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Alexandre Dittrich

ASSunToS do CAPÍTulo

> Ciência como busca de relações de determinação.

> Definição de comportamento.

> Explicações causais em psicologia.

> A posição determinista do Behaviorismo Radical.

> As vantagens de uma posição determinista para o psicólogo.

> Alguns dos principais significados de “liberdade” e como o analista do comportamento os compreende: como sentimento, como diminuição ou eliminação da coerção, como autocontrole.

> O analista do comportamento como profissional que busca a “liberdade” para a sociedade, incluindo os seus clientes.

A ciência é, entre outras coisas, uma maneira sistemática de tentar responder a questões causais. Comportamento é sempre e inva‑ riavelmente um fenômeno relacional: comportar ‑se é interagir cons‑ tantemente com um entorno que a análise do compor‑ tamento denomina genericamente como “ambiente”.

“relações comporta- mentais” (Tourinho, 2006). Essas defini- ções apontam para o fato de que o com- portamento é sempre e invariavelmente um fenômeno relacional: com por tar -se é inte- ragir constantemente com um entorno que a análise do comportamento denomina gene- ricamente como “ambiente”. Uma distinção entre “o que uma pessoa faz” e “o ambiente no qual ela o faz” é importante para objetivos teóricos e práticos, mas entende -se que não há como isolar o fenômeno “comportamen- to” do fenômeno “ambiente”. Os analistas do comportamento estudam, portanto, relações comportamentais: relações comportamento- -ambiente.

O objetivo primordial do analista do comportamento é descobrir por que uma pessoa, ou grupo de pessoas, faz o que faz, da maneira como o faz. Para o analista do comportamento, esse “fazer” tem um am- plo alcance: quere- mos saber por que as pessoas falam o que falam, pensam o que pensam, sentem o que sentem. Ainda hoje algumas pessoas entendem “compor- tamento” como sen- do apenas aquilo que uma pessoa faz pu- blicamente: os movimentos do corpo exter- namente perceptíveis. A análise do compor- tamento há muito superou essa concepção. Uma pessoa pode comportar -se de muitas maneiras, visíveis ou não para outra pessoa. O comportamento, não obstante, interessa-

-nos como objeto de estudo mesmo quando algumas de suas dimensões não são publica- mente observáveis.

Relações comportamentais são, na aná- lise do comportamento, relações causais – isto é, relações nas quais buscamos identifi- car no ambiente de uma pessoa as causas para aquilo que ela faz. Essa é uma opção talvez óbvia: se nosso “efeito” é o comporta- mento humano, tudo o que possa afetá -lo de alguma forma deve ser tratado como “causa” – e o que nos resta é o ambiente. Essa concepção pode dar a alguns a impres- são de que o ser humano está sendo tratado de forma excessivamente passiva: o ser hu- mano não age sobre o mundo, não o trans- forma? Obviamente que sim! B. F. Skinner, o precursor da análise do comportamento, afirma isso textualmente (1957, p. 1), e o fato de que o homem age sobre o mundo e o transforma constitui o cerne do que os ana- listas do comportamento chamam de com- portamento operante.1 Sob esse ponto de

vista, o comportamento humano é, sem dú- vida, causa para vários efeitos em seu am- biente, e isso é parte importante da descri- ção que o analista do comportamento faz das relações comportamentais. Ainda assim, nossa pergunta causal primordial continua sendo sobre o comportamento, por mais ati- vo e transformador que seja: o que o causa?

É importante perceber que a resposta a essa pergunta só pode estar nas relações do comportamento com o ambiente, e não no próprio comportamento.2 Se nos pergunta-

mos sobre as causas do fazer de alguém, não podemos tomar esse próprio fazer como ex- plicação – ele é justamente o que queremos explicar. Se algum comportamento é invoca- do como variável importante para explicar outro comportamento, é natural que pergun- temos, por sua vez, por que o comportamen- to inicial ocorreu. Em algum momento, ine- vitavelmente, veremo -nos novamente investi- gando relações comportamentais.

Uma distinção entre “o que uma pessoa faz” e “o ambiente no qual ela o faz” é importante para objetivos teóricos e práticos, mas entende ‑se que não há como isolar o fenômeno “compor‑ tamento” do fenôme‑ no “ambiente”.

