Campinas, o Teatro Rink havia se adaptado rapidamente às novidades do cinema, atraindo grande público. Demandando menos custos que outros espetáculos e tornando os bilhetes mais acessíveis, tais atrações passaram a ser uma prática central nos hábitos urbanos.

Teatro São Carlos em 1914, encontrando-se o Largo Ruy Barbosa já arborizado. Arquivo Fotográfico de Centro de Memória

Também o teatro São Carlos buscava transformar-se em sala de projeção, recebendo empresas do ramo. No entanto, marcadamente a partir do ano de 1909, surgiram novos espaços dedicados exclusivamente às exibições de filmes, como o Cine Bijou e o Cine Recreio. Em 1910, o Casino Carlos Gomes inaugurou-se como casa de espetáculos e cinema, ampliando ainda mais a oferta de programas de entretenimento ao público que, até então, dispunha de apenas dois teatros na cidade.

Diante de sensíveis mudanças, percebe-se então a confirmada descentralização por que passava o antigo teatro que, no entanto, ao menos em alguns momentos, adaptou-se satisfatoriamente ao novo gênero de diversão pública. Em 1918, por exemplo, instalou-se ali

por vários meses o Cine-Fox, da empresa Vianna e Bianchi, e em 1919, o Cine de Luxo, de Thomaz Ortale. Ainda durante alguns meses de 1920, retornou o Cine-Fox. A partir de julho de 1921, a empresa Ortale novamente instala-se com o Cine São Carlos13, oferecendo sessões até ao ano seguinte, nos derradeiros dias de funcionamento do teatro.

Durante a última década de sua existência, é necessário considerar, no entanto, a vinda de um número razoável de companhias de operetas, e até mesmo de companhias líricas, ainda que poucas. De certa forma, no caso das companhias de revistas e operetas, gêneros que mantinham sua popularidade por esse tempo, havia que concorrer com o Rink, que recebia em seu grande espaço muitas trupes. O São Carlos era, às vezes, procurado por grupos dramáticos locais ou para alguns raros concertos.

Um tanto surpreendente pareceu a iniciativa de sua Associação quando, próximo a 1920, anunciou grandes reformas que transformariam estruturalmente o velho edifício, e ao final poderiam ser somadas em mais de 300 contos de réis. O projeto de Mariano Montesanti previa a demolição de quase todo o prédio, permanecendo somente as paredes da rua José de Alencar, que abrigavam a caixa, e as paredes laterais de taipa da plateia. A fachada, refeita em estilo renascentista vienense, avançaria oito metros à frente e mais de dois metros para cima, e sua entrada principal teria cinco metros de largura. Seriam acrescidas saídas pelas ruas laterais, salas internas e camarins.

A capacidade total do teatro seria de mais de 1340 lugares, com poltronas giratórias na plateia, cuja sala aumentaria em tamanho, e as frisas, em maior número, perderiam suas colunas de ferro fundido, com ampla vista sobre o palco. Além de camarotes no segundo plano, haveria setenta balcões de foyer, encimados, no último plano, por galerias. O palco, por sua vez, ganharia dois metros em altura, e mais de um metro em largura e profundidade. Entre outras ampliações, o local para a orquestra teria mais espaço, com quinze metros de lado a lado, e quatro metros da frente ao fundo, em um plano inferior ao da plateia.

13 O Cine São Carlos instalado no teatro difere-se do cinema de mesmo nome localizado à rua Cesar

Fachada do novo Teatro São Carlos segundo o projeto de M. Montesanti Fonte: Diário de Campinas, 20.01.1920

O grandioso projeto parece não ter sido nem em partes executado, pois deveria ser posto em obras com um auxílio da Câmara, que lhe foi negado. Enquanto falava-se sobre reformas para meados de 1920, a permanência desse teatro e suas grandes pretensões de renovação eram motivo de indignação nas páginas dos jornais. Voltando à deficiência visceral daquele espaço, José de Campos Novaes, crítico musical e até mesmo um acionista do mesmo teatro, além de julgar a reforma do pardieiro um desastre, escrevia:

Digo com sumo pesar que a falta de dimensões do cenário onde nunca pode ser disposto uma perspectiva qualquer, das que são vulgaríssimas nos teatros de São Paulo, é aqui coisa nunca vista nem lembrada. Que as 800 pessoas que cabem na atual plateia e camarotes sejam elevadas a 1200 ou mais, nada adiantará, se as peças forem minúsculas operetas, porque nem essas conseguem se adaptar aos metros de boca do S. Carlos. (...) De que nos vale renovar o corpo das galerias e camarotes demolindo as paredes, se o teto do cenário não pode ver subir durante um intermezzo os panos, sem que se proceda a carpintaria que adapta as condições exíguas do local. Alguém já se lembrou que os palcos exigem uma altura dupla da boca de cena, o que faz o teto ser mais alto do que a cúpula sobre a plateia? Conservar os camarins laterais como coisa valiosa, sem atentar a tudo isso é erro que

mais tarde será imperdoável e até incompreensível para os campineiros do futuro. (Diário de Campinas, 22.02.1920)

A urgente necessidade de uma iniciativa eficiente para a construção de um teatro adequado à cidade movimentava discussões há décadas. Se para algumas tentativas já havidas ao final do século XIX o poder municipal concorreu com empecilhos, no correr do novo século parece haver uma postura diferente de sua parte. Em março de 1913 foi apresentado um projeto de lei na Câmara assinado por Raphael Andrade Duarte e outros vereadores, cuja proposta seria conceder um auxílio de 50 contos de réis à empresa ou companhia que construísse um teatro com custo mínimo de 300 contos de réis. Haveria isenção, ainda, dos impostos predial e de metros corridos pelo prazo de quinze anos. Tempos depois, em 1917, por deliberação da Câmara, fora o Largo Carlos Gomes posto à disposição para a construção do teatro.

Em 1919, ainda nenhuma resposta manifestara-se às propostas da Câmara, de modo que fortalecia-se a ideia de que o teatro deveria ser, de fato, uma iniciativa propriamente do poder municipal. Finalmente, no ano de 1921, novo projeto de lei foi apresentado por Raphael Duarte, então prefeito de Campinas. Aprovada em setembro daquele ano, em seu primeiro artigo a nova lei deveria autorizar a Prefeitura a construir o Teatro Municipal mediante projetos e plantas previamente aprovados pelo poder legislativo. O segundo artigo, no entanto, autorizava a prefeitura “a fazer um empréstimo interno de até 700:000$000 (700 contos de réis) pagável no prazo de 10 anos a juros de 8% e amortização de 7%.” E o artigo terceiro, por sua vez, deliberava : “Para garantir o pagamento dos juros e as amortizações, ficam alterados a partir de 1922 em diante os impostos predial, viação (metros corridos) e indústrias e profissões (...)” 14

Os meses que antecederam a aprovação final da lei foram de intensa discussão e contrariedades na imprensa campineira e até mesmo na de São Paulo e de outras cidades. Na Câmara, a princípio, apenas Álvaro Ribeiro, vereador e jornalista, havia votado contra o projeto, que fatalmente atingiria as classes menos favorecidas em suas já precárias condições econômicas. A ele uniram-se depois Araújo Mascarenhas e Paulo Pupo Nogueira. No Diário do Povo, liam-se apelos em seus constantes editoriais combativos ao projeto:

14 Lei nº 272 In: Câmara Municipal de Campinas. “Leis, resoluções e mais actos promulgados durante o ano de

E o contraste será tristíssimo, porque ao tempo em que os abastados e remediados se repimparão em poltronas, frisas, camarotes e balcões, apreciando boa música, as pernas das bailarinas e escandalosos vestuários, com automóvel à porta do teatro, esperando para reconduzi-los às confortáveis residências, onde em fofos leitos sonharão com as delícias de um magnífico espetáculo, em quantos lares paupérrimos faltarão o pão e o leite, graças ao aumento do aluguel, proveniente dos impostos que serviriam para proporcionar essas regalias aos ricos? (Diário do Povo, 08.07.1921)

Entre os muitos argumentos contrários à lei nas sessões da Câmara, considerava- se a exorbitância do valor a ser tomado, cuja aprovação seria impossível caso uma revogada lei estadual ainda estivesse em vigor, a qual impedia as municipalidades de contraírem empréstimo com juros e amortizações maiores que a quarta parte de sua renda. Outra