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Mobilidade Metropolitana e Utilização Energética

4. Mobilidade, energia, tempo e espaço

4.3 Impactos ambientais dos modos de deslocamento

Da mesma forma que para uma maior velocidade os veículos acarretam maior demanda energética, os impactos ambientais gerados por cada modal também aumentam de acordo com seu consumo de matéria e energia. A energia en- volve impactos ambientais em sua produção e gera resíduo resultante de sua transformação. A poluição aparece quando os resíduos produzidos forem su- periores à capacidade de absorção do meio ambiente, o que provoca alteração na vida das espécies. A única energia verdadeiramente limpa é aquela que não é consumida.

Dentre as principais formas de poluição que os veículos geram, a de maior impacto na vida urbana é a emissão de poluentes atmosféricos. Dos poluentes emitidos pelo veículo motorizado, podemos dividir em dois tipos: os gases de efeito estufa e a poluição atmosférica local. As principais discussões interna- cionais acerca dos impactos ambientais das emissões veiculares se preocupam com a poluição do primeiro tipo, da emissão de gases de efeito estufa. No gráfico abaixo podemos ver a participação de cada etapa do ciclo de vida do veículo no total de emissão na comparação entre os tipos de veículos.

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Mobilidade urbana e utilização energética

Gráfico 4.07 Comparativo de emissão de gases de efeito estufa em diferentes formas de transporte motorizado, em gramas de CO2 emitido por quilômetro por passageiro transportado (g CO2 e /PKT) Fonte: Horvath, A. & Mikhail, C. (2009).

A ameaça das mudanças climáticas, e a aceitação da tese sobre a responsabi- lidade humana na sua causa, têm tomado como central a redução da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. De acordo com o BEN, o automóvel é o principal emissor de CO2, gás oriundo da queima de combustíveis fósseis. Nos países do hemisfério norte, onde o problema da poluição atmosférica local já se verificava com o aumento da industrialização e motorização da cir- culação, o controle das emissões passou a ser implantado desde a metade da década passada. Na Inglaterra em 1952 foram verificadas 4.000 mortes a mais que a média ao mesmo tempo que uma nuvem de material particulado e enxo- fre se formou sobre a cidade. Diante disto foram implantados os “Clean Air Acts” de 1956 e 1968, que tinham como objetivo o controle de emissões de poluentes atmosféricos. Em 1976, uma comissão europeia CEC (Comission of the European Communities), desenvolveu e fixou padrões de qualidade do ar para SO2, CO, NO2, material particulado e oxidantes fotoquímicos, sendo deste então a base para os diversos controles dos países europeus. Os EUA criaram na década de 60, a Agência de Proteção Ambiental norte-americana os padrões de qualidade do ar, especificando os seis poluentes atmosféricos: partículas totais, dióxido de enxofre (SO2), monóxido de carbono (CO), di- óxido de nitrogênio (NO2), ozônio (O3) e chumbo (Pb). No Brasil, desde 1990 os níveis de poluentes atmosféricos são fixados pela resolução CONA- MA. O Programa de Controle de Emissões de Gases Veiculares (Proconve), criado em 1986, foi formatado com base no modelo americano de redução de emissões.

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4. Mobilidade e energia, tempo e espaço

Os efeitos das emissões de poluentes no ar são percebidos de maneira inver- samente proporcional em relação àqueles que o geram. Os principais afetados pelos poluentes são aqueles que se expõem mais ao ar livre, ou seja, pedestres e ciclistas, e que absorvem maior massa de ar em sua atividade metabólica, o caminhar ou pedalar. Além da poluição atmosférica, os veículos também tem impacto na qualidade das águas dos rios, que recebem todo o material particu- lado depositado nas áreas impermeabilizadas da cidade arrastados pela chuva. Outro efeito sobre a saúde humana são os acidentes de trânsito. Estas ocor- rências no Brasil causam 30 mil mortes e deixam 350 mil feridos por ano, o que provoca o consumo de 30 a 40% do que o SUS gasta com internações por causas externas (Mobilidade e Qualidade de Vida/ANTP). Aqui novamente nota-se uma inversão nos efeitos do uso do veículo, sendo que a maioria dos

Tabela 4.05 Poluentes atmosféricos da queima

de combustível e efeitos na saúde humana Fonte: CETESB, 2005. Poluente

Partículas totais em suspensão (PTS)

Partículas inaláveis (MP10) e fumaça

Dióxido de enxofre (SO2)

Dióxido de nitrogênio

Monóxido de carbono (CO)

Ozônio (O3)

Características

Partículas de material sólido ou liquido que ficam suspensos no ar, na forma de poeira, neblina aerosol, fumaça, fuligem, etc. Faixa de tamanho < 100 micra.

