• Nenhum resultado encontrado

1. HISTÓRIA DO ENSINO DA MÚSICA NAS ESCOLAS PÚBLICAS

1.2. Revisão bibliográfica

Para responder à questão principal do trabalho recorremos a uma seleção de fontes históricas e documentos relativos ao ensino de música nas escolas públicas colombianas, além das propostas estabelecidas pelo Ministério da Educação Nacional e pelo Ministério da Cultura para a área de educação artística e ensino de música.

As informações coletadas serão organizadas em função dos seguintes parâmetros: a) recuperar os antecedentes históricos acerca da formação musical na Colômbia; b) compilar e analisar a transformação dos planos pedagógicos e metodologias do período estabelecido; c) observar as transformações político-culturais da educação e seus desdobramentos no ensino de música.

Essa organização nos permitirá estabelecer um procedimento de trabalho, que delineará o texto, de modo a elucidar nosso problema, e auxiliará na construção de questões secundárias, como: qual concepção de educação musical esteve presente nos

documentos pedagógicos elaborados ao longo do período delimitado? Quais as características das práticas pedagógicas que foram adotadas pelo sistema escolar colombiano?

Tais questões permitirão uma abordagem coordenada de diversos elementos que permearão nosso texto e para desenvolvê-los, além dos documentos coletados (legislações, planos de estudo, textos escolares, periódicos e jornais de diversas épocas), recorreremos a pesquisas nas áreas de interesse com a intenção de compor uma fundamentação e uma contextualização teórica, almejando os seguintes assuntos:

 Propostas pedagógicas para ensino de música na Colômbia.

 Influências histórico-políticas na constituição da escola colombiana.  História das práticas pedagógicas para o ensino de música.

Diante disso, nossa pesquisa se utiliza de ferramentas históricas, na medida em que depende da busca, da catalogação e da utilização de documentos para explicar o perfil do ensino de música na Colômbia.

Para construir essa explicação, observaremos momentos de ruptura ocorridos ao longo do período histórico estabelecido no trabalho, pois nesses se revelam as contradições e as peculiaridades do objeto, capazes de guiar a argumentação durante nosso texto.

Como referencial histórico, utilizaremos as ideias de Aróstegui (2006), que propõem uma reflexão “sobre a natureza mesma da ‘ciência histórica’”, por meio de uma disciplina do conhecimento da História, que se chamaria historiografia. Sua proposta está fundamentada na reflexão teórica sobre o próprio trabalho do historiador, que, para ele, deve conter teoria e crítica.

Essa referência nos leva, portanto, a um olhar crítico aos pontos referenciais, como a mudança de governo ou a edição de nova legislação, permitindo não somente descrever os eventos ocorridos, mas também pensar sobre eles a partir de uma perspectiva mais ampla, considerando a complexidade social, política e econômica desse “complicado jogo em que protagonistas e demandas estão atravessados por contradições, confrontos e conflitos” (SUBTIL, 2011, p. 242).

Não podemos deixar de lado o comentário sobre as fontes históricas musicais colombianas, já que os jornais da época publicavam programas e resenhas de concerto, contribuindo sobremaneira para a compreensão da vida musical da época. Esse tipo de registro nos leva a traçar um paralelo entre as práticas pedagógicas musicais na escola pública colombiana e o ambiente artístico local, que se mostrava elitista e segregador.

Além da análise histórica que uma fonte necessita, podemos compor a argumentação envolvendo autores da atualidade. Assim sendo, em nosso trabalho utilizaremos autores que se debruçaram sobre o cotidiano artístico colombiano dos séculos XIX e XX, como Barriga (2014) e Perdomo (1963), com o intuito de mostrar como as práticas coloniais de legitimação da cultura europeia foram reproduzidas nos ambientes de estudo musical da elite, a exemplo da Academia Nacional Musical, como se diferenciaram do conteúdo musical abordado nas escolas públicas, também por seu perfil popular que orientou uma constituição pragmática e tecnicista de seu programa.

As discussões acerca do ensino de música serão interpretadas com base no referencial da música e da educação. Segundo (2015b), para discutir a Arte na educação é preciso considerar, no espaçoformal de educação, as implicações do encontrode duas áreas de conhecimento que atuam na formação dos sujeitos. Em sua tese a autora apresenta um importante comentário de Saviani sobre os saberes e o espaço educativo, que se torna conveniente para nossa pesquisa:

Existem diversos tipos de saberes e conhecimentos como: o sensível, o conhecimento intelectual, o conhecimento artístico e estético, conhecimento religioso, etc. No entanto, alerta que o saber que diretamente interessa a educação está vinculado ao trabalho educativo e resulta a aprendizagem. Portanto, a obra de arte ao se “deslocar” do

atelier, dos museus e das galerias e adentrar no universo da educação, compartilha com esta área de conhecimento os desafios do trabalho educativo. Por isso, a reflexão constante do professor é fundamental para compreender o lugar da Arte na educação e os significados deste encontro. (SOARES, 2015, p. 26, grifo do autor)

Levando em conta os elementos constitutivos da música, podemos propor nossa análise pela observação: do gênero, das ordenações rítmicas, dos estribilhos, da tonalidade musical, da melodia, da harmonia e também da letra da canção, com o propósito de identificar, além dos aspectos técnicos, traços culturais, relações sociais, hierarquias, relações de poder, intencionalidades que possam estar incluídas nesse material.

Para discutir a educação do sensível através da arte, utilizaremos como referencial os estudos de Duarte Junior (2000), que estabelecem uma discussão acerca da importância de uma educação que reconheça o fundamento sensível de nossa existência e a ele dedique a devida atenção, propiciando o seu desenvolvimento.

Segundo Soares (2015), Duarte Júnior confere à educação estética o status de necessária e urgente. Os sujeitos educados esteticamente, para o autor, podem fazer frente à educação oficial desumanizante, baseada em verdades absolutas e que menospreza os saberes sensíveis. Ainda segundo o autor, a educação que temos hoje, de forma geral, está organizada pelo pragmatismo, pelo relativismo teórico e pelas práticas pedagógicas instrumentais.

Duarte Junior (2000) aponta para o fato de que os cursos de arte passaram a dirigir seus enfoques muito mais para a discussão teórica acerca do fenômeno estético e o ensino de técnicas do que para a promoção de uma real educação da sensibilidade.

Soares (2015), citando Duarte Junior, enfatiza que educar a sensibilidade pode ser comparado a uma ação revolucionária, pois seriam as brechas existentes do currículo escolar, o lugar para se buscar o alargamento destes espaços delimitado.

Segundo Duarte Junior (2000, p. 44), será o desenvolvimento do sensível que vai resgatar os valores humanos imprescindíveis para a vida em sociedade e estes sentimentos podem ser estimulados na convivência com as obras de arte presentes em inúmeras formas como a música, a dança, a pintura, a escultura, o cinema, o teatro, pois

o treinamento artístico é, portanto, a educação do sentimento da mesma maneira como nossa educação escolar normal em matérias fatuais e habilidades lógicas, tais como o cálculo matemático ou a simples argumentação é a educação do pensamento.

Embasados no pensamento desses últimos autores mencionados, poderemos discutir os diferentes momentos do ensino de música nas escolas públicas colombianas de um modo amplo, como um resultado das estratégias políticas e sociais utilizadas nessas instituições ao longo do tempo.