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A imagem é uma reprodução exata ou uma representação análoga de um ser, de um objeto real. Segundo Marion (1987, p. 4), a imagem pode ser física, visível e permanente, como a pintura, a gravura em madeira, a escultura, um desenho impresso em papel. Pode ser física, visível e volátil como aquela constituída de fótons perceptíveis pelo sistema visual humano e criada por sistemas óticos de projeção de hologramas e monitores de LCD de televisão, os quais garantem a existência de uma imagem, apenas enquanto estão ativados.

Podem também ser físicas invisíveis como aquelas que representam temperatura, pressão, densidade e outras propriedades físicas de entidades e seres. Essas imagens são criadas por instrumentos capazes de “ver” faixas de frequência de luz no infravermelho, ultravioleta ou raios gama. Uma imagem de um exército se movendo à noite em um deserto do Oriente Médio captada por um sensor de temperatura na faixa de luz infravermelha é exemplo desse tipo de imagem. Somente depois de serem transformadas em imagens digitais e tratadas computacionalmente passam a ser visíveis na tela de um aparelho de TV (MARION, 1987).

Finalmente podem ser imagens matemáticas, representadas por uma função matemática, invisíveis por natureza, perceptíveis apenas pela lógica matemática, com infinitas possibilidades de interpretação e manipulação e, pelo computador, com quase infinitas possibilidades de interpretação e manipulação. É justamente nessa representação matemática que nascem os significados da imagem digital e onde reside a potencialidade de produção de sentidos do digital que já existe nas práticas televisivas: a informação digital carrega uma enorme maleabilidade de manipulação (JOHNSON, 2001).

O ciclo de vida da imagem digital compreende quatro processos: 1) A aquisição ou captura, por sensores de espectros de luz visíveis ou invisíveis ao olho humano; 2) A digitalização ou discretização, para transformação da imagem analógica captada em uma função matemática matricial multidimensional de valores discretos, a imagem matemática; 3) O tratamento computacional dessa função matemática, com quase infinitas possibilidades de transformação, e 4) A visualização, que consiste em transformações específicas dos valores assumidos pela imagem matemática em valores de luz dentro do espectro de luz visível pelo olho humano, particularmente por meio de dispositivos eletrônicos de projeção como os monitores de LCD (PRATT, 2007).

FIGURA 1: Imagem matemática (digital) representada como uma função matricial em quatro dimensões e três resoluções.

FONTE: Elaboração própria.

A imagem digital (FIGURA 1), por ser matemática, pode sofrer praticamente qualquer tipo de transformação por meio de um cálculo numérico feito por um computador, dependendo apenas da necessidade e criatividade do homem (GONZALEZ, 2007). Por ser digital, isto é, por ter seus valores de pixels representados por bits e combinações de bits, pode ser transformada por um computador em fração de segundos ou minutos, dependendo do tipo de transformação e do poder de cálculo numérico do computador empregado na edição de notícias televisivas. Os pixels podem ser ampliados, diminuídos, invertidos, comprimidos ou dilatados nos mais variados sentidos, deslocados de posições, girados, somados com outros ou deles deduzidos; a atualização de uma imagem está longe de esgotar suas possibilidades de visualização, pois são infinitas as maneiras de se exibir um objeto (MACHADO, 1993).

A imagem digital é representada, na FIGURA 1, como uma função matricial em quatro dimensões (horizontal, vertical, luz e tempo) e com três tipos de resolução (espacial, temporal e luminosa). Sendo que a resolução espacial diz respeito à combinação do número de pixels por linha e por coluna; a resolução temporal refere-se ao número de imagens apresentadas por segundo em vídeos e a resolução luminosa diz respeito ao número de valores assumidos pelo pixel para definir a cor, a intensidade, o brilho e o contraste da imagem.

A existência da imagem matemática, ou seja, da imagem sob a forma de números, altera todo o processo de produção, que passa a se inserir no sistema binário (os dígitos zero e um). Um arquivo de imagem é escrito em uma memória e manipulado por um processador da mesma forma que qualquer outro tipo de dado digital, “a imagem eletrônica não é mais, como eram todas as imagens anteriores, inscrição no espaço, ocupação da topografia de um quadro, mas síntese temporal de um conjunto de formas em mutação” (MACHADO, 1996, p. 52).

O suporte deixa de ser específico como era a película fotográfica ou a fita de vídeo, para ser qualquer um a qualquer tempo. Unidades digitais (zeros e uns) ou bits e combinações de bits formam caracteres que descrevem as unidades mínimas da imagem, ou pontos luminosos elementares, os pixels.

Combinações de pixels formam uma matriz de pontos (GONZALEZ, 2007). A resolução espacial determina o nível de detalhes apresentado na imagem. A resolução luminosa, ou seja, os valores possíveis da luz assumida pelos pixels determinam a cor, o brilho, o contraste da imagem e dos objetos nela representados. A resolução temporal, o número de quadros de imagem apresentados por segundo, determina a qualidade do movimento representado em uma imagem e pode também ser alterada para criar os efeitos desejados nas reportagens televisivas a partir dos atributos da imagem digital (Representação matricial, Armazenamento ilimitado em qualquer mídia e Cálculo numérico de transformação da imagem digital em processadores poderosos) e as atitudes do “ser” e do “fazer” jornalístico digital na TV.

FIGURA 2:Mapa de relações e significados do ser e do fazer digital em TV (os caminhos descrevem o sentido da imagem digital; TD é igual ao tempo médio gasto no fazer digital e TA corresponde ao tempo médio gasto no fazer analógico).

