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2. CONTEXTO HISTÓRICO DA SOCIEDADE COLOMBIANA NA

2.9. O Projeto do Grupo Regenerador

Sustentados pela crise econômica e política que o país enfrentava, se criou uma agenda para a unidade nacional e transformações na estrutura do país, liderados pelo partido conservador e pela Igreja Católica.

Segundo Monroy Hernandez (2012, p. 222), “O ideal deste projeto de Regeneração era o de construir um modelo de sociedade, fortalecido por um projeto nacional que convertesse a todos os indivíduos em cidadãos membros de uma nova nação, orientados e regidos pela constituição de 1886”.

Esse projeto tinha características peculiares, como por exemplo a palavra “regeneração” que não foi escolhida de forma aleatória, pois com ela se pretendia chegar de forma direta à população, criando uma linguagem política facilitadora e fomentadora de ideias e práticas que mudariam o destino da nação.

O discurso político desse Grupo Regenerador trazia uma perspectiva em favor da ordem, da recuperação da nação, da transformação e da educação de seus cidadãos os convertendo em civilizados e educados. Segundo Monroy Hernandez (2012, p. 223), mas,

para isso ser possível, era necessário: “Limpar a língua através da gramatica, a alma através da moral, e o corpo através dos manuais de urbanidade”.

Naturalmente tal postura levou à constituição de um modelo de sociedade tendencioso, em que a homogeneidade adquiriria alto valor. Para alcançar esses ideais, o governo criou os mecanismos que fizeram possível a consolidação, o fortalecimento e a imposição de valores simbólicos e culturais dominantes, qualificando, por outro lado, como bárbaros ou selvagens, aqueles fora do padrão estabelecido.

Ao representar a cultura nacional pela cultura dominante se passou a ignorar e eliminar a existência da diversidade de costumes, línguas, tradições, cosmovisões e demais valores próprios da cultura do país.

Dentre os mecanismos necessários para a construção da nação que conhecemos hoje, podemos citar a Constituição de 1886 e a Concordata com a Igreja Católica, pelas quais se determinou que o espanhol fosse a língua nacional e a religião fosse a católica. Além disso, também se determinou que a educação fosse a difusora dos valores considerados importantes para criar a nação, bem como se determinou a constituição de um exército nacional.

O exército foi um elemento importante na construção da nação, pois dentro de suas funções estava: defender a soberania nacional, a independência da nação, a integridade do território nacional e aordem constitucional.

A Constituição política da Colômbia do ano de 188618, em seu artigo 166

determinou que: “A Nação contaria com um exército permanente para sua defesa”. Segundo Esquivel Triana (2011), a constituição de 1886, além de fortalecer e consolidar o Exército Nacional, permitiu a realização de uma revolução militar com o apoio da primeira missão militar estadunidense, implementando táticas de combate, doutrinas, armamento e uniformes.

Como já havíamos mencionado, o projeto de construção da nação pertencia à elite detentora do poder político, simbólico e cultural e, para que ela pudesse apresentar e difundir essa ideia como sendo representativa da nação, optou pela construção de um projeto comunicativo baseado na língua nacional que, nesse caso, seria o espanhol. A

18 A Constituição Política da Colômbia de 1886 foi a carta política nacional que governou a vida

constitucional da Colômbia desde o final do século XIX até o final do século XX, quando foi revogada pela Constituição de 1991. Foi promovida por Rafael Nuñez, eleito presidente da República, foi escrita pelo político e escritor Miguel Antônio Caro durante o período histórico conhecido como Regeneração. Esta constituição estava orientada por princípios ideológicos conservadores.

aplicação e o sucesso deste projeto levaram ao desconhecimento da existência da multiplicidade de línguas e dialetos dos diferentes locais do território nacional.

Por outro lado, para essa comunidade letrada, que imaginava uma nação de iguais, o “selvagem”, o “bárbaro”, o “incivilizado”, que insistiam ou resistiam em manter seus próprios valores e cultura, era relegado a deixar de existir e a permanecer fora do projeto nacional.

Segundo Erazo (2008), a Constituição de 1886 forneceu-lhes as ferramentas para se colocar em marcha o projeto da língua espanhola como grande protagonista, o que fica claro quando vemos as palavras do monsenhor Rafael María Carrasquilla, “só existem dois vínculos que unem a nação a língua e a religião”. Dessa maneira a língua se converteu num elemento de unidade, entre aqueles que podiam ter acesso à educação, às letras e à literatura.

