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2. CONTEXTO HISTÓRICO DA SOCIEDADE COLOMBIANA NA

2.3. O Iluminismo e as transformações sociais

Se por um lado a economia do mundo no século XIX foi formada principalmente sob a influência da Revolução Industrial britânica, por outro, sua política e ideologia são provenientes fundamentalmente da Revolução Francesa, que forneceu o vocabulário e os

16 A edição original de Bagú data de 1949. BAGÚ, Sergio, Economia de la sociedade colonial, Buenos

temas da política liberal e radical-democrática para a maior parte do mundo (HOBSBAWM, 1977).

A Revolução Francesa não foi um evento isolado, mas um movimento capaz de deixar marcas, pois além de ocorrer, como nos descreve Hobsbawm (1977), no país mais populoso do mundo, foi o movimento popular de massa mais radical e profundo que os similares da época e, ademais, foi ecumênica, pois suas ideias, realmente, revolucionaram o mundo. Na América Latina, por exemplo, notamos sua influência nos levantes desde 1808.

As origens da Revolução Francesa remontam ao ápice do absolutismo francês durante o reinado de Luís XIV, no século XVIII. Naquela época, a França se encontrava em uma grave crise financeira, criada, basicamente, por sua estrutura social. Membros do clero e nobres não pagavam impostos, restando aos camponeses sustentarem o Estado, o que gerou um grande desequilíbrio fiscal.

Associado a essa estrutura social, outro agravante da crise financeira francesa foi a aliança com os norte-americanos, contra a Grã Bretanha seu antigo rival europeu, nas lutas independentistas. Como resultado, ainda que vitoriosos, o custo da guerra mergulhou a França em uma grave crise econômica e, aos milhares, surgiram pedintes, que passaram a vagar pelo país, saqueando e destruindo propriedades. Muitos culpavam a nobreza pela miséria em que o reino se encontrava e, na capital, Paris, operários e artesãos começaram a fazer greves, manifestando-se cada vez mais frequentemente contra a política econômica da França.

Na tentativa de se solucionar o problema financeiro francês, o ministro da época propôs que a nobreza e o clero pagassem impostos. A óbvia recusa fez com que se abrisse uma primeira “brecha no absolutismo”, como nos diz Hobsbawm (1977), com a convocação de uma assembleia de notáveis. O impasse nessa assembleia levou a uma atitude desesperada do governo representada pela convocação dos Estados Gerais, a velha assembleia feudal enterrada desde 1614. Tais ações não foram bem recebidas e, ainda segundo Hobsbawm (1977), as revoltas iniciadas a partir dessas levaram à Revolução Francesa.

A Revolução não se iniciou, portanto, em um movimento coordenado por um partido político, mas sim, por uma aristocracia que queria reestabelecer o Estado. O curso da Revolução foi guiado pela concordância dos ideais do liberalismo clássico difundidos pela maçonaria e associações informais em uma classe burguesa coerente. Tais ideais, inspirados no Iluminismo, podem ser vistos na Declaração dos Direitos do Homem e do

Cidadão, de 1789, que diz: “Os homens nascem e vivem livres e iguais perante as leis” (HOBSBAWM, 1977, p. 77).

Ficam claras a relação e a influência do pensamento iluminista no trecho da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão: “liberdade, igualdade e, em seguida, a fraternidade de todos os homens” foram slogans do movimento, que passaram a permear o pensamento burguês em diversas partes do mundo.

Inicialmente não citada como participante da fundação do movimento iluminista, a França, que passava por uma grave crise política e econômica, se aproveitou dessas ideias e iniciou uma série de eventos políticos que acabariam por gerar a Revolução Francesa de 1789.

Podemos ver os primeiros sinais desse movimento, no entanto, no Sacro Império Romano Germânico, Holanda e Inglaterra, onde inclusive membros da ascendente classe burguesa passaram rapidamente a aderir ao movimento.

Segundo Hobsbawm (1977, p. 37). É correto dizer que o Iluminismo é uma “ideologia revolucionária, apesar da cautela e moderação política de muitos de seus expoentes continentais, pois o Iluminismo implicava a abolição da ordem política e social vigente na maior parte da Europa”.

O Iluminismo acreditou no progresso do conhecimento humano, na racionalidade, na riqueza e no controle sobre a natureza. Os maiores representantes deste movimento eram aqueles homens progressistas, envolvidos nos avanços tangíveis da época. Segundo Hobsbawm (1977, p. 37), os homens imersos nesta ideologia “saudaram Benjamin Franklin, impressor e jornalista, inventor, empresário, estadista e negociante astuto, como o símbolo do cidadão do futuro, o self-made-man racional e ativo”.

O Iluminismo alegava que apenas a razão, aliada ao método científico, poderia fornecer as verdades elementares e, por consequência, as bases do progresso do conhecimento para:

libertar o indivíduo das algemas que o agrilhoavam, do tradicionalismo ignorante da Idade Média, da irracionalidade que dividia os homens em uma hierarquia de patentes mais baixas e mais altas de acordo com o nascimento ou algum outro critério irrelevante precisavam se abrir caminho (HOBSBAWM, 1977, p. 37)

Diante disso, é compreensível a iniciativa de vários nomes ligados ao movimento de começar o desenvolvimento e a publicação daqueles que se tornariam, entre a década de 1750 e a década de 1770, os 35 volumes da Enciclopédia.

Somando no total cerca de 70.000 textos sobre os mais variados assuntos, a Enciclopédia era uma espécie de catálogo ornamentado de todo o conhecimento da época em que foi produzida. Pela primeira vez na história, “toda a sabedoria humana” foi reunida numa só coleção, que estava totalmente disponível ao público, incentivando, assim, o pensamento livre.

Segundo Arce (2015), as principais categorias para uma concepção de desenvolvimento de sociedade baseada no modelo liberal burguês foram fornecidas pela França e pelo Iluminismo. Destaca, ainda, o autor que, nesse contexto, a educação passou a desempenhar um papel muito importante, pois ela seria o único instrumento capaz de formar o cidadão para o novo regime.

A influência da Revolução Francesa e do iluminismo nas guerras de independência e na formação das nações da América Latina foi decisiva, como podemos registrar nos tópicos seguintes.