FONTE: Elaboração própria.

A FIGURA 2 apresenta um mapa que ilustra e relaciona alguns significados do ser e do fazer no telejornalismo. Ilustra caminhos que começam nos atributos elementares da natureza digital da imagem e levam até os jornalistas da produção televisiva e seu novo universo de possibilidades desse ser e desse fazer na TV digital, passando pelos recursos de transformação da imagem matemática pelo computador e por softwares de processamento digital que compõem a ilha de edição digital e o departamento de arte das emissoras de TV.

No contexto desta pesquisa, é fundamental notar que o tempo de execução da edição televisiva, reduzido drasticamente pelo digital nesses caminhos, é a grande inovação percebida. Thyagarajan (2006) nos lembra que a maioria dos recursos que já eram possíveis

com a imagem analógica (não matemática), armazenada em mídias magnéticas ou fotoquímicas (fitas e filmes) e transformada por equipamentos eletrônicos analógicos (ilhas de edição analógicas), causava demora, sendo convenientes para o tempo de produção de cinema e não compatíveis com o tempo de produção de conteúdos de telejornais diários.O termo tempo aqui inclui o tempo gasto na produção, o tempo estabelecido para exibição dos telejornais, o tempo destinado à edição (o fade) e o esforço dos jornalistas.

A imagem digital é definida pela sua representação matemática sob a forma de uma matriz de pontos com resolução espacial, luminosa e temporal (atributo 1), assim como pela possibilidade de ela ser armazenada em mídias baratas e flexíveis (atributo 2) e de ser transformada rapidamente mediante cálculos numéricos feitos por computadores (atributo 3). As tecnologias de hardware e software das ilhas de edição e a conectividade da Internet permitem, portanto, a transformação, o armazenamento e a transmissão dessa matriz em fração de segundos. De acordo com Pratt (2007), entre estas tarefas destacam-se:

1) A compressão que reduz as resoluções da matriz para reduzir o tamanho dos arquivos de imagem;

2) A pseudocoloração que cria coloridos artificialmente;

3) O morphing que altera a forma de objetos, pessoas e lugares contidos nas imagens (como as imagens e vozes distorcidas nas matérias sobre denúncia e que precisam proteger os entrevistados com o anonimato);

4) A filtragem que permite eliminar ruídos ou defeitos da imagem, aumentar contraste, escurecendo e criando efeitos de sépia, por exemplo, alterando as cores em tons pastéis, e a inserção de ‘ruído’ de imagem para causar efeitos de filmagem antiga; 5) A síntese em duas e em três dimensões que criam imagens a partir de dados ou

informações adquiridas no processo de apuração sobre os fatos sem necessidade de imagens captadas no local do fato ocorrido (a simulação de imagens para mostrar como se deu um sequestro);

6) O blending que cria imagens combinando informações textuais e imagens de arquivo sobre o local de ocorrência do fato (como as que são apresentadas na realidade aumentada da informática);

7) O armazenamento da imagem ilimitado e barato em chips de memória e discos (disco ótico, disco magnético, flash, datacenters);

8) O acesso à imagem ponto por ponto ou pedaço por pedaço em qualquer ordem que possibilita cortar uma cena em qualquer ponto, colar cenas cortadas em qualquer

passar ‘imagens falsas’ ou tratar cada pedaço isoladamente para produzir efeitos de movimento como a panorâmica, o zoom in e o zoom out,ou de enquadramentos como o close;

9) A alteração de formato de transmissão e visualização nos padrões RGB, SVídeo, HDMI, HDTV;

10) A transmissão de imagens via Internet banda larga, 3G e outros protocolos de comunicação de dispositivos móveis que permitem usar o celular na produção e transmissão de noticias e

11) A alteração automática de formatos de arquivos que garantem a portabilidade entre diferentes dispositivos de armazenagem, de transmissão e de visualização, móveis ou não (essa alteração é feitas nos conteúdos que vão ao ar na TV da sala de estar para que sejam exibidos também na Internet e/ou nos celulares).

O fazer digital em telejornalismo incorpora tarefas antes inimagináveis em tempo de TV, motivando os jornalistas a terem uma nova atitude, mais criativa, inclusive com a possibilidade de criar o real mais real do que o real (SONTAG, 2004; ŽIŽEK, 2003), ao construir imagens para mostrar, didaticamente, como será feita o tratamento na laringe do presidente, criando efeitos em uma Simulação animada, como se o funcionamento da laringe, dentro do organismo, pudesse ser visto com um microscópio. A Realidade é Expandida pela Simulação criada, pois não é possível na realidade ver a olho nu o interior do corpo humano, a menos que se use microcâmeras e um monitor de vídeo ou se crie desenhos animados sobre o funcionamento de uma parte do corpo, como o que fazem as Simulações que projetam situações como a que narramos.

Exemplo de utilização como esse faz com que acreditemos que a tecnologia digital favoreça a construção das narrativas das notícias, pois aumentaram o grau de possibilidades de se construir mundos muito mais possíveis nos telejornais. Associada a essas novas práticas, a tecnologia digital utiliza alguns códigos simbólicos, como planos, movimentos de câmera, montagem e efeitos já conhecidos e utilizados no processo de edição analógica. A edição digital como processo de significação como um todo e a edição das imagens manipuladas e/ou simuladas no processo da edição digital são apresentadas como elementos de dotação de sentido a partir da construção de efeitos de realidade para as narrativas jornalísticas de TV.