Ainda hoje algumas pessoas entendem “comportamento” como sendo apenas aquilo que uma pes‑ soa faz publicamen‑ te: os movimentos do corpo externamente perceptíveis. A análi‑ se do comportamen‑ to há muito superou essa concepção. Uma pessoa pode comportar ‑se de muitas maneiras, visíveis ou não para outra pessoa.

A psicologia, com sua ampla variabilida- de teórica, oferece outros caminhos. Explica- ções causais em psicologia frequentemente se- guem o modelo “a mente causa o comporta- mento”. Mesmo que algum psicólogo adote

essa postura, ainda lhe restará a tarefa de explicar causalmente a ocorrência dos even- tos chamados “men- tais”. Fatalmente, esse psicólogo, em algum momento, deverá re- met er -se às relações da pessoa com seu ambiente. Se insistir que não deve ou não precisa fazê -lo, pode- -se desafiá -lo a mudar qualquer aspecto da vida mental de uma pessoa sem alterar nada em seu ambiente (e devemos lembrar aqui que o comportamento verbal de um psicólogo faz parte do ambiente das pessoas com as quais ele interage). Outro desafio que poderia le- gitimamente ser lançado a este psicólogo se- ria demonstrar que algo foi mudado na men- te de uma pessoa, sem que o comportamen- to dela (verbal ou não verbal) pudesse ser tomado como indício de tal mudança.

Tendemos a utilizar verbos para desig- nar o que a mente faz: pensar, imaginar, sen- tir, decidir... Isso é importante, porque evi- dencia que estamos tratando de comporta- mentos, mesmo que algumas de suas dimensões não sejam publicamente observá- veis. (Troquemos “mente” por “pessoa”, na primeira frase, e teremos uma definição per- feitamente aceitável para qualquer analista do comportamento.) “Decidir” talvez seja aqui um verbo importante. Para a análise do com- portamento, decidir é comportar -se: é fazer algo e, com isso, produzir certas consequên- cias (Skinner, 1953/1965, p. 242-244). O número de situações em nosso dia a dia nas quais efetivamente nos engajamos no com-

portamento de decidir antes de fazer alguma outra coisa provavelmente é muito menor do que gostaríamos de pensar. Talvez nossa vida fosse impossível se as coisas não fossem assim. Fazemos muitas coisas “sem pensar”, porque nossa experiência em situações semelhantes nos dá alguma segurança de que os resultados do que faremos são previsíveis. Quando não o são, porém, podemos preliminarmente “de- cidir” – isto é, buscar

subsídios que nos permitam tomar um certo curso de ação e não outros.

Se decidir é comportar -se, porém, o fato de que decidi- mos também deve ser causalmente explica- do. Ninguém nasce sabendo como deci- dir, e presumivelmen-

te algumas pessoas decidem melhor, ou com mais frequência, do que outras. Isso quer dizer que o comportamento de decidir também deve ser aprendido, no sentido de ser selecio- nado por suas consequências:

Um homem pode gastar muito tempo plane- jando sua própria vida – ele pode escolher as circunstâncias nas quais viverá com muito cui- dado, e pode manipular seu ambiente cotidia- no em larga escala. Tais atividades parecem exemplificar um alto grau de autodetermina- ção. Mas elas também são comportamento, e nós as explicamos através de outras variáveis ambientais e da história do indivíduo. São es- sas variáveis que proveem o controle final (Skinner, 1953/1965, p. 240).

É importante notar também que, se um comportamento é aprendido, ele pode ser en- sinado. Se tratamos o decidir como um acon- tecimento mental inalcançável e inexplicável, essa perspectiva se fecha. Se o tratamos, po- rém, como uma relação comportamental, po- demos interferir sobre ele. Esse é o lado positi-

Explicações cau‑ sais em psicologia frequentemente seguem o modelo “a mente causa o comportamento”. Mesmo que algum psicólogo adote essa postura, ainda lhe restará a tarefa de explicar causalmen‑ te a ocorrência dos eventos chamados “mentais”.

Ninguém nasce sa‑ bendo como decidir, e presumivelmente algumas pessoas decidem melhor, ou com mais frequência do que outras. Isso quer dizer que o comportamento de decidir também deve ser aprendido, no sentido de ser se‑ lecionado por suas consequências.

vo da insistência dos analistas do compor- tamento em buscar “causas” ambientais para “efeitos” com- portamentais: se po- demos mudar o am- biente que afeta uma pessoa, podemos mudar seu comportamento.

> o compoRtameNto