Partículas de material sólido ou liquido que ficam suspensos no ar, na forma de poeira, neblina aerosol, fumaça, fuligem, etc. Faixa de tamanho < 100 micra.

Gás incolor, com forte odor, semelhante ao gás produzido na queima de palitos fóforos. Pode ser transformado a SO3 que na presença de vapor de água, passa rapidamente a H2SO4. É um importante precursor dos sulfatos, um dos principais componentes das partículas inaláveis. Gás marrom avermelhado, com odor forte e muito irritante. Pode levar a formação de ácido nítrico, nitratos (o qual contribui para o aumento das partículas inaláveis na atmosfera) e compostos orgânicos tóxicos. Gás incolor, inodoro e insipido.

Gás incolor, inodoro nas concentrações ambientais e o principal componente da névoa fotoquímica.

Efeitos gerais sobre a saúde

Quanto menor o tamanho da particulara, maior o efeito à saúde. Causam efeitos significativos em pessoas com doença pulmonar, asma e bronquite.

Aumento de atendimentos hospitalares e mortes prematuras.

Desconforto na respiração, doenças respiratórias, agravamento de doenças respiratórias e cardiovasculares já existentes. Pessoas com asma, doenças crônicas de coração e pulmão são mais sensíveis ao SO2.

Aumento da sensibilidade à asma e à bronquite, reduz a resistência às infecções respiratórias.

Altos níveis de CO estão associados a prejuízo dos reflexos , da capacidade de estimar intervalos de tempo, no aprendizado, no trabalho e visual.

Irritação nos olhos e vias respiratórias, diminuição da capacidade pulmonar. Exposição às altas concentrações pode resultar em sensações de aperto no peito, tosse e chiado na respiração. O O3 tem sido associado ao aumento de admissões hospitalares.

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casos de morte ocorre entre os pedestres.

Segundo a OMS - Organização Mundial da Saúde, o limite tolerável ao ouvi- do humano é de 65 dB (A). Passando este nível, nosso organismo sofre estres- se, aumenta o risco de doenças e de comprometimento auditivo. O tráfego de veículos em nossas cidades é responsável por cerca de 80 % do ruído urbano. Para o meio urbano os valores do nível de ruído variam de 30 a 120 dB.Como exemplo, a av. Bandeirantes em São Paulo teve nível de ruído medido em 83 decibéis (db), e a av. Paulista tem nível de ruído vaiando entre 60 e 70 dBs no nível do pedestre.

Tabela 4.06 Níveis de ruído e efeitos no organismo humano exposto. Obs. O quadro mostra ruídos inseridos no cotidiano das pessoas. Ruídos eventuais alcançam volumes altos. Um trio elétrico, por exemplo, chega facilmente a 130 dB(A), o que pode provocar perda auditiva induzida, temporária ou permanente. Fonte: Ferreira, 1998. Volume Até 50dB Acima de 50dB De 55 a 65dB De 65 a 70dB (início das epidemias de ruído) Acima de 70dB Reação Confortável

A pessoa fica em estado de alerta, não relaxa.

O organismo reage para tentar se adequar ao ambiente, minando as defesas.

O organismo fica sujeito a estresse degenerativo além de abalar a saúde mental.

Efeitos negativos Nenhum

Diminui o poder de concentração e prejudica a produtividade no trabalho intelectual.

Aumenta o nível de cortisona no sangue, diminuindo a resistência imunológica. Induz a liberação de endorfina, tornando o organismo dependente. É por isso que muitas pessoas só conseguem dormir em lugares silenciosos com o rádio ou TV ligados. Aumenta a concentração de colesterol no sangue.

Aumentam os riscos de enfarte, infecções, entre outras doenças sérias.

Exemplos de locais Rua sem tráfego

Agência bancária.

Bar ou restaurante lotado.

Praça de alimentação em shopping centers e ruas de tráfego intenso.

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