Ainda segundo Erazo (2008), não foi casualidade a Colômbia ser o primeiro país a criar uma filial da Real Academia da Língua Espanhola, já que o interesse pelo domínio das regras da língua e sua gramatica, assim como o domínio da leitura escrita, passou a ser parte do projeto de nação.

No ano de 1887, a aproximação entre a igreja e o estado propiciou um acordo entre a Santa Sé e o governo. A Concordata colombiana reafirmou as posições expressas na Constituição de 1886, sobre as relações entre o Estado e a Igreja, entre as quais se permitia à Igreja Católica ser a religião nacional, podendo agir com liberdade e independência no território do país, sob proteção, mas não sob controle do Estado.

Assim, foram concedidos à Igreja Católica importantes privilégios na vida civil dos colombianos; a partir de então, os registros de nascimentos, casamentos e óbitos eram emitidos pelas paróquias; o matrimônio religioso era a regra, o divórcio era proibido e a administração dos cemitérios foi confiada à Igreja.

Sobre a educação, a Concordata determinou que universidades, colégios e escolas fossem conduzidos de acordo com os dogmas e a moral da Religião Católica.

[...]. Que nas Universidades, colégios e escolas e em todos os centros educacionais, a educação e a instrução pública serão organizadas e conduzidas de acordo com os dogmas e a moral da Religião Católica. O ensino religioso será obrigatório em tais centros e se observaram em estes as práticas piedosas da religião católica. (Concordata, art. 12)

Assim, fica claro que a nação colombiana optou por assumir os valores simbólicos e culturais do catolicismo, excluindo outros valores, que faziam parte de comunidades e das regiões que formam o território nacional.

O estado colombiano concedeu poder à Igreja Católica de atuar em cada recanto e espaço da vida pública e privada na qualidade de educadores, missionários, conselheiros, etc., facilitando a inculcação dos valores católicos e uma cultura baseada nos preceitos do cristianismo.

A escola também passou a desempenhar um papel importante no projeto de construção da nação já que, por meio dela, os indivíduos ingressavam à nova ordem e assumiam os princípios da razão e o progresso da ciência. O ambiente escolar era o local ideal para transmitir e difundir os valores da cultura dominante, importantes para a consolidação da nação.

Assim sendo, o local de ensino foi tomado pelos dogmas da fé e da moral católica, pois nenhum professor, texto literário, ensino, ou descoberta científica poderia propagar ideias contrárias aos dogmas católicos.

O Bispo da Bogotá e os Prelados foram indicados para escolher os textos acerca do ensino da moral e da religião e, além disso, os textos das outras disciplinas deveriam passar pela aprovação de autoridades eclesiásticas.

O projeto da nação não poderia ser desenvolvido sem um plano de ensino nacional unificado Assim, o Ministro da Instrução Pública, Liborio Zerda, fiel às ideias do período da Regeneração, promoveu uma reforma no ensino primário, secundário e universitário no ano de 1894, o qual configurou a educação dentro das normas da Constituição de 1886 e da Concordata com a Santa Sé.

Isso significou, na prática, a obrigatoriedade do ensino religioso; o controle da igreja sobre professores, sobre textos escolares e conteúdo; a inspeção e vigilância de associações cientificas e institutos docentes.

No ano de 1903, uma segunda lei geral de educação foi promulgada, em que, além de continuar afirmando a importância da educação religiosa e moral na construção da nação, implementou uma educação com orientação industrial no ensino primário e secundário e, para a universidade, os chamados estudos clássicos.

Podemos ver que muitas gerações foram educadas nos princípios da fé e da moral católica, ficando estabelecida dentro da sociedade a proibição, a censura e a não aceitação do que não fosse católico. Muitas tradições populares e regionais foram convertidas em heresias, pois era necessário proteger os valores que formavam os bons cidadãos, bons

católicos e, para tanto, se deveria inspecionar cada aspecto da vida pública e privada dos habitantes desta nação.

Por isso, junto com os manuais e textos para o ensino da moral católica, como parte do processo de “civilização dos bárbaros” foram introduzidos novos códigos éticos, que pretendiam converter os indivíduos em um novo sujeito urbano, moderno, cidadão burguês.

Naturalizar as relações de poder, hierarquizar a sociedade, domesticar a sensibilidade; o espaço público, o espaço privado, o nascimento, a vida, a morte, tudo era monitorado e controlado pela norma, pela regra ensinada através dos manuais; a norma marcava o limite de quem estava dentro ou fora da nação. Assim, pouco a pouco esta nação foi construída: de exclusão em exclusão, de proibição em proibição, da inspeção em inspeção, de censura na censura, de regra em regra.

2.10. Antecedentes da Educação colombiana: o período colonial e a